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O setor elétrico brasileiro, nos últimos anos, tem passado por importantes alterações de cunho estrutural e institucional, migrando de uma configuração centrada no monopólio estatal, como provedor dos serviços e único investidor, para um modelo de mercado, com a participação de múltiplos agentes e investimentos partilhados com o capital privado (ANEEL, 2005).

Atualmente, o Sistema Elétrico Nacional é composto pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), e pelos Sistemas Isolados, localizados principalmente no Norte do País. O SIN é formado por empresas das Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Com tamanho e características que permitem considerá-lo único em âmbito mundial, o sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é um sistema hidrotérmico de grande porte, com forte predominância de usinas hidrelétricas (MME/EPE, 2005).

FIGURA 5: distribuição da matriz energética do Brasil por fonte de geração

77,61% 20,17% 2,20% 0,02% Hidrelétricas Termelétricas Termonucleares Outras Fonte: ANEEL (2005)

Como o que pode se observar pela figura 5, as hidréletricas repondem por 77,61% da produção de energia do país, seguidas pelas termelétricas (petróleo, carvão, gás natural e biomassa), com 20,17%, e as termonucleares, com 2,20%.

Carvalho (2002) defende que em razão das características regionais e culturais, a energia vem cada vez mais se transformando em sinônimo de produção e conforto, e por conta disso, o suprimento de energia elétrica tem-se tornado fator indispensável ao bem-estar social e ao crescimento econômico do Brasil. Contudo, o abastecimento é ainda muito deficitário em várias regiões, seja pela falta de acesso ou pela precariedade do atendimento. A grande extensão do território nacional, a distribuição geográfica dos recursos e as peculiaridades regionais, são importantes desafios ao planejamento da oferta e gerenciamento da demanda (ANEEL, 2005).

FIGURA 6: Mapa da eletrificação domiciliar no Brasil

Fonte: ANEEL (2005), com dados do IBGE (2000).

Segundo a ANEEL (2005), o Brasil possui extensão territorial de aproximadamente 8,5 milhões de km2 e população de 170 milhões de habitantes, o

que significa uma densidade demográfica de 20 habitantes por km2. Há, porém, forte concentração da população brasileira e de suas atividades socioeconômicas numa pequena proporção do território nacional. Com 11% do território brasileiro, a região Sudeste concentra cerca de 43% da população e 56% em termos de compra de energia. Por outro lado, a região Norte corresponde a 45% do território nacional, 8% da população brasileira e apenas 4,5% do poder de compra. Verifica-se, ainda, que 28% da população brasileira vive na região Nordeste, que tem apenas 14,4% do poder de compra.

De modo geral, observam-se melhores índices de eletrificação (ver figura 6) nas regiões Sul, Sudeste e parte da região Centro-Oeste. Entre as regiões com baixos índices de eletrificação, destacam-se a do Alto Solimões, no Amazonas, e grande parte do Estado do Pará, desde a fronteira com Mato Grosso até o Oceano Atlântico. Ainda na Região Norte, observam-se índices muito baixos na região central do Acre, no sudoeste do Amazonas e leste do Tocantins. Na Região Nordeste, verificam-se várias regiões com baixos índices, entre elas grande parte do Maranhão, Piauí, Ceará e Bahia.

Ao se confrontar esta situação, com o Mapa da Exclusão Social (ver figura 1) elaborado por Pochmann e Amorim (2003), nota-se que as regiões que possuem menores índices de eletrificação, são também aquelas que apresentam maiores indicadores de exclusão social, sinalizado que a variável consumo de energia, possa ser de fato empregado para o estudo da inclusão, por meio do acesso a ela, bem com aos seus benefícios.

Goldberg e Moreira (2005, p.215) salientam porém, que o uso de fontes de energia e de tecnologias modernas de uso final, levaram a mudanças qualitativas na vida humana, proporcionando tanto o aumento da produtividade econômica quanto do bem-estar da população. No entanto, mais do que o aumento do consumo de energia, são os serviços gerados por ela que realmente conduzem a uma melhoria do bem-estar. Ou seja, para os consumidores, o que realmente importa é a utilidade e satisfação derivada de serviços energéticos e o preço pago aos fornecedores de energia para obter tais serviços (GOLDEMBERG e MOREIRA, 2005, p.215).

Em se tratando da Oferta Interna de Energia - OIE, segundo o MME/EPE (2005), o Brasil possui uma oferta per capita de 1,17 tep (tonelada equivalente de petróleo), para valores de 2004, situando o país bem abaixo da média mundial (1,65 tep/hab). Abaixo, por exemplo, da Argentina (1,54) e muito inferior a dos Estados Unidos (7,97). Já a OIE em relação ao PIB – Produto Interno Bruto, de 0,24 tep/mil US$, se mostra mais alta, comparativamente à Argentina (0,23), EUA (0,25) e Japão (0,09). Este último indicador mostra que, por unidade de PIB, o Japão necessita investir, em energia, menos da metade do que o Brasil investe. Na condição de exportador de aço, alumínio, ferroligas, celulose, açúcar e outros produtos de baixo valor agregado, o Brasil necessita de estrutura produtiva intensiva em energia e de capital.

Dadas estas circunstâncias e a malha de eletrificação apresentada anteriormente, o planejamento energético nacional precisa considerar não apenas a quantidade de energia a ser disponibilizada para a sociedade, mas também em que região ela é mais prioritária e de que forma pode ser acessível aos menos favorecidos, estimulando assim o crescimento, bem como seu uso eficiente (GOLDEMBERG e MOREIRA, 2005).

Segundo Goldemberg e Moreira (2005, p.223), a grande questão, porém, está na dependência do setor energético, de investimentos privados, onde o papel do governo cada vez mais se restringe ao gerenciamento da expansão, cabendo-lhe a tarefa de definir políticas de interesse da sociedade que nem sempre estariam entre as prioridades do setor privado.

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Aliás, ao se falar em investimentos na ampliação da demanda por energia, não só o setor domiciliar deve ser colocado como preocupação, pois é inquestionável que, apesar da eficiência econômica do uso da energia, o país depende de mais energia para poder ambicionar maior crescimento (GOLDEMBERG e MOREIRA, 2005). Surge então a importância de contemplação do setor produtivo, principalmente o industrial, que é o maior consumidor de energia (ANEEL, 2006).

A preocupação neste caso, segundo Pires et al (2001), é que o crescimento do consumo de energia tem se mostrado muito superior ao crescimento do PIB nos

últimos anos. O consumo total de energia elétrica do país, nos quatro anos do período 1991/1994, registrou uma taxa média de crescimento de 3,5% a.a., enquanto o PIB cresceu a uma taxa média de 2,8%. Nos seis anos seguintes, ao passo que o consumo de energia elétrica cresceu a uma taxa média de 4,5% a.a., o crescimento médio do PIB foi de 2,6%.

Enquanto isso, a expansão da oferta de energia elétrica apresentou um crescimento bem mais lento que o do consumo. Na década de 90, o crescimento da capacidade instalada foi de 3,3% a.a., inferior ao observado na década anterior, cujo patamar atingiu 4,8%. Considerando-se, em especial, os seis anos do período 1995- 2000, o crescimento da capacidade instalada foi de 3,8% a.a., taxa inferior à do aumento do consumo de energia elétrica (PIRES et al., 2001, p. 05).

O risco gerado entre o descompasso do crescimento da oferta e o do consumo de energia elétrica, pode representar um entrave potencial na trajetória de crescimento econômico sustentável, a exemplo do racionamento de energia que aconteceu em 2000 (PIRES et al., 2001, p. 05).

A análise entre a evolução da capacidade nominal instalada, e sua geração, sugere o aumento do risco de déficit do sistema. Entre os períodos 1981/1990 e 1991/2000, enquanto a taxa de expansão da capacidade instalada do sistema sofria uma redução de 4,8% a.a. para 3,3% a.a., respectivamente, a taxa de crescimento do consumo, embora também tivesse sido reduzida, apresentava taxas mais elevadas, passando de 5,9% a.a. para 4,1% a.a. Como não houve racionamento de energia no período, pode-se dizer que o sistema conviveu com uma situação de esgotamento da “capacidade ociosa” existente, ocasionada por projetos realizados nos períodos anteriores e que anteciparam as necessidades de crescimento da demanda por vários anos (PIRES et al., 2001).

Para que não se repita o episódio de 2000, o país precisa considerar novos investimetos na expansão do sistema enérgéico nacional, para que o Brasil possa fornecer mais energia para a sua população, e melhores condições de produção ao setor fabril (GOLDEMBERG e MOREIRA, 2005).

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