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CAPÍTULO III. Ensino-aprendizagem do português no Canadá

3. Ensino-aprendizagem do português no Canadá 1 A comunidade portuguesa

3.2. O ensino-aprendizagem do português

[U]ma ação pedagógico-didática na área do EPE passa, em primeiro lugar, pelo conhecimento do contexto local a que este ensino se dirige e, em segundo lugar, pela articulação deste conhecimento com as medidas de política linguística centralizadas.

Melo-Pfeifer & Castro (2016: 216)

Dado o caráter multicultural e multilingue que caracteriza a população canadiana, foram realizados muitos estudos no tempo de Pierre Trudeau, Primeiro- Ministro canadiano entre 1968 e 1984, que refletiram o desejo, por parte de vários grupos étnicos, de preservação das suas LM.13 Na sequência dos resultados desses mesmos estudos, o governo federal canadiano criou, em 1977, o Programa de Enriquecimento Cultural («Cultural Enrichment Program») com o objetivo, precisamente, de apoiar o ensino de diferentes línguas não oficiais e a preservação das respetivas heranças culturais. Implementou-se, então, o «Heritage Language

13 Dois dos mais importantes estudos foram os seguintes: «The non-official language study» (O’Bryan,

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Program», mais tarde, denominado «International Language Program» - e designação que ainda mantém -, sempre que existisse um número de crianças imigrantes que o justificasse (Marujo, 1999).

A implementação do ensino destas línguas de herança, oferecido pelas diferentes Direções Escolares, foi realizada de acordo com três diferentes modelos, dependendo do número de alunos inscritos e das opções de cada Direção Escolar: i) após o horário escolar regular; ii) ao sábado de manhã; iii) Integrado no horário escolar,14 que se estende por mais uma hora diária para todos os alunos. Em todos

os modelos, a carga horária semanal de ensino da segunda língua, seja de herança ou estrangeira, é de duas horas e meia. Só em Toronto, o número de alunos envolvidos neste programa ultrapassa os 60 000.

O governo federal canadiano tem continuado a demonstrar-se consciente da importância da preservação das línguas de herança num país multicultural e plurilingue composto pela diversidade, embora os ideais de Pierre Trudeau e as suas políticas de apoio ao bilinguismo e ao multiculturalismo se tenham vindo, gradualmente, a desvanecer, muitas vezes por motivos e interesses económicos.

Num país de tão grande dimensão geográfica, regista-se uma maior concentração da comunidade portuguesa no Ontário, mais concretamente em Toronto e nos arredores, e em Montreal, sendo ainda de referir cidades como Otava, Winnipeg, Edmonton, Calgary, Vancouver, Cambridge, Kitchener, Kingston e London. Os casamentos mistos tornaram a população de lusodescendentes do Canadá aberta a outras culturas e exposta a mais do que uma segunda língua, o que, na maior parte dos casos, veio reforçar o uso da língua inglesa em casa, sendo esta, em geral, a língua de comunicação para os lusodescendentes de segunda, terceira e mesmo já de quarta geração, com a exceção das ocasiões em que essa comunicação se desenrola com os avós. Existem ainda alguns casos em que a

14 Este modelo verifica-se em Toronto, em muitas escolas elementares (até ao 8.º ano), onde, além

do ensino obrigatório do francês, é ensinada uma segunda língua, existindo, em alguns casos, a possibilidade de opção entre duas línguas que são oferecidas numa mesma escola, independentemente do facto de ser uma LH, uma vez que tem caráter obrigatório.

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comunicação em casa é ocasionalmente feita nas duas línguas, verificando-se uma maior exposição a nível da compreensão do que da produção.

O ensino da língua portuguesa no Canadá é oferecido um pouco por todo o país - e, em especial, nas áreas onde a comunidade de origem portuguesa é mais representativa -, quer por escolas comunitárias e privadas portuguesas, que têm tido um papel fundamental na preservação da língua quer pelo ensino público, na sua maioria católico, e num regime integrado, que se dirige a todos os alunos da escola, ou ao sábado de manhã, com uma perspetiva de LH. Só na província do Ontário, o programa de português oferecido pelas duas Direções Escolares abrange cerca de 5 400 alunos, dos quais 3 600 na cidade de Toronto.15 De referir que, à semelhança do que acontece nos Estados Unidos (Rosa, 2015), muitas escolas comunitárias deparam-se com uma relevante quebra do número de alunos que outrora frequentavam as suas aulas, tendo muitas sido mesmo forçadas a encerrar, o que se deve não só à gradual integração da comunidade emigrante na sociedade canadiana como também à diminuição de emigrantes vindos de Portugal. O número de alunos inscritos no programa de ensino da língua portuguesa oferecido pelas diferentes Direções Escolares, em especial nas Católicas, é bastante mais elevado do que o dos alunos de origem portuguesa que frequentam escolas comunitárias. Existem cursos integrados, no caso da cidade de Toronto, ou extra-curriculares, ao sábado de manhã, sob a tutela de uma Direção Escolar, principalmente na província do Ontário (Toronto, Mississauga, Oakville, Milton, Hamilton, Windsor, Chatham, Walleceburg, London, Harrow, West Lorne, Kingston, Cambridge, Kitchener, Otava), mas também em Montreal, no Quebeque, e em Winnipeg, na província de Manitoba.

Na província do Ontário e nas cidades de Montreal, Edmonton, Winnipeg e Vancouver, os alunos do secundário podem obter créditos com as aulas de português que podem ser utilizados para o acesso à Universidade, incluindo as que são oferecidas por algumas escolas comunitárias e privadas, desde que lecionadas por docentes com formação reconhecida pelo Ministério da Educação canadiano

15 No caso dos alunos com ensino integrado de português, muitos apenas estudam a língua por

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para o ensino secundário. Esse reconhecimento para os docentes que chegam ao Canadá com habilitações de Portugal consiste num processo moroso e dispendioso.

No total, estima-se que, em todo o país, cerca de 7 200 alunos que frequentam o ensino básico e secundário frequentem aulas de língua portuguesa, registando-se alguns casos em que, embora o interesse pela aprendizagem do português seja bastante relevante, não existem docentes com formação académica e proficiência linguística para o assegurar.

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Quadro 11: Indicadores físicos 2016/2017 - ensinos básico e secundário

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