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Entre a dança e o audiovisual

No documento carlosgoncalvestavares (páginas 60-64)

4 ENTRE AS LINGUAGENS ARTÍSTICAS: A TRAJETÓRIA DA CIA ORMEO

4.1 ANÁLISE DAS OBRAS DA CIA ORMEO

4.2.1 Entre a dança e o audiovisual

A divisão da projeção de imagens também pode ser feita em três partes, como foi dividido o bloco coreográfico, sendo assim a divisão também acompanha a entrada e a utilização dos objetos cênicos. Percebemos que toda a projeção possui como características a coloração em preto e branco, uso de imagens de construção de barcos e ondas quebrando, porém com poucas mudanças. A velocidade das imagens e de suas transições é contínua e sempre acontece na mesma proporção de tempo.

No primeiro trecho de projeção do Barco, vemos que as imagens possuem dois momentos. No começo da coreografia, as imagens que permeiam a montagem até todos os integrantes entrarem em cena e utilizarem a estrutura são cenas do filme em que um navio está sendo construído e vemos planos variados de um navio, em seu interior e exterior.

Neste primeiro trecho, ocorre uma transição das imagens de navios para as imagens de ondas quando as bailarinas Mariana Martins e Tatiane Dias sobem na estrutura e se movimentam, enquanto os outros integrantes giram a estrutura e a movimentam (FIGURA 6). Quando as mesmas descem da estrutura, retomam-se as imagens de navios e suas construções.

Na segunda cena da montagem, as projeções se mantêm iguais até a cortina de papel descer. A partir deste momento vemos imagens de ondas quebrando, sendo que estas são utilizadas até o final do terceiro trecho da montagem, quando surge em transição a imagem de um navio em sua lateral esquerda, ficando em cena até as cortinas se fecharem.

Tanto o bloco coreográfico como o bloco audiovisual foram divididos em três cenas nesta análise a partir do uso dos objetos cênicos, porém o uso das imagens projetadas não obteve uma relação estética com a dança quanto ao uso dos objetos cênicos. Relativo a uma montagem coreográfica de dança contemporânea, percebemos que tanto os objetos cênicos (a estrutura metálica e as placas) quanto a projeção de imagens, deveriam se relacionar de forma direta com o corpo que dança.

FIGURA 6: as imagens de ondas entram em cena quando duas bailarinas dançam sobre a estrutura metálica.

Porém, percebemos que a forma de uso e sua função no Barco não foram tão eficientes em relação ao corpo que dança. Apesar de sabermos que cada linguagem artística possui suas especificidades que não podem e não devem ser comparadas, nota- se que quando se insere alguma linguagem diferente daquela que possui o foco do trabalho, no caso a dança, todos os elementos devem dialogar e potencializar um ao outro, além de favorecer uma experiência estética diferenciada ao espectador.

Se analisarmos o trabalho a partir do ponto de vista do contexto, veremos que os elementos dialogam: imagens projetadas de barco, estrutura metálica fazendo referência a uma embarcação e a construção do barco cênico. Como um dos objetivos deste trabalho é analisar as relações intermidiáticas entre dança e imagem, percebemos uma ligação, porém o corpo não está em contato com a imagem em grande parte da obra, assim como a imagem também não está ligada ao corpo que dança. A dança neste trecho coreográfico possui nuances e mudanças de dinâmica que acontecem durante todo o tempo, porém a imagem se mantém com as mesmas características durante o

Barco, já que as imagens projetadas possuem os mesmos tempos de planos, as mesmas

transições e as imagens se repetem no decorrer da coreografia.

Sebeok (1991) define contexto como o reconhecimento que um organismo faz das condições e maneiras de usar efetivamente as mensagens. Contexto inclui, portanto, sistema cognitivo (mente), mensagens que fluem paralelamente, a memória de mensagens prévias que foram processadas ou experienciadas e, sem dúvida, a antecipação de futuras mensagens que ainda serão trazidas à ação.

As imagens utilizadas durante todo o trabalho possuem a mesma dinâmica e tempos parecidos dos planos e de suas respectivas transições. No começo do trabalho, vemos uma ligação mais direta com a imagem, já que as imagens do começo da montagem são de construções de um navio. Essa característica potencializa o corpo no sentido em que o elenco utiliza a estrutura metálica de variadas formas e todas as suas mudanças de posição ou uso de uma forma específica é feita em grupo e bastante sincronizado e eficiente.

Porém o corpo passa por mudanças no decorrer do trabalho e as formas de utilização da estrutura, assim como a própria movimentação percorrem outros caminhos e a característica de construção se dilui de forma diferenciada pelo corpo. Como foi

dividido em três cenas este trabalho, vemos que a dança se manifesta de forma diferenciada em cada bloco, assim como suas relações com os objetos cênicos.

Outro ponto que mostra pouco diálogo das imagens com o corpo é o fato das imagens projetadas se repetirem. Por vezes as imagens do começo do trabalho se repetem, tanto no primeiro bloco, assim como as ondas, que também possuem as mesmas características enquanto imagem projetada: tempo dos planos parecidos, transições parecidas e mudanças sempre proporcionais.

Assim concluímos que no trabalho Barco, a projeção de imagens não obteve seu diálogo com a dança de uma forma intermidiática e estética que viesse a contribuir ainda mais para a obra como um todo. As imagens serviram para ajudar a criar uma ambiência de lugares e situações, no caso o universo náutico, porém as questões de embarcação, construção e uso efetivo de um barco, se deu através da coreografia e do uso dos objetos cênicos.

No documento carlosgoncalvestavares (páginas 60-64)

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