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Endocrinologia

No documento Clínica de animais de companhia (páginas 34-37)

II. Relatório descritivo do estágio – casuística

3. Distribuição dos casos por área clínica

3.1. Medicina preventiva

3.2.4. Endocrinologia

Por interpretação do quadro 9 conseguimos afirmar que as doenças do sistema endócrino mais comuns no HVPortimão durante o período de estágio foram a diabetes mellitus (38,5%), seguido de hipertiroidismo (30,8%) e hiperadrenocorticismo (23,1%).

Quadro 9 - Distribuição dos casos acompanhados por doença endócrina observada (n=13).

Afeção Clínica Fr (%) Fi Fip canídeos Fip felídeos

Hipertiroidismo 30,8 4 - 4

Hipotiroidismo 7,7 1 1 -

Hiperadrenocorticismo 23,1 3 3 - Diabetes mellitus 38,5 5 5 -

Total 100 13 9 4

A diabetes mellitus (DM) é caracterizada por uma deficiência relativa ou absoluta da hormona insulina. Esta hormona é geralmente secretada pelos ilhéus de Langerhans do pâncreas, em resposta a um aumento da concentração de glucose no sangue (glicémia), sendo antagonizada por várias outras hormonas nas quais se inclui o glucagon. É responsável por permitir a entrada de glucose nas células, reduzindo assim a sua concentração circulante. Quando a insulina se encontra em concentrações deficitárias, ou a sua atividade está comprometida, o animal perde a capacidade de controlar a concentração de glucose no sangue, resultando numa hiperglicemia (15).

É uma doença multifatorial, tanto em cães como em humanos e supõe-se que tenha o envolvimento de fatores genéticos e fatores ambientais, tais como a dieta e microrganismos

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infeciosos. Existem várias formas de classificar a DM. Nos cães torna-se mais prático o sistema de classificação que usa a etiologia da doença como critério, uma vez que esta classificação ajuda a escolher a melhor forma de controlar a glicémia. Podemos encontrar então um sistema com quatro tipos de DM: DM canina juvenil ou congénita, por antagonismo hormonal, pancreatite, ou autoimune (15).

A DM congénita é por vezes encontrada em cachorros com menos de 6 meses de idade cujos ilhéus de Langerhans, além de escassos, têm as células β, responsáveis pela secreção de insulina, degeneradas e vacuolizadas, ou ainda ausentes por aplasia dos ilhéus de Langerhans. Estes animais requerem administração de insulinoterapia desde jovens. É possível diagnosticar a DM por antagonismo hormonal quando é detetado o aumento, na circulação sanguínea, de hormonas antagonistas da insulina, como ocorre na diabetes gestacional em humanos. As cadelas em diestro sintetizam progesterona em elevada quantidade e a glândula mamária sintetiza hormona de crescimento, ambas com efeito antagonista à insulina. Embora a ovariohisterectomia possa resolver o problema de imediato, as lesões que ocorrem nas células produtoras de insulina são irreversíveis, pelo que os pacientes nesta situação requerem administração de insulinoterapia (15).

O tecido exócrino do pâncreas pode sofrer uma inflamação de tal forma grave que afeta por vezes as células β, resultando em DM dependente de insulinoterapia. Como consequência da pancreatite, os precursores de enzimas digestivas presentes no órgão são ativados no interior dos ácinos celulares do pâncreas, e não no intestino delgado como seria suposto, causando lesão tecidular localizada. Estas enzimas são reguladas por proteases que acabam por ser esgotadas com a pancreatite. O diagnóstico de pancreatite como causa da DM é importante, uma vez que estes cães podem demonstrar um difícil controlo da glicémia. Embora ainda com pouca evidência, a fisiopatogenia associada à DM pode ser de carácter autoimune. Neste caso os animais sofrem uma infiltração linfocitária dos ilhéus de Langerhans, referida como insulite, e podem produzir anticorpos séricos com ação sobre as células β e proteínas pancreáticas do próprio animal. Existe pouca evidência que comprove a existência deste mecanismo, mas, se realmente existir, é um mecanismo que demonstra muitas similaridades com a DM tipo 1 dos humanos (15).

Os sinais clínicos mais comuns na consulta são poliúria (PU), polidipsia (PD), polifagia (PF) e perda de peso, sendo a PD secundária à PU, que ocorre pelo efeito osmótico da glucose na urina, levando a uma elevada perda de água. Estes sinais, em combinação com uma hiperglicemia persistente e glicosúria, são essenciais para o diagnóstico de DM. No entanto, podem ser causados por outras doenças. No animal podem mesmo estar a ocorrer doenças concorrentes, que dêem origem aos sinais de DM, pelo que, fazer análises bioquímicas e hematológicas, auxilia no diagnóstico se se conseguir excluir a presença destas doenças concorrentes (15).

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A presença longa de hiperglicemia pode ser confirmada pela pesquisa e mensuração de proteínas sanguíneas glicosiladas como a frutosamina e a hemoglobina glicosilada, que em pacientes diabéticos se encontram ambas elevadas (15).

O tratamento e monitorização dos animais deve ser feito de imediato, para evitar o desenvolvimento de complicações como a cetose e cetoacidose. O tratamento e monitorização de um cão com DM passa pela resolução dos sinais clínicos como a PU e PD, mantendo o apetite e o peso do animal estáveis e normais, reduzindo a PF, aconselhando o proprietário a exercitar o animal, a proporcionar a este uma boa qualidade de vida e a reduzir o risco de complicações. Para que estes aspetos sejam possíveis, o animal deve ter uma dieta apropriada, palatável, que tenha em conta outras possíveis doenças concomitantes, e reduzida em glúcidos simples. O animal deve ter um horário fixo para a alimentação de modo a que a toma de insulina coincida com a primeira refeição. Deve também fazer exercício físico de uma forma regular (15).

Deve ser administrada ao animal uma molécula de insulina adequada. Para tal, deverá ter-se em conta o tempo de ação da mesma. Na sua administração deve também ter-se precauções especiais, importantes para que a concentração de insulina seja a correta como, por exemplo, garantir que não existam bolhas de ar na seringa de administração (15).

Deve existir uma monitorização regular do cão, tanto no centro de atendimento médico veterinário onde é assistido, como no seu lar, por parte do proprietário, de modo a que o animal possa receber a dose de insulina correta, para que os níveis de glicémia se mantenham dentro dos parâmetros desejáveis, isto porque, no início do tratamento é necessário traçar uma curva gráfica com as concentrações de glucose no sangue do animal ao longo do dia (15).

Uma vez estabilizado o animal, a sua monitorização é necessária para que a dose e frequência de administração de insulina estejam de acordo com as necessidades deste, devendo o veterinário conferir se a insulina está a surtir efeito, se a duração da mesma é a necessária, se o ponto mais baixo de concentração de glucose no sangue tem um valor normal e seguro pela interpretação de cada curva traçada da concentração de glucose no sangue (16).

A longo prazo, quando a glicémia não é controlada em condições ótimas, podem surgir complicações em cães com DM, tais como, convulsões por hipoglicemia, desenvolvimento de cataratas, infeções recorrentes ou cetoacidose diabética (16).

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