• Nenhum resultado encontrado

PARTE II: INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

V. C ONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJECTO DE ESTUDO – OS ESTABELECIMENTOS DE EDUCAÇÃO PRÉ ESCOLAR

5.2 Enquadramento da educação pré-escolar no ordenamento jurídico português

A primeira legislação sobre o Pré-escolar, visando implementar, verdadeiramente, este tipo de ensino, após a Revolução de Abril de 1974, foi criada em 1977 com a Lei n.º 5/77 de 1 de Fevereiro que estabelece a Rede Oficial de Ensino Pré-escolar (revogada pela lei n.º 5/97). Depois desta surgem muitas outras, destacando-se as seguintes:

a). Decreto-Lei n.º 542/79 de 31 de Dezembro que regula os Estatutos dos jardins-de-infância (revogadas disposições que contrariam a Lei n.º 5/97, de 10 de Fevereiro);

b). Lei n.º 9/79, de 19 de Março, Lei de Bases do Ensino Particular e Cooperativo;

c). Decreto-Lei n.º 553/80, de 21 de Novembro, Estatutos do Ensino Particular e Cooperativo;

d). Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro, Lei de Base do Sistema Educativo (alterada pela Lei n.º 115/97, de 19 de Setembro);

e). Lei n.º 5/97 de 10 de Fevereiro, Lei-quadro da Educação Pré-escolar;

f). Decreto-Lei n.º 147/97, de 11 de Junho que estabelece o ordenamento jurídico do desenvolvimento e expansão da rede nacional de educação pré-escolar e define o respectivo sistema de organização e financiamento.

Como já foi referido, a publicação da Lei n.º 5/97 de 10 de Fevereiro e do Decreto-Lei n.º 147/97, de 11 de Junho, teve como objectivo marcar uma viragem no modo de articulação entre o funcionamento e organização das diferentes redes existentes deste tipo de ensino e promover a expansão da rede nacional de educação pré-escolar, pelo que maior ênfase será aqui dada aos seus conteúdos.

A educação pré-escolar ―é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida‖ (art.º 2 da Lei-quadro da Educação Pré-escolar) e destina-se ―às crianças com idades compreendidas entre os 3 e a idade de ingresso no ensino básico‖ (n.º 3 da Lei n.º 5/97, de 10 de Fevereiro, Lei-quadro da Educação Pré-escolar). A educação pré-escolar é da responsabilidade dos estabelecimentos de educação pré-escolar que são estruturas que prestam serviços vocacionados para o atendimento à criança, proporcionando actividades educativas e de apoio à família, designadamente no âmbito de actividades de animação sócio-educativa (n.º 1 do art.º 8 do Decreto-

46

Lei n.º 147/97, de 11 de Junho). A componente educativa corresponde a um trabalho planificado e desenvolvido pelo educador de infância com o seu grupo de crianças ao longo do ano, 5 horas por dia, proporcionando-lhes múltiplas aprendizagens: ―As crianças aprendem a aprender, a relacionar-se e a fazer parte de um grupo, a formular as suas opiniões e a aceitar a dos outros, desenvolvendo um espírito democrático, num clima de participação e partilha.‖ (Departamento da Educação Básica, 1998). A componente de apoio à família corresponde ―ao serviço de refeições e às actividades desenvolvidas para além das 5 horas diárias, competindo à direcção pedagógica a coordenação e a orientação das actividades de animação sócio-educativa (…).‖ (Departamento da Educação Básica, 1998).

Com vista ao desenvolvimento e expansão da rede de educação pré-escolar, no art.º 7 da Lei- Quadro, o Estado compromete-se a:

a) Criar uma rede pública de educação pré-escolar, generalizando a oferta dos respectivos serviços de acordo com as necessidades;

b) Apoiar a criação de estabelecimentos de educação pré-escolar por outras entidades da sociedade civil, na medida em que a oferta disponível seja insuficiente [saliente-se aqui o interesse do Estado na criação de estabelecimentos privados que complementem a sua oferta];

c) Definir normas gerais da educação pré-escolar, nomeadamente nos seus aspectos organizativo, pedagógico e técnico, e assegurar o seu efectivo cumprimento e aplicação através do acompanhamento, da avaliação e da fiscalização;

d) Prestar apoio especial às zonas carenciadas.

Tendo como princípios orientadores a qualidade e a igualdade de oportunidades, o Decreto-Lei n.º 147/97, de 11 de Junho, refere pela primeira vez a existência de uma rede nacional de educação pré- escolar constituída pelas ―redes de educação pré-escolar, pública e privada (…), visando a universalidade da educação pré-escolar.‖ (n.º 1 do art.º 3). Consideram-se partes integrantes da rede nacional de educação pré-escolar, a rede pública, integrando estabelecimentos de educação pré- escolar, criados e a funcionar na directa dependência da administração pública central e local (n.º 2 do art.º 3) e a rede privada, constituída pelos estabelecimentos de educação pré-escolar que funcionem em estabelecimentos de ensino particular e cooperativo, em instituições particulares de solidariedade social (IPSS) e em instituições, sem fins lucrativos, que prossigam actividades no domínio da educação e do ensino (n.º 3 do art.º 3). A articulação necessária ao objectivo da expansão e do desenvolvimento da rede nacional continua a ser da responsabilidade de ambos os Ministérios, da Educação e do Trabalho e da Solidariedade Social, mas os dois passam agora a ter funções bem definidas, cabendo ao primeiro a) promover a qualidade pedagógica dos serviços educativos a prestar; ao segundo b) prestar apoio às famílias, designadamente, no desenvolvimento de actividades de animação sócio-educativa; e a ambos c) prestar o apoio financeiro aos estabelecimentos de educação pré-escolar (n.º 1 do art.º 5). Ou seja, a tutela pedagógica, nos termos da lei, passa a ser da competência exclusiva do Ministério da Educação e a tutela técnica da competência conjunta dos Ministérios da Educação e do Trabalho e da Solidariedade Social (art.º 14).

47

Segundo o art.º 7 do mesmo diploma, a igualdade de oportunidades implica, nomeadamente, que as famílias, independentemente dos seus rendimentos, beneficiem das mesmas condições de acesso, qualquer que seja a entidade titular do estabelecimento de educação pré-escolar. Para isso, o Estado comprometeu-se a criar condições para apoiar e tornar efectivo o direito ao acesso à educação pré- escolar, nomeadamente, através da gratuitidade da componente educativa. A gratuitidade desta componente verifica-se na prática somente nos estabelecimentos da rede pública e na rede particular solidária (i.e IPSS e outras instituições sem fins lucrativos), através dos acordos de cooperação estabelecidos entre o Estado e as Uniões das IPSS, das Misericórdias Portuguesas e das Mutualidades Portuguesas, a partir de 1998 (Despacho conjunto n.º 413/99, de 15 de Maio). Não obstante, os estabelecimentos de ensino particular e cooperativo podem pedir apoio financeiro para as famílias carenciadas, de acordo com o rendimento que auferem (contrato de desenvolvimento da educação pré-escolar criado pelo Despacho n.º 1058/98, de 17 de Janeiro).

Ainda no âmbito da igualdade de oportunidades, no que respeita aos critérios de acesso das crianças, são os próprios estabelecimentos de educação pré-escolar a definirem-nos, à excepção dos da rede pública, cujo critério de admissão, como já foi referido, é a idade, dando prioridade às crianças mais velhas. Nas IPSS os critérios de admissão ―têm sido de ordem social, de acordo com as necessidades das famílias‖ (Departamento da Educação Básica, 1998) e nos estabelecimentos privados com fins lucrativos o valor das mensalidades constitui, logo à partida, o principal factor de selecção das crianças.

Com vista a garantir o princípio da qualidade de todos os estabelecimentos de educação pré-escolar, o Estado define normas constitutivas de uma organização educativa de qualidade, em termos pedagógicos e técnicos, nomeadamente, orientações curriculares, qualificação do pessoal docente e direcções pedagógicas, infra-estruturas e apetrechamento, horários e lotação das salas (decreto-lei n.º 147/97, de 11 de Junho). Estas são válidas para todas as regiões do país e para todos os estabelecimentos de ensino da rede pública e da rede privada e mesmo para os grupos de alunos da educação pré-escolar itinerante e da animação infantil comunitária. O seu cumprimento é aferido através de mecanismos de avaliação e inspecção a que todos os estabelecimentos estão sujeitos.

5.3 A desigualdade de oportunidades no seio da educação pré-escolar em Portugal

Documentos relacionados