• Nenhum resultado encontrado

O enfoque AVEO e os adolescentes em conflito com a lei em Boa Vista Roraima

ANEXO 1 – AUTORIZAÇÃO DA PESQUISA

5 VULNERABILIDADE SOCIAL E DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL COMO DIMENSÕES POTENCIALIZADORAS DA VIOLÊNCIA URBANA

5.3 O enfoque AVEO e os adolescentes em conflito com a lei em Boa Vista Roraima

Oeste da capital.

5.3 O enfoque AVEO e os adolescentes em conflito com a lei em Boa Vista - Roraima

Em Boa Vista – RR, os equipamentos e serviços públicos estão concentrados no centro ou nas proximidades, o que leva grande parcela da população a sujeitar-se a condições mais precárias de saneamento básico, rede de drenagem, abastecimento de água, transporte coletivo. A menor oferta de empregos formais nas proximidades de suas residências, unidades de saúde e escolas em todos os níveis de atenção, bancos, postos da previdência social, entre outros, exige o deslocamento desta população em busca destes serviços gerando custos financeiro e de tempo. Tais situações podem agravar o sentimento de medo, insegurança e as ocorrências de criminalidade violenta.

A respeito da distribuição da violência no espaço, Costa e Freitas (2013, p. 130) anunciam forte relação com a “desigualdade socioespacial e vulnerabilidade socioeconômica”. Os autores anunciam que o aumento nos índices de violência podem indicar fatores como “crescimento das taxas de urbanização, aumento da pobreza e desestrutura familiar, dentre outros”.

O professor Orlando dos Santos Jr., em entrevista à Lima (2018) sobre o papel do Fórum Urbano Mundial da ONU, demarca que há uma dimensão global nos problemas urbanos, agravados pelo modelo de desenvolvimento adotado pelos países capitalistas. Para ele, o preocupante não é que em 2030 estima-se que dois terços da população mundial viverá nas cidades, e sim, que o modelo de desenvolvimento urbano, especialmente em países periféricos, esteja fundado “na segregação, na desigualdade no acesso à infraestrutura urbana, da desigualdade no acesso ao direito à cidade”.

É fato que o processo recente de urbanização no Brasil desencadeou consequências de efeitos variados. Se por um lado, o desenvolvimento das cidades aliado ao avanço tecnológico, parece ter impactado na melhoria da qualidade de vida e, por consequência, no aumento da expectativa de vida das pessoas, por outro, há que considerar que não são todos os moradores da cidade que as vivenciam. As mazelas ambientais e a alteração no desenho urbano influenciam no modo de vida, nas carências e nos conflitos – já existentes ou surgidos em decorrência das novas formas de viver, afetando diretamente na ampliação da vulnerabilidade social da população, especialmente dos jovens.

Para Marandola Jr. e Hogan (2009), quando se fala em vulnerabilidade de sujeitos, deve-se compreender que determinados riscos e perigos podem estar “relacionados às características da dinâmica demográfica ou à sua situação socioeconômica, ligadas ao ciclo vital, à estrutura familiar ou às características migratórias” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 161).

Revelam também a importância do acréscimo da dimensão espacial à problemática da vulnerabilidade “considerando a posição e a situação (relacionais e relativas) componentes dos elementos que produzem perigos ou que fornecem condições de enfrentá-los” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 161). Os autores levam à seguinte questão: seriam os lugares que mudam as pessoas ou as pessoas que mudam os lugares? Esta reflexão é importante para a compreensão de “como se dá, em determinado espaço-tempo, a relação de grupos demográficos específicos com seu ambiente”. (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 162).

Desde que vulnerabilidade, risco e perigo tornaram-se termos fundamentais para compreender e discutir as transformações na sociedade contemporânea, tem havido uma busca tanto por uma melhor compreensão teórica acerca dos processos e significados que conformam situações de risco, quanto por métodos de medida e avaliação dos recursos que permitem diminuir ou aumentar a vulnerabilidade de diferentes grupos. Por outro lado, a importância da espacialidade (localizações e situações) também tem sido discutida, especialmente nos espaços urbanos e em questões ambientais, situações em que é mais evidente a dimensão espacial da existência social. Os lugares, portanto, também podem ser entendidos como vulneráveis ou expostos a riscos (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 162).

De acordo com os autores, estudos da sociologia urbana datados de mais de um século admitem a relação bairro – vizinhança – posição e a estrutura da cidade como sendo fundamentais “na base da constituição das identidades, comunidades e na promoção de coesão social e cultural” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 164). Estes estudos, “revelaram a densidade e a coesão de vários bairros que se constituíam em verdadeiras comunidades devido a uma identidade étnica, histórica ou migratória” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 164). Demonstraram ainda que “os efeitos de vizinhança possuem relações para além de aspectos econômicos ou de mera proximidade, potencializando relações e interações que têm natureza espacial” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 164), muito embora anunciem em função do modo de vida contemporâneo, um enfraquecimento do bairro e da vizinhança.

Assim, defendem que “olhar para os perigos e a vulnerabilidade do lugar é uma estratégia que permite, em microescala, apreender os elementos que interferem na produção,

aceitação e mitigação dos perigos” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 165). Partindo-se de um contexto social e geográfico que entende o perigo como algo ocorrido ou de potencial ocorrência, o risco refere-se às ações mitigadoras (respostas e ajustamentos), em que o aumento destas ações diminui o risco e, por consequência, a vulnerabilidade do lugar.

A vulnerabilidade é, portanto, um qualitativo, ou seja, envolve as qualidades intrínsecas (do lugar, das pessoas, da comunidade, dos grupos demográficos) e os recursos disponíveis (na forma de ativos) que podem ser acionados nas situações de necessidade ou emergência. Assim, tanto o contexto social quanto o geográfico possuem atributos que fornecem elementos para pessoas e lugares estabelecerem seus sistemas de proteção. A relação entre o coletivo (o que não está ao alcance direto de intervenção individual, pois é produzido socialmente e historicamente) e o particular (aquilo que pessoas e lugares podem construir de forma direta) é uma chave importante para compreender o desenho das diferentes vulnerabilidades (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 166).

Em continuidade, os autores explicitam que “nem o contexto social nem o geográfico são completamente coletivos ou individuais. Ambos interferem diretamente nas duas escalas, fragilizando ou protegendo” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 166). A vulnerabilidade deve ser compreendida como neutra, já que não é negativa em si mesma e enfrentá-la requer estratégias próprias dos grupos ou coletividades afetadas no sentido de superar (resiliência) ou conviver (adaptação) com a interação risco-perigo em um determinado lugar, enquanto há ainda a “habilidade da população ou do lugar em responder ao evento” (perigo), pois quando não há, torna-se um desastre (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 166) e “são os recursos e as estratégias que estes terão para responder ao perigo (próprios ou externos, coletivos), absorvendo seus impactos e danos, que determinarão como aquele perigo afetará o espaço” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 166).

O enfoque ativos - vulnerabilidade – estrutura de oportunidade – AVEO, baseia-se na necessidade de compreender com quais recursos as famílias pobres podem contar para gerir a vida cotidiana. Em outras palavras, ajuda a compreender, a partir das ferramentas pessoais (ativos), quais as possibilidades de acesso a bens e serviços disponíveis na sociedade (estrutura de oportunidade), o que pode determinar sua vulnerabilidade.

Os ativos, ou a ausência deles, impactam diretamente na capacidade de aproveitamento das estruturas de oportunidades, existentes ou não, no bairro e entorno. Impactam, sobretudo, na capacidade de organização social das famílias, no protagonismo juvenil e no exercício da cidadania e, portanto, definem a situação de vulnerabilidade a que se encontram as famílias. Rementem à condição de saúde, qualificação, competências e