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O enredo, os personagens e o cenário

A análise dos significados produzidos pelos sujeitos coordenadores de curso e avaliadores externos, a partir da avaliação externa, tem como suporte a Teoria das Representações Sociais. Consideramos que o objeto de estudo das representações sociais está incluído num contexto ativo e dinâmico, e para tanto, buscamos apreender as suas dimensões utilizando técnicas e estratégias metodológicas que possibilitem a percepção dos movimentos potenciais, principalmente no que se refere às contradições e resistências.

De acordo com Abric (1994), não existe uma única técnica de pesquisa que permita reunir as informações necessárias para elucidar uma representação social. Isso significa que para a análise de uma representação – entendida como o estudo de um conjunto de opiniões, atitudes, crenças, etc. que são construídas e compartilhadas por um grupo de pessoas – faz-se necessária a realização do estudo utilizando instrumentos articulados entre si a fim de captarem com maior precisão os elementos que compõem a representação do grupo estudado. Assim, conforme afirma Sá (1996, p.59):

Somente a coleta, tratamento e interpretação das expressões [...] das representações extraídas por meio de entrevistas e questionários ou presentes em documentos e veículos de comunicação de massa, [...] poderiam dar conta de tais fenômenos.

A natureza dos fenômenos que são estudados sob o referencial teórico das representações sociais exige, para responder às questões da investigação, uma

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metodologia que possibilite compreender as representações dos indivíduos ou grupos, articulando e comparando as respostas dadas. Assim, para a coleta de dados relacionada ao desenvolvimento desta pesquisa, optamos pela realização de entrevista semi- estruturada e questionário por meio dos quais pudéssemos abordar e analisar grupos distintos de sujeitos. A definição do recurso metodológico recaiu sobre a necessidade de conhecermos de forma corrente e aprofundada as informações desejadas.

De acordo com Trivinos (1987), a entrevista semi-estruturada é aquela que parte de certos questionamentos básicos apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa e que, em seguida, oferecem um amplo campo de interrogações junto a novas hipóteses; estas vão surgindo à medida que recebem as respostas dos informantes, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador.

A realização de entrevistas exige a permanente reflexão sobre os limites e contradições do procedimento adotado. Para esta investigação foram definidas duas etapas distintas. A primeira etapa – exploratória – justifica-se pela natureza e constituição do problema de pesquisa que se relaciona a um conjunto de circunstâncias, atores e variáveis presentes na instituição, que vão desde as decisões das políticas para a educação superior, passando pelas condições de recursos, espaço, tempo, até as idiossincrasias dos papéis desempenhados.

Nessa etapa, realizamos entrevistas com quatro coordenadores de cursos de ensino superior de uma instituição na capital (São Paulo) e um coordenador de curso com experiência em uma instituição no interior de São Paulo – Marília. O critério inicialmente estabelecido foi o contato com comissões externas em pelo menos duas condições de avaliação externa estabelecidas pelo Ministério da

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Educação, podendo ser: autorização de curso, reconhecimento de curso, renovação de reconhecimento de curso, credenciamento institucional e recredenciamento institucional.

Procuramos levantar a experiência do sujeito no contato com comissões externas de avaliação, os critérios e procedimentos para a avaliação externa, o ambiente e organização para a avaliação, os impactos do processo de avaliação externa e a imagem do avaliador externo. As entrevistas tiveram duração de uma hora e ocorreram em dias alternados. Os registros dos dados obtidos foram feitos por meio de gravações e anotações durante a entrevista. Os dados resultantes dessa etapa exploratória foram significativos, tendo sido utilizados e interligados à análise final.

A segunda etapa da pesquisa contou com a participação de nove sujeitos avaliadores externos dos quais quatro atuam como professores da educação superior e cinco, além da docência, ocupam cargos de gestão; sete atuam na iniciativa privada e dois em universidades públicas, todas na capital do Estado de São Paulo. Seis sujeitos avaliadores externos atuam somente em avaliações de cursos e três transitam entre avaliações de cursos e avaliação de IES; oito deles registram experiência desde 2000 e apenas um registra experiência desde 1996. Os sujeitos avaliadores fazem parte do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – BASIS, que foi instituído pelo Ministério da Educação por meio da Portaria número 1.027/2006. O banco consiste em um cadastro nacional e único de avaliadores, que tem como principal contributo o processo de formação das comissões externas de avaliação da educação superior.

O critério estabelecido para participação foi a realização de pelo menos duas visitas externas à instituição de educação superior nos processos estabelecidos pelo

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Ministério da Educação, conforme explicitado anteriormente. A segunda etapa da entrevista contou inicialmente com o preenchimento de um questionário com quatro questões fechadas, que buscou identificar o nível informacional sobre o tema avaliação externa da educação superior, considerando que para os estudos em representações sociais devemos buscar identificar os seus processos formadores.

Nessa etapa, tabulamos os dados com base na freqüência das respostas. No segundo momento, foi realizada a entrevista propriamente dita. A condução dessa entrevista partiu da seguinte instrução oferecida pela pesquisadora: fale-me o que vem a sua mente sobre a palavra avaliação, na seqüência, a palavra SINAES e, por último, a palavra PAIUB, solicitando a explicitação sobre a escolha. Cabe ressaltar que solicitamos informações sobre o PAIUB porque a década de 90 foi palco de importantes mudanças na avaliação das universidades brasileiras com a implantação e desenvolvimento do programa, e assim, esperávamos que os profissionais designados como avaliadores externos conhecessem os marcos importantes da história da avaliação institucional no país.

Na estruturação do roteiro, consideramos os seguintes aspectos: as razões que os levaram à atuação como avaliadores externos, o trabalho desenvolvido pelo avaliador externo, as expectativas de sua atuação, a visão do processo de avaliação externa, os critérios e procedimentos para avaliação externa, os impactos do processo, a imagem do avaliador externo, a capacitação recebida, a sua opinião sobre o Sistema de Avaliação da Educação Superior e finalmente as sugestões para melhoria. Assim como na primeira etapa, as entrevistas tiveram duração de uma hora e ocorreram também em dias alternados. Os registros dos dados obtidos foram feitos por meio de gravações e anotações durante a entrevista.

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O roteiro semi-estruturado utilizado para a entrevista guiou os tópicos principais a serem cobertos e possibilitou o acréscimo de outras questões que aprofundaram as temáticas.

Durante a realização da entrevista, a busca de um canal de aproximação com os sujeitos da primeira e segunda fase mostrou-se fundamental. Segundo Bourdieu (2001), compreender o outro em situação de entrevista supõe predisposição para se colocar em seu lugar em pensamento na busca da compreensão do sentido das escolhas pessoais, além de, nas palavras do autor, ser necessário. Para o autor, a utilização da entrevista como procedimento metodológico compreende esforço para se aproximar do ponto de vista do outro a fim de se compreender essa posição e o que implica nela estar posicionado. Importa estar atentos a cada sujeito, sua trajetória, suas experiências profissionais e seus condicionamentos; ao mesmo tempo, estabelecer, a partir do confronto com a realidade objetiva e com os outros sujeitos investigados, categorias explicativas e passíveis de generalização.

No desenvolvimento da pesquisa, explicitamos as duas fases da pesquisa e a finalidade do contato, bem como o alcance da pesquisa que, nessa direção, não tem o impacto imediato em seu cotidiano, mas espera, no entanto, que os resultados obtidos com a investigação forneçam elementos para repensarmos aspectos da avaliação externa no campo da educação superior. Os sujeitos da pesquisa participaram ativamente, mostrando-se interessados e por vezes buscando reforçar as dificuldades vividas nos processos avaliativos.