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02. ANÁLISE E ENQUADRAMENTO URBANO DA 2ª CIRCULAR

02.06. Enquadramento Legal

Com a entrada na União Europeia, Portugal passou a desenvolver um conjunto de leis necessários para um melhor e mais regenerado controlo e planeamento do uso do solo. Todas as leis pretendem promover e proteger o Estado nas acções que tiverem como fim a atribuição de mais-valias sobre o território. A lei mais importante foi a Lei de Bases do Solo, decreto-lei 48/98 de 11 de Agosto. Com esta lei, todos os terrenos passaram a estar protegidos de forma legal, definindo e integrando «as acções promovidas pela Administração Pública, visando assegurar uma adequada organização e utilização do território nacional, na perspectiva da sua valorização, designadamente no espaço europeu, tendo como finalidade o desenvolvimento económico, social e cultural integrado, harmonioso e sustentável do País, das diferentes regiões e aglomerados urbanos»6. No documento

da revisão do PDM 2012, no Título II, parágrafo que diz respeito a Servidões Administrativas e Restrições de Utilidade Pública, no artigo 7º, alínea 1, existe um delineamento de todas as condicionantes que actuam no terreno do concelho de Lisboa. Estas podem ser ainda confirmadas e aprofundadas no documento SARUP (Servidões e Restrições de Utilidade Pública), emitido pela DGOTDU, em suporte digital, em Setembro de 20117,

onde se registam todos os decretos-lei e respectivos condicionamentos de cada servidão. Para o âmbito da investigação presente neste trabalho, foi necessário analisar tudo o que afectava a via de estudo e foi concluído que era necessário ter, em especial atenção, as seguintes condicionantes:

Condicionante Observações Decreto-Lei Aeroporto de Lisboa restrição referente aos cones de Servidão administrativa e

aproximação e à margem de utilização do aeroporto

DL nº 45 987, de 22 de Outubro

6 Citação retirada do Decreto-Lei 48/98 de 11 de Agosto, Capitulo I, Artigo 1º, alínea 2.

7 Este documento teve a 1ª edição em 1988, a 2ª em 1995, a 3ª em 1999 e a 4ª em 2006, a partir de 2010 passou a ser fornecido através de suporte digital de modo a ser mais fácil a sua leitura e actualização com qualquer lei que seja modificada.

61 Áreas sujeitas ao regime

florestal

Servidão administrativa que abrange o parque da Bela Vista,

de Monsanto, da Quinta das Conchas e do Vale do Silêncio

Decreto de 24 de Dezembro de 1901 (Estabelece o regime

florestal)

Decreto de 24 de Dezembro de 1903 (Regulamento para a execução do regime florestal) Decreto de 11 de Julho de 1905 (Estabelece instruções

sobre o regime florestal nos terrenos e matas de

particulares) Centros radioeléctricos e

ligações hertzianas

Servidão administrativa referente à estação radioeléctrica de

Alfragide

DL nº 597/73, de 7 de Novembro Domínio Hídrico protege algumas linhas de água e Servidão administrativa que

zonas de risco de inundação

DL nº 382/99, de 22 de Setembro Ferrovias Servidão administrativa referente à Linha de Sintra DL nº 276/2003, de 4 de Novembro Imóveis, conjuntos e sítios

classificados e em vias de classificação e respectivas zonas gerais e zonas especiais

de protecção DL nº 107/2001, de 8 de Setembro DL nº 309/2009, de 23 de Outubro Instalações Militares

Abrange os edifícios e respectivas zonas de protecção, tal como, por

exemplo, o Colégio Militar, na zona de Benfica/Luz

Lei nº 2078, de 11 de Julho de 1955

Marcos geodésicos DL nº 143/82, de 26 de Abril

Rede de distribuição de energia eléctrica

DL nº 446/76, de 5 de Junho RSRDEEBT (Regulamento de Segurança de Redes de Distribuição de Energia Eléctrica em Baixa Tensão aprovado pelo Decreto Regulamentar nº 90/84, de 26 de Dezembro)

RSLEAT (Regulamento de Segurança de Linhas eléctricas de Alta tensão aprovado pelo Decreto Regulamentar nº 1/92, de 18 de Fevereiro)

Rede rodoviária nacional e

62

Sistema de infra-estruturas de

abastecimento de água Servidão referente à Adutora Vila Franca de Xira/Telheiras

DL nº 34.021, de 11 de Novembro de 1944

DL nº 123/2010, de 12 de Novembro

DL nº 230/91, de 21 de Junho

Em 1999, surgiu o Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, o qual «desenvolve as bases da política de ordenamento do território e de urbanismo, definindo o regime de coordenação dos âmbitos nacional, regional e municipal do sistema de gestão territorial, o regime geral de uso do solo e o regime de elaboração, aprovação, execução e avaliação dos instrumentos de gestão territorial»8. No projecto em curso para esta tese, esta lei não

poderia ser descurada, pois todas as modificações necessárias têm de ser legalmente justificadas e protegidas. É com base nesta lei que são geridas as unidades de execução e respectivas perequações (DL 380/99, Capitulo V, secção II, Subsecção I). O objectivo destas unidades é promover um terreno e criar uma parceria, de modo que o financiamento seja total e o controlo final sobre o produto seja completo. Desta forma, é possível expropriar terrenos, mediante as respectivas indeminizações (DL 380/99, Capitulo V, secção III), e actuar sobre um terreno maior com o objectivo de aumentar o valor daquelas áreas. Este aspecto do valor imobiliário de um terreno é fundamental para qualquer projecto, pois, se este não for capaz de criar mais-valias, nem for capaz de se autofinanciar (trazer lucros para os investidores), significa que não é um projecto rentável, sendo preferível não alterar nada a modificar algo sem que isso traz benefícios. Estes lucros previamente referidos não são necessariamente monetários (apesar de, numa sociedade de economia capitalista, ser obrigatório), podendo ser também valores sociais e ambientais. Recentemente, a DGOTDU editou um estudo de Pedro Bingre do Amaral9,

no qual ele aborda as relações entre a política de bases da lei do solo com o sistema económico. Este estudo é extremamente pertinente, pelo facto de revelar algumas particularidades da lei dos solos, numa altura em que se prepara uma reformulação da mesma. Sendo assim, apesar de todos os elementos parecerem correctos, Pedro Bingre explica que existem algumas situações nas quais, se for alterado o cadastro ou apenas as condicionantes do terreno, este pode valorizar centenas por cento ou apenas perder todo o seu valor. Estes problemas de equidade financeira nos momentos de transacções imobiliárias são importantíssimos, porque podem levar a uma certa manipulação dos valores finais. Este estudo foi aqui inserido numa perspectiva de mostrar como funciona o sistema imobiliário nestes aspectos e de como ele é frágil no momento em que algo está prestes a transformar- se. É necessário ter em atenção todos os pormenores quando se efectua uma intervenção urbanística, pois

8 Citação retirada do Decreto-Lei 380/99 de 22 de Setembro, Capitulo I, Secção I, Artigo 1º.

9 Pedro Bingre do Amaral realizou este estudo a pedido da própria DGOTDU num contexto de estudo do enquadramento da nova Lei do Solo, e nele expôs todos os problemas imobiliários que se relacionam com esta lei. Foi ainda gravado em sistema áudio uma auditoria do mesmo no Parlamento no qual expõe as questões da crise imobiliária e na procura de habitação por parte de gerações futuras e de classes sociais mais desfavorecidas.

63 qualquer elemento que se escolha vai influenciar positiva ou negativamente o território, não o deixando, no entanto, igual.

Todo o enquadramento legal enunciado ajuda o urbanista a projectar e planear um futuro mais rico e mais saudável, potencializando o sistema económico, social e ambiental. Estes são os factores que importam privilegiar e obter com qualquer intervenção, e o sistema judicial todo interligado permite que isso aconteça, devido às restrições aplicadas em certos elementos, à extensa lista de precauções que é necessário ter sobre o território e às relações entre leis e sistemas de protecção e uso do solo. Com todos estes elementos adquiridos e trabalhados, é possível projectar um futuro mais saudável, legalmente aplicado e com inúmeras mais-valias.

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