• Nenhum resultado encontrado

3.2 O PNLD e a seleção do livro didático de português

3.2.2 Entre a (não)aceitação e o reconhecimento dos aspectos inovadores da

ocorrência de um prazo insuficiente, sem alusão ao Guia de Livros Didáticos e sem a efetiva participação de todos os docentes na escolha final.

3.2.2 Entre a (não)aceitação e o reconhecimento dos aspectos inovadores

livro (...) Agora, essas questões de humorista... de fazer entrevistas...

eles já gostam é::: nem precisa também de muita coisa, né? E... os assuntos sobre animais... TUDO... tudo que desperta a curiosidade deles é sempre bom. (Neide)

Entretanto, nos depoimentos que se seguem, os professores, por não terem optado pela coleção de livros, parecem desprezar o manual. Vejamos o que atestam essas falas:

FRAGMENTO 10:

(...) ele não me chamou a atençao de forma alguma, justamente porquê::: as coisas que seriam necessárias pras crianças saberem no caso,né? Na série... ela::: deixou a desejar... conteúdos que eles deveriam ver... pra se preparar... né/no caso, né? Que esse é o sétimo ano, no caso pra se preparar pro oitavo ano, então... fica a desejar, principalmente porquê::: a parte gramatical dele... você não vive sem gramática, só que essa gramática ela é::: embutida, ela é guardada...

não é pelo fato da gente trabalhar gramática contextualizada que a gente não deve saber toda teoria... (Alice)

FRAGMENTO 11:

Há... aqui e ali encontra-se alguma coisa... MAS há::: há outras propostas que são muito melhores e são mais fáceis de se trabalhar com a realidade de nossos alunos. (Carlos)

Nos fragmentos acima apresentados, Alice parece não aceitar o livro adotado, ao demonstrar preocupação com a ausência da abordagem gramatical e Carlos despreza o manual, indicando coleções que estão mais adequadas à realidade do contexto escolar.

Mesmo diante das considerações dos professores colaboradores da pesquisa, que remetem à (não)aceitação do livro didático, torna-se evidente em

suas falas o reconhecimento das contribuições advindas do material didático para o trabalho por eles realizado. Vejamos os posicionamentos assumidos: Alice admite como contribuição as propostas de leitura e produção textual. Carlos destacou como contribuição o fato de ser um material de pesquisa, embora simplificado. Lúcia e Neide destacaram as propostas de leitura e de interpretação de textos apresentadas no livro didático.

Em síntese, os dados apresentados, transcritos da entrevista, revelam que os professores fazem uso de aspectos significativos: todas as falas demonstram a relevância dada ao ensino da leitura e escrita em sala de aula. Vejamos:

P: (...) há alguma contribuição para o desenvolvimento da leitura e da escrita (...)?

FRAGMENTO 12:

HOUVE... houve sim, uma vez que ele tinha um material de leitura...

embora não fossem as leituras que eles quisessem fazer, embora não fossem os TEXTOS que eles quisessem produzir é: seguindo o livro didático... QUANDO se usa o livro didático... houve sim, uma vez que ele produziu o seu texto, avaliou o seu texto... voltou para a refacção...

HOUVE uma aprendizagem, não se pode negar tal fato. (Carlos)

Chama-nos atenção a fala do professor Carlos em relação às contribuições advindas do LDP para o trabalho com a escrita de textos: “(...) houve sim, uma vez que ele produziu o seu texto, avaliou o seu texto... voltou para a refacção...

HOUVE uma aprendizagem, não se pode negar tal fato”. O discurso do professor remete à abordagem do texto como processo, uma das concepções expressas no livro didático adotado. Nesse caso, ao se referir a essa perspectiva, o docente

lança mão dos saberes adquiridos na formação profissional. Passemos ao fragmento seguinte:

FRAGMENTO 13:

(...) O livro tem contribuído muito... é um recurso... é um material de apoio... é::: o único material de que dispomos... você sabe, né?

Pronto... quando vou realizar uma atividade de interpretação, por exemplo... eles não querem ler nada... querem responder sem ler...

querem logo encontrar as respostas. Mas... acredito sim... que os temas e as propostas de escrita ... têm ajudado muito... até eu mesma, tenho aprendido muito como... estruturar... ESTRUTURAR um texto...

e vejo também que alguns alunos já estão melhores... já escrevem melhor... porque conhecem o modo de organizar... é::: o texto. (Neide)

Como se pode observar, no discurso de Neide, “O livro tem contribuído muito... é um recurso... é um material de apoio... é::: o único material de que dispomos...”, o manual didático se apresenta como única fonte de pesquisa e como o único recurso didático. Ocupa um lugar de destaque e exerce uma função relevante, seja como delimitador da proposta pedagógica a ser trabalhada em sala, como material de apoio ao encaminhamento das atividades de ensino e aprendizado. Além disso, ao afirmar que os temas e as propostas de escrita “têm ajudado muito... até eu mesma, tenho aprendido muito (...) e vejo também que alguns alunos já estão melhores... já escrevem melhor... porque conhecem o modo de organizar... é::: o texto”, a professora revela que o livro didático pode ser considerado como subsídio para a própria formação, que se mostra insuficiente.

Já as falas das professoras Alice e Lúcia revelam, mais uma vez, a relevância do trabalho com os gêneros textuais:

FRAGMENTO 14:

Em relação à leitura e... à escrita, no::: sétimo ano::: a gente ainda dá pra trabalhar alguma coisa, a parte de biografia, então... a gente::: dá pra trabalhar a parte de biblioteca pra eles pesquisarem algum nome histórico... ou então... a gente trabalhar (...) de acordo com a realidade deles... (Alice)

FRAGMENTO 15:

É::: a questão do trabalho com cartas A:: questão... é: além de/de... é um trabalho que incentiva a:: es-cri-ta... é uma forma de resgatar também... (...) nós não temos hoje a carta escrita... não se comunica hoje, diretamente, através de cartas (...). (Lúcia)

Os aspectos destacados pelas professoras remetem à abordagem da coleção ao discurso dos gêneros textuais sobre a escrita, em que a concepção de escrita subjacente às propostas passa a incluir aspectos sociais no evento de escrita e a identificação de características linguísticas de certos gêneros, seus objetivos e contextos de uso. Retomemos, respectivamente, o que dizem as professoras para a confirmação de nossa hipótese: “Em relação à leitura e... à escrita, no::: sétimo ano::: a gente ainda dá pra trabalhar alguma coisa, a parte de biografia (...)”. “É::: a questão do trabalho com cartas. A:: questão... é: além de/de... é um trabalho que incentiva a:: es-cri-ta... é uma forma de resgatar também...”.

Diante das considerações dos professores colaboradores da pesquisa acerca da coleção de livros adotada, torna-se evidente em suas falas o reconhecimento das contribuições advindas do material didático para o trabalho por eles realizado.