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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. Enquadramento da reforma dos cuidados de Saúde

A profissão de enfermagem caracterizada por um ambiente de trabalho emocionalmente e fisicamente exigente é também das profissões que mais transformação sofreu, ao longo da história.

Em virtude das exigências próprias do tipo de trabalho no sentido de ir ao encontro da maximização da qualidade face a satisfação das necessidades dos utentes, as exigências são cada vez maiores, não só pelo progresso da tecnologia mas também pela participação ativa da pessoa no seu processo de saúde/doença. Contudo, nos últimos anos o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem sido alvo de profundas e sucessivas mudanças. Os novos desafios apresentados ao SNS devido ao crescimento dos cuidados de saúde imbuído de fortes restrições financeiras exige por partes destes profissionais uma nova abordagem.

Martins (1996) considera que a reforma do sistema de saúde é fortemente condicionada pelos custos. Assim, a prestação de cuidados prende-se uma época conturbada, com recursos financeiros insuficientes, pessoal desmotivado e insatisfeito, com taxas de mobilidade crescentes e o esgotamento dos profissionais de saúde (Batista, Santos & Santos, 2009).

Cura e Rodrigues (1999) afirmam que quanto mais satisfeitos os enfermeiros se sentirem com a sua profissão maiores são as condições para melhorar a qualidade da assistência à pessoa.

Os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros, deparam-se com esta crescente reforma, na qual são confrontados com um conjunto de direitos retirados, como é o caso do congelamento de progressão na carreira, não usufruindo de atualização de escalão em termos remuneratórios desde o ano de 2005, mais recentemente 01 de Janeiro de 2009 todos os enfermeiros a exercer atividade na função pública passaram a ser abrangidos pelo regime do contrato de trabalho em funções públicas, abreviadamente designado por RCTFP (Lei nº 59/2008 de 11 de Setembro) ou até mesmo atual Lei Geral de Trabalho em Funções Públicas - Lei 35/2014 de 20 de junhoconhecida como a “Lei das 40 horas”.

Estas mudanças levaram a um aumento da carga de trabalho e uma diminuição dos rácios enfermeiro-utente podendo afetar a qualidade do atendimento à pessoa.

Alguns estudos revelam muitas vezes insatisfação com a carga horária, baixo salário e falta de reconhecimento profissional, indicando que os enfermeiros estão insatisfeitos com seu ambiente de trabalho.

Outro fato cada vez mais visível mas ainda pouco abordado atualmente é o trabalho especializado, nos Enfermeiros, que não é remunerado. Sendo o enfermeiro especialista detentor de um

“conhecimento aprofundado num domínio específico de enfermagem tendo em conta as respostas humanas aos processos de vida e aos problemas de saúde, que demonstram níveis elevados de julgamento clínico e tomada de decisão, traduzidos num conjunto de competências especializadas relativas a um campo de intervenção” (Regulamento n.º 122/2011)

este usa estes conhecimentos, que para os quais não estão contratados.

A reabilitação enquanto especialidade multidisciplinar, compreende de igual modo, “um corpo de conhecimentos e procedimentos específicos que permite ajudar as pessoas com doenças agudas, crónicas ou com as suas sequelas a maximizar o seu potencial funcional e independência” (Regulamento n.º 125/2011)

Os seus profissionais, segundo, alguns administradores estão aptos a suprir carências definidas e indefinidas, sem a remuneração de especialista, nos seus horários extra-serviço sem a progressão numa categoria de carreira que lhe é devida.

Batista, Vieira, Cardoso e Carvalho (2005) concluíram que a remuneração foi indicada como um dos fatores de maior insatisfação no trabalho dos enfermeiros pois estes consideram-se mal remunerados atendendo ao tipo de trabalho realizado, carga horária e responsabilidade assumida.

Outra medida atual que está a provocar muita desinformação e perplexidade nos enfermeiros é o exercício profissional autónomo de enfermeiro e de enfermeiro especialista em Portugal, que a breve prazo, irá ser confrontado com uma regulamentação própria, prevista no artigo 7.º da lei n.º 111 de 16 de setembro de 2009.

Este diploma veio alterar no Estatuto da Ordem dos Enfermeiros (OE) todo o processo de atribuição dos títulos de enfermeiro e de enfermeiro especialista. Esta alteração determina à OE instrumentos reguladores e referenciais da profissão definidos num Modelo de Desenvolvimento Profissional (MDP) (Cadete, 2014).

Este processo permite capacitar e certificar pelo regulador (OE) as competências profissionais inerentes ao exercício da atividade do enfermeiro e do enfermeiro

especialista, designadamente, cuidados de enfermagem gerais e especializados (Cadete, 2014)

Hoje em dia colocam-se grandes desafios aos gestores em saúde. O resultado das tentativas de conter o aumento dos custos de cuidados de saúde conduziram a políticas organizacionais que afetam grandemente os enfermeiros, como o maior grupo de profissionais de saúde nos hospitais.

O encerramento de hospitais de pequeno porte, o aumento da utilização de pessoal não-enfermagem e precarização da força de trabalho tiveram um impacto direto sobre enfermeiros e na prática dos cuidados de enfermagem.

Porém, segundo Pinto (2003, cit in Barros, 2009) “ em Saúde, a vida e a saúde têm um valor infinito, para o próprio e para os seus próximos”, daí que o setor da saúde ocupa, atualmente, um espaço muito visível na sociedade, onde a procura incessante de mecanismos e reformas para diminuição de custos choca com a satisfação não só das necessidades dos seus profissionais, como também das necessidades da população.

A grande instabilidade atualmente sentida a nível da saúde, em que a incerteza acerca do futuro (novas leis bases da saúde e gestão hospitalar, carreira de enfermagem desatualizadas) pode acarretar aos enfermeiros, certamente, alguma insatisfação profissional, é de prever que esse risco profissional tenha consequências não só para os profissionais, mas principalmente para os que recebem cuidados.

Os enfermeiros tentam sempre atingir o seu ideal, e para isso, trabalham mais e consequentemente tornam-se mais críticos com a relação ao ambiente e a si mesmo, levando por muitas vezes ao aparecimento de insatisfação profissional.

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