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O sistema educacional brasileiro é organizado pelo Governo Federal, o qual elabora leis e diretrizes que orientam as práticas das escolas públicas e privadas. Há uma crença por parte da sociedade que a escola particular oferece um ensino de melhor qualidade, contudo, percebemos em nossa realidade de trabalho, que os profissionais do setor público estão cada dia mais qualificados – mestres e doutores engajados em pesquisas sobre o ensino – e em busca de uma formação contínua que os leve a refletir sobre a escola e redirecionar suas ações para que, em conjunto, possam promover um melhor desenvolvimento da sua docência, levando, consequentemente, a uma melhor qualidade de ensino aos alunos que lá estão.

A estrutura à qual essas escolas estão vinculadas, e à qual estão subordinadas é o Ministério da Educação. Mas, esse órgão nem sempre trabalhou exclusivamente na esfera educativa. Para compreendermos como chegamos à organização que temos hoje, faremos um breve percurso histórico.

O Ministério da Educação15 surgiu em 1930 e foi instituído no governo do Presidente Getúlio Vargas, com o nome de Ministério da Educação e Saúde Pública. Em 1953, a área da saúde recebeu autonomia governamental e, a partir de então, houve uma reformulação ministerial que culminou com a criação do Ministério da Educação e Cultura (doravante MEC). Contudo, apenas em 1995, o MEC tornou-se responsável apenas pela área de educação.

Até meados de 1960 havia uma centralização do sistema educacional por parte do governo federal que ditava um modelo que deveria ser replicado em todos os estados e municípios. A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) foi aprovada em 1961 e resultou na descentralização do MEC conferindo aos estados e municípios mais independência. A reforma da LDB em 1971 traz a unificação dos currículos para o Ensino Fundamental e o Médio (na época chamados de primeiro e segundo graus), mas

15http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2&Itemid=1164 Acesso em

também abre espaço para uma diversificação devido às diferenças regionais. Contudo, em 2013 novas atualizações foram apresentadas.

Destacamentos dois artigos da LDB que consideramos relevantes para nossas discussões neste trabalho: Artigos 26 e 62. O Artigo 26 versa sobre os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio. Estes devem ter base nacional comum, contudo, “características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos” (LDB, 2013) podem ser acrescidas, ficando a cargo do estabelecimento escolar defini-las. Podemos perceber essa realidade nas escolas de Ensino Médio Profissionalizante. Já o Artigo 62 determina que: “A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação [...]” (LDB, 2013). Esta lei contribui para oferecer um ensino de melhor qualidade aos alunos dessa etapa escolar, pois, a partir dela, mais oportunidades de formação inicial e continuada foram oferecidas aos docentes.

Atualmente o MEC é responsável pelas etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e do Ensino Superior. Em nossa pesquisa, investigamos a atuação profissional dos professores na etapa do Ensino Médio, portanto, a partir de agora nos deteremos a fazer um panorama da Educação Básica nesse âmbito de transição entre o Ensino Fundamental e o Superior, que, no presente momento, é de corresponsabilidade dos estados e do governo federal.

Para compreendermos como se estrutura o Ensino Médio, vejamos a definição trazida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (2013):

Na perspectiva de reduzir a distância entre as atividades escolares e as práticas sociais, o Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas: no trabalho, como preparação geral ou, facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; nas artes e na cultura, como ampliação da formação cultural. Assim, o currículo do Ensino Médio deve organizar-se de modo a assegurar a integração entre os seus sujeitos, o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, tendo o trabalho como princípio educativo, processualmente conduzido desde a Educação Infantil (p. 40).

Diante dessas orientações, várias modalidades de ensino são ofertadas: Educação de jovens e adultos, Educação a distância e tecnologias educacionais; Educação tecnológicas e formação profissional, Educação especial e Educação indígena. Vejamos a ilustração abaixo com a organização das modalidades oferecidas:

Quadro 2 – Organização dos cursos ofertados no âmbito do Ensino Médio

Fonte: Pautado no texto das Diretrizes Educacionais para o Funcionamento das Escolas da Rede Estadual de Ensino

2014 – Secretaria de Estado da Educação – Governo da Paraíba

Entende-se por Ensino Médio Normal o curso oferecido com as disciplinas regulares, mas sem ter um foco na qualificação profissional ou tecnológica. As áreas curriculares são: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; e uma parte diversificada (Língua Inglesa e Língua Espanhola).

Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, o público é formado pelos alunos que não tiveram acesso ao Ensino Médio durante a idade escolar. Portanto, para ingressar no Ensino Médio – EJA (Educação de Jovens e Adultos), o aluno deve ter 18 anos, no mínimo. Essa modalidade é organizada em três semestres letivos, com cada semestre oferecendo todos os componentes curriculares. A diferença da EJA para o CEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos) é que esse último adota a metodologia semipresencial, não tendo o aluno a obrigatoriedade de estar na escola diariamente. Contudo, as avaliações são presenciais.

Na modalidade de Educação Profissional e Tecnológica, o nível médio pode ocorrer de forma integrada (na mesma instituição), concomitante (na mesma ou em distintas instituições) ou subsequente (para que já tenha concluído o Ensino Médio). As disciplinas ofertadas são as mesmas do Ensino Médio Normal com o acréscimo das disciplinas de formação específica para cada tipo de formação técnica. Esse tipo de ensino visa à preparação profissional do aluno, qualificando-o com conhecimentos e capacidades para exercer determinada profissão. Alguns exemplos de cursos oferecidos nessa modalidade são: Técnico em Informática, Técnico em Administração, Técnico em Agroecologia, dentre outros.

Por fim, no curso denominado Subsequente os alunos que já finalizaram o Ensino Médio, mas que pretendem ter uma formação técnica de nível médio podem voltar à escola para cursar apenas as disciplinas pertinentes a determinado eixo tecnológico.

Todas essas modalidades de ensino oferecidas são regidas pela Lei 9394/9616 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e que define como sendo finalidades do Ensino Médio:

I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (Lei 9394/96, Artigo 35, Seção IV).

Portanto, cada currículo desenvolvido nas escolas, quer seja para os cursos regulares ou cursos técnicos, deve seguir essas orientações. Fica a cargo da escola elaborar as especificidades de cada percurso que será tomado pelo aluno. Por exemplo, se o curso oferecido for Técnico em Informática, o grupo de profissionais responsável pela elaboração da Matriz Curricular daquela escola determinará como as disciplinas do eixo tecnológico irão ser distribuídas em casa série do Ensino Médio.

O professor de língua inglesa, por lecionar em todas essas modalidades, fica na incumbência de elaborar sua disciplina de forma que ela possa contribuir para a formação geral do aluno em cada uma das modalidades oferecidas no Ensino Médio. É comum ouvirmos dos professores que eles sentem dificuldade em atuar em tantos contextos com fins diferenciados. Para que essa tarefa tenha o seu fardo atenuado,

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estudos17 têm demonstrado a relevância de uma postura reflexiva por parte do professor, para que ele possa discutir com outros colegas de disciplina quais caminhos a ser tomados para que o objetivo geral da educação nessa esfera seja atingido. Zeichner (2008, p. 539), acerca da definição do movimento da prática reflexiva, assinala que “os professores devem exercer, juntamente com outras pessoas, um papel ativo na formulação dos propósitos e finalidades de seu trabalho”, evidenciando, dessa forma, a necessidade da reflexão coletiva.

Considerando que o professor é ciente do fato de que o processo de ensino- aprendizagem é muito mais complexo e desafiador do que é exposto durante a formação do aluno-professor e que a sala de aula apresenta um constante desenvolvimento das interações sociais, esse ambiente como campo de pesquisa é o ponto de partida da investigação proposta. Acreditamos que momentos de reflexão sobre a prática é um processo essencial para o desenvolvimento do trabalho do professor. Assim sendo, a análise do trabalho docente em nossa pesquisa está associada à importância de refletir e discutir o ensino de Língua Inglesa nas escolas públicas na etapa do ensino médio, uma vez que, como posto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2000),

O que se deseja, afinal, são professores reflexivos e críticos, ou seja, professores com um conhecimento satisfatório das questões relacionadas ao ensino e à aprendizagem e em contínuo processo de autoformação, além de autônomos e competentes para desenvolver o trabalho interdisciplinar. Um dos instrumentos úteis a essa reflexão baseia-se em procedimentos de auto-observação e análise, em que se destaca a importância de o professor saber o que faz em sala de aula, e de saber porque o faz dessa forma e não de outra (PCNEM, 2000, p. 244).

Ou seja, o professor reflexivo, capaz de pensar criticamente sobre o seu fazer, é o profissional esperado, de acordo com o PCNEM. Cremos que o professor seja capaz de avaliar esse nível de saber necessário para atuar na escola, mas vemos a necessidade de haver uma discussão coletiva sobre esses pormenores que ficam nas entrelinhas nos documentos. Nesses implícitos, é que o professor tem autonomia, característica

17 Perrenoud (2002), Bárbara e Ramos (2009), Celani (2010), Romero (2010), Pimenta e Garrido (2012),

valorizada nos documentos oficiais, de expandir o que está posto no papel. Acreditamos que as sessões reflexivas contribuem para essa troca de conhecimento.

Logo, investigar o agir do professor, suas escolhas, suas crenças e concepções sobre ensino e aprendizagem, e promover uma discussão e reflexão sobre o currículo se faz necessário, visto que os PCNEM (1999, p. 93) alertam o professor do Ensino Médio para a importância de estabelecer metas para a aquisição do conhecimento, promover uma interdisciplinaridade da língua inglesa com outros conhecimentos presentes no currículo, fazer escolha dos métodos mais adequados para que haja a apreensão de um conteúdo mínimo necessário e uma escolha de quais conteúdos seriam os mais relevantes para serem abordados nos três anos de curso.

Compreendemos que incluir essas recomendações e todas as outras que fazem parte dos documentos prescritivos requer do professor um grande esforço diante das dificuldades encontradas por eles nas escolas públicas. Então, quanto mais houver uma reflexão sobre o trabalho docente, maior será a contribuição para a definição e compreensão do seu trabalho.