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Enfrentamentos: os sentidos produzidos pessoa idosa

5 CAPÍTULO 4 – Os atores frente à frente: tecnologia e a pessoa idosa

5.3 IDOSOS CONECTADOS: RELAÇÕES, APROPRIAÇÃO DOS

5.3.3 Enfrentamentos: os sentidos produzidos pessoa idosa

Os sentidos produzidos pela pessoa idosa sobre os meios bancários digitais, começa pela naturalização do mundo digital em uma atualidade da qual não se pode estar de fora. Uma atualidade exclusiva, que movimenta a todos os viventes em sociedade, em maior ou menor grau, em direção à digitalização. O que parece é que o entretenimento ganha disparado em primeiro lugar. Os telefones celulares estão conectados à internet e chegam como solução para os problemas mais comuns e recentes de comunicação, o indivíduo será encontrado onde estiver e vai estar conectado sempre que possível. Para a pessoa idosa, algo a mais pode ser notado: o aparelho conectado à internet é sinônimo de companheirismo e negação da solitude.

Contudo, os serviços oferecidos por meio da internet, seja através do telefone celular ou do computador, geram desconfiança ou são difíceis de realizar. No caso da pessoa idosa, difícil por não ter a vivência prévia na utilização de computadores, o que dificulta na identificação de funções mais conhecidas como salvar ou mesmo a noção de documento. Já o sentimento de desconfiança parece reunir o desconhecimento anterior com as dificuldades impostas a si mesmo. Muitas falas como “papagaio velho, não aprende a falar” colocam a velhice em pé de negativação. Já os entrevistados mais proativos, são aqueles que mais mostram vontade em direção a estes novos aprendizados, o que coincide com os atores que utilizam algum meio bancário digital. Assim, é possível afirmar que a atitude positiva em relação à velhice também reflete na abertura produtiva em direção ao aprendizado sobre o mundo digital. Quanto mais atitude, mais segurança, quanto mais segurança em si, mais segurança em relação aos processos que os rodeiam.

É Braga (2006) que fala do enfrentamento da mídia pela sociedade de maneira mais reflexiva e menos dicotômica. Enfrentar por meio de um tipo reflexividade, sem colocar-se em meio à conflitos diretos ou mesmo se contrapôr abertamente. Por isso, chega-se a esta pontuação da pesquisa trazendo os olhares, sentimentos e sentidos diversos produzidos pela pessoa idosa sobre os meios bancários digitais, que, para compreensão complexificada buscou-se pelos fatores de apropriação mais ampliados, para seguir com o afunilamento em direção ao objeto da pesquisa.

100 Assim, é possível constatar que a resistência, a negativa aos novos processos, é pouco existente. Duas idosas disseram dizer não, ao primeiro assédio destas novas tecnologias. Uma delas afirmou, algumas vezes, que estava fazendo o curso de smartphone por obrigação da filha. Outra senhora disse que se não aprendesse os novos processos online, teria que sair do emprego, por ser exigência mínima. No primeiro caso, desinteresse. No segundo caso, angústia pela obrigação. À parte destes sentimentos mais fortes, a maioria dos depoimentos estão envoltos por uma espécie de resignação. Todos estes dizeres compõem um tipo de sistema de enfrentamento (BRAGA, 2006), não nivelado, desigual. Aqui, o fator humano, o sujeito conta e reconta as próprias experiências como forma de dar corpo à um válido dicurso heterogêneo.

Os depoimentos são envoltos por sentimentos como resignação e angústia. Como fossem atingidos por uma inevitabilidade fatal. E o são, quando a emissão de documentos diversos ou mesmo procedimentos essenciais são condicionados pelos meios digitais, advindos de necessidades públicas ou privadas.

A educação frente à informática, no ensino básico, está atrelada ao uso de equipamentos (computador e, mais recentemente, o telefone celular) como mediador de pesquisas, entre outras atividades. Quando colocado em contato com o computador previamente, o indivíduo (re)conhece processos que vão aparecer mais adiante, com o uso do telefone celular. Indivíduos que têm, hoje, cerca de 10 anos, já nasceram conectados; utilizam, desde pequenos, os telefones inteligentes ou tablets. Em um tipo de linguagem que não traz mais símbolos de disquetes como botão de salvamento.

Quando exerciam seus respectivos trabalhos em empregos ditos formais, os idosos investigados viam tais tecnologias ainda como seminais e improváveis. Já é possível notar alguma relação direta quando da chegada de computadores aos variados ambientes de trabalho, na década de 1990. Professoras ou mesmo trabalhadoras e trabalhadores de escritórios receberam, não sem impactos, a novidade. Para aqueles que já não trabalhavam nos ambientes ditos formais nos anos 1990, não acompanharam o andar deste cenário. Já são eles os que adquiriram telefones celulares como os primeiros meios de acesso à internet. Os aparelhos trazem linguagem visual e usabilidade mais simplificados, por isso, considera-se um tipo de dispositivo mais inclusivo do que os computadores.

101 No caso das relações intergeracionais, apareceram como direcionadas às essencialidades. Demonstrando um cenário de distanciamento entre gerações, que, mesmo com a utilização generalizada de aplicativos de mensagens não parece caminhar na direção da conciliação. Uma comunicação do essencial com familiares, uma comunicação de entretenimento com amigas e amigos, uma comunicação de contemplação no Facebook e Youtube.

Quanto aos aplicativos bancários, são eles fontes de forte desconfiança. Históricos de funcionamento falho, tanto por parte da instituição ou mesmo do próprio idoso, geram desconforto e a desistência daqueles serviços. A autonomia da pessoa mais velha está diretamente relacionada aos usos dos meios digitais bancários, o que também corresponde ao tipo de uso dos demais aparelhos. Este tipo de serviço é utilizado até certo ponto, como já citado, para a consulta de saldos e, no máximo, transferência de valores. Transações mais complexas são realizadas em agências físicas, tendo a instituição bancária como mediadora. Não atoa, a pessoa idosa figura como presença certa nas agências bancárias. É de 2017 a lei que prevê prioridade dentro da prioridade, em que pessoas com 80 anos ou mais têm preferência especial sobre os demais idosos, um tipo de movimentação em direção às necessidades da pessoa idosa, em idade considerada avançada (AMADO, 2017).

É possível afirmar que esta argumentação, do início ao fim, tentou apresentar nuances da relação instrumentalizada comunicacional entre empresas bancárias e dois grupos de pessoas idosas. Um tipo de relação visualizada a partir das apropriações e usos da tecnologia conectada pela pessoa idosa, de maneira geral. Resgatando o pano de fundo histórico, social e tecnológico, necessário à reflexão sobre as apropriações tecnológicas da pessoa idosa, com foco nos serviços bancários digitais.

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