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Ensino médio e cidadania: o que propõe a nova LDB

O termo cidadania aparece de forma recorrente no texto legal, o que é esperado, pois se trata de uma categoria que tem “estalado” com a globalização, ao mesmo tempo em que tem sofrido um deslocamento de significado ao ser apropriado pelo neoliberalismo, como já vimos no capítulo anterior. Por isso consideramos importante localizar e compreender o conceito de cidadania apresentado na legislação de ensino médio.

A nova LDB, em seu artigo 2º, proclama que a educação tem como finalidade “... o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” e declara ainda que o ensino deva inspirar-se nos “princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana”. Em seguida, no artigo 3º, apresentam-se onze itens relativos aos princípios básicos para o ensino, onde se pode destacar a insistência em duas ordens de fundamentos: a afirmação de valores ligados aos ideais de liberdade, igualdade, pluralismo ideológico, tolerância e democracia e a definição de políticas

incidindo sobre relações entre a escola, a sociedade e o trabalho. Este artigo repete quase integralmente o artigo 206 da Constituição Federal de 1988.

Essas finalidades e esses princípios reaparecem no art. 22, no inciso I do artigo 27, quando a lei atribui à educação básica a finalidade de “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e estudos posteriores”. A propósito de diretrizes para os conteúdos curriculares da educação básica, a ênfase recai na “... difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática”.

A cidadania reaparece no art. 32, numa proposição didática, indicando meios para que seja atingido o objetivo da formação do cidadão no ensino fundamental, onde se destaca o desenvolvimento da capacidade de aprender do educando, tendo como meios básicos o domínio da leitura, da escrita e do cálculo, com vistas à aquisição de outros conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores.

No artigo 35, inciso II, o texto menciona que uma das finalidades do ensino médio consiste na “a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores”. Portanto, cabe ao ensino médio a continuação do desenvolvimento da capacidade de aprender e a compreensão do mundo físico, social e cultural, bem como o aprimoramento do educando como pessoa humana.

No artigo 36, a cidadania torna a aparecer como uma proposição didática, onde todas as áreas curriculares e, em especial, a língua portuguesa e os conhecimentos de Filosofia e Sociologia, devem garantir a formação geral do cidadão.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional preceitua que a educação tem por finalidade o preparo do educando para o exercício da cidadania. A educação básica

deve assegurar a formação comum indispensável para o exercício da cidadania. Isso significa que o indivíduo, para ser cidadão, precisa passar pela escola? Entendemos que não, pois a escola não é a única instituição que irá formar para a cidadania, mas ela tem um papel fundamental a cumprir na formação da cidadania.

Ao ensino médio é conferida a responsabilidade da consolidação da educação básica, o que permite intuir que ao final deste nível de ensino o “cidadão” deve estar pronto para o “exercício da cidadania”. Impõe-se então, a questão: como a escola de ensino médio irá formar para o exercício da cidadania?

A própria lei apresenta-nos a resposta, vinculando a preparação ou formação para o exercício da cidadania à proposição didática. Isso significa que para ser cidadão é necessário ter uma formação geral que deve ser assegurada pela escola através do desenvolvimento das competências gerais, dentre as quais a capacidade de aprender é decisiva para a constituição de uma identidade autônoma.

Por outro lado, o exercício da cidadania está assegurado ao aluno, pelo menos no nível legal, através da gestão democrática. A nova LDB, no inciso VIII do artigo 14, estabelece que cabe aos sistemas de ensino definir as normas que orientarão esse tipo de gestão, de acordo com as suas possibilidades e especificidades, tendo como um dos princípios norteadores, a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.. Dagnino (2004) lembra que o marco formal do processo de criação de espaços públicos de discussão e tomada de decisão relacionados com as questões e políticas públicas é a Constituição de 1998, que consagrou o princípio de participação da sociedade civil na gestão democrática..

Assim, a lei coloca o desafio de transformar a escola num espaço onde seja possível vivenciar a plenitude da democracia. Isso implica a construção de uma política pública e de uma prática que contemple a participação efetiva dos diversos segmentos do

universo escolar – diretores, professores, alunos, pais e comunidade – na formulação e na implementação da gestão democrática.

Torna-se, então, necessário criar uma nova concepção de escola baseada na construção coletiva, envolvendo todos os sujeitos sociais e um clima de confiança que proporcione a integração, o diálogo, a cooperação, a negociação e o direito das pessoas envolvidas de intervir na tomada de decisões, onde todos se sintam responsáveis pelas ações desenvolvidas. Isso implica o envolvimento do jovem na discussão e na resolução dos problemas concretos do seu cotidiano e nas questões de interesse coletivo. Consideramos fundamental que os alunos se sintam sujeitos da construção democrática dentro da escola, em especial os alunos do ensino médio, onde deve não só se consolidar a formação da cidadania, como também possibilitar o próprio exercício da cidadania. Porém, acreditamos que essa cultura ainda não está desenvolvida na escola.