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Entrada de Portugal na NATO

No documento EXE INF 632 João Valente (páginas 41-44)

Capítulo 5 NATO

5.2 Entrada de Portugal na NATO

Sendo a NATO baseada em dois pólos, o norte-americano e o continente europeu, era importante manter as linhas de comunicação entre estes. É neste aspeto que Portugal se torna importante para a organização, através do arquipélago dos Açores.

Os Açores, inserido no Triângulo Estratégico Português28, desde sempre concitou interesses militares nacionais e internacionais, muito devido à sua localização, essencialmente como base de intervenção sobre as linhas de comunicação do Atlântico Norte e a saída do Mar Mediterrâneo (Carvalho (Coord.),1990, p. 395).

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Este arquipélago era também essencial nos planos nucleares americanos, tendo sido estes a tomar a iniciativa, apoiados por Inglaterra, a convidar Portugal, tendo alguns países levantado reservas devido ao regime político português (Telo, 1999, p. 53).

Para os EUA, o regime politico português não representava nenhum entrave à adesão à organização, tendo o Senador Conaly proferido uma frase que deixa isso bem claro: ―Não sei a quantidade de democracia que há em Portugal, mas sei que têm os Açores, o que não será nenhum inconveniente para nós em caso de guerra‖ (Telo, 1996, p. 91).

A posição geográfica de Portugal era fundamental em caso de conflito para que fosse dada uma resposta eficaz por parte da Aliança, e Portugal sabia disso.

António de Oliveira Salazar, no seu discurso na Assembleia Nacional, diz o seguinte: ―Ao considerar a proposta de adesão ao Pacto do Atlântico a orientação do Governo devia pois definir-se em obediência ao duplo sentido seguinte: primeiro, verificar se o Pacto, devido à intervenção dos Estados Unidos e à sua promessa de auxílio, poderia, quanto a nós, funcionar como reforço da aliança inglesa na parte em que esta já atuava como fiadora da segurança do Atlântico Norte; segundo, que riscos se poderiam correr relativamente a conflitos entre nações da Europa Ocidental ou, mais claramente, se a previsão desses riscos ficaria reduzida a um ataque de leste, o qual, a efetivar-se, deveria supor-se contra todos e contra os princípios da cultura e da civilização que representam. O deslocamento do centro de gravidade da política mundial para oeste, verificado a seguir à primeira grande guerra, não só trouxe os Estados Unidos para o primeiro plano dessa política, mas aumentou o valor e os riscos do Atlântico, de cuja segurança passaram a depender quase exclusivamente a Europa, a África e a América. Em tais condições, o apoio dos Estados Unidos tornou-se necessário à segurança dos países ribeirinhos do Atlântico Norte na mesma medida em que as posições atlânticas passaram a ser necessárias à defesa americana‖ (Salazar, 1951, p. 412-413).

Outros autores, como José Medeiros Ferreira, defendem que o que teve maior peso na decisão de Salazar foi o fato de, uma inclusão de Portugal e uma exclusão de Espanha da aliança, colocaria Lisboa numa posição privilegiada de interlocutor num quadro extrapeninsular. Foi uma questão de política externa o principal fator que levou Portugal a aderir à NATO (Teixeira, 1995).

Nuno Severiano Teixeira (1999), também se debruçou sobre esta questão, defendendo que o que levou Portugal a aderir à NATO foi o fato de ―a margem de

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manobra da política externa portuguesa era pequena e a capacidade de alternativa quase nula‖ (Teixeira, 1999, p. 805).

Pedro Cantinho Pereira (2006) apresenta um exaustivo discurso acerca dos fundamentos que levaram o governo a aceitar a adesão, não tendo sido na sua opinião apenas um, mas sim um conjunto de fatores que levaram o governo português a tomar essa decisão. De salientar o facto do regime político português nunca ter sido posto em causa durante todo o processo negocial.

Outro dos fatores foi o tratado não prever uma perda da soberania nacional, não estando prognosticado qualquer estrutura supranacional na Europa, como Portugal inicialmente receava. Assim como, não existir a obrigação de um Estado entrar em guerra caso outro Estado membro fosse atacado, ou seja, o governo de cada Estado continuava a ter o poder de decisão.

As questões militares também influenciaram Salazar na tomada de decisão, tendo em vista a ameaça soviética que estava para durar, obrigando a uma tomada de posição, pois tratava-se de uma ameaça global. Em caso de conflito, dificilmente, Portugal continuaria neutral e sendo uma país com escassos recursos bélicos seria com certeza uma país arrastado para a Guerra, sem capacidade de resposta. Nesta situação, Salazar considerou pior não pertencer à aliança, pois ficaria sem apoio militar por parte de outros Estados (Pereira, 2006).

Na opinião de António José Telo (1996), há duas questões de fundo que levam a que Salazar, e apesar das suas reservas, ceda e acabe por aceitar aderir à NATO. Desde logo ―uma aproximação política com os EUA, coisa que o regime não conseguiu nas negociações sobre os Açores; a ajuda para concretizar a política de defesa que o regime prossegue desde 1935‖ (Telo, 1996, p. 83).

Após a decisão de Portugal aderir à NATO, Oliveira Salazar diz no seu discurso, na Assembleia Nacional, uma frase bem elucidativa de como os argumentos apresentados pelos defensores à adesão eram extremamente fortes: ―Pareceu difícil em tais circunstâncias estarmos ausentes‖ (Salazar, 1951, p. 414).

Também o Ministro português, Caeiro da Matta, proferiu uma frase, aquando da assinaturado Tratado, que dá a conhecer o grau de importância que o governo português dava agora aesta Organização: ― O meu país acedendo ao convite que lhe foi feito para tomar lugar entreas nações participantes, originárias, do Pacto do Atlântico Norte, não atendeu – posso bemafirmá-lo – ao aspeto exclusivo da sua própria segurança: fê-lo talvez

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mais ainda peloreconhecimento da necessidade de trazer a sua cooperação a este grande empreendimento…‖ (Carvalho, 1953, p. 41).

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