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A denominação engenharia simultânea (ES) foi proposta e caracterizada primeiramente em 1988, num relatório do Institute for Defense Analysis (I.D.A.) do governo americano. A ES trata-se de um conjunto de princípios voltados para o desenvolvimento de produtos de indústrias seriadas.

“A Engenharia Simultânea consiste em conceber de forma sistemática, integrada e simultânea os produtos e os processos que lhes são ligados. Este método conduz os desenvolvedores para considerar todos os elementos do ciclo de vida do projeto, da concepção à disposição aos usuários, e compreende a qualidade, os custos, a programação e a satisfação das necessidades e requerimentos dos usuários.” (NAVARRE, 1993).

O trabalho de Fabrício e Melhado (1998) apresenta diversas definições de ES encontradas na literatura. Ao analisar todas as definições encontradas na literatura, entende-se que é consensual a necessidade da integração e da simultaneidade para aplicação da ES.

44 atividades do processo de desenvolvimento de produto, pela integração no projeto por meio de equipes multidisciplinares e pelo desenvolvimento do processo de produção simultaneamente ao projeto do produto e concepção. A ES também é caracterizada pela presença de um coordenador de projetos, com responsabilidade sobre o processo de desenvolvimento do produto, e pela forte orientação pela satisfação do cliente e do mercado.

Na busca pela melhoria de desempenho do processo de projeto na construção civil, a ES começou a ser aplicada com o objetivo de ampliar sua eficiência produtiva e a qualidade de seus produtos (FABRICIO e MELHADO, 1998).

A aplicação da ES na construção de edifícios é limitada pelas peculiaridades setoriais que necessitam de adaptações e simplificações, de forma a viabilizar sua aplicação. As limitações são referentes à Natureza do Empreendimento, Tipo e característica do produto, Cultura e Aspectos relacionados, Fragmentação e heterogeneidade de Fornecedores, Escala de Produção e Limitações do canteiro. (FABRÍCIO e MELHADO, 2000).

Mas apesar das limitações entende-se que a aplicação da ES é pertinente e possível tanto para a indústria manufatureira quanto para a construção, uma vez que têm os mesmos objetivos. Segundo Tahon (1997) os objetivos são: aumento da produtividade, redução dos prazos de concepção e disposição dos produtos, ampliação da qualidade e redução dos custos.

Segundo Melhado (2000), na construção de edifícios, os princípios da ES poderiam ser aplicados de três formas possíveis, de maneira compatível e não excludente. Primeiramente pode-se citar a cooperação entre empreendedor e a equipe de projeto na etapa do programa.

Outra forma é denominada Projeto Simultâneo, que envolve sistemas de troca de dados e métodos de trabalho conjunto entre os envolvidos da equipe de projeto. A terceira forma seria a integração projeto-produção, onde inclui-se ao detalhamento do projeto, a participação dos fabricantes de sistemas e dos

45 construtores.

A Tabela 6 foi elaborada com base nos estudos de Melhado (2000) e apresenta de forma detalhada, as características das três formas de aplicação da ES na construção de Edifícios.

Tabela 6: Descrição Detalhada das formas de aplicação da ES na construção de edifícios. Item Forma de Aplicação Descrição Detalhada

1ª Cooperação entre empreendedor e equipe de projeto

"Envolve a elaboração e a crítica de programas para o produto, atividade fundamental para a geração de referências de análise e validação das soluções que serão desenvolvidas no projeto, facilitando o desempenho da gestão da qualidade."

2ª Projeto Simultâneo

"É uma das aplicações mais diretas da concurrent engineering, exige a eliminação da sequencialidade no desenvolvimento do projeto e a perfeita integração entre projetistas. Trata-se de uma metodologia que foca simultaneamente os aspectos relativos ao programa, ao produto e à produção."

3ª Integração projeto-produção

"Projetistas, construtores e fornecedores realizam juntos o estudo das interfaces, antecipação dos conflitos, disseminação das informações entre os responsáveis pela execução da obra e, assim, obtêm uma integração entre as prescrições do projeto e a viabilização dos serviços de execução, favorecendo a retroalimentação da atividade de projeto e a ampliação das competências dos projetistas."

Fonte: Melhado (2000).

2.4.1 Relação entre projeto simultâneo, equipe multidisciplinar e sua relação com a integração do projeto com outras disciplinas

Para Fabrício, Mesquita e Melhado (2002), a tendência da complexidade de projeto dos edifícios resulta no aparecimento de problemas que exigem soluções especializadas, que são obtidas por meio da mobilização de diferentes conhecimentos e profissionais. Desta forma, pode-se afirmar que o projeto dos edifícios contemporâneos é considerado um processo social e multidisciplinar, que é executado por diferentes pessoas detentoras de diferentes conhecimentos e interesses, dentro de um mesmo empreendimento.

A interação e a convivência desse aglomerado de especialistas, denominada aqui equipe multidisciplinar, no ambiente da produção na construção civil, muitas vezes

46 é negligenciada no nível de gestão. Sendo assim, ela necessita de uma coordenação para que não ocorra dispersão de responsabilidades, entre outras barreiras que acabam por dificultam a tomada de decisões conjuntas. (MELHADO, 2000).

De acordo com este cenário, o projeto é a consolidação conjunta e simultânea dos interesses e limitações dos agentes envolvidos, de maneira antecipada e sistêmica, buscando eficiência dos sistemas de produção e qualidade dos produtos gerados. Sendo assim, o conceito de projeto simultâneo é entendido como uma adaptação do setor da construção à metodologia da ES (FABRÍCIO e MELHADO, 2000).

Para tanto, torna-se necessária a integração entre os diversos agentes responsáveis pela definição das estratégias comerciais dos empreendimentos com aqueles responsáveis pelas fases de projeto, fabricação e montagem.

Segundo Grilo e Melhado (2003), “o termo integração designa a quantidade e qualidade da interação entre os agentes do processo de produção ao longo do empreendimento”. A integração entre os membros da equipe é apontada como o requisito essencial para a melhoria do desempenho e garantia indireta da qualidade do produto. Para o mesmo autor, benefícios consideráveis podem ser alcançados por meio do incentivo à cooperação e à integração, como por exemplo, o aumento da produtividade, a redução de disputas e a introdução de inovações tecnológicas.

Segundo Melhado e Violani (1992), são quatro os principais envolvidos: os projetistas, o usuário, o empreendedor e o construtor, conforme apresentado na Figura 19. Nestes casos, eles são responsáveis respectivamente pela formalização, utilização, fabricação e geração do produto.

Em temos ideais o projeto para produção deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, concomitante aos projetos do produto e considerar a cultura construtiva da empresa construtora e as particularidades da obra. (FABRICIO,

47 2002).

Figura 19: Os principais envolvidos e suas respectivas responsabilidades, adaptado pela autora. Fonte: MELHADO e VIOLANI, (1992)

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