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Todo o cenário com mobiliário de interesses diversos apresentados até aqui faz parte do “meio” utilizado para o fluxo de ação humana que se desenvolve ante, dentro e sobre, no caso, o futebol (GOFFMAN, 1997, p. 34). O jovem atleta é um personagem atuando conforme sua máscara, durante interações, encontros e papéis expressos na fachada de filho, estudante e atleta. Em cada situação, conforme solicitado pela instituição família, escola ou clube, seu comportamento se relaciona com a outra instituição. No caso do atleta–filho, seu projeto e valorização como o membro circulante lhe dá status e privilégio de caráter positivo. Na situação atleta–estudante, mesmo que alguns privilégios sejam notados, o caráter negativo fica mais evidente no desinteresse pela escola. A relação filho–estudante parece colocar os papéis no mesmo patamar, no entanto depende da família e da estabilidade de tal relação.

A formação do estudante-atleta, que passa por um sonho, projeto e profissionalização, tem, no clube e no jovem, o desejo de uma atividade de alto rendimento. A escola, por sua vez, desenvolve suas atividades em paralelo. Nessa relação de mão dupla, acontecem conflitos de ambos os lados que favorecem pouco a pouco o desinteresse do estudante-atleta. O desinteresse pela escola e o banco escolar surge por vários fatores, alguns deles foram detectados em trabalho anterior, os quais são: a) a influência familiar e escolaridade dos pais; b) maior ou menor maturidade do jovem; c) maior ou menor consciência da fragilidade da carreira; d) o distanciamento dos conteúdos ensinados na escola em relação à realidade do jovem no mundo do futebol; e) a falta de acompanhamento do clube; f) a rotatividade dos jovens nos clubes de futebol, influenciados pela demanda do mercado futebolístico (DA CONCEIÇÃO, 2013). Os jovens também enfrentam percalços que mobilizam ainda mais o desinteresse. Ao participarem de uma atividade de alto rendimento e de grande exigência, podemos compará-los com o estudante-trabalhador que também sofre de cansaço físico, falta de tempo para estudo e para assistir às aulas, acrescentando-se, no caso do estudante-atleta, constantes viagens para competições, falta de motivação pelo sucesso escolar e interesse central no futebol (SOARES, 2009, p. 7).

Dessa forma, percebe-se que o jovem, ao deixar de ter interesse pela escola, terá aval e o apoio do clube para se dedicar à profissionalização (BARRETO, 2012, p. 37). A carga de treinamento dos atletas em formação equivale ao tempo dedicado à escolarização. O esforço e prioridade passam a ser canalizados para o esporte que toma tempo preponderante na vida do jovem (MELO, 2010). O jogador perde parte considerável do controle sobre seu corpo e sua vida, em detrimento do crescimento do controle que os clubes assumem sobre ele. Os treinamentos consomem muito tempo da vida desses atletas, numa fase em que eles não estão amadurecidos para tomarem decisões sobre o seu futuro. (BALZANO; MORAES, 2012).

No trabalho de Bartholo et al. (2011), que compara a formação esportiva em clubes brasileiros e espanhóis, a participação nas instituições escolares parece muito semelhante em ambos os países, podendo se dizer que quase 100% dos jovens estão matriculados na escola. Isso descaracteriza o esporte como promotor de desistência escolar. A diferença entre ambos os países se encontra na quantidade de horas destinadas ao treinamento. A frequência no Brasil é de 6 dias semanais de treinos e competições, contra 4 na Espanha. De maneira distinta da brasileira, alguns clubes europeus citados26 no trabalho de Moita (2008) já estão procurando uma melhor formação plena do jovem, destacando sua formação educacional. Assim, surgem as Academias de Futebol, centros de treinamento que desenvolvem trabalho técnico, tático, físico, nutricional, emocional/psicológico, vocacional e comportamental. O objetivo da Academia é uma formação mais holística, trazendo a escola para dentro do clube (MOITA, 2008). No entanto, apenas aqueles que superaram o primeiro alambrado usufruem o modelo da Academia. Até o momento da seleção, a escolarização é responsabilidade do jovem, seus pais e do sistema de ensino. Ao comparar a formação de atletas de futebol no Brasil e na França, Damo (2005) percebe que o mercado da bola possui um padrão hegemônico compartilhado, mas as características internas de regulamentações e maneiras de fiscalização são singulares e culturais. Enquanto na França se faz necessário diploma e certificado para atuar como profissional nas várias frentes de formação, no Brasil, o saber acumulado com a prática no caso de ex-boleiros aparece como requisito válido27, o que supostamente com graduados ganharia outro tom. Assim, uma hipótese pode ser levantada, pois os ex-boleiros que vivenciaram período anterior sem grande ênfase na escola continuam a reproduzir a mensagem de não importância aos estudos. A formação de craques brasileiros com um capital corporal que passa pela conformação cultural, também expressa uma historicidade em que a escola pública e de qualidade para um estrato da sociedade sempre esteve à mercê de debates. Sua não efetividade direcionou inúmeros grupos a buscarem profissões que privilegiavam a experiência prática em vez de certificados e títulos acadêmicos. Tais especificidades do futebol brasileiro no quesito formação devem ser comparadas com outros países que compartilham sua realidade, pois as questões culturais europeias diferem na atenção à escola e tempo de treinamento como demonstrado, assim como a estrutura esportiva norte americana baseada no modelo escolar e universitário.

A proposta agora é analisar um pouco do meio e como os jovens desenvolvem os signos presentes na “fachada pessoal” (GOFFMAN, 1997, p. 35). Estes estão no cabelo, nas roupas, no

26 Clubes citados no trabalho: Ajax FC, Manchester United FC, Sporting CP, Fulham FC, Bilbao, FC Barcelona e

Manchester City FC.

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É necessário ressaltar que com a regulamentação da profissão em 1998, o diploma para atuar como profissional de educação física nos clubes no Brasil passa a ser uma exigência, o que tem levado os técnicos à progressiva adequação.

andar e nos acessórios, eles são os símbolos que demarcam um meio, no caso, o campo futebolístico. São como parte da atmosfera que, transladada pelo indivíduo durante a performance de sua máscara, percorre espaços, entre eles a escola. A aparência (LE BRETON, 2007, p. 77) marca o estrato social e profissional do indivíduo, o local de onde vem ou fala. Os modos de comportamento na sala de aula demonstram que o jovem não está disposto a seguir aquilo que lhe é transmitido pelo professor. E mais que agressividade ou submissão, sua postura de indiferença caracteriza o desinteresse na escolarização. Assim, sua fachada social (GOFFMAN, 1997, p. 39), uma representação coletiva afirmada pelos estereótipos, sai do meio futebolístico e invade os espaços públicos, onde são facilmente identificados como jovens futebolistas.

4.1 - A hora do jogo: a descrição do campo

Ao ler recentemente a biografia do jogador Leônidas da Silva (1913-2004), escrita pelo jornalista André Ribeiro (1999), posso perceber alguns elementos que o fizeram atingir o ápice na carreira futebolística e que são marcas do imaginário de sucesso. Leônidas é um ícone interessante do futebol brasileiro que obteve reconhecimento nas décadas de 1930 e 1940. Vivenciou a passagem do amadorismo no futebol para a profissionalização. Também por causa de sua cor experienciou a rejeição do negro e do mulato dentro de um esporte de elite. Foi peça importante para exaltação da cor como diferencial da nação que se reconhecia no futebol. Nascido em 1913, o jovem Leo, como chamado por sua mãe, sempre gostou de bola e, conforme o relato, tudo virava bola para ser chutada. Lembramos que o Brasil a pouco entrara em uma nova ordem política republicana, e o futebol era uma prática de elite com seus ideais e (por que não) cerimoniais. No final da década de 1920, o jovem Leônidas se insere no futebol por meio de seu pai adotivo, que indireta e depois diretamente se relacionava com um clube do subúrbio carioca. Logo em seguida, os observadores indicam o jovem para um clube onde desponta por sua versatilidade e facilidade de dribles desconcertantes.

Os elementos na trajetória futebolística de Leônidas da Silva são apresentados como modelo para construção social de um craque. O fato de sempre gostar de bola, uma técnica corporal para o esporte aperfeiçoada nas ruas do subúrbio carioca onde morava. Seu pai adotivo servia como um boleiro que, mesmo não praticando o esporte, sempre esteve em contato próximo com o clube do subúrbio e admirava vários jogadores. Sua mãe sempre o incentivava aos estudos, mas percebia uma rebeldia para com a escola. Leônidas foi um dos jogadores negros precursores que não precisou esconder sua pele para ser valorizado no futebol. Na verdade, esse ponto era exaltado como condição para sua capacidade futebolística, situação que marca a origem dos “bons”

jogadores brasileiros. Sua trajetória de ídolo esportivo está repleta dos fatores que fazem um jovem e sua família entrarem no mundo do futebol. Entre eles o gosto de brincar de bola, um familiar próximo ao futebol, uma inadaptação à escola, um sonho de recursos financeiros com o esporte, e, se posso dizer, a construção de um mito de origem, o subúrbio carioca. Os pontos percebidos na vida de Leônidas hoje são presentes na carreira dos jovens meninos como um espelho. A ligação com os clubes de futebol por meio da figura paterna possibilita um trampolim para contatos e indicações para dar passos na carreira esportiva. O fato de a mãe ser a representante da família que mereça respeito e devoção com o desejo do “contra dom” (DAMO, 2005) de dar lhe uma vida confortável, também é característico. Dessa forma, a representação de jogador se perpetua com exemplos clássicos como o de Leônidas. Atualmente, como identificar quem dará certo ou não? Quem são os jovens atuais? Sua trajetória? Suas relações? Suas desistências? Seus desafios?

Na busca por responder essas perguntas, inicia-se o relato do campo, com a inserção das entrevistas que são tratadas de maneira a clarear o entendimento das situações presenciadas. Começo pelas entrevistas e em seguida apresento algumas das descrições de minhas observações no Avaí F. C. e na Escola Idelfonso Linhares durante o ano de 2013.

4.2 - A coletiva: os entrevistados

Como apresentado anteriormente, a recepção no clube foi muito satisfatória e agradável. Os profissionais envolvidos sempre estiveram dispostos a auxiliar e clarear as dúvidas e questões que surgiam. As conversas com o setor psicossocial, com a coordenação da categoria de base e com os atletas, aconteceram sempre no mesmo lugar: uma sala, ao lado do escritório do setor psicossocial. Ao entrar no clube, passando pela recepção, é possível ver, em uma parede ao fundo, uma escada de ferro azul, a sala está localizada embaixo das arquibancadas destinadas aos sócios do clube. A sala, relativamente pequena, é toda em tijolinho à vista. Dentro, duas escrivaninhas, uma para a Assistente Social e outra para o Psicólogo, à frente, cadeiras para que o atendimento e acolhimento sejam realizados. Atrás de cada um, pequenas estantes com manuais, alguns livros e muitos papéis. Em suas mesas, há espaço para o computador, vários documentos e lembretes de tarefas. Tanto o Psicólogo quanto a Assistente Social não trabalham em período integral no clube, são horistas, cumprindo a jornada de 20 horas semanais correlacionada com a organização do calendário das equipes, pois precisam que os jovens estejam no clube para um contato mais direto. Um dia em que geralmente se encontram nas dependências da entidade é a segunda-feira, quando recebem o calendário de treinos e viagens dos jovens. Nessa pequena sala, os primeiros contatos com o clube foram então negociados.

Nossas conversas mais informais e apresentações aconteceram nesse espaço talvez mais público, pois todos os jovens, familiares e outros profissionais do clube chegam até ele. No caso específico das entrevistas, ao lado dessa sala, existe outro espaço maior. Uma sala utilizada pela comissão técnica de base e que foi “desativada” e deixada para a equipe do psicossocial realizar suas reuniões e conversas mais privadas. Nela há algumas cadeiras, uma mesa redonda no centro, um banner sobre os propósitos do clube e placas comemorativas. Uma grande janela com uma película azul garante privacidade para quem está dentro, ficando longe dos olhares daqueles que estão no estacionamento. Uma vista de parte do aeroporto e do bairro se faz possível. As paredes são brancas com boa iluminação e pouco barulho externo se pode ouvir.

Quando da conversa com a Assistente Social (AS), marcamos para o final de tarde e, ao começarmos a entrevista, houve falta de luz, fazendo com que a iluminação ficasse prejudicada. O tempo foi passando e a luz natural diminuindo e, por opção da entrevistada, continuamos a conversa praticamente com a luz da tela do computador portátil. As informações foram muito interessantes a respeito do estudante-atleta, o desafio da AS em lidar com meninos que demonstram não ter interesse pela escola norteou as alegações. Conversamos sobre minha pesquisa e inclusive solicitou referências para estudar e entender mais sobre os jovens no meio do futebol. Essa é sua primeira experiência no futebol, atuando há três anos e meio no Avaí. A atribuição primordial da AS é receber o jovem aprovado a integrar o grupo de jogadores e providenciar sua documentação, fazendo a mediação com familiares e a matrícula na escola.

A segunda entrevista, com o Psicólogo (PSI), se deu na mesma sala. Ao chegar no local, ele pareceu ter esquecido de nossa conversa, mas manteve seu compromisso e falamos longamente sobre suas tarefas, atribuições e percepções do meio futebolístico. Com experiência de cinco anos com psicologia do esporte, está a um ano desenvolvendo trabalho no clube. Ex-atleta de surf e natação, acredita que esse fato seja favorável para compreender a realidade dos jovens atletas. O pouco tempo que tem para realizar seu trabalho no clube (20 horas semanais) fica caracterizado pela grande procura de jovens, durante a entrevista, querendo solucionar alguma situação. Sua atuação envolve o processo de maturação, personalidade, sexualidade, relações familiares e outros assuntos que são inerentes à fase em que o jovem se encontra. Todas as intervenções guardam o caráter psicológico. Durante a entrevista, PSI deixou claro que falava de um lugar específico, mediando bem as palavras e argumentado com conceitos da área em que atua. Possui uma consciência da realidade dos jovens e do clube, mostrando-se mais aberto para falar de questões sobre a sexualidade no futebol.

A terceira entrevista, realizada com o Supervisor das categorias de base (SUP), ocorreu em data marcada às vésperas de um evento no clube que envolvia várias escolinhas de futebol vinculadas ao Avaí. O SUP estava muito atarefado, organizando listas de jovens, recebendo

ligações, providenciando materiais para divulgação, organizando horários e ainda conversando com um pesquisador. Encontramo-nos fora do clube, ele estava muito mais simpático do que outras vezes. Perguntou sobre meus objetivos novamente, interessou-se pelo tema e começou a fazer apontamentos espontâneos sobre como o clube percebia a categoria de base frente à mentalidade implantada atualmente. Ele estava muito ocupado e os dois celulares não paravam de tocar. Dirigimo-nos falando sobre a trajetória dele como profissional de Educação Física formado pela UDESC28, com passagens pelo Internacional de Porto Alegre e o Fluminense do Rio de Janeiro. Atualmente completa um ano no Avaí, o qual preferiu por ser catarinense, ficando mais próximo da família. Parece gostar de ressaltar que faz dois anos que houve uma mudança de mentalidade do clube em relação às categorias de base. Andamos um pouco e chegamos à mesma sala junto ao psicossocial, que, em suas palavras, era um local mais privado dentro do clube, pois, se estivesse em sua sala junto às categorias de base, não teria sossego algum. As categorias de base contam com quatro profissionais ligados à Coordenação. Um coordenador geral que tem a última palavra nas decisões, um coordenador técnico responsável pela avaliação dos jovens, contratação e dispensa, e dois supervisores, um que cuida da logística e outro operacional, função do entrevistado. O clube não conta com um setor de captação de atletas e os membros da coordenação se revezam e auxiliam na função, assim como outras inúmeras atribuições como viagens, chefia de delegações e trâmites burocráticos.

No caso dos atletas, após conversa com a AS, ficou definido que o clube disponibilizaria três ou quatro atletas para serem entrevistados. Marcamos um dia no final de tarde, logo após a janta dos jovens, um momento em que não teriam aula. Cheguei no horário, dirigindo-me para o local, a AS, após alguns minutos, trouxe três atletas. Depois de iniciadas as explicações sobre meu propósito, outro atleta foi incluído na entrevista. Também por opção do clube, os quatro foram entrevistados ao mesmo tempo. Os atletas selecionados são:

 Paulo, 17 anos, meia, principal característica passe e finalização, natural de Laguna/SC, com passagem por Triunfo/SC29, Fluminense/RJ e Figueirense/SC. Em casa, tem pai, mãe e uma irmã. Os pais têm uma pequena lavanderia e ambos concluíram o Ensino Médio.

 Carlos, 16 anos, atacante, principal característica velocidade, habilidade e resistência, natural de Goiânia/GO, com passagem por Goiás/GO e Aparecidense/GO. Em casa tem mãe, padrasto e uma irmã. O padrasto tem uma pequena loja de roupas e um ponto de táxi, e a mãe é recepcionista em um hospital. A escolaridade dos responsáveis é Ensino Fundamental para o padrasto e a mãe concluiu o Ensino Médio.

28 Universidade do Estado de Santa Catarina. 29

Clube não profissional filiado à liga florianopolitana de futebol com histórico de preparar jovens para profissionalização, possui categorias de base e time principal. Disponível em:<http://www.triunfo.esp.br/Revelacoes >Acesso em: 04 fev 2014.

 João, 16 anos, atacante, principal característica drible, velocidade e jogo pelas pontas, natural de São Paulo/SP, com passagem por São Bernardo/SP. Em casa tem pai, mãe e um irmão. O pai é cozinheiro e a mãe, doméstica. A escolarização do pai é o 5ª ano do Ensino Fundamental e da mãe Ensino Fundamental.

 Tiago, 16 anos, volante, principal característica pegada30 e toque de bola, natural de São Paulo/SP, com passagem por Corinthians/SP e Portuguesa/SP. Em casa tem pai, mãe, conta com mais quatro irmãos casados. Os pais são comerciantes e ambos concluíram o Ensino Fundamental.

Os quatro atualmente moram no alojamento do clube e iniciaram suas carreiras no futebol entre os 14 e 15 anos. No primeiro momento, os jovens pareceram cautelosos, mas não desconfortáveis. Impressionou-me a maturidade com que encararam falar dos temas, talvez esperassem mais dificuldades em responder aos questionamentos. Todos demonstraram sinceridade e a presença de um discurso institucional muito forte. Esse discurso institucional não é só relacionado ao que o clube proporciona, mas institucional na cultura do futebol, com marcadores já consensuais sobre família, formação constante no esporte e da importância da escola.

Um fato que demonstra a inserção do pesquisador no campo foi no momento da conversa com os atletas, a mesma transcorria quando a AS, que não esteve na sala participando da entrevista, veio entregar a chave da porta para que no final deixasse na recepção. Uma simples situação que entendo ser mais um episódio, que, no momento, serviu como uma baliza de confiança no trabalho realizado.

As entrevistas todas foram feitas em períodos distintos com certo tempo entre uma e outra, à medida que os horários dos profissionais favoreciam de acordo com suas agendas. Todos os personagens envolvidos que foram entrevistados possuem e desempenham papéis sociais distintos dentro do grupo. As conversas possibilitaram perceber a rede de significados e simbolismos que são compartilhados e que mantém a mediação nos objetivos de projetos individuais e coletivos. As trocas que são vivenciadas pelos personagens contribuem para formação de profissionais para indústria do futebol. Cada olhar e discurso proferido demarcam um lugar e uma posição na cadeia de produção dessa indústria. A preocupação do psicossocial em acolher o jovem em alguns momentos parece esbarrar no objetivo racional da produção de talentos, assim como os sujeitos atletas que se movem entre sua humanidade e sua coisificação.

Os nomes dos atletas apresentados no trabalho são fictícios, no caso dos profissionais entrevistados, os nomes foram substituídos pela posição/função que ocupam. Entendo que, no caso dos últimos, mais que nomes, a máscara, o papel social acaba por carregar discursos e atribuições a

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Pegada é uma característica reconhecida como de grande virilidade e força física. Geralmente a posição é de meio campo recuado (volante), jogando à frente dos zagueiros, sua atribuição é o desarme, a anulação das jogadas

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