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Esse capítulo tem por objetivo traçar um pouco do perfil do Ensino Médio, com o intuito de justificar a necessidade de mudança que o mesmo possui, e com o fito de fazer o leitor observar que a EA também faz parte da transformação que essa etapa da educação necessita passar.

O Ensino Médio (EM) é a etapa da educação compreendida entre o Ensino Fundamental e a Educação Superior, adequada para estudantes na faixa etária de 15 a 17 anos, porém na prática, constituído por adolescentes, jovens e adultos. Diferentemente desses dois outros níveis de escolarização, que sempre foram contemplados na legislação nacional, o EM só passou a ter diretrizes e finalidades definidos a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB nº 9394 de 1996.

Na década de 90, o Ensino Médio público começou a sofrer uma expansão mais significativa e tornou-se obrigatório a partir da Emenda Constitucional n.59/2009, que ampliou a obrigatoriedade escolar dos 6 aos 17 anos de idade, em resposta às pressões do Fundo das Nacionais Unidas para a Infância (UNICEF). Essa ampliação decorreu também da implantação de políticas que promoveram um aumento no fluxo de matrículas no Ensino Fundamental e, por consequência, geraram um aumento da demanda por mais escolarização (KRAWCZYK, 2011).

Segundo a LDB, o Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica e corresponde a conclusão de um período de escolarização de caráter geral, que tem por finalidade o desenvolvimento do educando com o dever de assegurar-lhe a formação para o exercício da cidadania, além de oferecer-lhe meios para progredir no trabalho e prosseguir com seus estudos (BRASIL, 2011).

Após a criação da LDB, foram formuladas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), no ano de 1998. Esse documento destaca, entre outras coisas, que as ações administrativas e pedagógicas dos sistemas de ensino e das escolas devem ser coerentes com princípios estéticos, políticos e éticos, e devem, assim, abranger a estética da sensibilidade, a política da igualdade e a ética da identidade. À proposta pedagógica coube o deve de atender aos princípios da identidade, diversidade e autonomia, da interdisciplinaridade e da contextualização, como estruturadores dos currículos. E a base nacional comum ficou organizada, a partir de então, em três áreas de conhecimento: linguagens e códigos e suas tecnologias; ciências da natureza, matemática e suas tecnologias; ciências humanas e suastecnologias. Porém, as DCNEM afirmam ter a percepção de que o

tratamento didático-pedagógico, com as possibilidades de organização do Ensino Médio, não chegou às escolas, pois compreendem que estas, ainda dão atenção extrema ao tratamento de conteúdos sem articulação com o contexto dos estudantes e com os demais componentes das áreas de conhecimento e não se aproximam das finalidades propostas pela LDB para essa etapa de ensino (BRASIL, 2012).

Os documentos legais que versam sobre o Ensino Médio: LDB, DCNEM e PCNEM, orientam a direção de um sistema nacional de educação estabelecido sobre diretrizes e bases comuns, na busca de uma educação abrangente e universalizada.

Brasil (2009, p.3) salienta que esses documentos deixam claro “[...] a importância da educação geral como meio de preparar para o trabalho e formar pessoas capacitadas à sua inserção social cidadã, de se perceberem como sujeitos de intervenção de seu próprio processo histórico, atento às transformações da sociedade”. No entanto, o que se percebe é que o Ensino Médio no Brasil “[...] encontra-se limitado pelo desempenho do Ensino Fundamental e pressionado pelos requisitos para o ingresso no ensino superior”, (FRANCO; BONAMINO, 1999, p.27).

Entende-se também, que, diante da ocorrência de tantos desastres ambientais, o compromisso com a qualidade da educação do século XXI, passa, necessariamente, pela EA. Pois compete aos professores a busca pelo entendimento das multicausalidades da crise ambiental contemporânea para que sejam capazes de contribuir na prevenção de seus efeitos deletérios e para o enfrentamento das mudanças socioambientais globais. Percebe-se que tais temáticas despertam interesse nos jovens de todos os meios sociais, culturais, étnicos e econômicos, pois ajudam na construção de uma cidadania responsável capaz de atuar na construção de um futuro sustentável, sadio e socialmente justo. Portanto, no Ensino Médio encontram-se condições para se criar uma educação cidadã, responsável, crítica e participativa de forma a inserir o jovem em um processo educacional capaz de superar a dissociação homem/natureza (BRASIL, 2012).

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado em 1998, pelo governo federal brasileiro, com a finalidade de avaliar o desempenho dos estudantes ao término da Educação Básica. No ano de 2009, medidas governamentais estimularam para que o ENEM fosse usado também como forma de acesso ao Ensino Superior e, a partir de então, o Sistema de Seleções Unificadas (SISU) passou a operar em larga escala no processo de alocação dos candidatos às vagas. Esse sistema passou a favorecer a mobilidade de estudantes para instituições de ensino superior em diversos locais do Brasil e ajudou assim, a estabelecer um ambiente multicultural nas universidades (SILVEIRA, BARBOSA e SILVA, 2015).

Segundo Santos (2011), a partir do momento em que o ENEM começou a ser utilizado como forma de acesso às universidades públicas, já objetivava ser instrumento de mudanças significativas no EM dentro da concepção de um mundo em transformação que exige do indivíduo novas habilidades e competências. Com o objetivo de utilizar o ENEM para corrigir e orientar o currículo das escolas de Ensino Médio.

Assim:

Com essa perspectiva o MEC entende que se aproxima de resolver o problema de parte do Ensino Médio, principalmente nas escolas particulares, sempre acusadas de estarem voltadas simplesmente para atender às exigências dos vestibulares, gerando um ensino dissociado da vida, pautado em fórmulas e conteúdos estanques, a maior parte deles desnecessária depois do vestibular (SANTOS, 2011, p.201).

Ainda não se tem ideia sobre até que ponto o ENEM impulsiona mudanças no currículo do Ensino Médio. As temáticas ambientais estão sempre presentes nas provas do exame, contudo, ainda não está clara a forma como as escolas preparam os alunos com relação a essas questões. Fica a dúvida sobre a maneira como os professores abordam tais temáticas, pois não se sabe se focam unicamente na resolução de questões do ENEM, com vista na aprovação do aluno no referido exame, ou se essas impulsionam uma mudança na prática pedagógica que interfira no currículo e ajude a preparar os estudantes para o exercício da cidadania, como está apregoado nos documentos legais.

Compreende-se, que dentre os grandes desafios do EM, encontram-se o enfrentamento da diferença de qualidade existente nos diversos sistemas educacionais, e o desafio de indicar alternativas de organização curricular que, de forma flexível, deem conta do atendimento das diversidades dos estudantes, em prol de uma escola de qualidade para todos (BRASIL, 2012).

Dessa forma, no ano de 2016, ao assumir interinamente a Presidência da República, Michel Temer, levantou um questionamento sobre uma iminente mudança no EM. Segundo a proposta, o aluno passaria a ter uma formação geral até a metade do segundo ano e, na etapa final, estudaria apenas as matérias pertencentes à sua área de interesse, com opção ainda de escolher pelo Ensino Médio Profissionalizante. A proposta também contempla a escola em tempo integral como forma de tirar o aluno da rua e dar-lhe mais oportunidades. De início, o governo sinalizou para a aplicação de uma possível medida provisória, como forma de começar essa reestruturação. No entanto, ao receber inúmeras críticas, mostrou-se mais flexível a umdebate com os sistemas de ensino, escolas, professores e demais seguimentos da sociedade antes de finalmente decidir por um novo perfil para o EM.

As necessidades de reforma do EM são históricas e urgentes, pois diante de um mundo globalizado e com tanta facilidade de acesso à educação, torna-se sem fundamento manter essa etapa da educação desvinculada do cotidiano dos alunos, e rica em abstrações e fórmulas que, para muitos, jamais conseguirão representar alguma coisa. Fato, o que se deseja é que, qualquer que seja a proposta implantada, o poder público não esqueça que a cidadania, na sociedade atual, tornou-se uma grande necessidade, pois não somente as questões ambientais, mas até as relações interpessoais necessitam delas. E que na busca de promover a justiça social deve-se, primeiro, promover a justiça ambiental.