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Enquadramento histórico do Serviço Nacional de Saúde (SNS)

No documento Maria da Conceição Veiga Guimarães (páginas 155-160)

O Dr. Ricardo Jorge inicia em 1899 a organização dos "Serviços de Saúde e Beneficência Pública” que regulamentada em 1901 entra em vigor em 1903. A prestação de cuidados de saúde era então de índole privada, cabendo ao Estado apenas a assistência aos pobres.

Em Portugal, a evolução do sistema de saúde desde os anos trinta foi marcado pela ideologia corporativa que imprimiu em toda a legislação uma concepção de assistência médico-sanitária, predominantemente caritativa. A filosofia subjacente preconizava a não intervenção do Estado nos problemas de saúde; o seu papel era meramente suplementar às iniciativas particulares do indivíduo ou de outras instituições.

A partir de 1946 e até início dos anos 60, o hospital foi considerado o elemento central do sistema de saúde. Desenvolveu-se a ideia da "Regionalização hospitalar", segundo a qual os hospitais deviam agregar-se em três níveis: por concelho, por distrito e por zonas, congregando vários distritos, cooperando entre si e ampliando as suas responsabilidades no sentido ascendente. A Lei n.º 2011, de 2 de Abril de 1946, estabelece a organização dos serviços prestadores de cuidados de saúde então existentes: Hospitais das Misericórdias, Estatais, Serviços Médico-legais, de Saúde Pública e Privados.

Só em 1971, com a reforma do sistema de saúde e assistência (conhecida como “a reforma de Gonçalves Ferreira”, surge o primeiro esboço do Serviço Nacional de Saúde (SNS). São explicitados princípios, como sejam o reconhecimento do direito à saúde de todos os portugueses, cabendo ao Estado assegurar esse direito, através de uma política unitária de saúde da responsabilidade do Ministério da Saúde; a integração de todas as actividades de saúde e assistência, com vista a tirar melhor rendimento dos recursos utilizados, e ainda a noção de planeamento central e de descentralização na execução, dinamizando-se os serviços locais.

Foi, no entanto, a partir de 1974, que a política de saúde em Portugal sofreu modificações radicais, tendo surgido condições políticas e sociais. De referenciar que, em 1976, o “Despacho Arnault” abriu acesso aos postos de Previdência Social (mais tarde Segurança Social) a todos os cidadãos independentemente da sua capacidade contributiva.

Com a entrada em vigor da Constituição de 1976, institui-se o Serviço Nacional de Saúde, universal, geral e gratuito (art. 64.º da Constituição) que permitiu em 1979, a criação do SNS, com a Lei n.º 56/79 de 15 de Setembro, no âmbito do Ministério dos Assuntos Sociais. O SNS foi então configurado e teve por escopo "assegurar o direito à

protecção da saúde, nos termos da Constituição" (art. 1.º da Lei n.º 56/79) e visavam a "prestação de cuidados globais de saúde a toda a população" (art. 2.º da Lei n.º 56/79).

O SNS foi dotado de autonomia administrativa e financeira (art. 18.º, n.º 1) e de "órgãos

centrais, regionais e locais" e "serviços prestadores de cuidados primários e serviços prestadores de cuidados diferenciados", prevendo-se que fosse "apoiado por estabelecimentos de ensino que visem a formação e aperfeiçoamento de profissionais de saúde" (art. 18.º, n.º2).

Desta forma o SNS envolve todos os cuidados integrados de saúde, compreendendo a promoção e vigilância da saúde, a prevenção da doença, o diagnóstico e tratamento dos doentes e a reabilitação médica e social. Tem como objectivo a efectivação, por parte do Estado, da responsabilidade que lhe cabe na protecção da saúde individual e colectiva.

Em 24 de Agosto de 1990, viria a ser publicada a Lei n.º 48/90 - Lei de Bases da Saúde, no n.º 3 da Base I daquele diploma estipula-se que:

(…) a promoção e a defesa da saúde pública são efectuadas através da actividade do Estado e de outros entes públicos, podendo as organizações da sociedade civil ser associadas àquela actividade. (Lei nº 48/90 - Lei de Bases da Saúde - de 24 de Agosto. Diário da República, nº 195, I Série, p. 3452-3464. Ministério da Saúde. Lisboa)

O SNS, é agora concebido como abrangendo "todas as instituições e serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde dependentes do Ministério da Saúde", dispondo de estatuto próprio (Base XII, n.º 2, da Lei n.º 48/90).

(…) universal, prestar integradamente cuidados globais ou garantir a sua prestação, ser tendencialmente gratuito, garantir a unidade no acesso dos utentes e ter organização regionalizada e gestão descentralizada e participada. (Base XXIV).

É tutelado pelo Ministro da Saúde, sendo administrado a nível de cada região de saúde14

pelo conselho de administração da respectiva Administração Regional de Saúde (ARS) (Base XXVI).

Em 15 de Janeiro de 1993, é publicado o Decreto-Lei n.º 11/93, que aprovou o Estatuto do Serviço Nacional de Saúde, que, vem afirmar a necessidade de acabar com a dicotomia entre os cuidados de saúde primários e os cuidados diferenciados procurando integrar os cuidados de saúde em unidades de saúde e fixando normas de articulação provisórias entre os Hospitais e os Centros de Saúde.

O mencionado Decreto-Lei veio proceder à extinção das Administrações Regionais de Saúde (ARS) criadas pelo Decreto-Lei n.º 254/82, de 29 de Junho15. Em sua

substituição, criou novas ARS, uma por cada região de saúde, tendo as novas ARS personalidade jurídica:

 ARS do Norte, com sede no Porto e abrangendo os distritos de Braga, Bragança, Porto, Viana do Castelo e Vila Real;

 ARS do Centro, com sede em Coimbra e com área coincidente com a dos distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu;

 ARS de Lisboa e Vale do Tejo, com sede em Lisboa e abrangendo os distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal;

CXLIII

14A Base XVIII prevê que a organização do sistema de saúde se baseie na divisão do território nacional

em regiões de saúde, as quais podem ser subdivididas em sub-regiões de saúde.

15 As ARS eram já previstas como órgãos regionais do SNS na Lei n.º 56/79, não tendo, então,

personalidade jurídica e património próprio, mas tão-só autonomia administrativa (art. 38.º da Lei n.º 56/79 e art. 1.º do Decreto-Lei n.º 254/82).

 ARS do Alentejo, com sede em Évora e com área coincidente com a dos distritos de Beja, Évora e Portalegre;

 ARS do Algarve, com sede em Faro e abrangendo o distrito de Faro.

Em 1999 foi estabelecido o regime dos Sistemas Locais de Saúde (SLS), que são um conjunto de recursos articulados na base da complementaridade e organizados segundo critérios geográfico e populacionais, que visam facilitar a participação social e que, em conjunto com os centros de saúde e hospitais, pretendem promover a saúde e a racionalização da utilização dos recursos.

É no prosseguimento desta linha de actuação que são criados os Centros de Responsabilidade Integrada (CRI). Pretende-se que os CRI constituam verdadeiros órgãos de gestão intermédia, que, sem quebrar a unidade de conjunto, sejam dotados de poder decisório, possibilitando-se a descentralização da tomada de decisão.

Mais recentemente, com a aprovação do novo regime de gestão hospitalar (Lei nº 27/2002, de 8 de Novembro) introduzem-se modificações profundas na Lei de Bases da Saúde, ao definir um novo modelo de gestão hospitalar, aplicável aos estabelecimentos hospitalares que integram a Rede de Prestação de Cuidados de Saúde e dá-se expressão institucional a modelos de gestão de tipo empresarial (EPE – Entidade Publica Empresarial).

Segundo Pinto (1994) o que caracteriza um bom sistema de saúde, será a combinação de quatro factores: qualidade; grau de satisfação razoável por parte dos utentes; custos controlados e um sistema de financiamento repartido. Cresce a preocupação de imprimir ao sistema, ganhos de qualidade e eficiência, pois não só ao cidadão se reconhece o direito à acessibilidade aos cuidados de saúde como também à qualidade destes, que deve igualmente pautar-se por padrões de melhoria na relação de custo/benefício dos serviços prestados.

O serviço público de saúde necessita de diversidade, concorrência, rapidez de resposta e o conhecimento sistemático dos custos e das necessidades da população. (Araújo, 2005).

ANEXO II - Os Centros de Saúde e Agrupamentos dos Centros de Saúde (ACES),

No documento Maria da Conceição Veiga Guimarães (páginas 155-160)

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