• Nenhum resultado encontrado

79 Foto 17: Parte interna da cozinha menor

Fonte; própria, 2019

Nesse posto de trabalho, em 2019 havia 5 reeducandos trabalhando e conforme percebe-se nas fotos 16 e 17, o local apresenta uma boa estrutura física (paredes limpas, sem infiltrações, cerâmica, estufa, duas freezers, mesa, recipientes para guardar talheres) e que cozinheiros usam farda e alguns toucas e máscara.

A boa estrutura do local pode ser explicada pelo fato dessa cozinha está situada no mesmo bloco da direção e a produção das refeições não atender um público tão grande quanto o dos pavilhões.

Por outro lado, a cozinha maior, também situada na parte superior do presídio, fica em frente a cozinha menor e ao lado da quadra de esportes, almoxarifado, galpão de ferramentas e da cela que abriga cinco presos que trabalham.

A cozinha grande é a que produz a comida dos apenados dos pavilhões e não tem a mesma estrutura que a cozinha pequena, conforme pode ser percebida nas fotos 18 e 18.

80 Foto 18 Foto 19

Fonte: própria, 2019 Fonte: própria, 2019

Diferentemente da cozinha melhor, a cozinha grande apresenta uma estrutura mais precária, conforme pode ser percebido nas fotos 18 e 19, com caldeirões velhos e amassados, falta de espaço para o preparo das refeições, cerâmica da pia e chão quebrados.

O aspecto do local lembra a descrição que Drauzio Varella ao relatar a cozinha do Carandiru.

A cozinha talvez fosse dos mais vivos exemplos de deterioração do velho presídio. Era um grande salão com goteiras, no térreo do pavilhão seis, cheio de água empoçada nas lacunas entre os azulejos azuis que, em petição de miséria, remendavam o piso impossível de enxugar. À direita da entrada e na parede oposta a ela, alinham-se oito panelas de pressão, com capacidade para duzentos litros cada. Os exaustores encaixados acima das janelas tinham parado de funcionar havia anos, de modo que em franca operação as panelas descarregavam todo vapor no ambiente interno. (VARELLA, 1999, p. 220)

Assim como na descrição do médico-cronista, a cozinha grande da Penitenciária regional de Campina Grande Raymundo Asfora, apresenta paredes com infiltrações, água empoçada no piso, que se acumula nas lacunas e ausência de cerâmica. Na hora de cozinhar os alimentos, a fumaça dos panelões e calor do ambiente tornou-se quase insuportável.

O condicionamento dos panelões sobre a base de ferro com o degrau superior ao chão e sua colocação sobre a cerâmica quebrada lembra outro trecho do Carandiru quando destaca:

Os panelões achavam-se assentados sobre uma sapata de cimento construída para deixá-los num plano superior ao pés do chão. Esse amplo degrau em forma de L estava revestido pelos mesmos azulejos encardidos. No desnível entre o degrau e o resto do piso existia um sulco profundo por onde corria, a

81

céu aberto, um riacho caudaloso que recolhia a água desprezada e a conduzia direto para a abertura do esgoto junto à porta da entrada. (VARELLA, 1999, p. 220)

A situação descrita sobre o Carandiru e da cozinha grande torne-se propício para presença de rato, baratas e outros insetos, caso não haja uma constante limpeza no local. Apesar da precariedade da cozinha grande o posto contava em 2019 com 11reeducandos trabalhando e é muito requisitado pelos presos que desejam trabalhar para remição da pena e ficar mais próximo a direção, demonstrar habilidades culinárias pode ser decisivo numa saída mais rápida ou cárcere ou para obter uma vaga num xadrez decente.

Sobre a cozinha no Carandiru, afirma Drauzio Varella que:

Cozinha é ponto nevrálgico em qualquer presídio. O diretor de Disciplina diz que num lugar superpovoado como a Detenção, pior ainda:

-Se faltar comida, isso aqui explode em menos de 24 horas.

Para evitar tragédias a direção entregava o comando da cozinha aos próprios detentos, um dos muitos exemplos de autogestão para compensar a falta crônica de funcionários. (VARELLA, 1999, p.221)

De fato, esse posto de trabalho é bastante delicado, os reeducandos usam facas e extravio delas para os pavilhões pode terminar em tragédia, um acréscimo errado no tempero ou má qualidade do sabor pode gerar descontentamento dos apenados com os cozinheiros. Para motivo de falta de funcionários e evitar maiores reclamações a direção do Serrotão ‘deixa o controle da cozinha aos próprios apenados’, isso porque, apesar do cardápio ser razoavelmente variado os presos quase sempre reclamam da comida fornecida pelo Estado e para evitar problemas como rebeliões, a atividade de cozinhar é feita pelos presos e a direção autoriza a entrada da “feira”7, com ela boa parte da alimentação dos apenados vêm das famílias que levam muitas coisa de casa como biscoitos Cream Cracker ou Maria, mortadelas, salgados (10 no total), feijão, arroz, verduras, carne de charque e outros permitidos, que são cozidos nos fogões de barro ou alimentados por energia elétrica no interior dos pavilhões.

Na Penitenciária regional de Campina Grande Raymundo Asfora- Serrotão não há refeitório, dessa maneira, os presos comem no interior de suas celas. A comida feita

7Nome dado aos alimentos (perecíveis e não perecíveis) que as famílias dos presos levam para que eles nos dias de visita, sendo duas por semana nas quartas (visita intima) e domingo (visita social)

82 na cozinha é enviada a eles através de inúmeros caixotes, nos quais são colocados pratos, conforme foto 20 e 21, e após passar pelo detector de metais, são entregues a 8 apenados, os chamados “Correria”8,que levam aproximadamente 1100 a 1200 pratos ou vasilhas nos caixotes para distribuir entre os nove pavilhões, deixando geralmente no “pé” da grade para o líder de cada lado do pavilhão pegue a comida e entregue de um a um aos apenados.

Documentos relacionados