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Capítulo III – A Educação Social em projectos de investigação e intervenção

1. Entender a Educação Social

Conceptualização e desenvolvimento de Educação Social

Até ao séc. XVIII: a ideia de igualdade social não estava presente, emergia a criação de um novo estado, de modo a contribuir para o progresso da vida humana.

1910 – Pós Primeira Guerra Mundial – Surge a necessidade de acompanhamento das pessoas na sua integração social na comunidade.

Século XX: Brota a emergência da educação social.

1929 – o crash da Bolsa de Nova Iorque - queda das bolsas do resto do mundo, o que produziu grandes massas de desempregados consequente aumento dos problemas sociais;

Pós Segunda Guerra Mundial

1936 - a publicação, da “Teoria Geral” de Keynes - ruptura com a linha de pensamento económico imposta pela tradição liberal e trouxe ares renovados para a criação de uma nova sociedade mais compensada;

1947 - Plano Marshall - pacto dos EUA com os países democráticos da Europa Ocidental, pela primeira vez actuaram como uma entidade económica única;

De 1940 a 1950 – Intervenção do “Estado de Providência” – fundamentada na teoria que o ideal do homem é viver em sociedade, e cujas regras de convivência são reguladas por um Estado protector que deve estar ao serviço de todos os cidadãos;

Década 60 – Desenvolvimento da sociedade de consumo e do bem-estar devido ao progresso económico e ao avanço tecnológico, colocando, para segundo plano, os fenómenos da marginalização e da exclusão social.

Década 70 – Aumento dos problemas associados às políticas de bem-estar social e aumento da exclusão consequência do «choque petrolífero», dos problemas de desemprego e ainda do modelo e práticas do Estado- Providência.

Década 90 – O desemprego afectou a sociedade, provocando a desagregação e a fragilidade do individuo e das famílias.

Nos últimos anos - A Educação Social surge da necessidade de solucionar problemas específicos de exclusão na sociedade, decorrentes da mudança nas estruturas existentes e no respeito dos direitos dos cidadãos.

Quadro 1: Síntese da contextualização histórica da Educação Social (cf. Díaz, 2006)

Como se pode observar pelo quadro anterior, foi um conjunto de acontecimentos e circunstâncias, que tornaram possível a reconstrução política e económica de alguns

21 países europeus, que contribuíram para a consolidação da educação social, colaborando também e de forma importante, a instauração da democracia e a consciencialização dos políticos sobre os direitos sociais de toda a população

Entendemos que a educação social, para além de um direito constitucional, assenta na normativa legislativa internacional sobre direitos do homem e sobre menores. Referimo-nos à Declaração Universal dos Direitos Humanos, à Declaração dos Direitos da Criança e à Convenção dos Direitos da Infância.

A Educação Social é um campo multidisciplinar de acompanhamento (e intervenção) às diversas faixas etárias (crianças, jovens, adultos, seniores) e a diferentes contextos sociais, culturais, educativos e económicos.

Assim sendo, não subsiste um conceito concreto que defina educação social, devido a um conjunto de aspectos históricos, sociais, educativos, políticos e científicos, comutam diversas perspectivas de conceptualização de analisar e de compreender o seu campo e acção (cf. Díaz, 2006). A maior dificuldade para definir o termo educação social encontra-se no facto de este conceito estar claramente ligado ao contexto social, às formas políticas dominantes, à cultura existente, ao modelo económico, à realidade educativa e, tudo isto, como é lógico, em relação a um espaço e a um tempo concretos. Não existe, portanto, uma maneira unívoca de entender a educação social. Por isso existem diversas concepções sobre a mesma.

A educação social é a expressão responsabilização da sociedade diante dos problemas humanos que percorrem e que ela não pode erradicar (Carvalho, 2004:11).

Para Quintana – Cabanas (2000), a educação social consiste numa acção profissional qualificada aplicada num determinado sistema social, que requer a análise e interpretação da realidade social. Trata-se de uma acção consciente, reflexiva e planificada por parte do profissional, que exige o recurso a técnicas e metodologias que permitam a melhoria do contexto social em questão.

Para Ortega (1999), a Educação Social é uma progressiva e contínua configuração do indivíduo para alcançar o seu desenvolvimento e conseguir a participação na comunidade, o que deverá ajudá-lo a compreender o mundo e a si mesmo, ou seja, deverá ensinar a ser e a conviver. Uma educação social assim entendida promove e dinamiza uma sociedade que educa e uma educação que socializa, integra e ajuda a evitar, equilibrar e reparar o risco, a dificuldade ou o conflito social, actua como um “instrumento” igualitário e de melhoria da vida social e pessoal.

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Segundo Petrus (1998) a educação social é entendida como: - adaptação: aquisição permanente, por parte do indivíduo, das características intelectuais, sociais e culturais necessárias à sua adaptação e que lhe permitem viver num ambiente social concreto; - socialização: o processo que torna possível a integração social dos indivíduos, assimilando as normas, valores e atitudes que lhes permitem uma convivência normalizada; - Como aquisição de competências sociais: acção educativa que procura que os indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade se formem e adquiram as habilidades e competências sociais, consideradas necessárias para alcançar a integração social,educar para a participação social; - didáctica do social: intervenção sociocomunitária em função de problemas e de determinadas orientações institucionais; - acção profissional qualificada: profissionais mediante a utilização dos recursos necessários e oportunos, procuram dar solução a determinados problemas e necessidades de pessoas ou grupos que se encontram em situação de risco ou necessidade social; - acção próxima da inadaptação social: a função da educação social não se esgota na intervenção educativa que se realiza diante de problemas de inadaptação e marginalização social, deve desenvolver e promover a qualidade de vida dos cidadãos, aplicar estratégias para prevenir os desequilíbrios sociais, etc.; – prevenção e controlo social: supõe um conjunto de procedimentos por meio dos quais se procura que os membros de uma sociedade cumpram as normas consideradas necessárias para conseguir a ordem social. A educação social alcançará o seu verdadeiro espaço quando conseguir melhorar a convivência entre os cidadãos. Se o trabalho socioeducativo é uma actividade que surge da própria necessidade da vida em convivência, a relação entre educação, prevenção e controlo parece evidente; - trabalho social educativo: a educação social pode ser concebida a partir de duas perspectivas complementares: em primeiro lugar, será função da educação social a correcta socialização do indivíduo e, em segundo lugar, a intervenção para aliviar as necessidades geradas pela convivência, tarefa que pelo seu carácter global, deve ser partilhada com outros profissionais como os trabalhadores sociais, psicólogos, sociólogos, etc. – paidocenosis: como uma acção educadora da sociedade. Este tipo de educação converteu-se num instrumento da inclusão social, mas não deve limitar-se a isso, deve ser um recurso para melhorar a própria sociedade numa constante revisão dos princípios nos quais esta se apoia e a própria educação social, propugnando que uma e outra se fundamentem em princípios éticos e de eficácia; - educação extra-escolar:

23 abarca toda a intervenção educativa estruturada que se encontra à margem do sistema educativo regulamentado.

O trabalho social realizado no âmbito da educação social baseia-se em perspectivas educativas e não apenas em actividades assistenciais; deve ser considerado como uma actividade pedagógica e interdisciplinar a exercer dentro e/ou fora da escola, em diversos contextos, que incluem a educação de infância, a educação não formal de adultos, a animação sociocultural e a pedagogia social e ocupacional, a ajuda e assistência à família de crianças e adolescentes em risco, os centros e residenciais e a acção junto de grupos vulneráveis à exclusão: crianças e adolescentes em conflito com a lei, pessoas com doenças mentais, minorias étnicas, etc.

É neste sentido que a educação social constitui uma ferramenta na luta contra a exclusão social, que continua a afectar algumas pessoas e grupos na nossa sociedade.

Defendemos a perspectiva de José Gómez que afirma que a educação social deve estar “comprometida com um desenvolvimento humano e uma qualidade de vida que pressupõe uma concepção alternativa da cidadania, restabelecendo o protagonismo cívico e a solidariedade activa na sociedade-rede; implicando e dinamizando os colectivos sociais em função de projectos; integrando os sujeitos na democracia próxima, fazendo-os participativos na tomada de decisões; diversificando os recursos sociais culturais que estão ao serviço das pessoas os colectivos sociais, etc.” (2007: 156). Para além disso é ainda de referir que as teorias do Desenvolvimento Humano Sustentável têm feito da Participação “um elemento central para a democratização das sociedades, considerando que não se pode transformar nem melhorar a realidade sem que os agentes da sociedade estejam conscientes das mudanças e que se comprometam com elas” (Gómez, 2007:87).

A educação social, como toda a educação, deverá assim afirmar-se, simultaneamente, como técnica, como ciência mas também como arte e como filosofia. Educar implica o domínio de técnicas de diagnóstico, de planificação, de concepção e de dinamização de projectos. Mas implica ainda criatividade, pensamento alternativo, distanciamento crítico, racionalidade e sentido ético. Um sentido ético necessariamente radicado na hospitalidade da consciência face ao mistério do ser humano e face à imprevisibilidade dos acontecimentos. Porque vocacionada para o outro, a actividade profissional do educador social exige ainda, a par de uma sólida preparação técnico- científica, espírito de entrega, envolvimento pessoal e capacidade de compromisso.

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