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No início das atividades, foram entregues um Termo de Participação na Pesquisa e um Questionário de Identificação Básica, contendo perguntas relativas à idade, experiências prévias com o conteúdo da disciplina, relação pessoal com Matemática e experiências diferenciadas nessa área. Além desse Questionário, realizamos, no início do segundo semestre letivo (agosto), uma Entrevista Coletiva semi-estruturada com a participação dos 10 sujeitos participantes da pesquisa.

A entrevista é um procedimento comum em pesquisas de caráter qualitativo na área das Ciências Sociais, e configura-se essencialmente como “uma técnica, ou método, para estabelecer ou descobrir que existem perspectivas e pontos de vista sobre os fatos, além daqueles da pessoa que inicia a entrevista” (FARR, 1982 apud GASKELL, 2000, p. 65) e, mais do que isso, a entrevista representa o reconhecimento do valor desses outros pontos de vista para a compreensão do fenômeno estudado.

Optamos por uma entrevista semi-estruturada, pois

Embora o conteúdo mais amplo seja estruturado pelas questões da pesquisa, na medida que estas constituem o tópico guia, a idéia não é de fazer um conjunto de perguntas padronizadas ou esperar que o entrevistado traduza seus pensamentos em categorias específicas de resposta. As perguntas são quase que um convite para o entrevistado falar longamente, com suas próprias palavras e com tempo para refletir. Além do mais, o pesquisador pode obter esclarecimentos e acréscimos em pontos importantes com sondagens apropriadas e questionamentos específicos (GASKELL, 2000, p. 73)

Os tópicos guia que orientarão a nossa entrevista podem ser divididos em três grandes Eixos Temáticos relacionados aos objetivos e interesses desta pesquisa. São eles:

A) a opinião dos alunos sobre os problemas, incluindo aspectos específicos de algum problema, resolução ou comentário;

B) a relação dos alunos com os comentários feitos pelo pesquisador;

C) a relação dos alunos com os Relatórios de Múltiplas Entradas e a Dinâmica RCR.

1. O que vocês acharam dos problemas de maneira geral em termos de dificuldade? Por quê?

2. O que vocês diriam dos problemas propostos em relação aos problemas normais estudados na disciplina, listas de exercícios e livros? Por quê?

3. Há algum problema que vocês acharam que destoou dos demais? Por quê? 4. Vocês querem dizer algo sobre algum problema específico?

Dentro do Eixo Temático B, foram feitas as seguintes perguntas:

1. Em relação aos comentários, eles eram úteis para a resolução do problema? Por quê? 2. Houve alguma situação em que os comentários não foram úteis? Por quê?

3. Qual o tipo de comentário que vocês consideram ideal para ajudá-los na resolução de algum problema? Por quê?

4. Quais as vantagens e desvantagens que vocês perceberam entre esses comentários escritos e comentários feitos presencialmente pelo professor? Por quê?

Dentro do Eixo Temático C, foram feitas as seguintes perguntas:

1. Vocês costumavam consultar os relatórios anteriores antes de preencher um novo relatório?

2. Em alguns casos, vocês demonstraram certo aborrecimento quando o pesquisador insistia muito em algum problema, ao passo que, em outros problemas, isso não ocorreu mesmo quando passavam de 5 relatórios. Por que isso acontecia?

3. Em relação ao tempo entre cada interação (ciclos de uma semana), vocês acham que poderia ter sido melhor? Como?

4. De que forma vocês acham que essa dinâmica poderia ser incorporada como atividade regular de uma disciplina? Por quê?

Optamos por uma entrevista coletiva (ou grupo focal), pois:

O objetivo do grupo focal é estimular os participantes a falar e a reagir àquilo que as outras pessoas do grupo dizem. É uma interação social mais autêntica do que a entrevista em profundidade [...], os sentidos ou representações que emergem são mais influenciados pela natureza social da

interação do grupo em vez de se fundamentarem na perspectiva individual, como no caso da entrevista em profundidade (GASKELL, 2000, p.75)

Além disso, a opção por uma entrevista coletiva nos pareceu mais adequada a partir da constatação, em decorrência do envolvimento do pesquisador com os sujeitos, de que alguns deles eram muito tímidos e, provavelmente, teriam dificuldade para se expressar no caso de uma entrevista individual, ainda mais com a presença da câmera.

No momento da entrevista, além de seguirmos as recomendações de Gaskell (2000) acerca da preparação e planejamento de entrevistas qualitativas, entregamos aos alunos os relatórios de múltiplas entradas que eles preencheram ao longo de todo o ano.

A Entrevista Coletiva foi realizada no dia 30 de agosto de 2007, com o reinício das aulas do semestre seguinte ao que foi utilizado para a coleta dos Relatórios de Múltiplas Entradas. Ela foi realizada em uma das salas do Departamento de Matemática e teve duração um pouco inferior a uma hora.

Outro detalhe importante da Entrevista Coletiva diz respeito aos participantes. Como os alunos foram apenas convidados a participar dessa entrevista, apenas seis dos dez sujeitos da pesquisa compareceram. Vale salientar que esses seis estão entre os sete que demonstraram maior assiduidade nas atividades desenvolvidas com os Relatórios de Múltiplas Entradas.

Apesar de não contarmos com a presença de todos os alunos, a entrevista foi rica em termos de conteúdo, e foi possível explorar com qualidade todos os tópicos que havíamos previsto na elaboração do roteiro.

A entrevista foi filmada e está disponível em formato digital (DVD) como anexo da Dissertação (Anexo C). Além da transcrição dos trechos considerados de interesse para a Análise dos Dados, dividimos o vídeo da Entrevista em capítulos, de forma que os trechos que forem citados possam ser acessados facilmente em um aparelho de DVD ou software para reprodução desse formato, a partir de sua numeração.

CAPÍTULO 3

Discussão e Análise dos Dados

Com o intuito de caminhar na direção do objetivo desta pesquisa - Evidenciar as potencialidades da Dinâmica RCR como um recurso didático-pedagógico para o ensino e aprendizagem de Matemática - apresentaremos neste capítulo a análise e a discussão dos dados coletados. Antes disso, contudo, convém uma consideração sobre a maneira como conduzimos essa análise.

Durante a Coleta dos Dados, à medida que cada resolução era lida e relida para a elaboração dos comentários, notamos que estávamos o tempo todo interpretando o conteúdo dos Relatórios preenchidos pelos sujeitos da pesquisa em busca de interpretações e inferências sobre as condições em que aquilo havia sido produzido pelo aluno. Como salienta Cury (2007):

Ao analisar erros dos alunos [...], notei que, independentemente das teorias que fundamentavam as pesquisas e da forma como as respostas eram apresentadas, eu estava analisando o conteúdo da produção, ou seja, empregando uma metodologia de análise de dados conhecida como análise de conteúdo. (p. 61)

Essa metodologia, apesar de ser naturalmente empregada sempre que alguém busca compreender não apenas o conteúdo de uma mensagem, mas também as condições nas quais esta fora produzida por uma pessoa, grupo ou civilização, é conhecida como “Análise de

Conteúdo”, e tem como marco na sua elaboração teórica os trabalhos de Laurence Bardin. Bardin (1979) definiu a Análise de Conteúdo da seguinte maneira:

Designa-se sob o termo análise de conteúdo: um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção [...] dessas mensagens. (p. 42)

Isso posto, notamos que, além de termos utilizado a Análise de Conteúdo durante a própria Coleta dos Dados, enquanto analisávamos as respostas dos sujeitos para elaborar os comentários, também a empregamos no momento da Análise dos Dados. Dizemos isso, pois identificamos no nosso trabalho essencialmente as mesmas etapas salientadas por Bardin (1979) para a Análise de Conteúdo: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados.

Na primeira etapa – pré-análise - nosso objetivo era nos impregnarmos dos dados coletados de forma a identificar características gerais, estabelecer os objetivos e hipóteses da análise e definir quais seriam as resoluções que seriam discutidas com mais profundidade e quais seriam utilizadas para ilustrar os fenômenos que pretendíamos destacar.

Na segunda etapa - exploração do material - após eleger os fenômenos de interesse e os casos que utilizaríamos para discutí-los, buscamos explorar com mais profundidade cada um destes, não somente analisando-os isoladamente, mas também buscando paralelos com outros dados coletados na entrevista e presentes em outras resoluções.

Para então, na terceira etapa - tratamento dos resultados - interpretarmos os dados selecionados e tecermos algumas conclusões que emergiram a partir deles, referentes aos objetivos da pesquisa.

Nas seções a seguir faremos a análise e a discussão dos dados coletados, enfocando em cada uma delas um fenômeno de interesse em termos dos objetivos desta pesquisa. Durante essa discussão, lançaremos mão de algumas resoluções, de alguns dos sujeitos, as quais consideramos mais significativas em termos do fenômeno em questão, bem como das falas dos sujeitos registradas na entrevista.