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Enquadramento da legislação Portuguesa aplicável a sistemas de reutilização de águas

Os valores normativos estabelecem os parâmetros necessários para não prejudicar a saúde pública e o ambiente. Apesar destes documentos normativos se aplicarem apenas à reutilização de água residual urbana tratada, não impede que possam ser usados também como base na reutilização das águas cinzentas claras tratadas (relevante para o caso de estudo deste trabalho), visto estas serem menos poluídas que as águas residuais urbanas totais.

A União Europeia publicou duas Directivas relativas à qualidade das águas destinadas ao consumo humano: a Directiva 80/778/CE de 15 de Julho de 1980 e a Directiva 98/83/CE) de 3 de Novembro de 1998 que revogou a anterior.

Portugal aplicou as directivas através do Decreto-lei n.º243/01 de 5 de Setembro, fixando este decreto as normas relativas à qualidade da água para consumo humano.

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O tratamento de águas residuais urbanas é regulado pelo Decreto-lei n.º 152/97 de 19 de Junho, que transpõe a Directiva n.º 91/271/CEE de 21 de Maio e pelo Decreto-lei n.º 149/04 de 22 de Junho. Em resumo, estes diplomas definem que a descarga de águas residuais urbanas só poderá ser licenciada após ser efectuado um tratamento secundário; no caso da população servida sofrer um aumento este tratamento terá que ser um tratamento superior ao secundário (que não será o caso de estudo).

O decreto-lei n.º236/98 de 1 de Agosto estabelece as normas, critérios e objectivos da qualidade da água em função dos seus principais usos, com a finalidade de proteger o meio aquático e a saúde pública dos efeitos nocivos resultantes da contaminação desta água.

O artigo n.º2 do referido Decreto-lei define os requisitos a observar na utilização das águas para os seguintes fins (Decreto-lei n.º236/98 de 1 de Agosto):

 Águas para consumo humano;

 Águas para suporte de vida aquícola;

 Águas balneares;

 Águas de rega.

São ainda estabelecidas as normas de descarga das águas residuais na água e no solo, tendo em vista a promoção da qualidade do meio aquático e a protecção da saúde pública. Neste Decreto no anexo XV é indicada a Qualidade das águas balneares e no anexo XVI a Qualidade das águas destinadas à rega; deve ser enfatizada a importância destes 2 anexos para o desenvolvimento dos sistemas de reutilização de águas residuais domésticas.

Relativamente às actividades de reutilização de água residual, a Directiva 91/271/CEE, no artigo 12.º, estabelece que, em países pertencentes à União Europeia, a água residual tratada deve ser reutiliza da sempre que for apropriado desde que os locais de depósito da água tratada minimizem os efeitos ambientais adversos.

Relativamente à utilização de água não potável, no Artigo 86.º do Regulamento geral dos sistemas públicos e prediais de distribuição de água e drenagem de águas residuais, aprovado pelo Decreto Regulamentar n.º23/95 de 23 de Agosto, referente à utilização de água não potável é descrito o seguinte:

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“1. A entidade gestora do serviço de distribuição pode autorizar a utilização de água não potável exclusivamente para lavagem de pavimentos, rega, combate a incêndios e fins industriais não alimentares, desde que salvaguardadas as condições de defesa da saúde pública.

2. As redes de água não potável e respectivos dispositivos de utilização devem ser sinalizados”.

Este artigo limita as possibilidades de reutilização para usos urbanos não potáveis (excluindo as descargas de autoclismos) o que reflecte uma desactualização face às necessidades do actual contexto dos sistemas de reutilização de águas. Há uma falha na legislação portuguesa com a omissão relativamente às restantes possíveis utilizações de águas residuais tratadas (Matos et al., 2010).

Uma das actividades em que pode ser utilizada a água residual tratada pode ser na rega de jardins com acesso restrito ou não restrito ao utilizador. A Norma Portuguesa NP 4434, publicada em 2005 define as condições para a reutilizarão de águas residuais tratadas para a rega. Com esta Norma é possível definir os requisitos de qualidade das águas residuais tratadas para a rega, garantindo a saúde pública e o ambiente. Esta Norma aplica-se apenas à reutilização de águas residuais urbanas tratadas em ETAR, mas é um ponto de referência para as águas cinzentas tratadas e colocadas directamente na reutilização para a rega de jardim de uma habitação.

Assim sendo, no que se refere aos parâmetros de qualidade das águas residuais tratadas, existem algumas exigências legais que devem condicionar as aplicações para cada fim de uso não potável. Como por exemplo: se a finalidade for para rega de espaço verde, o Decreto-lei n.º236/98 de 1 de Agosto (presente na NP 4434) faz referência no anexo XVI sobre a qualidade das águas destinadas à rega.É apresentado no Quadro 6 um resumo dos principais diplomas que estão em vigor em Portugal e na União Europeia para cada tipo de reutilização de águas residuais estudadas neste trabalho (Matos et al., 2010).

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Quadro 6 - Legislação comunitária e portuguesa com incidência na reutilização de águas residuais tratadas (Matos et al., 2010)

Aplicação da reutilização: Rega agrícola e paisagista

Incidência na reutilização:

 Protecção da saúde e dos consumidores

 Poluição do solo e das águas subterrâneas

Legislação comunitária:

 Directiva n.º91/676/CEE – Nitratos

 Estratégia temática dos Pesticidas e Mercúrio

 Directiva n.º2006/118/CE – protecção das águas subterrâneas conta a poluição e deterioração

 Directiva do Solo (em preparação)

Legislação Portuguesa:

 Decreto-lei n.º236/98, de 1 de Agosto – normas, critérios e objectivos de qualidade destinadas a proteger o meio aquático e melhorar a qualidade das águas em função dos seus principais usos

 Decreto-lei n.º235/97, de 3 de Setembro, alterado pelo Decreto-lei n.º68/99, 11 de Março – Poluição das águas por nitratos de origem agrícola

 Portaria n.º258/2003, de 19 de Março – carta das zonas vulneráveis à poluição por nitratos

 Decreto-lei n n.º382/99, de 22 de Setembro – perímetros de protecção para captações de águas subterrâneas destinadas ao abastecimento público

 Decreto-lei n.º208/2008, de 28 de Outubro – regime de protecção das águas subterrâneas contra a poluição e deterioração

Aplicação da reutilização: Usos urbanos não potáveis

Incidência na reutilização:

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Quadro 6 - Legislação comunitária e portuguesa com incidência na reutilização de águas residuais tratadas (continuação)

Legislação Portuguesa:

 Decreto - Regulamentar n.º23/95, de 23 de Agosto – Regulamento Geral dos Sistemas Públicos e Prediais de Distribuição de Água e de Drenagem de Águas residuais

Assim, em Portugal, a legislação sobre a reutilização da água não se encontra ainda adequada, pois são ainda raros os sistemas de reutilização de águas residuais em habitações unifamiliares. Seria importante haver peças legislativas definidas com clareza sobre esta actividade de forma a permitir e incentivar o desenvolvimento desta prática para as diversas aplicações.

2.5 Sistemas de recolha e tratamento de águas residuais para posterior

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