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Parte II – Projecto de Ensino Artístico

3. Enquadramento legislativo do Ensino da Música em Portugal

3.1 O Ensino Artístico Vocacional em Música no Sistema de Ensino

Português

A 25 de Junho de 2009, a Portaria nº 691/2009 define os princípios orientadores da organização e gestão do currículo de nível básico dos cursos de ensino especializado, sendo eles: “existência de uma formação de base comum às áreas da dança e da música; racionalização do currículo valorizando uma construção integrada dos saberes; reforço da educação artística global do aluno e incremento da permeabilidade entre planos de estudo.” Porém continua a não deixar clara uma matriz de funcionamento comum a todas escolas de ensino especializado, como é sugerido no Estudo de Ensino Artístico realizado em 2007: “As escolas do ensino artístico especializado, em cada área artística, devem funcionar, sob todos os pontos de vista, de acordo com uma matriz orientadora comum que, sem pôr em causa a sua autonomia e o seu projecto educativo, contribua para a sua regulação e auto- regulação em matérias tais como o currículo, os planos de estudo e os programas, a avaliação e a certificação, assim como os regimes de transição, retenção e de conclusão, o regime de frequência dos alunos, que deverá ser obrigatória e essencialmente integrado e o regime de contratação de professores.” (Fernandes & Ferreira, 2007, p. 26)

Em 2009,o Artigo 3º da Portaria nº 691/2009 define os regimes de frequência dos cursos básicos e secundários / complementares: “1- os cursos básicos e secundários/ complementares de Dança e de Música podem ser frequentados em regime integrado ou articulado, (…). 2- os cursos básicos e secundários/complementares de Música podem ser frequentados em regime supletivo, sendo os seus planos de estudo constituídos, exclusivamente, pela componente de formação vocacional dos planos de estudo constantes (…)”.

Em relação à carga horária para o 2º e 3º ciclos, o Decreto-Lei nº 146 de 30 de Julho de 2012, no Anexo III e IV define o seguinte:

Formação Musical no 2º ciclo

Tabela 5 - Carga horária para o 2º e 3º ciclo

Mas se a maioria dos alunos de hoje não querem seguir música, qual a função do ensino vocacional? Actualmente, vários profissionais da área da Formação e Educação Musical concordam que o ensino oficial da música não serve apenas para formar futuros músicos e intérpretes, mas também futuros ouvintes, “ouvintes informados” (Pedroso, 2004).

3.2 A Formação Musical no Currículo do Ensino Especializado e

programas da disciplina em vigor:

Em 2007 é apresentado o mais recente Estudo de Avaliação do Ensino Artístico, este revela que “O currículo das escolas do ensino especializado da Música e os seus programas estão desactualizados sendo, nalguns casos, considerados obsoletos.” É importante salientar que alguns dos programas em vigor datam de 1930, e que, apesar de algumas escolas se esforçarem por fazer alguns acertos nos programas, não existe articulação entre as várias instituições de ensino artístico do país: “No domínio do currículo, dos programas de estudo e da sua gestão há uma situação que se pode considerar de desregulação e de desarticulação entre as diferentes escolas cujos reais contornos não puderam ser avaliados” (Fernandes & Ferreira, 2007, p. 47).

Quanto à disciplina de Formação Musical este estudo diz-nos que os conteúdos leccionados actualmente “estarão mais apropriados para uma abordagem à alfabetização musical do que a uma abordagem à cultura musical, como parece ser recomendável actualmente” (Fernandes & Ferreira, 2007, p. 47).

No seu artigo “A Disciplina de Formação Musical em debate: Perspectivas de profissionais de Música”, Fátima Pedroso ajuda-nos a reflectir sobre o papel da

Disciplina/ Ano de escolaridade

5º ano 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano

Formação Musical 2 tempos de 45 minutos (3 tempos) 2 tempos de 45 minutos (3 tempos) 2 tempos de 45 minutos (3 tempos) 2 tempos de 45 minutos (3 tempos) 2 tempos de 45 minutos (3 tempos) Instrumento 2 tempos de 45 minutos 2 tempos de 45 minutos 2 tempos de 45 minutos 2 tempos de 45 minutos 2 tempos de 45 minutos Classe de Conjunto 2 tempos de 45 minutos (3 tempos) 2 tempos de 45 minutos (3 tempos) 2 tempos de 45 minutos (3 tempos) 2 tempos de 45 minutos (3 tempos) 2 tempos de 45 minutos (3 tempos)

música estar a “fazer o duplo papel de formação básica de futuros músicos e formação de músicos amadores e/ou públicos”. É fundamental que os alunos participem activamente ao longo do processo de aprendizagem, que desenvolvam “ a capacidade de conseguir uma audição consciente” e que recorram a obras musicais: “o verdadeiro conteúdo da aula de Formação musical deverá ser a própria música” (Pedroso, 2004, p. 16).

Não existe um programa oficial para o ensino da Formação Musical, porém a opinião de diversos profissionais é que esta disciplina também se destina a futuros ouvintes e que por isso, “o recurso a exemplos de música real pode/deve então servir ambos os objectivos: para além de desenvolver a cultura musical dos alunos, permite abordar, trabalhar e desenvolver conhecimentos, conteúdos e competências em contexto real” (Pedroso, 2004, p. 16). Além de ouvir, cantar deverá ser outro ponto central neste tipo de aulas, pois permite “vivenciar e sentir a música”. Em suma, os professores de Formação Musical devem preocupar-se em “dotar os alunos com uma base de conhecimento musical lato, analítico, reflexivo, criativo, crítico – enfim, uma disciplina para, de facto, formar musicalmente, que conduza a uma compreensão auditiva e inteligente da música e à aquisição de uma literacia musical alargada que permita não só ler mas sobretudo compreender e interpretar com sentido crítico o que se ouve e o que se produz.” (Pedroso, 2004, p. 16).

Quanto aos programas existentes, João Carlos Pinho de Almeida, na sua tese "O Repertório Musical Português no Curso Básico do Ensino Especializado. Manual para os 1º e 2º graus da Disciplina de Formação Musical", apresenta uma síntese dos programas da disciplina de Formação Musical de cada uma das escolas públicas enunciadas anteriormente. Da sua análise, destaco o facto de a única actividade criativa enunciada nos programas da maioria das instituições ser a improvisação, e desta ser feita de forma limitada: “é aplicada quase sempre da mesma maneira: improvisação de uma frase musical sob a forma de pergunta/resposta, improvisação de uma melodia sobre um ritmo dado, entre outras actividades semelhantes”. Nenhuma destas actividades inclui por exemplo, utilizar o seu próprio instrumento. A falta de actividades que despertem a criatividade dos alunos pode estar ligada ao facto de, como nos diz o autor, “a possível urgência em leccionar conteúdos programáticos aparentemente mais necessários ou práticos recorrendo a estratégias que apelam menos ao sentido criativo tem limitado as práticas que conduzem ao desenvolvimento criativo.”, o que, para nós, é bastante contraditório, pois são as actividades criativas que ajudam os alunos a assimilar conteúdos importantes.

Dos programas consultados, apenas um refere claramente a importância de ouvir, de forma atenta, repertório de diferentes épocas, excluindo, como nos lembra João Carlos Pinho de Almeida, obras musicais dos séculos XX e XXI (Almeida, 2009).

Formação Musical no 2º ciclo

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