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4 EVIDÊNCIAS EM INCÊNDIOS NOUTROS PAÍSES

4.3 Ensaios ao fogo, Austrália

A empresa australiana BHP, uma das maiores produtoras de aço na Austrália, tem vindo desde há muitos anos a investigar(9,10) soluções de engenharia contra incêndios, para edifícios metálicos porticados. Foram realizados um elevado número de ensaios ao fogo natural à escala real em instalações especialmente construídas no Laboratório de Melbourne, representando estádios, parques de estacionamentos e escritórios. O programa de ensaios de escritórios focou-se nos projetos de remodelação que estavam a ser realizados nos edifícios principais no centro comercial de Melbourne.

4.3.1 Ensaios ao fogo e abordagens de cálculo, William Street

Um edifício de 41 pisos em William Street, no centro de Melbourne, era o mais alto da Austrália quando foi construído em 1971. Este era quadrado em planta, com um núcleo central interno quadrado. O edifício foi dotado de um ligeiro sistema de extinção automática por água. A estrutura de aço em torno do núcleo interno e os pilares periféricos de aço foram protegidos por um revestimento de betão. As vigas e a superfície inferior das lajes mistas foram protegidas com material à base de amianto. Durante o programa de remodelação, em 1990, ficou decidido que se iria remover o amianto.

O que condicionou o dimensionamento da estrutura do pavimento foram os estados limites de utilização, em vez dos estados limites últimos. Isto significa que havia uma reserva de resistência que poderia ser benéfica para a sobrevivência da estrutura durante o incêndio, podendo a mesma suportar temperaturas mais elevadas antes de atingir o colapso.

Na altura da remodelação, o tempo de resistência ao fogo requerido foi de 120 minutos. Normalmente, este tempo iria implicar a aplicação de proteção contra incêndios nas

vigas metálicas e na face inferior da laje levemente reforçada (a regulamentação Australiana foi revista e neste momento permite que a face inferior da laje permaneça sem proteção para o tempo de resistência ao fogo de 120 minutos). Para além disso, o sistema de extinção automática por água existente requeria uma atualização para satisfazer a regulamentação em vigor.

Durante 1990, a resistência ao fogo dos edifícios foi objeto de debate nacional; a oportunidade foi, portanto, utilizada para realizar uma avaliação de riscos para avaliar se a proteção ao fogo da estrutura metálica e a atualização do sistema de extinção automática de água eram necessárias. Foram feitas duas avaliações. A primeira foi feita na base em que o edifício estava conforme a regulamentação em vigor, sem medidas de proteção adicionais; a segunda foi feita assumindo que as vigas e a face inferior da laje não possuíam proteção contra incêndios, juntamente com a manutenção do sistema de extinção automática de água existente. Estavam também incluídos os efeitos do sistema de deteção e do sistema de gestão do edifício na segunda avaliação. As autoridades concordaram que se os resultados da segunda avaliação de riscos fossem pelo menos tão favoráveis como os da primeira avaliação, a utilização do sistema de extinção automática de água existente, das vigas metálicas e da laje mista sem proteção seria considerada aceitável.

Foi realizada uma série de quatro ensaios ao fogo para obter os dados para a segunda avaliação de riscos. Os ensaios seriam para estudar matérias como a natureza provável do fogo, o desempenho do sistema de extinção automática de água existente, o comportamento de lajes mistas e vigas alveoladas não protegidas submetidas a fogos reais, e a provável criação de fumo e gases tóxicos.

Os ensaios foram realizados num edifício de testes construído nos Laboratórios de Melbourne do centro de investigação da BHP (ver Figura 4.4). Pretendia-se simular as dimensões típicas de um andar de um compartimento de canto de 12 m  12 m. O edifício foi mobilado de forma a ter um ambiente semelhante ao de um escritório, construindo-se adicionalmente um escritório de pequenas dimensões (4 m  4 m), adjacente ao perímetro do edifício. A envolvente deste escritório era constituída por placas de gesso, janelas, uma porta e pela fachada do edifício de ensaio. Utilizaram-se depósitos de água como forma de carregamento.

Figura 4.4 Ensaios BHP ao edifício e ensaios ao fogo

Foram realizados quatro ensaios ao fogo. Os dois primeiros tinham como objetivo testar o desempenho do sistema de extinção automática de água. No Ensaio 1, um incêndio teve início num pequeno escritório e o sistema de extinção automática de água foi ativado automaticamente. Este escritório tinha uma carga de incêndio de 52 kg/m2. A temperatura atingiu os 60 °C antes da ativação do sistema de extinção automática de água e consequente extinção do incêndio. No Ensaio 2, o incêndio teve início num corredor de área plana aberta entre 4 bocas do sistema de extinção automática de água. Esta área possuía uma carga de incêndio de 53.5 kg/m2. A temperatura atingiu os 118 °C antes da ativação do sistema de extinção automática de água e posterior extinção do incêndio. Estes dois ensaios provaram que o sistema de extinção automática de água era adequado.

O desempenho térmico e estrutural da laje mista foi avaliado num terceiro ensaio. As vigas de suporte estavam parcialmente protegidas. O incêndio teve início numa área plana aberta e deixou-se desenvolver com o sistema de extinção automática de água desligado. A temperatura máxima atingiu os 1254 °C. O fogo foi extinto uma vez que se considerou que a temperatura tinha atingido o seu pico. A laje suportou a carga imposta. A temperatura máxima registada no topo da superfície da laje de pavimento foi de 72 °C. A superfície inferior da laje foi parcialmente protegida pelo sistema de teto, que se manteve substancialmente no seu lugar durante o incêndio.

No Ensaio 4 deixaram-se as vigas metálicas sem proteção e o fogo teve início num escritório pequeno. O fogo não se propagou para a área plana aberta, apesar da quebra manual das janelas para aumentar a ventilação. Portanto, a ignição do fogo deu-se por uma fonte externa da área plana aberta. A temperatura máxima registada foi de 1228 °C, com uma temperatura máxima das vigas metálicas de 632 °C acima do teto falso. O fogo foi extinto quando se considerou que a temperatura atingiu o seu pico. Uma vez mais, as vigas metálicas e o pavimento foram parcialmente protegidos pelo teto. O deslocamento a meio vão das vigas alveoladas foi de 120 mm e a maior parte desta deformação foi recuperada quando a estrutura arrefeceu até atingir a temperatura normal.

Três pilares descarregados foram colocados no compartimento de incêndio para testar o efeito de resguardos no aquecimento por radiação. Um pilar foi protegido com chapa de aço galvanizado, outro com chapa de aço aluminizado e o outro deixou-se como um pilar de referência não protegido. As temperaturas máximas dos pilares registadas foram

de 580 °C, 427 °C e 1064 °C, respetivamente, sugerindo que a proteção da radiação pode proporcionar proteção suficiente para os elementos de aço com condições de pequena carga de incêndio.

Concluiu-se a partir dos quatro ensaios ao fogo que o ligeiro sistema de extinção automática de água era adequado e que não foi necessário nenhuma proteção contra incêndio para as vigas metálicas ou a face inferior da laje mista. Qualquer incêndio no edifício William Street não deve deformar a laje ou as vigas metálicas excessivamente, desde que as temperaturas do aço não excedam as temperaturas registadas nos ensaios. O aumento da temperatura nas vigas metálicas foi afetado pelo sistema de teto falso, que permaneceu praticamente intacto durante os ensaios.

O edifício de escritórios da cidade principal que foi objeto de uma investigação técnica era propriedade da maior empresa de seguros Australiana, que financiou e tinha iniciado o programa de ensaios. Foi aprovado pela autoridade local, sem proteção passiva contra incêndios das vigas mas com um ligeiro sistema de extinção automática de água, que se provou ser eficiente durante o programa de ensaios.

4.3.2 Ensaios ao fogo, Collins Street

Este equipamento de ensaio foi construído para simular uma secção de um edifício metálico porticado de vários pisos em Collins Street, Melbourne. O objetivo do ensaio foi de registar os dados de temperatura do incêndio resultante da combustão do mobiliário num compartimento de escritório comum.

O compartimento tinha 8.4 m  3.6 m com mobília de escritório comum, o que deu uma carga de incêndio entre os 44 e os 49 kg/m2. Foi instalado um sistema de teto falso contra incêndio não avaliado, com azulejos que consistem em gesso com uma manta de fibra de vidro de apoio. Uma laje de betão descarregada constitui a parte superior do compartimento. Durante o ensaio, as temperaturas foram registadas nas vigas metálicas entre a laje de betão e o teto falso. Também foram registadas as temperaturas dos três pilares internos livres. Dois dos pilares estavam protegidos com folhas de alumínio e chapa de aço, atuando como proteção à radiação; o terceiro pilar ficou sem proteção. Três pilares externos descarregados foram também construídos e colocados a 300 mm das janelas à volta do perímetro do compartimento.

O sistema de teto falso sem classificação de resistência contra incêndio forneceu uma barreira efetiva contra o fogo, fazendo com que a temperatura das vigas metálicas permanecesse baixa. Durante o ensaio a maior parte do teto falso permaneceu no seu lugar. A temperatura por baixo do teto falso atingiu valores que variaram entre os 831 °C a 1163 °C, com o valor mais baixo a ocorrer perto das janelas partidas. Por cima do teto, a temperatura do ar variou entre os 344 °C e os 724 °C, com as temperaturas máximas a ocorrerem onde o teto tinha sido danificado. A temperatura máxima da viga metálica foi de 470 °C.

O indicador interno de descarga dos pilares atingiu o pico da temperatura de 740 °C, no caso do pilar sem proteção, e inferior a 400 °C, para os casos revestidos com proteção. Nos pilares exteriores o pico de temperatura registado foi de 490 °C.

Este ensaio ao fogo revelou que as temperaturas das vigas e dos pilares externos eram suficientemente baixas para justificar o uso do aço não protegido, e, tal como os ensaios de William Street, a proteção conferida por um teto falso sem classificação de resistência foi benéfica.

4.3.3 Conclusões da investigação Australiana

Os ensaios Australianos e as avaliações de risco associadas concluíram que, desde que os edifícios de escritório do tipo arranha-céus incorporem um sistema de extinção automática de água com um nível de fiabilidade suficiente, o uso de vigas não protegidas pode oferecer um nível maior de segurança semelhante aos edifícios que satisfazem os requisitos da norma australiana para proteção passiva de edifícios. Até ao início de 1999, foram aprovados na Austrália seis edifícios deste tipo, entre 12 a 41 andares.

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