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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 Ensaios com Fármacos Manipulados

5.3.1 Daphnia similis

A fim de verificar o potencial tóxico dos excipientes farmacêuticos, foram realizados ensaios de toxicidade aguda com os princípios ativos farmacêuticos. Adquiridos em farmácias de manipulação, com 99,9% de grau de pureza, contendo apenas o princípio ativo do fármaco, sem excipientes. Foram observadas e comparadas as diferenças de toxicidade (CE50%) entre os fármacos manipulados e os medicamentos de uso comercial, e também, a eficiência de remoção da toxicidade para o tratamento com feixe de elétrons na dose de 5,0 kGy.

Os ensaios realizados com o fármaco propranolol manipulado, e de sua mistura com o fármaco cloridrato de fluoxetina, também manipulado, não irradiados, e irradiados na dose de 5,0 kGy, com o organismo-teste Daphnia similis, estão representados quanto à concentração de efeito (CE50%), calculada pelo método Trimmed Spearman Karber (TSK) com os valores de médias (X) e desvio padrão (S), os intervalos de confianças entre parênteses, unidade tóxica (UT) e eficiência do processo de remoção (%), nas Tabelas 15 e 16.

Tabela 15 – CE5015min (%), UT e eficiência de remoção (%) da amostra do

fármaco propranolol para D. similis.

Doses (kGy) Ensaio CE5015min (%) UT Eficiência (%) 1 4,51 (3,59 – 5,68) 22,17 - 0,0 2 3,75 (3.11 – 4,51) 26,66 - 3 4,46 (3,42 – 5,83) 22,42 - X ± S 4,46 ± 0,32 22,42 ± 1,94 - 1 46,87 (41,12 – 53,41) 2,13 90,49 5,0 2 40,56 (36,47 – 45,11) 2,46 89,02 3 39,75 (35,99 – 43,89) 2,51 88,80 X ± S 42,39 ± 2,98 2,36 ± 0,15 89,02 ± 0,70

Tabela 16 - CE5015min (%), UT e eficiência de remoção (%) da amostra da mistura

dos fármacos para D. similis.

Doses (kGy) Ensaio CE5015min (%) UT Eficiência (%)

1 6,70 (4,66 – 9,62) 14,92 - 0,0 2 7,47 (5,11 – 10,94) 13,38 - 3 7,84 (6,07 – 10,11) 12,75 - X ± S 7,33 ± 0,42 13,68 ± 0,82 - 1 55,99 (50,66 – 61,88) 1,78 86,98 5,0 2 65,01 (59,86 – 70,60) 1,53 88,23 3 47,34 (39,82 – 55,55) 2,11 84,57 X ± S 53,24 ± 3,93 1,78 ± 0,20 86,98 ± 1,51

Ao comparar as diferenças entre as CE50% dos fármacos manipulados com os de uso comercial, para o propranolol isolado, podemos notar nos ensaios brutos (não irradiados), que o propranolol manipulado apresentou maior toxicidade, com a CE50% de 4,46 quando comparado ao fármaco de uso comercial, onde a CE50% foi de 7,45.

Porém ao analisar a eficiência do tratamento na dose de 5,0 kGy, para o fármaco manipulado onde a CE50% de 42,39, mostra-se superior, ao fármaco de uso comercial, CE50% de 36,85. Mesmo o fármaco manipulado apresentando uma toxicidade maior, sua eficiência de remoção foi superior quando comparada ao tratamento submetido ao propranolol de uso comercial.

Levando em conta a mistura dos fármacos (propranolol + cloridrato de fluoxetina), nos ensaios realizados com os compostos manipulados, foi observada a CE50% de 7,33, novamente mais tóxica quando comparada a mistura dos fármacos de uso comercial, onde a CE50% foi de 9,38. Ao analisar a eficiência do tratamento na dose de 5,0 kGy, para a mistura dos fármacos manipulados, os valores encontrados foram próximos aos ensaios com o fármaco comercial, sendo de 53,24 e 51,15, respectivamente.

A dose de 5,0 kGy, foi evidenciada como a melhor dose para o tratamento por irradiação com feixe de elétrons, para os fármacos de uso comercial, discutidos nesse trabalho. Esta dose foi empregada a fim de avaliar o mesmo potencial de redução da toxicidade para o estudo com os fármacos manipulados, apresentando uma eficiência de remoção de 89,02% para o

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propranolol, e de 86,98% para a mistura desse fármaco com o cloridrato de fluoxetina.

Dados esses que se mostraram melhores do que os encontrados para as análises dos fármacos de uso comercial, onde a eficiência de remoção foi de 79,94% e 81,59%, para propranolol e mistura, respectivamente (Figura 18).

(a) (b)

Figura 18 – (a) e (b) Eficiência de remoção dos fármacos manipulados e comerciais,

para o organismo D. similis.

5.3.2 Vibrio fischeri

Neste estudo, também foram realizados ensaios ecotoxicológicos com a bactéria Vibrio fischeri, com o fármaco propranolol manipulado, e com a mistura dos fármacos propranolol e cloridrato de fluoxetina, também manipulados, em amostras não irradiadas e irradiadas na dose de 5,0 kGy.

Os valores de CE5015min determinados neste estudo, bem como as médias, desvios-padrão, unidades tóxicas e eficiência de remoção constam na Tabelas 17 e 18.

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Tabela 17 – CE5015min (%), UT e eficiência de remoção (%) da amostra do fármaco

propranolol para V. fischeri.

Doses (kGy) Ensaio CE5015min (%) UT Eficiência (%)

1 35,21 (32,15 – 38,56) 2,84 - 0,0 2 37,82 (25,31 – 56,49) 2,64 - 3 39,49 (33,90 – 46,01) 2,53 - X ± S 37,50 ± 1,53 2,67 ± 0,11 - 1 63,73 (49,94 – 81,31) 1,56 41,57 5,0 2 63,20 (47,42 – 84,24) 1,58 40,82 3 63,95 (54,65 – 74,83) 1,56 41,57 X ± S 63,62 ± 0,28 1,56 ± 0,00 41,32 ± 0,33

Tabela 18 - CE5015min (%), UT e eficiência de remoção (%) da amostra da mistura

dos fármacos para V. fischeri.

Doses (kGy) Ensaio CE5015min (%) UT Eficiência (%)

1 40,16 (30,81 – 52,34) 2,49 - 0,0 2 42,75 (27,40 – 66,69) 2,33 - 3 42,32 (27,50 – 65,14) 2,36 - X ± S 41,74 ± 1,05 2,39 ± 0,06 - 1 51,57 (38,42 – 69,21) 1,93 19,24 5,0 2 49,82 (28,96 – 85,72) 2,00 16,31 3 48,03 (27,55 – 88,71) 2,08 12,97 X ± S 49,80 ± 1,18 2,00 ± 0,05 16,17 ± 2,13

Comparando os valores de CE50% dos fármacos manipulados com os de uso comercial, notamos que o propranolol manipulado apresenta-se novamente mais tóxico para V. fischeri, CE50% de 37,50, quando comparado ao fármaco de uso comercial, CE50% de 55,20. Todavia a eficiência do tratamento na dose de 5,0 kGy foi praticamente igual, para o fármaco manipulado, onde CE50%: 63,62, e para o fármaco comercial, onde CE50%: 65,30. Porém deve-se levar em conta que ao analisar a CE50% dos fármacos não irradiados, o propranolol manipulado mostrou-se mais tóxico.

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Analisando a mistura dos fármacos (propranolol + cloridrato de fluoxetina), nos ensaios realizados com as substâncias manipuladas (CE50%: 41,74), os valores mostraram-se próximos aos ensaios com a mistura dos fármacos de uso comercial (CE50%: 45,65). Porém, desta vez, a eficiência do tratamento na dose de 5,0 kGy, mostrou-se melhor no tratamento para a mistura dos fármacos de uso comercial.

A eficiência de remoção do propranolol foi superior nos ensaios realizados com o fármaco manipulado (41,32%). Porém para os ensaios com a mistura de fármacos, a eficiência de remoção da toxicidade do composto mostrou-se maior nos ensaios realizados com o fármaco comercial (26,93%) (Figura 19).

(a) (b)

Figura 19 – (a) e (b) Eficiência de remoção dos fármacos manipulados e comerciais,

para o organismo V. fischeri.

As medidas de redução do impacto ambiental causado pelos fármacos também devem se basear no conhecimento sobre os efeitos tóxicos de todos os ingredientes farmacêuticos ativos, bem como os excipientes (CARSLON, et al., 2006).

A probabilidade desses excipientes exercerem um potencial efeito tóxico no ambiente raramente é discutida, mas as concentrações dos compostos utilizados para essas diversas aplicações, por vezes, são medidos em conjunto com os ingredientes ativos farmacêuticos (DAUGHTON & TERNES, 1999; KOLPIN et al., 2002).

Existem 1300 compostos utilizados como excipientes em cerca de 7600 fármacos na Suécia. Dentre eles encontramos a água, o açúcar, o amido, celulose, proteínas, citrato, glucose e glicerol, que podem ser consideradas como ambientalmente seguras. Outros compostos tais como os conservantes, podem ser mais relevantes do ponto de vista dos riscos ambientais. Conservantes são compostos biologicamente ativos usados como biocidas, a fim de inibir o crescimento de microrganismo, podendo afetar também outros organismos. Outros compostos, como os tensoativos podem apresentar atividade biológica considerável, sendo assim, seu impacto ambiental pode ser adverso ou benéfico (ALVERSON & COHEN, 2004 apud CARSLON et al., 2006).

No trabalho de Carslon e colaboradores (2006), foram selecionados cinco excipientes farmacêuticos para a avaliação dos riscos ambientais. Somente o Docusato de sódio, um surfactante aniônico tipo emoliente, foi identificado como um potencial de risco, para organismos que vivem em sedimentos.

Pode-se argumentar que o montante de excipientes utilizados em produtos farmacêuticos são pequenos. Assim, a utilização de excipientes em produtos farmacêuticos não apresenta um risco significativo ao ambiente. Porém, ainda existem muitas lacunas de conhecimento a respeito dos riscos ambientais decorrentes dos excipientes farmacêuticos (CARSLON et al., 2006). Neste trabalho ficou claro que existe diferença entre a toxicidade das substâncias. O fármaco manipulado foi mais tóxico quando comparado ao fármaco comercial, que contêm os excipientes, que por sua vez podem proteger de alguma maneira os organismos expostos. Quanto à eficiência de remoção, esta também é melhor para os fármacos manipulados, mesmo se apresentando mais tóxicos, ao ser aplicado o tratamento com radiação ionizante, a eficiência de remoção foi maior, comparada aos fármacos comerciais, tal fato só não foi observado na mistura dos fármacos para o organismo Vibrio fischeri. Novamente pode-se dizer que os excipientes farmacêuticos interferem neste processo.

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