• Nenhum resultado encontrado

Nesse capítulo iremos destacar alguns julgados de diversos estados e um Recurso Especial com o intuito de trazer, de um modo mais abrangente, o entendimento dos tribunais pátrios.

Começaremos com uma apelação julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:

Apelação. Direito do consumidor. Instituição financeira. Cancelamento unilateral do cartão de crédito e recusa de sua reemissão. Limites da liberdade de contratar.

Função social do contrato. Dever de exposição dos fundamentos da recusa.Obrigação de concessão do crédito.

1. A liberdade de contratar não é absoluta. Deve exercer- se nos limites e em razão da função social do contrato (art. 421 do Código Civil) e, nos negócios jurídicos que configurarem relação de consumo, as normas da Lei nº 8.078/90, sobretudo à luz do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor (art. 4º, inciso I, do CDC), e dos usos e costumes da espécie contratual (art. 39, inciso II, in fine, da mesma lei).

2. É ínsito à natureza jurídica do contrato de mútuo a prévia realização de pesquisa de capacidade econômica do consumidor, a fim de aferir suas condições de arcar com a prestação com que se obrigará, mesmo porque a concessão de crédito naturalmente pressupõe uma relação de confiança do credor em relação à solvibilidade do devedor. Todavia, ao consumidor que o exigir, deve o fornecedor recusante prestar todos os esclarecimentos quanto aos motivos da negativa, sob pena de se franquear perigoso subterfúgio para a prática abusiva de "recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes", proscrita pelo art. 39, inciso II, da Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), cuja finalidade é impedir o prestador de erigir discriminação injustificada de seus pretensos clientes no mercado de consumo.

3. Deve-se admitir um certo grau de liberdade da instituição bancária na definição do perfil financeiro dos clientes com quem se dispõe a contratar, seja com relação à faixa de renda, ao nível patrimonial, às salvaguardas contratuais, ao tipo e preço do produto que se busca financiar, etc. Todavia, não se pode admitir que a aplicação individual e concreta desses critérios seja envolta em mistério, o que seria passar da legítima órbita da autonomia privada para o campo do arbítrio e do passe livre para a discriminação injustificada. Embora essa aferição em regra não deva estar sujeita à sindicabilidade judicial, pode sê-lo quando se tratar de recusa baseada em motivo (expresso ou implícito) fútil, manifestamente falso ou frontalmente contrário ao Direito. 4. No caso dos autos, o autor já havia acionado a instituição ré na Justiça em razão do cancelamento unilateral do cartão de crédito, demanda que se extinguiu por composição das partes. Porém, não fora deduzido pedido de restabelecimento do contrato, mas apenas indenização de dano moral.

5. Havendo fundadas razões para supor que o motivo real da negativa de

fornecimento do crédito seja não o perfil econômico- financeiro do consumidor,

mas sim o fato de haver litigado com o banco réu, deve- se prestigiar a sentença que reconhece a obrigação de remissão do cartão de crédito, nos moldes em que fora contratado antes, sob pena de conceder amparo a conduta abusiva que objetiva, em última instância, constranger o legítimo exercício do direito constitucional de Acesso à Justiça (art. 5.º, XXXV, da CF).

6. Desprovimento do recurso.

(TJRJ – Apelação n. 0001524-58.2012.8.19.0082, 27ª Câmara Civel / Consumidor, rel. Desembargador Marcos Alcino de Azevedo Torres, j. 25/02/2015, DJe 27/02/2015)

Em seguida, um julgado de São Paulo:

SEGURO DE VIDA. AÇÃO DE COBRANÇA. MORTE DA SEGURADA. ACIDENTE NO PERCURSO DO TRABALHO. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA BOA FÉ E DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO. ABUSIVIDADE CONFIGURADA. PROCEDÊNCIA RECONHECIDA.

RECURSO IMPROVIDO. O percurso entre a residência e o trabalho deve ser considerado como efetivo exercício da função para fins de cobertura securitária, à falta de expressa exclusão no contrato.

(TJSP – Apelação n. 9000004-75.2013.8.26.0664, 31ª Câmara de Direito Privado, rel. Desembargador Antonio Rigolin, j. 20/10/2015, DJe 20/10/2015)

Agora, explicitará uma decisão do Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL. SEGUROS. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTES ANUAIS. PLANOS COLETIVOS. PRINCÍPIOS DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E DA LIVRE INCIATIVA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1.Nos contratos coletivos não há percentual previamente fixado pela Agência Nacional de Saúde, mas apenas a obrigação de a operadora informar o reajuste aplicado no ano, o qual poderá ser livremente negociado com a contratante. Isto é o que se extrai do artigo 35-E, § 2º da Lei 9.656 /98, da Resolução Normativa nº. 128/2006 da Direção Colegiada da ANS e da Instrução Normativa nº. 13/2006 da DIPRO/ANS. 2.Verba honorária mantida, tendo em vista a natureza da causa e o trabalho desenvolvido pelo procurador que atuou no feito, nos termos do art. 20 , § 4º , do CPC . 3.Não merece prosperar o prequestionamento postulado pela parte recorrente, visto que o julgador não está obrigado a se manifestar sobre todos os artigos de lei invocados pelas partes, bastando que aqueles referidos no corpo da decisão sejam suficientes para a resolução do caso submetido à apreciação. Negado provimento ao apelo.

(Apelação Cível Nº 70060243219, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 06/08/2014)

Continuando no sudeste, há uma jurisprudência de Minas Gerais:

RESCISÃO CONTRATUAL- IMÓVEL - APLICAÇÃO TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL - POSSIBILIDADE - BOA-FÉ - FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS - SENTENÇA MANTIDA.

Quando há comprovação do pagamento da maioria da dívida, não cabe resolução contratual, sob pena de ferir os princípios da função social dos contratos e boa-fé dos contratantes. A boa-fé objetiva, face ao pequeno valor do débito remanescente, obstaculariza o exercício do direito resolutório do contrato, diante do sacrifício excessivo do devedor, que já pagou a maior parte do bem adquirido à moradia dele. A impossibilidade da rescisão não obsta a obtenção do restante do valor devido, em ação própria.Decisão:NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO

(TJMG – Apelação n. 1002410128571001, 13ª Câmara Civel, rel. Desembargador Newton Teixeira Carvalho, j. 16/01/2014, DJe 24/01/2014)

Por fim, tem-se um caso, ocorrido na Bahia, no qual um aluno poderia ser gravemente prejudicado devido à Instituição de Ensino ter invocado a força Obrigatória do Contrato a fim de impedir sua matrícula, vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA. TUTELA ANTECIPADA INDEFERIDA PELO JUÍZO A QUO. NEGATIVA DE MATRÍCULA. ALUNO INADIMPLENTE. CASO PECULIAR. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO DE DEPÓSITO JUDICIAL DAS MENSALIDADES ESCOLARES EM ATRASO. PLAUSIBILIDADE DO DIREITO INVOCADO. CLARA PRETENSÃO DE QUITAR O DÉBITO. NECESSIDADE DE RESGUARDO DO DIREITO À EDUCAÇÃO. PRIMORDIAL FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO DE ENSINO. EVIDENTE RISCO DE LESÃO GRAVE DE DIFÍCIL REPARAÇÃO. INEGÁVEIS CONSEQÜÊNCIAS ADVINDAS DO DESLIGAMENTO DA ALUNA DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO EM QUE ESTUDA HÁ CERCA DE CINCO ANOS, ESTANDO NO 3º E ÚLTIMO ANO DO ENSINO MÉDIO. CONFIGURAÇÃO DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS À CONCESSÃO DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA. GARANTIA DA MATRÍCULA CONDICIONADA AO DEPÓSITO JUDICIAL DAS MENSALIDADES ESCOLARES EM ATRASO NAS DATAS E FORMA REQUERIDAS NA INICIAL. RECURSO PROVIDO.

TJBA - Agravo de Instrumento,Número do Processo: 0002253-24.2015.8.05.0000, Relator(a): Silvia Carneiro Santos Zarif, Primeira Câmara Cível, Publicado em: 02/06/2015

Diante disso, quanto às questões de mérito referentes à aplicação do princípio da Função Social do Contrato, os casos mais frequentes, como se pode perceber, são aqueles relacionados aos direitos sociais, como a saúde, educação e moradia, assim como nos casos relacionados aos direitos fundamentais da pessoa.

Com efeito, o maior número deles refere-se a planos de saúde, pois é a matéria em que mais se fez necessário o equilíbrio entre a força obrigatória dos contratos e a função social do contrato, ante o dilema entre o cumprimento dos termos do contrato e a vida e saúde do contratante.

Um assunto que se tornou importante nesse meio se dá ao tempo do surgimento da cirurgia bariátrica por pessoas portadoras de obesidade mórbida. Tal cirurgia era considerada de extrema importância para o tratamento de saúde dessas pessoas pela rápida perda de peso. Porém, como era uma novidade, não se tinha qualquer cobertura contratual, como na ementa a seguir:

Ementa: PLANO DE SAÚDE - OBESIDADE MÓRBIDA -

DOENÇA PREEXISTENTE - CIRURGIA BARIÁTRICA -

Documentos relacionados