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Entrevista com o servidor 4

No documento angelitapereirarodriguesferraz (páginas 88-91)

5. PERSEPÇÃO DOS ASSISTENTES DE HOMOLOGAÇÃO

5.1.4 Entrevista com o servidor 4

Esse servidor é uma pessoa muito tímida, quando estava fazendo minhas entrevistas com os trabalhadores, acabamos fazendo amizade, mas nós nunca conseguimos desenvolver uma conversa por mais de 5 minutos. Digo isso, porque é muito difícil interrogar essas pessoas, elas demonstram por diversas formas que não responderão mais nada sobre o assunto e como eu já disse tenho as minhas limitações naturais de não querer ser inconveniente.

Em primeiro momento ele disse que os direitos chamados de valores eram valores mesmo. Que a conferência dos documentos para homologação teria que ser o mais rápido possível para que o empregado recebesse o valor mínimo, e se preferisse teria de recorrer à justiça para discutir seus direitos. Entretanto, por fim ele constatou que realmente as ressalvas se tratavam de direitos, com um riso, demonstrando surpresa com sua descoberta.

É mais acho que seria mais valores mesmo, porque é melhor o empregado receber o que está descrito na rescisão, né? E tentar receber um valor mínimo, do que não fazer a rescisão e depois tentar receber o que faltou na justiça. Mas ao mesmo tempo é um direito também, né? (risos).

Quando questionado sobre a utilidade do homologador para dirimir dúvidas sobre rescisão de contrato de trabalho, lembrou que essa atribuição é do auditor fiscal, mas que se o homologador fosse bem treinado seria conveniente e ampliaria o acesso a informação para o trabalhador.

Também recordou que o telefone 158 é uma alternativa para dúvidas do trabalhador, nesse momento eu tive que interceder, porque já tinha tido uma experiência com esse recurso, no passado, por conta justamente da reclamação que um trabalhador havia me feito, ele não conseguia falar com uma atendente para explicar-lhe a situação do seu seguro desemprego e eu tive curiosidade de saber se ele estava falando a verdade, também só tive a oportunidade de escutar respostas gravadas pela máquina. Relatei isso a alguém de Brasília, que me contou ser um cal Center formado por trabalhadores terceirizados, ou seja, os atendentes do telefone 158 não tem o mesmo preparo que os servidores lotados nas agencias do MTE.

Mas como eu prometia fazer entrevistas bem rápidas, não quis me alongar nessa história e preferi argumentar com o servidor por outro caminho, acentuando a oportunidade de estar diante dos dois lados e assim promover uma pacificação entre eles. Ele reconheceu que realmente tenta fazer interveniência, para não prejudicar nenhuma das partes, mas insistiu que o telefone é outra alternativa.

É porque na verdade, né? Quem tem competência para fazer a homologação é o auditor fiscal, mas como falta auditor fiscal, né? Delega a função para os agentes administrativos. Mas eu acredito que o homologador, bem treinado e que conheça os direitos trabalhistas pra dar informação correta para o trabalhador é uma referência pra poder dar informação para o trabalhador.

E aumentaria o acesso à informação, e agora nós temos também o telefone 158, que dá informação ao trabalhador, tira dúvida trabalhista. Tira um pouco do peso, né? Porque a realidade é que não tem muitos auditores fiscais, também não tem muitos agentes administrativos, então acaba que quem é prejudicado é o trabalhador. Ai a função do homologador poderia servir pra isso, de dar informação, né? Desafogar o judiciário um pouco e melhoraria, né? Por agente administrativo, porque se fosse uma função do agente administrativo melhoraria o salário, a remuneração. E seria mais uma

função, atribuição que auxiliaria para dar a informação que o trabalhador precisa.

De repente ele vem buscar informação aqui, agente fica até sem graça! Porque é segunda-feira, “-não é só terça ou quinta de uma às quatro e meia”. Mas acho que a melhorando, né? Com esse telefone, 158, espero que dê certo. Pra melhorar as informações pra eles.

Eu: você já testou esse telefone? Servidor 4: não.

Eu: Eu já tentei, agente fica quase o tempo todo no menu de alternativas, acho que deve ser muito difícil falar com uma atendente lá e também o bom de o homologador a ali é porque ele tá com as duas partes, né? Então, de alguma forma ele seria uma referência do estado.

Servidor 4: é. Quando eu faço homologação eu tento até diminuir o conflito. Fazer a parte de conciliador pra poder não pesar tanto pro empregador, mas pro empregado receber todos os direitos. Mas infelizmente a ressalva muitas vezes não é cumprida e ele tem que recorrer ao judiciário, e como é coisa pequena, às vezes, eles acabam preferindo deixar isso pra lá.

Com ele, aproveitei a oportunidade para saber como é a capacidade acadêmica dos servidores componentes do MTE, naquela localidade, perguntando se ele tem formação e se sabia de alguém que não tivesse. Porque considero a graduação uma ótima oportunidade de desenvolvimento da aptidão para intermediar conflitos. Já que nesse momento temos contato com discussões teóricas e aprendemos a respeitá-las. Ele me respondeu que todos têm formação, exceto o servidor 5, o qual está em vias de se formar30.

Eu: você tem curso superior?

Servidor 4: tenho, eu sou engenheiro de produção.

Eu: Porque eu não conheço agente administrativo que não tenha. Porque isso demonstra capacidade de repassar as informações de forma comprometida para o trabalhador.

Servidor 4: é eu acho que só o servidor 5, ele tá formando. Mas todos tem. E realmente precisa melhorar, né? A remuneração. E começa com remuneração, dando mais responsabilidade pro agente administrativo.

Quando questionado sobre os motivos que levam os trabalhadores a aceitarem as ressalvas e renunciarem aos seus direitos, disse que acreditava ser pela urgência de receber o que estava incontroverso na rescisão de contrato, aproveitando a oportunidade da homologação para isso.

30 O servidor 5 ainda não conseguiu se formar porque teve um problema de saúde, portanto, considero que

Servidor 4: eu acho que por falta de conhecimento. Eles acham que só com a ressalva a empresa é obrigada a pagar e eles também precisam receber o valor, porque muitas pagam na hora da homologação. E eles preferem receber o valor integral, que tá na rescisão e depois tentar correr atrás, pra reaver uma parte menor. Acho que pra não perder a oportunidade de receber uma quantia que de repente eles estão precisando.

Mais uma vez o servidor também observou a necessidade do trabalhador, a qual se sobressai à possibilidade de questionar seus direitos na rescisão de contrato de trabalho.

No documento angelitapereirarodriguesferraz (páginas 88-91)