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O Enfermeiro de Reabilitação na Reeducação Funcional Respiratória do cliente submetido a gastrectomia

PARTE I DA DOENÇA ONCOLÓGICA À REEDUCAÇÃO FUNCIONAL RESPIRATÓRIA NA

GASTRECTOMIA: O OCORRER DE UMA TRANSIÇÃO

2. REABILITAÇÃO RESPIRATÓRIA

2.2. O Enfermeiro de Reabilitação na Reeducação Funcional Respiratória do cliente submetido a gastrectomia

Viver uma transição saúde/doença devido a uma patologia oncológica que requer uma gastrectomia, origina no cliente um conjunto de sentimentos e emoções de alguma complexidade, que se traduzem no impacto psicológico, físico, sociológico e financeiro da doença na vida do cliente (Zhou, 2015). O enfermeiro deve intervir ajudando o cliente, através das suas terapêuticas de enfermagem, ao vivenciar de uma transição normal (Meleis, 2010).

Torna-se pertinente a intervenção dos enfermeiros porque segundo os padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem da Ordem dos Enfermeiros (2001, p. 12), “na procura permanente da excelência no exercício profissional, o enfermeiro previne complicações para a saúde dos clientes”. Os enfermeiros devem identificar, tão rápido quanto possível, os problemas potenciais do cliente, relativamente aos quais têm competência para prescrever, implementar e avaliar intervenções que contribuam para evitar esses mesmos problemas ou minimizar-lhes os efeitos indesejáveis (Ordem dos Enfermeiros, 2001).

A RFR é uma intervenção do enfermeiro de reabilitação que dá resposta a esta situação, pois é um programa de tratamento ao cliente com disfunção respiratória, concebido para que este atinja o nível de capacidade funcional máxima, incrementando a eficiência ventilatória e otimizando a função pulmonar, com recurso a diferentes técnicas (Branco et al., 2012). Deste modo, o cliente submetido a gastrectomia beneficia com a intervenção de um enfermeiro de reabilitação ao realizar um programa de RFR, pois este tem como objetivo a prevenção de complicações respiratórias (Isaías, Sousa e Dias, 2012).

Apresentamos de seguida as competências do enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação e, posteriormente, faremos uma analogia à intervenção do enfermeiro de reabilitação no cliente submetido a gastrectomia ao realizar o programa de RFR.

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Segundo o artigo 4º no regulamento 125 sobre as competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação aprovadas em Diário da Republica, 2.ª série - N.º 35 de 18 de fevereiro de 2011 (p.8656), referem que o enfermeiro de reabilitação:

a) Cuida de pessoas com necessidades especiais, ao longo do ciclo de vida, em todos os contextos da prática de cuidados;

1. Avaliando a funcionalidade e diagnosticando alterações que determinam limitações da atividade e incapacidades;

2. Concebendo planos de intervenção com o propósito de promover capacidades adaptativas com vista ao autocontrolo e autocuidado nos processos de transição saúde/doença e ou incapacidade;

3. Implementando as intervenções planeadas com o objetivo de otimizar ou reeducar as funções aos níveis motor, sensorial, cognitivo, cardiorrespiratório, da alimentação, da eliminação e da sexualidade; 4. Avaliando os resultados das intervenções implementadas.

b) Capacita a pessoa com deficiência, limitação da atividade e ou restrição da participação para a reinserção e exercício da cidadania;

1. Elaborando e implementando programa de treino de AVD´s visando a adaptação às limitações da mobilidade e à maximização da autonomia e da qualidade de vida;

2. Promovendo a mobilidade, a acessibilidade e a participação social. c) Maximiza a funcionalidade desenvolvendo as capacidades da pessoa;

1. Concebendo e implementando programas de treino motor e cardiorrespiratório;

2. Avaliando e reformulando programas de treino motor e cardiorrespiratório em função dos resultados esperados.

A intervenção do enfermeiro de reabilitação neste tipo de clientes deve ser iniciada no pré-operatório. Enceta-se com uma avaliação completa da sua funcionalidade de forma a compreender e conhecer o melhor possível o cliente (Isaías, Sousa e Dias, 2012). Este facto permite que ao elaborar o programa de RFR o enfermeiro de reabilitação tenha em atenção as particularidades de cada cliente e faça com que cada programa seja individualizado e único (Isaías, Sousa e Dias, 2012).

Os programas de RFR no pré-operatório e pós-operatório englobam um conjunto de técnicas, já anteriormente apresentadas no capítulo anterior, que pretendem preparar o cliente o melhor possível para a intervenção, consciencializar o cliente sobre a importância da sua colaboração, maximizar a função ventilatória e diminuir a ocorrência

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de complicações pulmonares pós-operatórias (Isaías, Sousa e Dias, 2012). Deve-se transmitir responsabilidade e incorporar o cliente no seu processo de cuidado, capacitando-o o melhor possível de forma a maximizar a sua autonomia e funcionalidade (Isaías, Sousa e Dias, 2012).

O enfermeiro de reabilitação deve acompanhar os clientes realizando os programas de RFR de forma continua ao longo do processo de recuperação, ou seja, deve iniciar a reabilitação no pré-operatório, para o cliente se preparar para a cirurgia e deve continuar no pós-operatório até que este esteja totalmente recuperado e já não necessite dos cuidados de enfermagem (Isaías, Sousa e Dias, 2012).

O enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação cumpre as competências inerentes à sua pratica ao realizar um programa RFR ao cliente submetido a gastrectomia, pois:

• cuida de clientes com necessidades especiais pela situação de saúde que vivenciam, avaliando-os, diagnosticando alterações que estes possam ter e, posteriormente, concebe planos de RFR individualizados e únicos que pretendem otimizar a função respiratória;

• capacita os clientes para realizarem o programa de RFR, ensinando-os, treinando- os e acompanhando-os ao longo deste percurso;

• maximiza a funcionalidade do cliente, neste caso a função respiratória, através da implementação do programa e todas as suas implicações.

O enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação é aquele que cria, executa e monitoriza planos de enfermagem de reabilitação diferenciados e baseados nos problemas reais e potenciais dos clientes. A sua intervenção visa promover o diagnóstico precoce e ações preventivas de enfermagem de reabilitação, de modo a garantir a manutenção das capacidades funcionais dos clientes, prevenir complicações e evitar incapacidades. Por outro lado, o enfermeiro de reabilitação pretende proporcionar intervenções terapêuticas que visam melhorar as funções residuais, manter ou recuperar a independência nas atividades de vida, e minimizar o impacto das incapacidades instaladas, ao nível das funções neurológica, respiratória, cardíaca, ortopédica e outras deficiências e incapacidades (Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação, 2011).

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3. A TEORIA DAS TRANSIÇÕES DE MELEIS E O PROGRAMA DE REEDUCAÇÃO