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Enquadramento e state of the art

3 Estudo I: Detecção de Patologias da Mama com Strain Ratio

3.1 Enquadramento e state of the art

Segundo Jemal et al. (35), em 2010, o cancro foi considerado como o maior problema de saúde pública nos Estados Unidos da América, sendo então responsável por uma em cada quatro mortes, constituindo a segunda causa de morte após as doenças cardíacas (35).

Também na União Europeia o cancro se tem revelado como uma patologia com elevado impacto. Só em 2008 estimou-se a existência de 3,2 milhões de casos de cancro, correspondendo aproximadamente 421 mil desses (13,1%) a casos de cancro da mama, a segunda causa de cancro a seguir ao cancro colorectal com uma incidência de 436 mil casos (13,8%) nesse mesmo ano (9; 36). Em termos de mortalidade, o cancro da mama revelou-se, em 2008, a terceira causa de morte por cancro, tendo sido responsável por aproximadamente 129 mil mortes (7,5%) num total de 1,72 milhões de mortes estimadas, na União Europeia (36).

O cancro da mama tem vindo a ser alvo de crescente atenção a nível mundial. A detecção precoce desta patologia, através de meios diagnósticos precisos e fiáveis,

continua a ser a melhor abordagem para a redução das elevadas mortalidades associadas à mesma, visto que as causas do seu aparecimento são ainda desconhecidas (9; 37).

A mamografia permanece como a técnica de controlo preferencialmente utilizada na detecção de patologias da mama em mulheres mais velhas, tendo-se afirmado ao longo dos últimos anos como uma importante ferramenta de diagnóstico e de impacto significativo na redução de mortes, devido à detecção de patologias em estados pouco avançados (3; 38; 37). Contudo, esta técnica apresenta desvantagens e não é totalmente eficaz na detecção de patologias em mulheres com peitos densos, o que ocorre em geral em mulheres mais novas, em fase pré-menopausa (3; 38; 39). Nomeadamente, Houssami et al. (40), num estudo realizado em 418 sujeitos relatam que a mamografia apresenta menor precisão de diagnóstico em mulheres com idades inferiores a 45 anos, comparativamente com a técnica de ultra-sonografia, verificando-se nessas idades um aumento de sensibilidade de 13,2% no caso da ultra-sonografia (40). A mamografia apresenta-se ainda como uma técnica com pouca especificidade, comparativamente a técnicas mais recentes, revelando elevadas taxas de falsos positivos o que conduz à realização de um elevado número de biopsias desnecessárias (9; 41). Estima-se que 75% das biopsias realizadas se revelem benignas, o que se traduz em custos desnecessários e desconforto por parte da paciente (9; 24).

Neste sentido, especialistas sugerem que a ultra-sonografia seja a primeira técnica usada no diagnóstico de mulheres com idades inferiores a 35 anos e que em mulheres com idades superiores a 35 anos seja então usada a mamografia (40). A ultra-sonografia convencional é assim uma metodologia utilizada em meio clínico como técnica complementar de rastreio ou como técnica preferencial de diagnóstico, no caso de mulheres em fase pré-menopausa. Comparativamente com a mamografia, a ultra-sonografia apresenta diversas vantagens, nomeadamente o facto de ser menos dispendiosa, mais acessível, mais rápida e segura tanto para pacientes como para profissionais de saúde, uma vez que não utiliza radiação ionizante (9). Vários estudos relatam um aumento significativo na eficácia de detecção de patologias da mama com recurso ao uso acoplado da mamografia e distintas técnicas ultra-sonográficas (37; 3; 38; 40; 42; 43). Berg et al. (42), num estudo em 41 lesões mamárias relatam um aumento de sensibilidade de 50% para 77,5%, com o uso de mamografia e mamografia acoplada com ultra-sonografia,

indivíduos, verificam um aumento de sensibilidade de 75,8% para 96%, com o uso de mamografia e mamografia acoplada com ultra-sonografia, respectivamente (40). Estudos mais recentes afirmam que o uso de técnicas ultra-sonográficas, só por si, pode levar a um aumento de eficácia de 17% na detecção de cancro, o que implica uma diminuição significativa dos gastos, da ordem de aproximadamente mil milhões de dólares por ano só nos Estados Unidos da América (44; 9).

Apesar de ainda não estar consolidada em meio clínico como uma técnica complementar de controlo de patologias da mama, a elastografia tem ganho ao longo dos últimos anos um grande impacto nesta área, tendo vindo a mostrar capacidade de melhorar a performance do diagnóstico ultra-sonográfico (9; 3). A elastografia com quantificação por SR é uma técnica inovadora de semi- quantificação da rigidez dos tecidos (24), sendo vários os estudos que verificaram já uma melhoria, em geral, na detecção e caracterização de patologias mamárias com a utilização desta metodologia, comparativamente com outras técnicas de ultra- sonografia (7; 8; 45).

Segundo Anke et al. (45), num estudo realizado em 227 lesões mamárias, foi observada uma especificidade de 56% e 89% e sensibilidade de 96% e 90%, respectivamente, por ultra-sonografia convencional em Modo-B e elastografia com quantificação por SR. Observou-se ainda um aumento do valor preditivo positivo de 89% com o uso da quantificação por SR, face aos 68% verificados com a Ultra- sonografia convencional de Modo-B. Este estudo conclui que o cálculo dos valores de SR contribui para uma estandardização da elastografia com um elevado valor de sensibilidade, permitindo uma diferenciação significativa entre lesões malignas e benignas com uma especificidade superior à observada com o uso de ultra- sonografia convencional em Modo-B (45).

Zhi et al. (8) num estudo realizado em 559 lesões mamárias, concluem que a quantificação por SR permite uma análise mais precisa por comparação ao método de 5-Point Scoring1, tendo-se verificado acurácias de 91,4%, pelo primeiro método, e

87,1% pelo segundo método. Neste estudo obtiveram-se valores de sensibilidade de 92,4% e 70,1%, e valores de especificidade de 91,1% e 93,0%, respectivamente para a quantificação por SR e pela quantificação pelo método de 5–Point Scoring (8).

1 Corresponde a uma escala de avaliação de lesões por análise de imagens elastográficas. Uma

Apesar do enorme potencial que esta técnica tem vindo a demonstrar em diversos estudos, muito ainda há a fazer para que se torne num procedimento estandardizado para a detecção e caracterização de patologias mamárias. Nomeadamente, são necessários estudos a uma larga escala de pacientes para que se consiga perceber se é possível a definição de parâmetros de diagnósticos mais concisos, no que diz respeito à definição de valores de SR, que estabeleçam patamares a partir dos quais se consigam diferenciar patologias benignas de patologias malignas (24).