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Definição

Consultando um dicionário online4, motivação aparece com as entradas: “1. Ato de motivar;

2. Ato de despertar o interesse para algo; 3. Conjunto de fatores que determinam a conduta de alguém; 4. Processo que desencadeia uma atividade consciente; 5. Exposição de motivos;

6. LITERATURA relação intrínseca e natural existente entre um signo e o seu referente; 7.

Apresentação de um centro de estudo que visa despertar o interesse e mobilizar a atividade do aluno” (Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, 2019).

Na sua tese de mestrado, Diana Sampaio (2017) descreve motivação como:

(…) aquilo que induz, move ou incita um sujeito à ação, é um estado psicológico que se desenvolve no interior do sujeito e que o impulsiona a realizar algo. A Motivação é baseada em emoções, principalmente pela procura de experiências positivas e evitando as negativas, e no nosso dia-a-dia, tudo o que fazemos é fruto de uma motivação seja ela positiva ou negativa.

(Sampaio, 2017, p. 63)

Esta ideia complementa em certa medida uma outra, apresentada num trabalho conjunto entre Ana Maria Coelho, Goretti Santos e Raquel Gomes (2011): “O termo motivação deriva do verbo latino “movere” que significa movimento, ou seja, motivação é o processo que leva a pessoa a fazer algo de determinada maneira e a mover-se em direção a um objetivo”

(Coelho, Santos, & Gomes, 2011, p. 3).

4 Motivação em Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2003-2019. [consult. 2019-04-25 19:07:15].

Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/motivação

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A motivação é, portanto, uma força interior que leva o indivíduo a agir quer mental quer fisicamente: “Num ponto de vista didático, é caracterizada como um processo de incentivação, desencadeador de impulsos internos no aluno que o levam a interessar-se pelas atividades escolares” (Sampaio, 2017, p. 63).

Motivação para a Aprendizagem

Tal como afirmam Abílio Lourenço e Maria Paiva (2010): “No contexto educacional a motivação dos alunos é um importante desafio com que nos devemos confrontar, pois tem implicações diretas na qualidade do envolvimento do aluno com o processo de ensino e aprendizagem” (Lourenço, & Paiva, 2010, p. 2).

Referindo-se ao papel da motivação na aprendizagem de um instrumento, Francisco Cardoso (2007) escreve:

A aprendizagem instrumental, independentemente do contexto escolar onde se insira, reveste-se de características únicas quando comparada com outras aprendizagens (Clarke, 2002). Aprender a tocar um instrumento envolve a aquisição de uma enorme variedade de competências: auditivas, motoras, expressivas, performativas, e no caso do ensino especializado, envolve também a aquisição de competências de leitura. […] Se adicionarmos a esta realidade a tensão usualmente ligada às audições e aos concertos, bem como a velocidade de aprendizagem e de evolução imposta no ensino especializado de música, será fácil, portanto, adivinhar a importância da motivação para a aquisição e desenvolvimento das competências necessárias para tocar um instrumento musical

(F. Cardoso, 2007, pp. 1–2)

A motivação é um fator importante para a aprendizagem da música e do instrumento, pois para além dos desafios inerentes, e de evitar que os alunos desmotivem, é necessário manter os índices de motivação dos alunos em alta para que estes consigam superar as dificuldades.

Marco Pereira (2011), na sua dissertação de Mestrado, defende a mesma opinião, afirmando que:

A maneira como determinadas crianças desenvolvem um maior gosto pela continuidade e valorização dos seus estudos musicais, uma maior persistência na obtenção de resultados e uma maior adaptabilidade ao lidar com os seus sucessos e fracassos, são alguns dos fatores que colocam a motivação como uma parte importante da aprendizagem. Desta forma, a sua compreensão poderá ser preponderante para auxiliar o aluno na obtenção de determinados comportamentos, que incrementarão todo o seu potencial.

(Pereira, 2011, p. 3)

Sampaio (2017) acrescenta ainda que:

Para que um aluno realize as atividades de forma satisfatória, é preciso que exista, para além de um bom nível intelectual e cognitivo, um componente motivacional-emocional suficiente. As técnicas de motivação são inúmeras e podem ser: a autossuperação, os elogios e censuras, o material didático, as necessidades individuais, a motivação pela própria matéria, entre outras.

(Sampaio, 2017, p. 64)

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Desde há muito tempo que as teorias da motivação são objeto de estudo, contudo, “(…) só recentemente tem sido estudado o impacto dessas teorias na aprendizagem musical”

(Cardoso, F., 2007, p. 1). Ana Cardoso (2013) escreve que, no ramo da música, a investigação tem “(…) tentado compreender a motivação para aprender música e a motivação para continuar a aprender apesar dos obstáculos e dificuldades que surgem no estudo e aquisição de competências não só cognitivas como também motoras aquando da prática musical”

(Cardoso, A., 2013, p. 67).

Margarida Neves (2011), citando Susan Hallam, diz que o enorme interesse da pesquisa pela área musical deve-se, sobretudo, ao facto de a motivação “(…) estar estreitamente relacionada com aprendizagem e aquisição de competências para a prática de um instrumento musical, uma vez que é necessário muita persistência e muito trabalho para conseguir o domínio técnico desejado mesmo nos níveis iniciais de aquisição de conhecimentos” (citado em Neves, 2011, pp. 24–25). A autora acrescenta ainda que as pesquisas realizadas desde o séc. XIX até à atualidade foram-se ramificando e especializando em diversas áreas do conhecimento. As ciências da educação foram uma dessas áreas, que transferiu e aperfeiçoou o conhecimento já existente sobre motivação. “As pesquisas realizadas desde então pretendem compreender a grande quantidade de elementos relativos aos diversos tipos de motivação teorizados e relacioná-los com a aquisição de conhecimentos e competências, ou seja, com o processo de aprendizagem de um indivíduo” (Neves, 2011, p. 20).

Como se constata, a motivação está na base da aprendizagem, sendo determinante na qualidade da mesma e no desempenho dos alunos. Se os alunos estiverem motivados são mais persistentes na execução de tarefas, mais curiosos e mais empenhados. Os alunos estando motivados, “(…) consideram as tarefas escolares significativas e tentam obter benefícios através destas” (Sampaio, 2017, p. 71). Quando se fala de motivação na aprendizagem é necessário ter em conta as características do contexto escolar. É importante que os professores sejam capazes de captar a curiosidade dos alunos e criar um ambiente propício à aprendizagem; contudo este trabalho deve ser feito em parceria com os pais, os quais devem incentivar o interesse pelas atividades escolares.

Visto que a aprendizagem de um instrumento requer um tempo elevado de estudo e um grande esforço, o que leva então uma criança a despender essa elevada quantidade de tempo e esforço a estudar e praticar o instrumento? Cardoso (2007) diz que, de acordo com vários estudos, a motivação das crianças tende a depender de fatores externos:

Os motivos podem ser, entre outros, coisas tais como ‘querer agradar aos pais’, ‘evitar que o professor fique triste’, ou simplesmente ‘evitar um castigo’ (Sloboda & Davidson, 1996). Entre os investigadores, é consensual achar que um factor determinante na continuação da aprendizagem

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após a transição para adolescência depende de a criança ter trocado os factores externos de motivação por factores internos (McPherson, 2001).

(Cardoso, F., 2007, p. 2)

Sampaio (2017) complementa a ideia anterior dizendo que Hallam “(…) apresenta um modelo de motivação em música que demonstra as possíveis interações entre características do indivíduo e do ambiente, as quais podem influenciar a motivação do aluno para aprender música. Os fatores são individuais e ambientais e estes podem inter-relacionar-se” (citado em Sampaio, 2017, pp. 74–75). O centro deste modelo é o processo cognitivo, que se refere à interpretação do indivíduo sobre as situações experienciadas no ambiente de aprendizagem e sobre as atribuições de sucesso e fracasso, resultantes das tarefas musicais que realiza.

Estes estão na origem de um processo reflexivo individual feito pelo aluno, que inclui a sua perceção sobre as interações que estabeleceu no contexto e sobre o seu desenvolvimento musical. Este processo de reflexão determinará o seu comportamento futuro nos seus estudos musicais (Condessa, 2011, p. 91).

Em suma, a motivação dos alunos é afetada por aquilo que os alunos acreditam ser verdade acerca deles próprios. Essas ideias sobre si são construídas principalmente através da interação com pais, família próxima e amigos, e passam a constituir uma parte importante da estrutura da sua personalidade (Hallam citado em Cardoso, F., 2007, p. 4). Também os professores contribuem para a construção ou modificação desta perceção de si, alterando as crenças acerca das suas capacidades, do seu potencial de aprendizagem, ou da origem das suas dificuldades. “Estas modificações, uma vez implantadas, produzirão modificações na velocidade e a qualidade das aprendizagens futuras desses alunos” (citado em Cardoso, F., 2007, p. 4).

Tipos de Motivação

Os tipos de motivação variam consoante diversos fatores, que incluem a idade, interesse, contexto social, contexto escolar, contexto familiar, entre outros. O contexto de aprendizagem dos alunos é definido pelas diferentes formas de aprender dos alunos e pelo ambiente que os rodeia a nível de escola e sala de aula. Tanto a motivação intrínseca como a motivação extrínseca do aluno influenciam o processo de aprendizagem (Sampaio, 2017, p. 64).

Motivação Intrínseca

A motivação intrínseca tem origem no interior do sujeito. Neves (2011) considera que a motivação intrínseca “É a grande responsável pela procura do conhecimento e pelo desejo de aquisição de competências. Só o indivíduo intrinsecamente motivado realiza todo o esforço associado à prática de um instrumento musical de uma forma prazerosa, sem considerar que

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esse esforço é superior à recompensa esperada” (Neves, 2011, p. 26). O mesmo autor diz ainda que “(…) a motivação intrínseca é diversas vezes referida como sendo a forma de motivação mais favorável ao desenvolvimento de competências e à aquisição de conhecimentos” (Neves, 2011, p. 26). De facto, a motivação intrínseca de um aluno favorece a aprendizagem, uma vez que o torna menos dependente dos seus professores e mais interessado pelos conteúdos de aprendizagem, o que traz resultados positivos ao seu desempenho (Coelho, Santos, & Gomes, 2011, p. 6).

Motivação Extrínseca

A motivação extrínseca é derivada de fatores externos ao sujeito. Segundo Veronica Sichivitsa, existem quatro fatores extrínsecos importantíssimos: “os encarregados de educação, os professores, os pares e as experiências positivas anteriores” (citado em Cardoso, A., 2013, p. 73). As estratégias motivacionais extrínsecas não são tão efetivas como as intrínsecas, uma vez que os alunos com este tipo de motivação efetuam atividades com a intenção de agradar ao professor ou aos pais, para obter recompensas externas ou para evitar uma punição.

A falta de motivação pessoal pode criar uma dependência em relação ao professor e às suas instruções para realizar tarefas. O aluno pretende apenas cumprir os requisitos pedidos pelo docente e memoriza a informação suficiente para realizar provas ou exames, por exemplo, encarando este esforço como uma imposição externa e não com o objetivo de aprender (Coelho, Santos, & Gomes, 2011, p. 7). Muitas vezes estas não se revelam aprendizagens efetivas, criando ansiedade, frustração e, muitas vezes, efeitos negativos no desempenho do aluno. Contudo, segundo Hallam (2002), apesar da performance em contexto escolar não ser, para a maioria dos alunos, intrinsecamente motivante, a motivação extrínseca proporcionada pelo desejo de evitar o insucesso é muitas vezes suficiente para incentivar o estudo (Hallam, 2002, p. 237).

Um dos objetivos do professor é conseguir que através de uma motivação extrínseca, por si transmitida, seja criada uma motivação intrínseca no aluno, derivada do seu interesse pela matéria transmitida e curiosidade para aprender mais.

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