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Enquadramento legal da Regulamentação do uso de tecnologias baseadas em

CAPÍTULO III QUADRO REGULATÓRIO DAS FINTECHS NA UNIÃO

3.2. Enquadramento legal da Regulamentação do uso de tecnologias baseadas em

A regulação da tecnologia blockchain foi feita no sentido de permitir que a sua utilização fosse feita de acordo alguns critérios de segurança, transparência e consenso dos seus intervenientes: Investidores, intermediários, consumidores e os reguladores. Sendo uma tecnologia pouco conhecida e com uso pouco acessível, a sua aplicação levaria um certo tempo, a fim de permitir a efetiva familiarização e garantir que todos os registos efetuados nos mercados financeiros não pudessem ser alterados com facilidade ou que o seu manejamento fosse feito e autorizado por todos os intervenientes do sistema. Como se vê, a regulação não será da tecnologia em si, mas dos processos no qual ela será implantada para permitir transações dos mercados financeiros mais seguras, a melhor proteção de dados informáticos dos sistema financeiros, melhor proteção dos registos das transações financeiras, e melhor proteção das operações nos mercados de capitais e sistemas de pagamentos.

Em particular, nos últimos anos (2014-2019), essas tecnologias foram trazidas à atenção do público em grande parte devido ao aumento dramático no valor da Bitcoin, ao aumento no número de ICOs globalmente e a sua capitalização de mercado. O mercado português tem registado ganhos nos últimos anos neste sector, principalmente com o aumento das empresas de base tecnológica e o aumento constante do uso de criptomoedas na última década.

No entanto, em Portugal, a tecnologia blockchain não foi implementada num número significativo de serviços e ainda não está a ter um impacto relevante em organizações privadas ou públicas. De facto, até à data em Portugal a maior parte da tecnologia 55 Ibidem.

56 European Securities and Markets Authority, Consultation Paper – Guidelines on certain aspects of the

56 blockchain tem sido utilizada na emissão de tokens, incluindo no contexto das ofertas iniciais de moedas (“ICOs”). Por estas razões, o governo e as autoridades reguladoras foram investindo no estudo da tecnologia de blockchain e criptomoedas com vista a criar condições favoráveis para o estabelecimento e desenvolvimento do sector, protegendo ao mesmo tempo interesses dos participantes do mercado, conforme refere Marques et al. (2019, p.403).

O BCE definiu as criptomoedas como uma «representação digital de valor, não emitida por um banco central, instituição de crédito ou instituição de moeda eletrónica, que em algumas circunstâncias pode ser utilizada como alternativa ao dinheiro»57, definição esta

que os órgãos reguladores de Portugal subscreveram. Marques et al. (2019, p.403) afirmam que «em Portugal, as moedas criptográficas não têm curso legal e, portanto, não se qualificam como moeda, nem são tratados como “dinheiro” (físico ou escritural) ou “dinheiro eletrônico”. No entanto, eles são amplamente vistos como um método de pagamento alternativo com natureza contratual, que resulta do acordo privado entre os participantes nas transações de criptomoedas com características intrínsecas que replicam algumas das principais características do dinheiro tradicional: armazenamento de valor; unidade de conta; e meio de troca».

Sempre que se pretende observar as criptomoedas no contexto da sua funcionalidade tem havido reconhecimento de outros tipos de tokens, tais como tokens de utilidade e tokens de segurança, comercializados correntemente através de ICOS. Estes podem ser diferenciados por Portugal pela sua função distintiva, uma vez que os primeiros estão em grande parte ligados ao consumo e os segundos ao investimento. Por essa razão, eles abrangem ou dão origem a muitos outros direitos, incluindo, entre outros, os direitos de receber um produto ou serviço ou direitos econômico, tal como afirma Marques et al. (2019, p.403).

O Banco de Portugal, na sua qualidade de banco central e autoridade nacional competente para a supervisão das instituições de crédito e de pagamento, demonstrou um interesse claro nas moedas criptografadas, nomeadamente do ponto de vista da proteção do consumidor/investidor, mas esclareceu que não tomará medidas imediatas para regular as criptomoedas, tendo adotado, ao contrário, uma abordagem vigilante do fenômeno e seu desenvolvimento (Marques et al.,2019, p.403). Já em 2013 - como refere Marques et al. (2019, p.404) - o BdP emitiu uma série de declarações públicas e avisos relacionados com 57 Cfr. European Central Bank, Virtual currency schemes – a further analysis, February 2015, available at

57 as criptomoedas, em linha com as práticas regulamentares de outros bancos centrais da área do euro e das autoridades reguladoras europeias, como o BCE e EBA, e publicou uma advertência sobre as Bitcoin em novembro de 2013, que teve como base o estudo do BCE “Esquemas de Moeda Virtual (Outubro de 2012)”.

O BCE notou que acompanharia de perto este fenómeno com o objetivo de estudar as respostas regulatórias necessárias,58 e lançou uma advertência aos consumidores sobre

os potenciais riscos na utilização de criptomoedas (Outubro de 2014).59 O aviso da CMVM

estava em linha com outras autoridades reguladoras europeias como a ESMA, e alertava os investidores para os riscos potenciais das OICs, a fim de aumentar a conscientização sobre os mesmos (Novembro de 2017).60 Emitiu ainda uma notificação relativa a uma ICO ,

específica para a emissão do token português Bityond (Maio de 2018)61, tendo declarado «que

não considerava a bityond uma garantia, e que, consequentemente, a Bityond não estava sujeita à supervisão da CMVM nem ao cumprimento das leis de valores mobiliários». A CMVM emitiu um aviso formal dirigido a todas as entidades envolvidas nas OICs62

relativamente à qualificação legal de tokens, no qual salientou a necessidade de as mesmas avaliarem a natureza jurídica das tokens oferecidas no âmbito das OICs. Em particular a sua possível qualificação como títulos, e consequentemente a necessidade de aplicação das leis de valores mobiliários sobre as tokens. A CMVM observou que os tokens podem representar direitos e créditos muito diferentes e serem negociados em mercados organizados, concluindo assim que podem ser qualificados, caso a caso, como títulos (atípicos) segundo a lei portuguesa. Principalmente ao considerar-se a ampla definição de valores mobiliários no Código dos Valores Mobiliários, aprovado pelo Decreto-Lei n. 486/99, de 13 de novembro, alterado. Por fim, o Governo e o Parlamento demonstraram interesse em moedas criptográficas, tendo debatido publicamente o seu eventual regulamento no contexto da transposição da Diretiva (UE) 2015/2366 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de novembro de 2015, relativa aos serviços de pagamento em mercado interno (Diretiva relativa aos serviços de pagamento 2 ou PSD2). Apesar disso, o Governo

58 Cf. Banco de Portugal’s public statement regarding Bitcoin, dated 22 November 2013, available in

Portuguese at https://www.bportugal.pt.comunicado.esclarecimento-dobanco-de-portugal-sobre-bitcoin.

59 Cf. Banco de Portugal’s warning regarding the risks associated with cryptocurrencies, dated 3 October

2014, available in portuguese at https://www.bportugal.pt. comunicado. alerta-aos-consumidores-para-os- riscos-de-utilizacao-de-moedas-virtuais.

60 Cf. CMVM’s warning regarding the risks associated with ICOs, dated 3 November 2017, available in

English at http://www.cmvm.pt.encomunicados.pages/20180119.aspx.

61 Cf. CMVM’s notice regarding the cryptocurrency Bityond, dated 17 May 2018, available in Portuguese at

http://www.cmvm.pt. Comunicados.pages.20180517a.aspx.

62 CMVM’s notice addressed to all entities involved in ICOs, dated 23 July 2018, available in Portuguese at

58 e as autoridades reguladoras não produziram leis ou regulamentos específicos em relação as criptomoedas, que permanecem bastante desregulamentadas (Marques et al., 2019, p.404).