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ENSAIOS ACELERADOS DE CHOQUE TÉRMICO

Extrapolando os conceitos teóricos, existem procedimentos experimentais que permitem avaliar o desempenho de materiais a um limite intensivo de solicitações determinadas, os denominados ensaios acelerados. Os ensaios de envelhecimento acelerado consistem em expor o material a uma condição de degradação severa, de modo a acelerar a deterioração em um intervalo de tempo pequeno. Assim, é possível simular uma solicitação de deterioração real em um curto intervalo de tempo, similar a uma condição de deterioração alcançada ao longo da vida útil do material. Para intensificar a condição de exposição extrema pode-se recorrer a alguns parâmetros correlacionados à solicitação, tais como: temperatura; concentração; frequência de exposição; entre outros.

Conforme Crowe & Feinberg (2001), os ensaios acelerados simulam a situação real através de uma aceleração dos mecanismos de falha em um período de teste razoável, de modo que permita avaliar o desempenho do material. Quando

os mecanismos de degradação são altamente complexos (caso das solicitações em revestimentos verticais externos e seus subsistemas), a aplicação de modelos de aceleração empírica é mais adequada, vez que faz uso de dados disponíveis para avaliar a deterioração resultante (ESCOBA; MEEKER, 2006). A relevância de cada mecanismo de degradação depende do clima, bem como dos materiais de construção e do comportamento correspondente às condições climáticas. Em geral, é difícil simular todos os mecanismos de degradação e a maneira como eles interagem juntos. De fato, uma grande quantidade de pesquisas avalia o efeito da temperatura e da umidade no envelhecimento a longo prazo dos materiais de construção, uma vez que são parâmetros relevantes na degradação das argamassas (SILVA, 2004; FERRÁNDIZ-MAS; GARCÍA-ALCOCEL, 2013; HANNAWI; PRINCE-AGBODJAN, 2015; MAIA et al., 2019).

Neste contexto, o ensaio de ação de calor e choque térmico configura um ensaio acelerado, o qual é empregado para fins de avaliação do desempenho de durabilidade do SVVE pela NBR 15575-4 (ABNT, 2013). Existem outras normas que especificam ensaios de choque térmico como ensaio de envelhecimento acelerado, tais como: ETAG 004 (2013); ISO 8.336 (2009); ASTM C1185-8 (2012).

No caso do choque térmico, o agente deteriorante é a variação brusca de temperatura, a qual induz um gradiente de temperatura, tornando-se provável a ocorrência de deformação diferencial. No caso da argamassa de revestimento, esta situação é representada por uma situação de chuva intensa sobre uma fachada previamente aquecida pela radiação solar. Conforme ressaltado por Kazmierczak

et al. (2016), a deterioração decorrente da ação de ciclos térmicos está associada

aos seguintes aspectos: coeficiente de expansão (ou dilatação) térmica (CET) dos materiais constituintes da argamassa; condutividade térmica; e gradiente de temperatura.

Na esfera nacional, a atenção relacionada ao estudo de ensaios acelerados decorrentes do choque térmico é notável, e remete a trabalhos desde a década de 90 até os tempos atuais, tal como elencado na TABELA 1. Observa-se que, de modo geral, há discrepância entre os parâmetros empregados nos diversos estudos. Contudo, é possível constatar maior tendência de alguns, como é o caso da temperatura de 80ºC, para fins de aquecimento, e o número de ciclos, mais frequentemente utilizado como 10 (dez). Quanto a este aspecto, é valido comentar que, a partir de 2013, a grande maioria das pesquisas empregam a referida

temperatura e a quantidade de dez ciclos em seus procedimentos, provavelmente devido ao advento da norma de desempenho.

Por outro lado, quanto às dimensões das amostras, os valores adotados nos estudos variam entre si, desde 29 x 19 cm² até 240 x 240 cm² de área exposta. Todavia, quanto aos estudos posteriores à publicação da NBR 15575-4 (ABNT, 2013b), observa-se que a utilização de dimensões de largura de 100 até 140 cm (intervalo de valores adotado pela norma) se torna maioria.

TABELA 1 – RESUMO DE ESTUDOS RELACIONADOS AO CHOQUE TÉRMICO E PARÂMETROS ADOTADOS Documento (ano) Parâmetros Sistema ensaiado Dimensões da amostra (cm) Temperatura máxima (duração) Número de ciclos

GEYER (1994) Bloco cerâmico + chapisco + cerâmica

75x50xE

45x60xE 80ºC (1 h) 10

ROMAN et al.

(2000) Bloco cerâmico 91x91xE 68ºC (1 h) 120

MIRANDA E SELMO (2003)

Bloco de concreto + chapisco + revestimento de argamassa 135x210xE 80ºC (1 h) 10 CRESCÊNCIO E BARROS (2003) Bloco cerâmico + revestimento monocamada Não especificado 80ºC (1 h) 10 VILATÓ E FRANCO (2005)

Bloco cerâmico estrutural +

revestimento de argamassa 240x240xE 80ºC (1 h) 12 ISO 8.336

(2009)

Chapas cimentícias planas

(SVVE completo) ≥ 3,5 m² 60ºC (2 h 55 min) 25 ESQUIVEL

(2009)

Bloco de concreto +

revestimento de argamassa 40x30xE 70ºC (3 h) 30 TEMOCHE E

BARROS (2010)

Bloco de concreto +

revestimento de argamassa 40x30xE 70ºC (1,5 h) 30 FONTENELLE

(2012) Placas cimentícias 120x240xE 80ºC (1 h) 10 ASTM C1185-8

(2012)

Chapas cimentícias planas

(SVVE completo) ≥ 3,5 m² 60ºC (2 h 55 min) 25 ETAG 004

(2013)

Sistema de vedação leve

(ETIC) 250x200xE 70ºC 80

ABNT NBR

15575-4 (2013) SVVE completo 120xPDxE 80ºC 10

LORENZI

(2013) Parede de concreto armado 100x240xE 80ºC (1 h) 10 OLIVEIRA et al.

(2014)

Perfis de aço + Placas cimentícias 240x260xE 120x260xE 80ºC (1 h) 10 VARISCO (2014) Bloco de concreto + revestimento de argamassa 180x275x10 80ºC (1 h) 10

Documento (ano) Parâmetros Sistema ensaiado Dimensões da amostra (cm) Temperatura máxima (duração) Número de ciclos

CONTE (2014) Bloco de concreto + pintura

acrílica 120x230xE 80ºC (1 h) 10

SENTENA (2015)

Bloco cerâmico + chapisco +

revestimento de argamassa 29x19xE 80ºC (1 h) 40 MORAES

(2015) Parede PVC + concreto 120x240x70 80ºC (1 h) 10 FONTENELLE

et al. (2017) SVVE completo 240x240xE

80ºC (1 h) 70ºC (1 h) 65ºC (1 h) 10 FERNANDES (2017) Bloco de cerâmico + chapisco + revestimento de argamassa 120x240xE 60x40xE 30x40xE 80ºC (1 h) 10 e 30 ESQUIVEL E BARROS (2018) Base de concreto + Revestimento de argamassa 30x40x10 70ºC (1,5 h) 30 FERREIRA et

al. (2019) SVVE completo

120x260xE

240x260xE 80ºC (1 h) 10 KAZMIERCZAK

et al. (2020)

Bloco de cerâmico +

revestimento de argamassa 40x45xE 80ºC (1 h) 10 E: espessura

PD: Pé-direito de obra

FONTE: Adaptado de Fernandes (2017).

Analisando-se a TABELA 1, observa-se que os estudos remetem aos sistemas de vedação como um todo, de modo a avaliar diferentes elementos que o compõem. Tal avaliação, embora holística, demanda as dimensões elevadas retratadas anteriormente, o que resulta em maiores custos e resíduos.

Deste modo, é possível pontuar que um procedimento de ensaio voltado à avaliação do revestimento de argamassa, apenas um elemento que compõem o SVVE, pode viabilizar a redução das dimensões aplicadas, trazendo benefícios econômicos e ambientais. Todavia, reconhece-se que tal fato é, ao mesmo tempo, uma limitação, restringindo a avaliação para apenas um elemento, impedindo-se de traçar avaliações a respeito do SVVE completo.

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