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Ensinar é um ato que exige conhecimento e habilidade naquilo que se deseja transmitir. Ensinar é muito mais que passar conteúdo. O professor sempre foi concebido como um mediador de aprendizagens e isso se torna mais presente nesta nova fase da educação, onde não se quer um aluno moldado por uma forma pré-concebida, mas sim, que a escola e o professor deem condições de desenvolvimento pessoal e social, de construção e apropriação de saberes.

Me parece demasiado obvio que a educação de que precisamos, capaz de formar pessoas críticas, de raciocínio rápido, com sentido do risco, curiosas, indagadoras não pode ser a que exercita a memorização mecânica dos educandos. A que ‘treina’ em lugar de formar. Não pode ser a que deposita conteúdos na cabeça ‘vazia’ dos educandos, mas a que, pelo contrário, os desafia a pensar certo. Por isso é a que

coloca ao educador e a educadora a tarefa de, ensinando conteúdos ao educando ensina-lhes pensar criticamente. (FREIRE, 2000. p. 45)

Um professor ao ministrar aulas de Sociologia para seus alunos, tem como função, incita-los, incentiva-los a pensar de forma crítica a sociedade atual, para isso se faz necessário transmitir de forma clara e concisa este conhecimento, tomando cuidado para não cair no erro de reproduzir o senso comum42 como conhecimento sociológico.

No livro “Sociologia” Giddens (2008) temos uma definição do que é entendido por objeto de estudo da Sociologia “A Sociologia é o estudo da vida social humana, grupos e

sociedades. ” O estudar Sociologia de Giddens, refere-se ao ato de refletir e pesquisar sobre,

com base em conceitos bem definidos. Segundo ele “Estudar Sociologia não pode ser

simplesmente um processo rotineiro de acumulo de conhecimento. ” Estudar Sociologia é

uma tarefa difícil. Ao contrário do que acontece nas escolas públicas brasileiras – conforme constatado no presente estudo e em pesquisas anteriores – seu ensino deve ser ministrado por alguém que tenha formação e conhecimento necessário tendo em vista sua complexidade, tanto para quem ensina quanto ao discente. “A Sociologia debruça-se sobre as nossas vidas e

o nosso próprio comportamento, e estudar-nos a nós próprios é a mais difícil e complexa tarefa que podemos empreender. ” (GIDDENS, 2008, p 18-22)

Para que o aluno da escola pública possa atingir os objetivos propostos na LDB e PCNEM ante o ensino de Sociologia, faz-se necessário que ele tenha como docente alguém que seja capaz de entender as peculiaridades aplicadas ao estudo da Sociologia. Estamos aqui falando sobre o ensino de Sociologia, como este se dá nas escolas, mas não podemos esquecer que um ensino sem qualidade, ou com conhecimentos superficiais acerca do conteúdo ensinado prejudica o objetivo final de uma aula, a apreensão do conhecimento por parte do estudante. Este não tem em sua formação uma definição clara da matéria que está sendo ensinada, adquirindo conceitos superficiais sobre uma disciplina importante para a sua formação como cidadão.

Giddens (2008), citando C. Wright Mills, destaca que o trabalho do sociólogo depende da “imaginação sociológica”, o que implica “abstrairmo-nos das rotinas familiares da vida

cotidiana de maneira a poder olha-las de forma diferente, ”. Não é diferente – respeitadas as

peculiaridades de cada profissão – o ato de refletir sobre as coisas da Sociologia, ou seja, a pesquisa, delegada aos bacharéis, do ato de ensinar Sociologia delegado aos licenciados. Em

42 O senso comum é um conjunto de saberes simples, pouco elaborados e resultam da experiência de vida e não

ambos os casos é necessário exercitar a “imaginação sociológica” para que se possa ter resultado satisfatório.

Tratar sobre a sociedade e suas múltiplas representações, seus grupos sociais, sua organização política, exige bastante do profissional. Este é um consenso entre os que se propuseram a estudar as formas de entender a sociedade. Acima destacamos a contribuição de Anthony Giddens. Nessa mesma linha Norbert Elias (1980) em Introdução a Sociologia, também entende que esta não é uma tarefa fácil. Segundo Elias (1980):

Para compreendermos de que trata a Sociologia, temos que nos distanciar de nós mesmos, temos que nos considerar seres humanos entre os outros. Na verdade, a Sociologia trata dos problemas da sociedade e a sociedade é formada por nós e pelos outros. Aquele que pensa a sociedade e ele próprio um de seus membros. (ELIAS, 1980, p 13).

De acordo com Elias (1980), o conhecimento que se encontra no senso comum deve ser superado sendo “fundamental para o ensino de Sociologia e sua prática de

investigação[...]a compreensão dos processos humanos e sociais e adquirir uma base crescente de conhecimentos mais sólidos acerca desses processos”, para que assim se possa

“exercer um certo controle sobre o decurso cego destas forças”. (ELIAS, 1980, p. 17)

Devemos lembrar que além deste exercício, o profissional que não tem formação na disciplina carece de um domínio do conteúdo a ser ministrado, tendo muitas vezes a necessidade de usar como base, conhecimentos adquiridos ao longo da vida, que por vezes são tão genéricos que levam as discussões da matéria para uma perspectiva pessoal.

O estudo da Sociologia nas palavras de Giddens é além de tudo “uma tarefa fascinante

e constrangedora, na medida em que o tema de estudo é nosso próprio comportamento enquanto seres sociais. ”

Aliada a esta dificuldade de executar esse exercício de imaginação sociológica, temos uma tendência, tanto no campo das ciências naturais e exatas, assim como nas Ciências Sociais e Humanas: A formação de especialistas, a fragmentação dentro da própria área.

Hoje em dia, a própria Sociologia corre o perigo de se fragmentar em Sociologias cada vez mais especializadas – da Sociologia da família à Sociologia das organizações industriais, da Sociologia do conhecimento à Sociologia das mutações sociais, da Sociologia do crime à Sociologia da arte e da literatura, da Sociologia do desporto a Sociologia da linguagem. Em breve, haverá especialistas em todos estes campos, elaborando seus próprios termos técnicos, as suas teorias e métodos que se tornarão inacessíveis aos não especialistas. (ELIAS, 1980, p. 53)

A formação de especialistas como destaca Elias (1980), pressupõe domínio de um conhecimento que se torna passível de entendimento por um grupo restrito que desfruta de determinados conceitos adquiridos em formação específica. A crescente fragmentação das ciências faz com que o conhecimento de determinada disciplina seja objeto de domínio específico de especialistas.

Pode-se observar facilmente isto, basta analisar a grade curricular dos cursos de licenciatura de que tratamos nesta pesquisa. Eles pouco dialogam com outros cursos. Este encargo fica por conta das disciplinas complementares de graduação (DCG), ou disciplinas introdutórias, com carga horária baixa.

4.6 A SOCIOLOGIA NA SALA DE AULA: A PRÁTICA PELA ÓTICA DO PROFESSOR