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Duas alterações principais ocorreram para os corintianos a partir da mudança no local das partidas do time: a região da cidade a ser acessada e as especificidades de cada uma das praças esportivas. Nesse capítulo, a partir de situações etnográficas vivenciadas no período dos últimos jogos do time disputados no Estádio do Pacaembu e os primeiros na Arena Corinthians, desenvolverei como essas dimensões foram vivenciadas pelos torcedores.

2.1) Uma noite entre o “comum” e o “incomum” no Estádio do Pacaembu

Com a construção da Arena em Itaquera, para jogos do Corinthians após a Copa do Mundo, o Estádio do Pacaembu deixaria de ser frequentado pelos torcedores. Desde sua inauguração, o estádio era utilizado pelo Corinthians para disputar jogos na cidade de São Paulo, o que foi intensificado a partir da década de 1980. Clássicos estaduais, jogos decisivos e finais de campeonatos com mando do Corinthians, até o ano de 2008, eram disputados no Estádio do Morumbi, o que deixou de ocorrer em 2009. Até 2002, poucos jogos foram disputados no Estádio Alfredo Schürig (Parque São Jorge)153 e, eventualmente nesse período de mais de trinta anos, entre 1980 e 2014, partidas com mando do Corinthians foram disputadas em outros estádios na cidade de São Paulo, como o Canindé154 e a Arena Barueri155.

153 Conforme dados de Celso Unzelte, até 2009 foram 468 partidas, “menos de 10% do total da história do

clube” (Unzelte, 2009, p. 30).

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Consultando-se dados de jogos do Corinthians no site http://pelejas.com/ (acesso em 22/3/2016), vê-se que no período indicado a equipe disputou, como mandante na cidade de São Paulo, 895 partidas no Estádio do Pacaembu, 183 no Estádio do Morumbi, 174 no Estádio Alfredo Schürig, 56 no Estádio do Canindé, 31 no Parque Antártica e 3 na Arena Barueri.

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Como Barueri se localiza na região metropolitana, a possibilidade de acesso à sua arena por meio dos trens da CPTM a configura como um estádio relativamente acessível aos corintianos que residem em São Paulo. Tal dado foi observado em janeiro de 2015, em que acompanhei agrupamentos de torcedores em deslocamentos para partidas da equipe sub-20 de futebol do Corinthians, que disputou seis partidas válidas pela Copa São Paulo de Futebol Juniores em Barueri. Os deslocamentos de torcedores das mais diversas regiões da Grande São Paulo utilizando trens da CPTM era intenso, inclusive em partidas disputadas à tarde em dias de semana.

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Esses dados são relevantes para compreender a familiaridade dos torcedores com relação ao Estádio do Pacaembu, com representações sobre seus setores, usos dos arredores e caminhos para chegar e partir dele. Visto que meus interlocutores raramente ultrapassavam os quarenta anos de idade, seus principais referenciais e memórias de locais para jogos do Corinthians na cidade de São Paulo eram o Estádio do Pacaembu e o do Morumbi – o segundo, pouco acessado nos últimos cinco anos, era maculado como um território rival e acionado como local em geral frequentado por torcedores mais velhos.

Também a partir desses dados é possível compreender a noção de acontecimentos esperados e inesperados para um dia de jogo, tanto com relação aos trajetos para a região do Pacaembu, quanto com relação ao interior do estádio, parcialmente interrompidos na noite de 5/2/2014156.

Nessa data o Corinthians disputou contra a equipe do Clube Atlético Bragantino, no Estádio do Pacaembu, uma partida válida pelo Campeonato Paulista. Com o horário de início do jogo marcado para as 22h, encontrei-me por volta das 20h com um torcedor não organizado, Fábio, na estação Ana Rosa do metrô – que permite acesso à linha 2 verde, por onde seguiríamos até a estação Clínicas, distante 1km do estádio e utilizada por torcedores para a chegada e retorno no Pacaembu.

Encontramo-nos nas catracas da estação e seguimos para o andar inferior, onde estão as plataformas de embarque. Na plataforma em que param os trens que seguem rumo à estação Clínicas, o local de abertura das portas dos vagões é indicado por barras de ferro fixadas ao chão, formando baias. Caminhava com Fábio ao meu lado esquerdo e as baias estavam à minha direita; ao observar uma vazia cheguei a interromper minha caminhada, retomando-a ao entender um gesto de Fábio: balançou a cabeça negativamente e apontou para outra baia, alguns metros à frente, onde parou. Quando o alcancei, comentou: “aqui é melhor, lá na [estação] Clínicas já sai na cara157

da escada”.

156 Destaco as peculiaridades deste dia de jogo atípico com o intuito de apresentar comportamentos não

regulares dos torcedores, que destacam, em face do estranhamento de muitos sujeitos com a situação, justamente, as regularidades na postura dos torcedores durantes os jogos – nos itens seguintes deste capítulo abordadas em detalhes.

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A mídia esportiva havia noticiado, no dia da partida158, que a mesma envolvia forte tensão entre torcedores organizados e jogadores do clube, iniciada alguns dias antes. Das cinco primeiras partidas do campeonato, o Corinthians saíra derrotado em três, sendo uma delas, em 29/1/2014, por 5x1 para o rival Santos. No sábado, 1/2/2014, cerca de cem torcedores tinham ido ao Centro de Treinamento (CT) do clube para pressionar o técnico da equipe e exigir mudanças na postura dos jogadores159. A resposta dos atletas foi expressa por meio de uma carta, publicada no site do Corinthians em 4/2/2014. Nela, além de proporem um estado de greve, cobrando maiores garantias de segurança para o trabalho, dividiam a torcida corintiana em dois grupos: em um estaria o “torcedor de bem” e em outro os “marginais ligados às torcidas organizadas”160. Para o jogo daquela noite esperava-se uma “réplica” dos torcedores organizados.

Ao chegarmos à estação Clínicas, cerca de 1h30 antes do horário de início do jogo, Fábio comentou com estranhamento a baixa quantidade de pessoas que transitavam com camisas do Corinthians no interior da mesma, tomando como base outros dias de jogos recentes em que estivera161, em que a movimentação de torcedores na estação era “bem maior”. Seguindo suas orientações, caminhamos para o estádio entre paradas para comprar uma cerveja com um vendedor ambulante em frente à saída da estação Clínicas e um sanduíche de pernil em um carro estacionado na Rua Major Natanael, que, para o pedestre, se bifurca em duas vias: à direita a Rua Capivari, que permite acesso à Rua Itápolis, e à esquerda a Rua Desembargador Paulo Passaláqua, ambas laterais ao Estádio do Pacaembu.

Conforme caminhávamos, Fábio ressaltou o estranhamento de haver poucos torcedores se dirigindo para o estádio e que havia mais policiais militares no trajeto do que o habitual; sugeriu que poderia ter relação com a expectativa de alguma ação

158 “Clima tenso” foi o termo utilizado pelo site A Gazeta Esportiva para se referir ao jogo:

http://esportes.terra.com.br/corinthians/contra-bragantino-corinthians-busca-futebol-e-tranquilidade- perdidos,b08a11139cdf3410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html (acesso em 22/3/2016).

159 O episódio teve destaque na mídia esportiva como uma “invasão”:

http://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/2014/02/torcedores-invadem-centro-de- treinamento-do-corinthians.html (acesso em 22/3/2016).

160 Na carta os jogadores se referem aos torcedores organizados de maneira a generalizá-los como sujeitos

violentos, imputando a esses a responsabilidade por “mais de 90% das brigas nos estádios nos últimos anos”: http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,jogadores-do-corinthians-se-dizem-fartos-e- defendemgreve,1126608 (acesso em 22/3/2016).

161 Fábio é associado ao Fiel Torcedor desde julho de 2012, e desde então havia deixado de ir a poucos

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diferenciada por parte dos torcedores. Nas paradas para compra de alimentos e bebidas conversei com os vendedores, que atribuíam as impressões indicadas por Fábio tanto à má fase do time, que afastaria muitos torcedores dos jogos, quanto a um intenso impedimento na atuação dos vendedores ambulantes.

Chegamos à altura da Rua Major Natanael, de onde o pedestre tem duas opções de caminho para chegar à Praça Charles Miller, frontal ao estádio e ao portão principal do mesmo, nosso destino: seguir pela Rua Des. Paulo Passaláqua ou pela Rua Capivari, pela qual após uma curva chega-se à Rua Itápolis, lateral ao estádio e à praça. Fábio indicou que seguíssemos pelo caminho em que o acesso ocorre pela Rua Itápolis, ainda que um trajeto mais longo, pois tinha conhecimento de que a entrada para o setor de visitantes se dá pela Rua Des. Paulo Passaláqua e, eventualmente nas horas que antecediam as partidas do Corinthians a passagem de corintianos por esta rua era impedida por policiais militares, para evitar confrontos entre torcedores adversários.

Passamos por toda a lateral do estádio onde alguns cambistas162 ofereciam a compra e venda de ingressos aos transeuntes, com frases curtas e ditas em tom de voz baixo, como “ingresso, ingresso” ou “sobrando ingresso eu compro”. Vendedores ambulantes utilizavam carros adaptados estacionados rente à calçada para o preparo e venda de sanduíches, abordando os torcedores também com frases curtas “pernil, calabresa e dog”163. Nas calçadas outros vendedores ofereciam “cerveja, „refri‟ e água”, armazenadas em caixas térmicas acopladas em pequenos carrinhos de alumínio. Outros, utilizando-se de cordas amarradas em postes e árvores, formando varais, expunham e vendiam camisas, bandeiras e bonés alusivos ao SCCP.

Quando chegamos à escada de concreto próxima à fachada frontal do estádio164, que permite acesso à Praça Charles Miller, notamos que os acessos, tanto pela calçada da Rua Itápolis quanto pela praça, estavam fechados com placas de aço, encaixadas umas nas outras, formando um extenso paredão cromado. Fábio atribuiu essa outra diferença com relação aos demais dias de jogos às especificidades daquela partida, e seguimos caminhando até a próxima escada, por onde acessamos a praça. Tais escadas

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Nomeação atribuída às pessoas que adquirem ingressos e os revendem a um preço superior nas imediações das praças futebolísticas.

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Respectivamente, sanduíches preparados com carne de pernil de porco desfiado, linguiça de porco defumada e cachorro quente com salsicha e demais condimentos.

164 Três escadas ligam a Rua Itápolis à Praça Charles Miller, e outras duas o fazem com relação a Rua

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estão situadas nos morros laterais, e são ladeadas por áreas com o piso de terra (em alguns trechos há porções gramadas) e muitas árvores.

Na base da escada, já na praça, as áreas da calçada próximas a mesma eram ocupadas por dois agrupamentos de torcedores organizados, de um lado pessoas vestindo roupas da Camisa 12, e de outro, da Pavilhão 9. Espaços esses tomados como “pontos de encontro” pelos associados dessas torcidas.

Atravessamos a praça em direção às entradas do portão principal, divididas em três corredores formados por gradis móveis com cerca de um metro de altura, afixados uns nos outros. O primeiro corredor, posicionado à esquerda, é exclusivo para a entrada de torcedores organizados, que ocorre pelo portão 3 (à esquerda do portão principal), e assim identificado com uma faixa que exibe os símbolos das seis torcidas organizadas corintianas e o escrito “entrada torcidas organizadas”. O segundo, imediatamente ao lado dele, e o terceiro, posicionado à direita da fachada frontal do estádio, servem aos demais torcedores com ingressos para os setores de arquibancada amarela e verde. Os dois corredores para a passagem de torcedores não associados a torcidas organizadas desembocam na entrada do estádio pelo portão principal, área acessível apenas por meio da passagem pelos corredores, uma vez que é isolada por fileiras de grades posicionadas em paralelo à fachada frontal.

Essa divisão na entrada dos torcedores, entre organizados e não organizados, ocorria em razão da verificação do “Cartão da Paz” dos primeiros, e inexistia no interior do estádio, em que era livre o trânsito dos torcedores pelos dois setores de arquibancadas principais.

Chegamos à área gramada em frente aos portões às 21h10, e nela permanecemos por alguns minutos, Fábio queria tomar mais uma cerveja antes do início da partida e havia vendedores ambulantes por ali. Enquanto observava as especificidades na atuação de alguns ambulantes165, fui abordado por Anderson166, que passava para entrar no estádio. Ao cumprimentar Fábio, Anderson comentou que “não o conhecia”, mas sim que o “reconhecia de vista”, pois costumavam acompanhar as partidas na mesma região

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A fim de discutir as distintas estratégias de atuação dos vendedores ambulantes nos arredores das praças esportivas, descrevo e discuto tal situação, junto a outras, no terceiro capítulo.

166 No ano de 2007, quando realizei estudos em um cursinho preparatório para o vestibular, Anderson e eu

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das arquibancadas amarelas: “perto da segunda escada”167

, indicou Fábio. Acompanho a conversa dos dois sobre o estágio atual das obras da Arena Corinthians e a partilha de hipóteses sobre como seria ir a jogos na mesma.

Anderson comentou que para ele ir aos jogos seria “esquisito demais”, por morar no bairro da Santa Cecília, vizinho ao do Pacaembu, onde está localizado o estádio, tinha por costume ir e voltar das partidas caminhando. Fábio comentou que para ele também ocorreria uma mudança significativa com relação ao deslocamento; por morar próximo à estação de metrô São Judas, na linha 1 azul, calculava que “demora mais de uma hora para chegar lá, indo de metrô”.

As dúvidas se prolongavam com relação ao próprio uso do metrô, cuja circulação na cidade de São Paulo é encerrada diariamente por volta da meia noite168, quanto ao retorno de partidas iniciadas às 22h. Tais questões guardavam relação com a própria experiência torcedora no Estádio do Pacaembu169, como se verá.

Cerca de vinte minutos antes do horário marcado para o início da partida, Fábio e Anderson decidem entrar no estádio. Passamos por um dos corredores formado por grades móveis e adiante ingressamos na fila para a revista policial – apontada por Fábio como curta naquela noite – e, por fim, chegamos às catracas. Junto às mesmas, homens vestindo coletes na cor laranja com símbolos do Corinthians e da empresa Omni170

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Em um vídeo publicado pelo Corinthians em suas páginas na internet, com o título de “Obrigado Pacaembu”, um torcedor comenta: “o curioso do Pacaembu é que quem frequenta bastante o estádio, quando procura os amigos, você sabe mais ou menos onde cada amigo senta, onde cada amigo vai ficar, você já tem o seu lugarzinho para ficar dentro do estádio”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b3Je9qai3GA (acesso em 15/6/2016). Nesse caso não se trata de amigos, mas de “conhecidos” que se reconhecem justamente por preferirem acompanhar os jogos do mesmo local.

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As estações de metrô em São Paulo funcionam, em dias de semana, até poucos minutos após a meia noite (o horário preciso de encerramento das operações varia entre as estações), retomando o funcionamento às 4h40, o que influencia no deslocamento dos torcedores para jogos que se iniciam às 22h e são encerrados aproximadamente às 00h.

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O horário das partidas disputadas às quartas-feiras, iniciadas entre às 21h45 e 22h, é tido pelos torcedores como agendado em razão da grade de programação da Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão das principais competições disputadas pelos grandes clubes brasileiros. Assim, tal questão não se configuraria como um fator a afetar apenas corintianos, como torcedores de distintos clubes brasileiros, o que é notável com a campanha “jogo às dez da noite não”, que, com o apoio de torcidas organizadas e entidades ligadas a partidos de esquerda, intercede pelo término das partidas com início tão tardio, vide: http://www.vermelho.org.br/noticia/270627-6 (acesso em 18/4/2016). É interessante notar que a imagem utilizada para veicular a principal mensagem da campanha, impressa em cartazes distribuídos para torcedores e ilustrando publicações em websites, são produzidas com distintas combinações de cores, adequando-se, assim, a tal elemento nas identidades clubísticas.

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orientavam os torcedores em caso de dúvidas ou problemas com o uso do cartão magnético do Fiel Torcedor no leitor das catracas171.

O portão principal do Estádio do Pacaembu é paralelo às traves e às linhas de fundo do campo; a entrada ocorre no ponto central da curva do estádio em formato de “U”, abaixo da linha que divide o setor amarelo do verde, e desemboca em uma alameda com piso de asfalto aproximadamente no mesmo nível do gramado de jogo. Alameda e campo são separados por uma grade vertical de ferro com 3,70m de altura172, chamada alambrado, que circunda todo o campo, e outra área de piso, acessada por gandulas173, policiais militares e jornalistas. As arquibancadas são acessadas por meio de escadas.

Imediatamente após nossa entrada, Fábio e Anderson se viraram para o lado esquerdo, seguindo na direção do setor amarelo, onde tinham o hábito de acompanhar as partidas. Apoiei-me no alambrado, de costas para o campo e olhando para as arquibancadas, de onde foi possível observar a ocupação dos setores pelas torcidas organizadas e esboçar uma primeira geografia dessa ocupação, adensada nos demais jogos em que estive no Pacaembu. Notei que os instrumentos de bateria utilizados pelas torcidas para ditar o ritmo das músicas estavam repousados sobre o chão, o que era incomum: nos minutos que antecedem as partidas os torcedores já os utilizam para tocar músicas.

Os ingressos de Fábio e Anderson, ambos associados ao programa Fiel Torcedor pelo plano “Minha Vida”, eram para o setor verde, no entanto, se valiam do livre trânsito entre este setor e o amarelo para acompanhar os jogos próximos à concentração formada ao redor da bateria dos Gaviões da Fiel, seguindo os cânticos e ações corporais propostos pela torcida. Subi junto com eles a escada, rente à grade que separa os setores amarelo e laranja174, e acessamos os degraus de arquibancada na altura da “segunda escada” do setor, referência ao trecho da escada em que há uma curva culminando em

171 Os ingressos para as partidas do Corinthians são adquiridos pelos associados do Fiel Torcedor pela

internet, inseridos digitalmente no cartão magnético entregue no ato da associação e validados em catracas eletrônicas na entrada dos estádios. O Fiel Torcedor e os modos de venda de ingressos serão discutidos no terceiro capítulo.

172 Dados sobre as especificidades do Estádio do Pacaembu obtidos a partir do laudo do 2º Batalhão de

Choque de São Paulo (Laudo técnico nº 004, 2014).

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Pessoas responsáveis pela reposição das bolas que excedem os limites do campo de jogo.

174 Setor de arquibancada lateral com cadeiras na cor laranja que tem capacidade para 6.467 pessoas; no

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uma área plana, sem degraus, imediatamente antes da continuação da escada, que segue até o topo do setor, onde há balcões de lanchonete, banheiros e portões para saída do estádio.

Alguns minutos após chegarmos ao local indicado por eles como melhor para acompanhar a partida, por estar perto dos Gaviões da Fiel e não se ter a visão do campo encoberta pela grade que divide os setores, um homem alto vestindo a camisa oficial dos Gaviões da Fiel levantou-se e pediu a atenção dos torcedores, que, à espera da entrada dos jogadores em campo, permaneciam sentados. Era o presidente da torcida e em voz alta orientou: “Vamos ficar assim [apontou para os torcedores sentados] até os quarenta do primeiro tempo, para eles verem que falta fazemos”.

Fábio, que desde o nosso desembarque na estação de metrô Clínicas comentava que a réplica dos torcedores à carta emitida pelos jogadores poderia ocorrer com enfrentamentos físicos, aplaudiu a fala junto aos demais, “Como estão sendo inteligentes!”, comentou. Manteve-se sentado na arquibancada, acatando, tal qual em outras situações, a corporalidade proposta pela torcida organizada – ainda que, desta vez, se tratasse de um comportamento oposto ao usual, tomado, nesse sentido, como uma forma de protesto175. Durante os quarenta minutos iniciais da partida, as torcidas organizadas corintianas não cantaram suas músicas ou tocaram seus instrumentos, e a grande maioria dos torcedores nas arquibancadas principais permaneceram sentados e em silêncio.

Uma série de acontecimentos classificados por alguns torcedores como incomuns em jogos do Corinthians ocorreram nas arquibancadas.

Olhando para o setor tobogã, do outro lado do campo, Fábio comentou que não

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