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Após a apresentação da proposta de pesquisa aos profissionais interessados e do conhecimento mais aprofundado do cenário, optamos por realizar dois momentos de grupo: o primeiro com grupos homogêneos por serviço, ou seja, formaram-se dois grupos: um da Clínica da Família e outro do CAPS. E o segundo momento com a integração dos dois serviços, formando-se um grupo misto.

Essa opção metodológica ocorreu baseada nos seguintes argumentos: 1) interesse em identificar as diferentes concepções, olhares, percepções e ansiedades de cada grupo estudado sobre o apoio matricial, bem como as suas principais necessidades e propostas práticas, o que é possível através dos grupos homogêneos em relação ao serviço. De acordo com Westphal (1992), tais grupos permitem resultados mais ricos e aprofundados sobre um tema à medida que elaboram e esmiúçam as questões em discussão a partir de seu lugar específico; 2) interesse em integrar os dois serviços para a construção de propostas práticas de apoio matricial viáveis de execução, através dos grupos mistos.

Tal proposta foi apresentada e aprovada pelos participantes. Dessa forma, ocorreram três encontros com cada grupo por serviço e três encontros integrando todos os participantes.

A seguir o cronograma dos encontros, que foram planejados e pactuados conjuntamente com os profissionais do CAPS III Maria do Socorro Santos e da Clínica da Família Maria do Socorro Silva de Souza.

Quadro 3 – Encontros, objetivo e método dos grupos da pesquisa Encontros dos grupos homogêneos por serviço

Encontro Objetivo do encontro Método

Primeiro - Esclarecer sobre a pesquisa - Apresentar os participantes

- Identificar as concepções e dúvidas dos integrantes sobre apoio matricial - Pactuar os encontros e atividades subseqüentes

- Apresentação individual de cada participante e de seu entendimento sobre apoio matricial em saúde mental.

- Resposta ao Questionário 1 (Apêndice B).

Segundo - Discutir o conceito e as ações de apoio matricial.

- Leitura e discussão de texto (Apêndice D e E) elaborado pela pesquisadora a partir das principais dúvidas dos participantes elucidadas no Questionário 1.

Terceiro - Discutir como o apoio matricial ocorre na prática.

- Discussão de caso clínico em que ocorreu apoio matricial em saúde mental à Saúde da Família (Apêndice F).

Encontro do grupo misto

Encontro Objetivo do encontro Método

Quarto - Integrar os dois serviços

-Apresentar propostas de matriciamento de cada grupo

- Apresentação e discussão das especificidades de trabalho de cada serviço e das propostas no que se refere ao apoio matricial em saúde mental elencadas nos grupos homogêneos

Quinto - Construir propostas de implantação do apoio matricial em saúde mental

- Identificar as concepções e dúvidas dos integrantes sobre apoio matricial, após a participação na pesquisa

- Avaliação de todos os encontros

- Apresentação e discussão das necessidades da CF no que se refere à saúde mental e da proposta de organização do matriciamento pelo CAPS

- Resposta ao Questionário 2 (Apêndice C)

- Avaliação dos encontros da pesquisa

Sexto - Pactuar ações de apoio matricial a serem implantadas

- Encerramento da pesquisa

- Apresentação e discussão do consolidado de propostas que emergiram durante a pesquisa

- Construção de documento com as ações viáveis de realização no presente e no futuro.

O primeiro encontro buscou integrar os participantes nos grupos pesquisados, construir vínculo com a pesquisadora, identificar as principais concepções dos integrantes e atividades já desenvolvidas no que se refere ao apoio matricial, bem como levantar as dúvidas e opiniões sobre as principais facilidades e dificuldades para a implantação dessa prática. Além da fala de cada participante, respondendo a pergunta norteadora “o que é o apoio matricial para você?” e discussão coletiva posterior, cada participante respondeu o Questionário 1 que objetiva identificar o conceito de apoio matricial de cada participante, levantar as experiências vivenciadas de matriciamento, as dúvidas sobre o tema, bem como identificar se os participantes imaginam o desenvolvimento desta prática e qual sua opinião sobre as principais facilidades e dificuldades para a implantação do apoio matricial.

O segundo encontro objetivou refletir e discutir sobre os conceitos e as ações de apoio matricial. O texto utilizado foi baseado em publicações sobre o tema e nas concepções do Ministério da Saúde. O texto para cada grupo foi construído a partir das dúvidas dos participantes elencadas no Questionário 1. Dessa forma, os escritos diferiram nos dois grupos, mesmo que de forma mínima.

O terceiro encontro buscou discutir como o apoio matricial ocorre na prática. Para isso, optamos por apresentar um caso clínico ocorrido em outra realidade brasileira, envolvendo a atenção a uma crise em saúde mental por uma equipe de SF e o apoio matricial operando no cotidiano do serviço. Essa opção se deu porque os grupos estudados relataram poucas experiências de matriciamento no primeiro e segundo encontros, apresentaram dúvidas sobre a prática e requisitaram conhecer a realidade de casos de saúde mental conduzidos na APS com o suporte do apoio matricial. O caso elucidado objetivou auxiliar os grupos nas discussões sobre a prática do matriciamento e disparar elucidações de casos vivenciados pelos participantes, a partir de seu conhecimento e de sua própria prática de apoio matricial.

O quarto encontro foi o primeiro de integração entre os dois serviços. Os participantes apresentaram as especificidades de cada serviço: Saúde da Família e CAPS III e foram discutidas dúvidas e curiosidades dos profissionais a respeito da prática de cada unidade. Além disso, foi discutido sobre como organizar o apoio matricial na realidade estudada. Os participantes apresentaram e refletiram sobre as propostas que emergiram nos grupos homogêneos.

O quinto encontro teve o objetivo de construir propostas para a implantação do apoio matricial em saúde mental entre os dois serviços, a fim de que ele fosse uma prática regular e sistematizada, identificar as concepções e dúvidas dos integrantes sobre apoio matricial após a participação na pesquisa, e avaliar todos os encontros. Esse encontro foi dividido em dois

momentos: o primeiro em que os grupos trocaram ideias sobre como organizar o apoio matricial do CAPS III às equipes de saúde da família e um segundo momento em que a direção, coordenação e integrantes da pesquisa que atuam no CAPS III apresentaram uma proposta de organização do matriciamento, com posterior debate coletivo. No final, os participantes responderam o Questionário 2 e realizaram a avaliação dos encontros da pesquisa. O Questionário 2 é composto por cinco perguntas equivalentes às do Questionário 1, respondido pelos participantes no final da pesquisa, permitindo a comparação entre as respostas dos participantes no início e no final da pesquisa.

Ressaltamos que concomitantemente aos encontros de grupo desse estudo, a direção, coordenação técnica e equipe do CAPS elaboraram uma forma de organização da equipe do serviço, a fim de propor o apoio matricial de forma estruturada e sistemática às equipes de SF. Tal proposta foi trazida pelos participantes do CAPS para o debate em vários momentos da pesquisa. Por isso, foi decidido conjuntamente com os grupos estudados que essa proposta seria melhor elucidada e discutida nesse encontro do estudo.

O sexto encontro ocorreu dois meses após o quinto encontro, depois de todas as transcrições terem sido finalizadas. Teve o objetivo de apresentar e discutir com os participantes da pesquisa as propostas práticas elencadas durante a realização do estudo, bem como eleger coletivamente as ações viáveis de serem colocadas em prática no momento atual e no futuro. Construímos conjuntamente um documento com as propostas finais para servir de norteador do planejamento e da execução das ações e para ser apresentado pelos participantes da pesquisa aos demais membros das equipes.

Cada encontro teve uma duração média de duas horas e foi coordenado pela pesquisadora que atuou como moderadora das discussões, facilitando que cada participante pudesse expressar suas ideias, opiniões e sentimentos em relação ao tema proposto. Nos momentos necessários, intervenções foram realizadas com o objetivo de auxiliar os grupos a se focarem na tarefa, refletirem sobre o trabalho e as angústias no que se refere ao tema e se visualizarem no processo do apoio matricial, como é permitido pelos grupos operativos de reflexão. Os grupos ocorreram no período de novembro de 2010 a fevereiro de 2011. Todos os encontros foram gravados com a permissão dos participantes e subsequentemente transcritos pela pesquisadora.