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Ensinar para a sociedade do conhecimento: educar para a criatividade

Capítulo I – Enquadramento Teórico

1.1 A origem da metodologia do Trabalho de Projeto

1.2.2 Ensinar para a sociedade do conhecimento: educar para a criatividade

O ensino no século XXI, na sociedade do conhecimento, para além da transmissão de conhecimentos (saber), tem abranger, o saber- fazer e o saber- ser; os alunos têm de dominar a informação e, paralelamente, desenvolver competências e capacidades humanas importantes para o desempenho de tarefas futuras, dentro e fora da escola. Estes desafios só são possíveis se a aposta for no desenvolvimento de capacidades, de competências, de atitudes e de valores que permitam aos alunos, mais tarde, como cidadãos ativos, vingar na sociedade do conhecimento e da informação.

Neste cenário, os professores deverão ser os “catalisadores da sociedade do

conhecimento” (Hargreaves, 2003, p. 45), fomentando nos alunos uma “identidade cosmopolita” (Hargreaves, 2003, p. 90), ancorada na inovação, no empreendedorismo e

na criatividade, de modo a alavancar, no futuro, a prosperidade económica da sociedade. Neste sentido, a escola deverá olhar para o exterior, para as preocupações dos alunos, das famílias e das comunidades.

“Na sociedade atual e moderna, a escola deve, através dos professores, “equipar” os alunos, com capacidades para aprenderem e para lidarem com a mudança, de modo a tornarem-se trabalhadores de elevada qualidade e pró-ativos e poderem reagir com rapidez e flexibilidade à mudança, adaptando-se e adquirindo nova formação, quando as oportunidades futurasou as recessões económicas surgirem.” (Hargreaves, 2003, p. 78)

Paralelamente, devem também desenvolver competências na área da inteligência emocional, como sejam, o conhecer e ser capaz de expressar as próprias emoções, sentir empatia em relação às emoções dos outros, ser capaz de avaliar e regular a própria emoção, não ficando fora de controlo, ter a capacidade de se motivar a si próprio e aos

23 outros e ter certas aptidões sociais para colocar em prática estas competências. Para além disto,

“(…) os professores que trabalham na sociedade do conhecimento desenvolvem, para além da inteligência emocional dos alunos, o capital social, ou seja, a capacidade de formar redes, de constituir relações, de contribuir para a qualificação dos recursos humanos da sua comunidade e da sua sociedade”. (Hargreaves, 2003, p. 82)

De acordo com Fukuyama (1995), citado por Hargreaves (2003, p.83) o capital social é o “conjunto de normas informais e de valores partilhados pelos membros de um grupo

que permite a cooperação entre eles” que estabelece a base de confiança. Para este

autor, sem recursos humanos qualificados e trabalhadores não há sociedade civil e sem sociedade civil não há democracia. Quando os professores e as escolas não o cultivam, os alunos produzem-no de forma invertida e pervertida. O capital social é o alicerce da prosperidade e da democracia: desenvolvê-lo constitui uma prioridade educativa.

As competências emocionais vão permitir que os alunos e, portanto, os futuros trabalhadores, possam motivar os seus colegas e melhorar as relações entre eles, trabalhar sobre as dificuldades e desilusões que ocorrem durante a mudança, construir equipas de alto desempenho, resolver eficazmente os problemas, valorizar os diversos estilos de aprendizagem e os antecedentes culturais dos colegas de equipa e serem capazes de resolver os conflitos quando estes surjam.

Sendo a sociedade do conhecimento uma sociedade em mudança, em que a informação circula e se expande continuamente, as escolas estão também em contínua mudança.

“Por isso, num mundo em constante mudança e com um conhecimento em expansão, os professores da sociedade do conhecimento precisam de desenvolver capacidades para correrem riscos, para lidarem com a mudança e para implementarem processos de pesquisa quando se confrontam com novas exigências e novos problemas. Não existe criatividade sem risco; o risco de experimentar uma ideia nova ou uma prática desconhecida; de se estar preparado para falhar ou parecer ridículo quando se experimenta algo de novo; de não se levar demasiado a peito os insucessos; de se ser aberto e não demasiado sensível aos comentários críticos; de se trabalhar com colegas diferentes e não apenas com os que partilham das mesmas convições, de se procurar o seu conselho” (Heagreaves, 2003, p. 51)

Ainda segundo este autor, o ensino na sociedade do conhecimento demonstra interesse pela aprendizagem cognitiva complexa, por um repertório de práticas de ensino baseadas na pesquisa, por uma aprendizagem profissional e por uma autoavaliação contínuas, pelo trabalho em equipa, pelo estabelecimento de parcerias de aprendizagem com a Comunidade Educativa, pelo desenvolvimento e utilização da inteligência

24 coletiva e pelo cultivar de uma profissão que valorize, a resolução de problemas, o espírito de risco, a confiança profissional, o lidar com a mudança e o empenhamento num aperfeiçoamento contínuo.

Estas novas abordagens às aprendizagens implicam novas abordagens ao ensino, que se traduzem num maior relevo à metacognição (pensar sobre o conhecimento) às abordagens construtivistas, à aprendizagem e ao entendimento, às estratégias de aprendizagem cooperativa e à “utilização de um leque alargado de técnicas de

avaliação e uso das tecnologias de informática e de informação” (Heagreaves, 2003, p.

46) que permitam aos alunos desenvolver o seu trabalho de forma independente e autónoma.

O envolvimento de toda a Comunidade Educativa, na definição geral do rumo da organização educativa, possibilita aos alunos apoio adicional, novas aprendizagens, desenvolvimento de competências e de saberes, para além dos que a escola proporciona. É neste contexto que, na escola da sociedade do conhecimento, surge o projeto no ensino, como uma tentativa de superação dos problemas, na perfeita trilogia competências-capacidades-conhecimentos. Não se pretende que os alunos tenham apenas um número determinado de conhecimentos e de competências, mas, o que é mais importante, que os saibam aplicar corretamente a cada situação da vida, valorizando, ao mesmo tempo, a sua criatividade, autonomia e espírito crítico (Costa, 1997). A escola de hoje, tal como no tempo dos Jesuítas, ensina os jovens a ler, a contar, a escrever, fornecendo-lhes o potencial necessário à criação humana, do ponto de vista técnico ou de hábitos de trabalho, mas é ainda o local onde aprendem, muitas vezes, a sua futura profissão (Leite, 1989).