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CAPÍTULO 2 Enquadramento Teórico

2.2. O ensino da música

2.2.3. Ensino Artístico Especializado

Os cursos artísticos especializados, na área da Música, são cursos de nível básico e secundário que se destinam a alunos com vocação na área para que possam desenvolver as suas aptidões ou talentos artísticos, a alunos que pretendem uma formação sólida que lhe permita vir a exercer uma profissão nessa área artística, ou a alunos que tencionem prosseguir estudos superiores de Música (Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, n.d.). São ministrados em escolas especializadas, designadas de escolas ou academias de música ou conservatórios (Castilho, 2015).

Como anteriormente referido, foi em 2012 que houve uma visível modificação do ensino artístico através da Portaria nº 225/2012 que criou o curso básico de música dos 2º e 3º ciclos do ensino básico e da Portaria n.º 243-B/2012 que criou o curso

supletivo), o funcionamento, a avaliação, a certificação do curso e o regime de organização das suas iniciações.

Mais recentemente, foram alteradas através do Decreto lei nº55-2018, de 6 de julho, o qual “estabelece o currículo dos ensinos básico e secundário, os princípios orientadores da sua concepção, operacionalização e avaliação das aprendizagens”. A Portaria nº 223-A-018 de 3 de agosto que regulamenta “as ofertas educativas do ensino básico previstas no referido Decreto-Lei nº 55/2018, de 6 de julho”, onde se incluem os cursos artísticos especializados. Esta portaria define “as regras e procedimentos da conceção e operacionalização do currículo dessas ofertas, bem como da avaliação e certificação das aprendizagens”. Surgiu também a Portaria nº 229-A-2018 de 14 de agosto que regulamenta os “cursos artísticos especializados de Dança, de Música, de Canto e de Canto Gregoriano”, definindo “as regras e procedimentos da conceção e operacionalização do currículo” dos referidos cursos, “bem como da avaliação e certificação das aprendizagens” dos alunos nesses cursos.

No regime integrado, os alunos frequentam todas as componentes do currículo no mesmo estabelecimento de ensino. No regime articulado, as disciplinas da componente vocacional são asseguradas por uma escola de ensino artístico especializado e as restantes componentes por uma escola de ensino geral. No caso do regime supletivo, a frequência é restrita à componente de formação artística especializada dos planos de estudo dos cursos básicos de música ou às componentes de formação científica e técnico-artística no caso dos cursos secundários de música (Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, n.d.).

O currículo do ensino especializado da música começa no 1º ciclo do ensino básico. Neste ciclo, o ensino não é financiado, havendo por isso uma propina. Tem uma duração global mínima de 135 minutos semanais e integra as disciplinas de Classes de Conjunto, Formação Musical e a disciplina de Instrumento (Castilho, 2015).

No ensino básico, o ensino especializado é financiado, sendo por isso de acesso gratuito. Os planos de estudo integram as disciplinas de formação geral e de formação vocacional. As disciplinas de formação vocacional têm como objetivo desenvolver o conjunto de conhecimentos a adquirir e capacidades a desenvolver inerentes à especificidade do curso (Castilho, 2015). Segundo a Portaria nº 223-A/2018 de 3 de agosto, a componente de Formação Vocacional comporta as disciplinas de Instrumento, com uma carga de 45 minutos individuais ou 90 minutos em pares, Formação Musical e Classes de Conjunto (coro, orquestra ou música de câmara), com uma carga de 225 minutos a serem distribuídos por ambas as disciplinas.

A mesma portaria, estabelece que a avaliação das disciplinas da componente de formação vocacional dos cursos básicos de música, nos 6º e 9º anos, pode incluir a realização de provas globais cuja ponderação não pode ser superior a 50% no cálculo da classificação final da disciplina.

Existe também o Curso Secundário de Música, nas variantes de Instrumento, Formação Musical, Composição, Canto e Canto Gregoriano, podendo funcionar

igualmente em regime integrado, articulado e supletivo. Estrutura-se em três componentes de formação: geral, científica e técnica-artística.

As disciplinas de oferta complementar devem ser harmonizadas com o projeto curricular de escola, e podem ser anuais, bienais ou trienais. O ingresso nos cursos secundários de Música e de Canto faz-se mediante a realização de uma prova de acesso (Castilho, 2015).

Nos cursos secundários de música a avaliação nas disciplinas terminais das componentes de formação científica e técnica-artística pode incluir a realização de provas globais, cuja ponderação não pode ser superior a 50% no cálculo da classificação de frequência da disciplina (Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, n.d.).

No final do secundário, a avaliação dos alunos incluiu uma Prova de Aptidão Artística, onde é defendido um projeto centrado em temas e problemas perspetivados e desenvolvidos pelo aluno e, quando aplicável, em estreita ligação com os contextos de trabalho, realizando-se sob orientação e acompanhamento de um ou mais professores (Castilho, 2015). Deve ser demonstrativo de conhecimento e capacidades técnico-artísticas adquiridas pelo aluno ao longo da sua formação, apresentado perante um júri, em ano terminal (Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, n.d.).

Em Portugal, segundo a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, havia, em 2016, 8 estabelecimentos Públicos e 97 estabelecimentos de ensino Particular e Cooperativo onde eram lecionados Cursos de Ensino Artístico Especializados de Música.

Os estabelecimentos de ensino Público são tutelados pelo Ministério da Educação, e seguem as normas e as portarias publicadas para esse sector (Moreira, 2017). No caso dos estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, o Ministério da Educação e Ciência reconhece, segundo o artigo 37º do Decreto-Lei n.º 152/2013, de 4 de novembro, a sua autonomia pedagógica. Esta consiste no direito reconhecido de tomar decisões próprias nos domínios da organização e funcionamento pedagógicos, designadamente da oferta formativa, da gestão de currículos, programas e atividades educativas, da avaliação, orientação e acompanhamento dos alunos, constituição de turmas, gestão dos espaços e tempos escolares e da gestão do pessoal docente.

Isto permite a estes estabelecimentos criar e aplicar planos curriculares próprios ou de oferecer disciplinas de enriquecimento ou complemento do currículo. Assim, ao abrigo da sua autonomia e sem prejuízo das regras impostas pelo próprio Estatuto, estes estabelecimentos podem decidir sobre: a sua organização interna, nomeadamente o que respeita aos órgãos de direção e gestão pedagógica, a aprovação do seu projeto educativo (PE) e regulamento interno, organização e funcionamento do projeto curricular, planos de estudo, conteúdos programáticos, orientação metodológica, os instrumentos a serem lecionados da escola, o calendário escolar e organização dos tempos e horário escolar.

A avaliação de conhecimentos deve seguir as regras definidas a nível nacional quanto à avaliação externa e avaliação final de cursos, graus, níveis e modalidades de

educação, ensino e formação. No entanto cada estabelecimento de ensino tem os seus próprios critérios de avaliação.

Além disso, é-lhes conferido poder de decisão no que respeita às matrículas, emissão de diplomas e certificados de matrícula, de aproveitamento e de habilitações. Destaca-se como principais documentos orientadores: o regulamento interno, o PE, o plano de atividades, os critérios de avaliação e os programas individuais das disciplinas da componente vocacional.

O plano curricular aparece definido pelo Decreto lei nº55-2018, de 6 de julho, da Portaria nº 223-A-2018 de 3 de agosto e da Portaria nº 229-A-2018 de 14 de agosto. Contudo cada estabelecimento ao longo do país tem autonomia para decidir, além dos instrumentos a serem lecionados na escola, os conteúdos programáticos e as orientações metodológicas.

Embora não seja objeto do trabalho definir os prós e os contras da autonomia dos estabelecimentos, é inerente à investigação ser consciente de que essa autonomia leva a que dois alunos do mesmo instrumento, do mesmo grau e de estabelecimentos de ensino distintos, apresentem conhecimentos diferentes sobre determinado conteúdo. Assim, não há uma uniformidade a nível nacional como acontece em disciplinas gerais, como por exemplo o Português, em que existe um Programa Nacional que comporta metas curriculares, definidas pela Direção-Geral da Educação.

Um outro aspeto, em Portugal, é a questão da atualização dos programas e das suas obras. Gonçalves (2016), ao analisar o programa de piano, em 2016, do Conservatório Nacional, verificou que o mesmo datava do ano letivo de 1973/74, e que foi possivelmente resultado da remodelação dos programas que existiam desde a década de 30. Gonçalves continuou explicando que esse modelo, nas décadas seguintes, serviu de standard para os seus homónimos em praticamente todos os conservatórios do país (Gonçalves, 2016).

No EAE, se por um lado há uma enorme diversidade nos conhecimentos adquiridos por alunos ao longo do país, por outro a autonomia poderá abrir margem para uma mais constante atualização e adaptação dos programas curriculares às necessidades dos alunos pelos seus trâmites.

O programa da antiga disciplina de História da Música, designada atualmente de História da Cultura e das Artes, é comum aos Curso Científico-Humanístico de Artes Visuais, de Línguas e Literaturas e ao Curso Artístico Especializado de Artes Visuais, Dança, Mú sica e Teatro. O seu programa contempla uma proposta a análise de duas obras do século XX: Three Tales (1998-2002) de Steve Reich e Lichtung II (1995-96) de Emmanuel Nunes (Direção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, 2004).

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