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CAPÍTULO 1 – O ENSINO SECUNDÁRIO TÉCNICO EM PORTUGAL

1.1. O ENSINO SECUNDÁRIO EM PORTUGAL

O ensino secundário em Portugal é um segmento do sistema educativo onde prevalece uma diversidade de situações e impera a dispersão da oferta escolar, espelhando uma multiplicidade de objectivos e de funções. A diversidade é acompanhada por uma hierarquia entre percursos institucionais e entre cursos, hierarquia que se estabelece não só entre as formações escolares gerais e as formações técnicas e profissionais, mas também entre as diferentes modalidades destas últimas.

A diversidade do ensino secundário é enorme, sendo permanentemente atravessado e influenciado pelas diversas políticas educativas, seja enquanto prolongamento da escolaridade obrigatória seja como percurso propedêutico do ensino superior, ou ainda como percurso de formação para a inserção na vida activa. O ensino secundário em Portugal, organiza-se, tal como na maioria dos países europeus, em três modelos de formação:

❑ o escolar;

❑ o dual;

❑ não-formal.

O modelo escolar do ensino secundário é aquele que compreende as instituições que oferecem a este nível, cursos estruturados em três grandes tipos de ensino e formação:

❑ o ensino geral;

❑ o ensino técnico;

❑ o ensino profissional.

O ensino secundário geral compreende as formações tradicionalmente ligadas à preparação para o prosseguimento de estudos pós-secundários e

dominados pela perspectiva académica, a mais comum no ensino secundário “liceal” tradicional, até percursos mais articulados com o mundo do trabalho. O ensino profissional organiza-se sob um paradigma de descontinuidade face a estudos ulteriores e tende a estabelecer as suas bases de identidade e de legitimação com o ambiente de trabalho e necessidades do sistema produtivo.

A Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) português estipula um ensino secundário diversificado, com cursos predominantemente orientados para o prosseguimento de estudos (cursos gerais) e cursos predominantemente orientados para a vida activa (cursos tecnológicos).

O ensino técnico do ensino secundário embora tenha a marca da cultura educacionalista e da intervenção do estado no planeamento económico, e ainda a dominação de uma cultura enciclopedista que faz migrar as tradicionais disciplinas, ditas gerais, do ensino geral académico, está centrado na perspectiva para o mundo do trabalho, corolário de uma cultura profissionalista.

A referência tradicional do ensino técnico em Portugal é o ensino técnico- profissional, ou ensino tecnológico secundário, dotado de uma organização curricular semelhante aos cursos gerais secundários nas componentes de formação geral e específica, o que lhe permite também estar associado à perspectiva de “transporte” para prosseguimento de estudos pós-secundário ou superior, existindo no entanto uma hierarquia de prestígio ligada a múltiplos factores, cada um deles com diferente relevância de país para país.

Nos países em que o ensino técnico secundário se centra no campo escolar, sobretudo nos países europeus, identifica-se-lhe uma marca de estigmatização social, embora parte das medidas de política educativa que lhe foram direccionadas no pós-guerra tiveram como objectivo principal libertá-lo do estigma das vias de formação para os deserdados.

Os movimentos sociais que actualmente configuram esta nova realidade são bastante diferentes daqueles que nos anos 50 e 60 levaram uma parte dos jovens ao ensino técnico da época, seleccionados com base no estatuto socioeconómico. Ainda se verifica que este segmento do sistema escolar

continua marcado por alguma tensão entre as múltiplas finalidades do ensino secundário, às quais correspondem diferentes funções sociais e diferentes dimensões de prestígio. Alguns autores, como por exemplo, Levin (1978), expressam em termos de “incompatibilidade básica” esta tensão entre funções embora toda a organização e concepção curricular do ensino tecnológico secundário se movimente numa rota de paralelismo completo com a via de ensino por excelência (cursos gerais), com um percurso “normal” no sistema de ensino, constituindo efectivamente uma alternativa com possibilidade de continuação de estudos no ensino superior. O mesmo já não acontece com os cursos profissionais, que parecem destinar-se, prioritariamente, a “recuperar” alunos que já abandonaram o sistema oferecendo uma formação curta destinada ao mercado de trabalho, sem equivalência no percurso escolar “normal”.

A certificação escolar a que se acede no modelo escolar está intimamente associada à perspectiva de “transporte” para o prosseguimento de estudos, embora em alguns casos a certificação tenha o rosto de um diploma técnico ou profissional.

O modelo dual ou de “formação em alternância” corresponde a uma oferta de formação profissional que decorre em simultâneo em centro de ensino e formação em empresa, tendo subjacente uma cultura “profissionalista” eminentemente articulada com a renovação da força de trabalho e assente na cooperação estreita entre escolas e empresas. As escolas profissionais em Portugal enquadram-se neste modelo de formação, que prossegue, entre outros, os objectivos de dotar o país de recursos humanos de que necessita, numa perspectiva de modernização e de desenvolvimento económico, cultural e social, a nível local e aos níveis local e regional, e proporcionar novas oportunidades de formação e de realização pessoal e social aos jovens que tenham concluído a sua escolaridade básica, desenvolvendo uma política de redução progressiva das desigualdades de oportunidades. A formação desenvolvida por este modelo através das escolas profissionais visa proporcionar aos jovens uma preparação adequada para a vida activa, embora

também abrindo a perspectiva para o prosseguimento de estudos numa modalidade de qualificação profissional e também aproximar a escola do mundo do trabalho, facultando aos jovens o contacto com empresas, com contextos de trabalho e com experiências profissionais.

O modelo não-formal compreende um conjunto enorme de programas de formação e de formação-emprego, que visa constituir uma alternativa aos estudos escolares e ao desemprego, abarcando, por isso, jovens que querem sair e que já saíram do sistema escolar e que procuram uma qualificação específica para ingressar no mercado de emprego. São formações organizadas com carácter deliberadamente qualificante e devidamente planificadas, destinadas normalmente a grupos específicos da população. Estas formações não são, por regra, conferentes de uma certificação reconhecida à partida quer pelo sistema escolar quer pelo sistema profissional. Enquadram-se em última análise, no tipo de formação que pretende proporcionar aos jovens, após a conclusão da escolaridade básica de nove anos, um ano de formação qualificante que, através de contactos com o mundo do trabalho, facilite o acesso a uma profissão e desperte o interesse em posteriores processos de educação e formação ao longo da vida. Visam conferir, sobretudo, competências práticas e imediatamente utilizáveis num contexto profissional concreto, uma vez encontrado um emprego.

O ensino e a formação de nível secundário actualmente em Portugal, é escolar, dual e não-formal, um sistema combinado, com predominâncias diversas, palco de tensões entre culturas educacionalistas e profissionalistas e entre racionalidades presentes no seu ordenamento político. O modelo escolar é o mais abrangente, abarcando na sua oferta tipos de ensino que vão desde o geral a tipos de ensino técnico e profissional, incorporando modalidades de formação dual e não-formal, mas como segmentos meramente residuais e desvalorizados.

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