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Inicialmente, o ensino de contabilidade no Brasil foi inserido nas chamadas “aulas de comércio”, instituídas pelo Príncipe Regente, D. João VI, por meio do Alvará de 15 de julho de 1809, assim redigido:

[...] conveniente fazer-se, já a construcção de uma Praça de Commercio, onde se ajuntem os Commerciantes a tratar das suas transacções e emprezas mercantis, ja para o estabelecimento de

Aulas de Commercio, em que se vão doutrinar aquelles dos meus vassallos, que quizerem entrar nesta util profissão, instruidos nos conhecimentos proprios dela.

Convém destacar que as aulas de comércio foram instituídas juntamente com a Praça do Comércio, lugar onde se realizavam as transações comerciais, e que os vassalos poderiam ser doutrinados para esta “útil profissão”, conforme o destaque do texto.

Em 1905, o então Presidente da República, por meio do Decreto n. 1.339, reconheceu a Academia de Comércio do Rio de Janeiro como instituição de utilidade pública. Nesse período determinou a manutenção de dois cursos: um geral, habilitando para as funções de guarda-livros, peritos judiciais e empregos de Fazenda; e outro mais avançado (no Decreto está SUPERIOR), habilitando para os cargos de agentes consultores, funcionários do Ministério das Relações Exteriores, atuários de companhias de seguros e chefes de contabilidade de estabelecimentos bancários e grandes empresas comerciais. Destaca-se que o curso geral era preparatório para o superior.

Com o Decreto-Lei n. 7.988/45, instituiu-se o curso superior de Ciências Contábeis e Atuariais, com duração de quatro anos e concessão do título de Bacharel em Ciências Contábeis e Atuariais aos seus concluintes. Em seguida, por meio do Decreto-Lei n. 15.601/46, o governo do Estado de São Paulo instituiu a Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas – FCEA, instalada nas dependências da Universidade de São Paulo. A criação da FCEA, posteriormente denominada Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – FEA, lançou as bases do primeiro núcleo de pesquisa Contábil no Brasil, com relevantes contribuições para a área (PELEIAS et al., 2007).

Contudo, o ensino superior em Ciências Contábeis passou por diversas alterações, em especial a partir do ano de 1990, conforme se apresenta no Quadro 3.

Quadro 3 – Registro das mudanças legais a partir da década de 1990

Legislação Principais alterações

Resolução CFE n. 03, de 3.10.1992

Fixou os conteúdos mínimos e a duração dos cursos de Graduação em geral. Para o curso de Ciências Contábeis foi estabelecida a duração de 2.700 horas/aula. Estabeleceu normas para que as IES elaborassem os currículos para o curso de Ciências Contábeis que seriam destinados para estimular o conhecimento teórico e prático e permitir o competente exercício da profissão. Procurou, ainda, assegurar

condições para o exercício profissional com competência e ética perante a sociedade. Essa Resolução agrupou as disciplinas em três categorias de conhecimentos: Categoria I: conhecimentos de formação geral e de natureza humanística; Categoria II: conhecimentos de formação profissional; e Categoria III: conhecimentos ou atividades de formação complementar.

Lei n. 9.394/96 revogou a Lei n. 4.024/61

Definiu as novas Diretrizes e Bases da Educação Nacional e introduziu várias mudanças no ensino superior, tais como: a qualificação docente, produção intelectual, docentes com regime de tempo integral e perfil profissional ligado à formação da cultura regional e nacional.

Parecer CNE/CES n. 776/97

Trouxe orientações para as diretrizes curriculares dos cursos de Graduação.

Edital Sesu/MEC n. 04/97

Convocou as instituições a oferecerem propostas de novas diretrizes curriculares para os cursos superiores, cujo trabalho foi realizado por comissões de especialistas indicados pela Sesu/MEC.

Parecer CES/CNE n. 146/2002

Marcou o início da edição de outros normativos, relativos às Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de

Graduação, inclusive Ciências Contábeis. Destacam-se os seguintes objetivos: servir de referência para as instituições na organização de seus programas de formação, permitindo flexibilidade e priorização de áreas de conhecimento na construção dos currículos plenos, e induzir a criação de diferentes formações e habilitações em cada área do

conhecimento, possibilitando ainda definirem múltiplos perfis profissionais, garantindo uma maior diversidade de carreiras, promovendo a integração do ensino de graduação com a pós- graduação, privilegiando, no perfil de seus formandos, as competências intelectuais que reflitam a heterogeneidade das demandas sociais.

Parecer CNE/CES n°. 67/2003

Procurou reunir, em documento específico, todas as referências normativas existentes na Câmara de Educação Superior, sobre a concepção e conceituação dos currículos mínimos profissionalizantes, fixados pelo então Conselho Federal de Educação, e das Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação.

Parecer CNE/CES n°. 108/2003

Buscou promover audiências com a sociedade, durante seis meses, para a discussão e avaliação da duração e

integralização dos cursos de Bacharelado. Parecer

CNE/CES n°. 289/2003

Resultado da interação com a sociedade. Buscou elaborar e aprovar as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Ciências Contábeis, a serem observadas na

organização curricular das IES. Parecer

CNE/CES n. 289/2003

Manteve os objetivos propostos pelo Parecer CES/CNE n. 146/2002.

Resolução CNE/CES n. 6, de 10.03.2004

Oficializou o Parecer CNE/CES n. 289/2003, e instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais. Porém, novas mudanças ocorreram.

Parecer CNE/CES n. 269/2004

Mudou as Diretrizes Curriculares Nacionais a pedido do Instituto Brasileiro de Atuária – IBA, para que se excluísse do texto da Resolução CNE/CES n. 6/2004 a menção de que o curso de Ciências Contábeis deveria abranger a inserção dos indispensáveis domínios da atividade atuarial. A justificativa do IBA foi a de que a Ciência Contábil não se confunde com a Atuarial, pois ambas possuem fundamentos distintos. Isso levou à promulgação da Resolução CNE/CES n. 10/2004, em 16.12.2004, que cancelou e substituiu a Resolução CNE/CES n. 6/2004.

Resolução CNE/CES n. 10/2004

Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Ciências Contábeis, bacharelado, a serem observadas pelas Instituições de Educação Superior, e prevê que atendam aos seguintes campos interligados de formação: a) conteúdos de Formação Básica; b) conteúdos de Formação Profissional; e, c) conteúdos de Formação Teórico-Prática.

Fonte: Adaptado de Peleias et al. (2007)

No Quadro 3 destacam-se as principais alterações legais ocorridas no curso de ciências contábeis a partir do ano de 1992, em que se observa a intervenção do então Conselho Federal de Educação no currículo do curso, ao estabelecer as disciplinas nos diversos campos do saber. Já em 1996, o mesmo Conselho estabeleceu o nível de formação dos docentes, suas publicações e tempo de dedicação.

A partir do ano de 1997 iniciou-se uma discussão com as IES, e posteriormente com a sociedade, a respeito da integralização e duração dos cursos, o que culminou na publicação da Resolução CNE/CES n. 10/2004. Esta resolução prevê maior autonomia para as IES, no sentido de definição do currículo do curso de Ciências Contábeis na medida em que apenas indica, de forma abrangente, os conteúdos necessários para a formação do futuro profissional.