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6. ESTUDO DE CASOS

6.1. ENQUADRAMENTO

Sabe-se que o Porto tem um número aproximado de 237.591 habitantes, apesar de ocupar apenas 2,02% da Área Metropolitana do Porto (AMP). O número de habitantes desta cidade tem sofrido uma redução indubitável nas últimas décadas: em 1980 possuía um total de aproximadamente 327.368 habitantes, que foram decrescendo até atingir valores inferiores a 250.000 habitantes, em 2011 (INE 2011).

Quanto aos grupos etários, percebe-se através de dados do INE (2011) que a faixa etária mais representativa é a que agrupa indivíduos entre os 15 anos e os 64 anos. Porém, esta faixa etária, juntamente com a faixa dos 0 anos aos 14 anos, tem vindo a diminuir substancialmente, ao contrário do grupo etário dos idosos (com mais de 65 anos) que tem revelado um índice de crescimento constante. Em 2011, o Porto possuía já um total de 55.083 habitantes idosos, o que evidencia uma taxa de envelhecimento elevada neste município.

As famílias também têm sofrido uma diminuição no número de elementos. Considerando alguns dados mencionados anteriormente, pode concluir-se que algumas das famílias com apenas dois elementos podem resumir-se a casais de idosos, que se mantiveram no município ao invés das famílias mais jovens que se aventuraram para outros lugares. O número de habitações existentes no Porto é superior à procura. Encontram-se muitos apartamentos e casas desabitadas no município, algumas apresentando um estado de degradação avançado. Por volta de 1980 ocorreu uma situação caricata: até essa data o número de arrendatários reduziu substancialmente, enquanto o número de alojamentos próprios aumentou, no sentido inverso. Todavia, possivelmente devido à crise económica que se instalou nos anos 2000, houve uma estagnação de ambas. A taxa de desemprego tem aumentado nos últimos anos, assim como a perda da qualidade de vida. Essa poderá ter sido uma das razões que levou a que muitos jovens e adultos começassem a lançar-se para fora do município do Porto. Os mais idosos acabaram por ficar, o que contribuiu para o aumento da taxa de envelhecimento.

Climatologia do Porto

A cidade do Porto está localizada no litoral do país, tendo por isso influência marítima no clima da região. Embora Portugal seja classificado como tendo um clima temperado mediterrânico, a zona mais a norte, incluindo o Porto, detém características de um clima mais temperado marítimo. Segundo dados obtidos em boletins climatológicos do IPMA, dos meses mais quentes dos anos de 2013 a 2016, as temperaturas médias máximas rondaram os 22,6ºC e os 26,2ºC, enquanto a temperatura máxima absoluta atingida rondou entre os 27.1ºC e os 37.9ºC. Foram registados no Porto, entre 2010 e 2015 uma média de 12,6 dias com ondas de calor, com poucos dias de separação entre eles. Já no ATLAS-CLICURB (2016), são disponibilizados dados sobre as

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temperaturas médias e máximas atingíveis no município. Na zona mais oriental da cidade, as temperaturas máximas podem chegar aos 35ºC.

A seguir é apresentada uma figura (Madureira e Andersen 2014) onde está representada a temperatura da superfície do solo na cidade do Porto. Como se pode constatar, as zonas sujeitas a temperaturas mais elevadas ocorrem nas zonas mais impermeabilizadas da cidade. Madureira e Andersen (2014) afirmam que as zonas com registos de temperaturas menos elevadas correspondem às zonas da cidade com maior densidade de vegetação.

Quanto à precipitação, foram registados entre 2010 e 2015, valores entre os 850mm anuais e os 1710mm anuais. É percetível, quanto à humidade, através do histórico das condições meteorológicas registadas no aeroporto do Porto, que a humidade relativa do ar é sempre bastante elevada, mesmo em dias sem precipitação ou em meses quentes do ano. Por ser banhado pelo oceano atlântico a oeste, apresenta maior propensão a sofrer efeito dos ventos vindos de norte/noroeste (ditas nortadas). No atlas da saúde e da doença de Monteiro (2012) está descrito

Fig. 6.1 – Temperaturas máximas possíveis de ocorrer na cidade do Porto. Fonte: http://atlas-clicurb.pt/

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que as temperaturas, tanto mínimas como máximas, têm aumentado nas últimas décadas no Porto. Além disso, foram registadas com maior frequência, nos últimos anos, vagas de calor entre os meses de maio e setembro.

Qualidade do ar

Relativamente à quantidade de poluentes libertados nesta região, é difícil de quantificar, pelo facto de as estações de medição de níveis de poluentes estarem espalhadas pelo território nacional e cada uma delas efetuar o registo de um poluente específico, apenas.

Embora os ventos de Noroeste sejam muito influentes na climatologia da região, Monteiro (1993) afirma que os ventos vindos de Este (predominantes no inverno) arrastam para o centro e ocidente da cidade, muitos dos poluentes oriundos das zonas industriais, a oriente, aumentando mais os níveis de poluentes no centro urbano. Já no verão, o panorama muda, havendo maior dispersão dos poluentes devido ao efeito das nortadas. Não obstante, a mesma autora relembra que a cidade tem alta densidade de construção, acabando muitos dos edifícios por funcionar como barreiras ao vento, anulando o seu efeito.

Os níveis de poluição da cidade do Porto, segundo a Agência Portuguesa do ambiente (APA), cumprem os limites de poluentes permitidos por lei para o território nacional. Como se pode verificar no site da organização, o município surge praticamente todos os dias do ano a verde, o que significa que se encontra num índice “bom” de concentração de poluentes. Contudo, não deve ser esquecido que esses limites estabelecidos se referem à capacidade de tolerância do ser humano e, em alguns casos, da vegetação, mas não é alargada à tolerância de outros seres vivos ou estruturas (exemplo do pólen). Os pólenes são por vezes muito sensíveis a poluentes, mesmo que em pequenas concentrações. Foi já referido no capítulo 4 que a poluição atmosférica pode piorar as manifestações alérgicas, através da irritação das mucosas, e pela alteração dos grãos de pólen. Foi verificado que o Porto, juntamente com Maia, Vila do Conde, Santa Maria da Feira e São João da Madeira, foram os municípios com maiores índices de emissão (de poluentes) de tráfego. O município do Porto foi também considerado o 2º concelho com maior número de veículos por Km2, sendo os maiores contribuidores para as emissões de poluentes os veículos pesados e ligeiros

de mercadorias e os autocarros (CCDRN 2007).

Segundo o Inventário de emissões de poluentes atmosféricos da região norte (CCDRN 2007), de 2013, os poluentes emitidos vão variando nas suas concentrações atmosféricas, sendo possível verificar-se em alguns anos (em particular no ano de 2012) um aumento radical de poluentes. Por vezes basta ocorrem pequenas mudanças tecnológicas ou de gestão e de consumo num dos setores de atividade para provocar um aumento de emissões muito notório.

No município do Porto existem apenas duas estações de medição de poluentes, e cada uma delas regista apenas as concentrações de alguns poluentes, portanto, nunca pode ser considerada uma medição completa. Uma das estações está localizada em Campanhã (zona este da cidade) e a outra em Lordelo do Ouro (zona a oeste da cidade). Não existe nenhuma estação próxima ao centro da cidade.

Os poluentes podem, por vezes, ficar acumulados em alguns pontos da cidade, e se só existem estações de medição de poluentes a 5km, 6km ou mais de distância, é pouco provável que sejam detetadas extrapolações dos limites legais. Como prova, existe a própria diferença de concentração de poluentes entre estações de medição. Além disso, os valores apresentados são obtidos através de médias diárias, nesse caso, podem ocorrer episódios em que alguns dos

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poluentes atingem níveis mais elevados em alguma hora do dia. Esses valores podem ser suficientes para provocar alterações na alergenicidade dos grãos de pólen, afetando a saúde das pessoas.

O protocolo de Quioto, aberto em 1997, e iniciado no ano de 2005, contribuiu para redução de emissões de poluentes atmosféricos em Portugal, o que foi visível entre os anos de 2008 e 2012, estando atualmente a cumprir os limites estabelecidos para ao país. Contudo, Ribeiro et al (2012) já defendiam que as concentrações de SO2 e de NO2 no espaço urbano, mesmo cumprindo os

limites estabelecidos para proteção da saúde pública, poderiam agravar algumas das manifestações alérgicas ao pólen.

Todavia, os problemas atuais de saúde podem ser, ainda, resultantes dos anos anteriores à imposição dos limites estabelecidos pelo protocolo. Há dez ou vinte anos atrás as emissões eram muito elevadas, especialmente em épocas de maior crescimento económico, o que pode ter debilitado o sistema respiratório e imunológico (assim como os restantes sistemas vitais), fazendo com que atualmente se seja mais sensível a quaisquer agentes, incluindo os pólenes. Parte das gerações mais novas da população desenvolvem alguma sensibilidade a alergénios por atopia – tema já falado no capítulo 4.

Em seguida é apresentado um extrato de uma tabela da APA com medições horárias de poluentes na estação de medição de poluentes de Campanhã revelando algumas ultrapassagens aos limites por umas horas num determinado dia (a amarelo). Foram apenas extraídas as medições de um dia, contudo, pode constatar-se nos registos da APA que essas ultrapassagens ocorreram em mais do que um dia ao longo dos meses do ano. Esses valores superiores ao limite, mesmo que por algumas horas, podem ser insignificantes para o organismo da população, todavia, não são concretos os efeitos provocados nos grãos de pólen das plantas (Sénéchal et al 2015).

Durante a entrevista com o técnico da Divisão Municipal de Jardins (DMJ) da Câmara Municipal do Porto (CMPorto), foi dito pelo mesmo que as zonas mais a Norte da cidade do Porto são as que vão apresentando maior concentração de poluentes. Esta afirmação contrariou o imaginado muitas vezes pois os centros urbanos possuem maior densidade populacional e concentração de veículos. No entanto, deve salientar-se que é na zona a Norte da cidade que existe maior proximidade às principais vias de acesso rodoviário e áreas industrializadas. No entanto, não deve ser esquecido que as estações de medição de poluentes estão localizadas exatamente em zonas

Fig. 6.3 – Medições horárias de poluentes na estação de medição de Campanhã, Porto. Fonte: http://qualar.apambiente.pt/?page=4&subpage=1

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mais periféricas da cidade, não sendo assim possível registar de forma viável as concentrações de poluentes no centro citadino. Geralmente, as zonas centrais são muito construídas e possuem baixa densidade de vegetação, existindo assim condições para propiciar uma maior acumulação de poluentes. Contudo, não deve ser esquecida a possibilidade de arrastamento destes para outras zonas da cidade, nomeadamente para as zonas periféricas por influência de vários fatores meteorológicos.

Fig. 6.4 – Concentração de ozono na cidade do Porto. Fonte: http://atlas-clicurb.pt/

Fig. 6.5 – Concentração de partículas na cidade do Porto. Fonte: http://atlas-clicurb.pt/

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