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Entrevista ao Dr José Silva Pais

No documento Dissertação António Sebastião (páginas 86-94)

V. INDICE DE ANEXOS

5. Estudo de Caso – Eletrificação Rural – Caso de Moçambique

5.4 Recolha e Tratamento das Entrevistas

5.4.3 Entrevista ao Dr José Silva Pais

Igualmente, como referido anteriormente na entrevista com o Dr. Joaquim Dai, a entrevista com o Diretor Executivo – CFO do grupo Cabelte também foi estruturada com objetivo final de analisar duma forma geral o enquadramento dos respetivos o projetos de energias em Moçambique. Seguiram-se várias questões abertas sobre a caraterização da empresa, enquadramento na economia Moçambicana, quais projetos que se encontram a desenvolver e se as mesmas têm tido uma priorização por parte das autoridades, aproveitando nesta entrevista a visão dum investidor estrangeiro.

5.4.3.1 Análise das Questões de Pesquisa

Primeira questão de pesquisa: Pode caracterizar sucintamente a atividade do Grupo Cabelte?

Resposta: O Grupo Cabelte é um grupo empresarial, de capitais privados portugueses, com 5 unidades industriais, 4 em Portugal e 1 em Espanha, que se dedica à produção e comercialização de cabos para transporte de energia em cobre e alumínio, de baixa, média e alta tensão, bem como de cabos de telecomunicações em cobre e fibra ótica e ainda cabos e condutores para fins especiais, como para o sector automóvel, indústria petroquímica, construção naval, e outros. (Pais, 2012)

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O Grupo exporta atualmente cerca de 65% da sua produção, tendo tido o sector de exportação um crescimento relevante nos últimos anos, tornando-se absolutamente relevante na atividade e desenvolvimento do projeto empresarial respetivo. (Pais, 2012)

O desenvolvimento dos projetos e das políticas da eletrificação rural estão interligadas de várias maneiras e por atividades complementares. Pode-se assim chamar de atividades “condicionantes necessárias” visto que são essenciais e catalisadores do desenvolvimento da eletrificação rural. Reforçando esta ideia, Zomers, (2001) indica que “Quanto mais desenvolvida for a região maior é o impacto no crescimento

económico proveniente da eletrificação, concluindo-se que a eletrificação é um "catalisador seletivo" no sentido de que as regiões melhores equipadas a nível de infraestruturas de energia (sistemas de transportes e água) colhem rapidamente os

efeitos estimulantes que as áreas menos desenvolvidas não beneficiam.

Estes pressupostos evidenciam os motivos pela qual o grupo Cabelte interessa-se pelos projetos de energia em Moçambique, não só pelos motivos estratégicos de internacionalização do grupo mas também perceção da necessidade de que o governo tem e deve efetuar parcerias para o desenvolvimento das politicas energéticas para equipar-se com infraestruturas que alavanquem as suas ferramentas politicas e proporcionam a execução e obtenção dos objetivos traçados na promoção da acessibilidade de energia elétrica as população rurais.

No caso de Moçambique pode-se afirmar que o sucesso da eletrificação rural depende também em parte da comercialização de cabos de transporte de energia em cobre e alumínio, de cabos de telecomunicações que por sua vez complementam e servem de suporte ou de plataforma para o desenvolvimento das atividades e dos projetos de eletrificação rural. Uma vez que estes cabos tornam as regiões melhores equipadas a nível de infraestruturas de energia.

Segunda questão de pesquisa: Relativamente à importância da exportação, que como referiu têm uma relevância crescente ma atividade das empresas do Grupo, quais são os principais mercados de destino?

Resposta: Costumamos agrupar os nossos mercados de exportação como mercados de sustentabilidade e mercados de oportunidade.

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Os primeiros são mercados onde atuamos há já alguns anos e que se revelam como sendo destinos privilegiados para os nossos produtos, neste caso encontram-se os mercados de Espanha, França, Reino Unido, Suécia, Macau, Angola, Moçambique. (Pais, 2012)

Destes destaco os mercados Angolano e Moçambicano pela nossa presença antiga e, sobretudo, pelo seu enorme potencial de crescimento no futuro próximo. Carvalho (2010), destaca que um dos motivos para a internacionalização das empresas são similaridades culturais, a história e até a língua. Moçambique e Angola representam um “enorme potencial de crescimento no futuro próximo” devidas as recentes descobertas de recursos energéticos essências no mundo, refere-se, no caso de Moçambique o petróleo, gás natural, Ouro, alumínio, carvão, mas por outro lado consequência do comprometimento de ratificação de protocolos com a comunidade internacional no âmbito da proteção ambiental e de sustentabilidade existe um enorme potencial para que se desenvolvem projetos onde o uso de tecnologias de energias renováveis é essencial. Podendo aqui ainda aproveitar dos mecanicismos do mercado carbono.

Como foi referido no capítulo 3 (3.5 Mercado de Carbono) Avila (2012) afirma que a eletrificação rural deve crescer com ajuda do mecanismo de desenvolvimento limpo

(MDL). No atual contexto do comércio internacional das emissões espera-se que a geração de energia nas zonas rurais através de fontes de energia limpa nos PED (incluindo Moçambique) ganhe um impulso nos próximos anos devido aos incentivos financeiros da nova metodologia do MDL.

Os segundos são mercados de acesso mais recente e que poderão não ter durabilidade de que gostaríamos, mas são mercados que se revelam atualmente como um enorme potencial de volume, como é o caso da Venezuela, Líbia, Argélia, Tunísia, SADC, América Central, entre os mais importantes. (Pais, 2012).

Terceira questão de pesquisa: No que respeita ao mercado Moçambicano, que caracterizou como tendo enorme potencial de crescimento, quais os projetos mais significativos que têm desenvolvido no país?

Resposta: A Cabelte está presente desde há muitos anos no mercado Moçambicano, em projetos quer no sector energético, tendo como cliente fundamental a EDM (Eletricidade de Moçambique), quer no sector das telecomunicações com a TDM

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(Telecomunicações de Moçambique). Mais recentemente a Cabelte participou em projetos de fornecimento de condutores elétricos para projetos ligados às Minas de Carvão de Moatize.(Pais, 2012)

Como curiosidade, no início do Grupo Cabelte, ainda como Grupo Quintas e Quintas, este grupo foi quem forneceu as primeiras linhas de transporte de energia em média e alta tensão oriundas da então recentemente concluída barragem de Cahora Bassa. (Pais, 2012)

É necessário entender que a eletrificação rural não somente é feita de forma descentralizada para as comunidades rurais mais isoladas através de fontes de energias alternativas/renováveis como pode ser feita também de forma centralizada para as comunidades rurais localizadas mais próximas das redes centrais que também continuam sem acesso a energia elétrica.

Quarta questão de pesquisa: E quanto a projetos potenciais em carteira para este mercado?

Resposta: Neste momento a Cabelte está plenamente ativa e está muito bem posicionada num conjunto muito importante de projetos, sobretudo no domínio da instalação de cabos para transporte de energia e de telecomunicações, dos quais destaco os seguintes. (Pais, 2012)

- Construção de uma linha de 110Kv de Infulene -Manhiça - Macia (linha dupla de 150 Km => 2x150x3 condutores de alta tensão = 900Km de cabo + 150Km de Optical Power Ground Wire – OPGW – cabos pára-raios para linhas de alta tensão, com inclusão de fibra óptica) => Orçamento total ronda os 19.320.000 USD e que inclui cabos enviados desde a Cabelte Portugal, trabalhos de montagem locais no território Moçambicano por empresas locais.

- Reforço do sistema de transmissão - Montanhana, perto de Maputo (Linha de 275 KV + Linha 60 Kv) => Orçamento total ronda os 47.700.000 USD e que inclui cabos enviados desde a Cabelte Portugal, trabalhos de montagem locais no território Moçambicano por empresas locais;

- Projeto de Reabilitação Energética da Província do Maputo (Eletrificação Rural) de 4 lotes de fornecimentos e que inclui cabos enviados desde a Cabelte Portugal,

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trabalhos de montagens locais no território Moçambicano por empresas locais, num valor que ronda os 40.000.000 USD e que já está aprovado pela EDM.

- Projeto de Eletrificação Rural nos Distritos de Chibabava e Buzi, na Província de Sofala, Mavuzi, Chibabava, Gondo e arredores, tratando-se de um projeto idêntico ao Projeto Cabo Delgado, ou seja, com vários tipos de cabo em torçada, outros de cabos de potência isolados de BT e de MT e linha aéreas nuas sendo um Projeto de 20.000.000 USD, financiado pela EDF.

- O tempo estimado para a execução total de cada projeto é de aproximadamente 3 anos.

Por outro lado releva-se como enormemente importante o projeto de transporte de energia denominado por Projeto de Transporte CESUL, que é a combinação de uma linha aérea de Alta Tensão de Corrente Alternada (HVAC) de 400 kV e uma linha de Alta Tensão de Corrente Contínua (HVDC) de 800 kV.Os elementos-chave do Projeto são:

 Uma nova linha aérea de alta tensão de corrente contínua (HVDC) de 800 kV entre uma nova subestação em Cataxa ou a expansão da subestação existente de Matambo na Província de Tete e a subestação de Maputo, na Província de Maputo;

 Uma nova linha aérea de alta tensão de corrente alternada (HVAC) de 400 kV entre uma nova subestação em Cataxa na província de Tete e a subestação de Maputo;

 A ampliação de subestações existentes em Maputo, Matambo e possivelmente no Songo;

 A construção de até quatro novas subestações e / ou expansão em locais por identificar ao longo do traçado da linha aérea de corrente alternada (HVAC), próximo de Cataxa e no Inchope, em Vilanculos e no Chibuto.

79 Os objetivos deste projeto são:

 Reforçar a capacidade da rede de transporte de energia elétrica nas regiões centro e sul, a fim de estabelecer as bases para uma futura expansão da capacidade de distribuição da EDM na região;

 Permitir o transporte de energia de novos projetos de geração de energia principalmente na província de Tete.

Benefícios do Projeto são:

 Fornecer uma capacidade adicional ao sistema de transporte de energia em alta tensão para apoiar o desenvolvimento futuro e a ligação de novos consumidores;  Criar a capacidade de ligar atuais e futuros projetos dependentes de energia

dentro de Moçambique;

 Apoiar as necessidades futuras de eletrificação urbana e rural dentro de Moçambique, incluindo os utilizadores industriais com necessidades de alto consumo e os utilizadores domésticos;

 Fortalecer a viabilidade de exportação de energia elétrica excedente para os países vizinhos para geração de receitas adicionais;

 Melhorar a consistência no abastecimento de energia;

 Adaptação às necessidades energéticas do crescimento económico e demográfico.

Dando continuidade aos benefícios do projeto, destacando o 4º ponto “fortalecer a

viabilidade de exportação de energia elétrica excedente para os países vizinhos para a

geração de receitas adicionais”. Desse modo é possível referir a importância da

necessidade criação duma rede energética regional (entre países africanos, usando as fronteiras) para que se possa colmatar a escassez da energia elétrica junto das populações locais vendendo o excedente da energia elétrica a quem necessita.

A WEC (2005), aprofunda este tema indicando que estudos confirmam que as integrações regionais de energia proporcionam benefícios principalmente com a melhoria de segurança do abastecimento, trazendo melhor eficiência econômica, qualidade ambiental e um maior desenvolvimento de fontes de energia renováveis.

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Evidencia ainda que, algumas comunidades económicas regionais têm feito grandes acordos para a liberalização do comércio com seus vizinhos, permitindo a livre circulação de pessoas e construção de infraestrutura com ligações externas. Enquanto a rede africana de infraestrutura de transporte e de serviços ainda é "incoerente", o setor de energia está mostrando sinais de uma maior integração, especialmente no norte e sul da África.

Quinta questão de pesquisa: Quando pensa que poderão ser implementados os projetos referidos, particularmente os relativos à eletrificação rural?

Resposta: Estes projetos requerem, como referi, importantes afetações de fundos para o seu desenvolvimento. A Cabelte tem proposto participar em parceria com empresas locais de instalação adotando-se nestes projetos a metodologia de turn-key contracts7, em que o consórcio de instalação assume a conceção do projeto, a sua instalação, os materiais necessários, a supervisão e a manutenção respetiva. (Pais, 2012)

São projetos muito vastos que requerem períodos de instalação longos, e que computamos, nos casos mencionados períodos de intervenção que rondarão os três anos.

A grande questão que se coloca nestes projetos prende-se com a obtenção dos financiamentos adequados ao seu desenvolvimento, já que os meios próprios do Estado Moçambicano, e desde logo das empresas públicas do respetivo sector, têm-se mostrado insuficientes para permitir o arranque rápido destes projetos. (Pais, 2012)

Aguarda-se que, com adequados apoios externos (em parte as antigas Linhas Concessionais do Estado Português poderiam permitir o apoio a alguns destes projetos, mas atualmente em stand by) estes projetos possam arrancar o mais rapidamente possível. (Pais, 2012)

Este ponto guia para a importância do financiamento para o desenvolvimento dos projetos de eletrificação rural e outros tipos de projetos interligados. Neste cenário o governo Moçambicano deve procurar apoios, acordos e soluções junto dos seus parceiros internacionais. Conforme foi referido anteriormente, Moçambique pode atrair investimentos junto de grandes empresas, dos PDs para que desenvolvem projetos

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Turn-Key Contracts : Contrato de construção em que o projeto está pronto para produzir o fluxo de caixa logo após a sua conclusão.

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aproveitando os mecanismos de desenvolvimento limpo e mercados voluntários, como referem Mesquita e Gouveia (2012) e como foi referido pelo ICB (2012).

Sexta questão de pesquisa: Ainda relativamente a estes projetos, como avalia a sua importância e potencialidade para o desenvolvimento do país?

A relevância destes projetos, e eventualmente outros existentes e aqui não mencionados, é o no desenvolvimento energético de Moçambique, quer ao nível no transporte de energia em termos dos principais “backbone8”, quer ao nível da distribuição mais

capilar, ao nível da eletrificação dos meios rurais. (Pais, 2012).

Sabemos que o nível de eletrificação do país, fora dos grandes meios urbanos é claramente deficitária e a sua melhoria é urgente e absolutamente relevante para o desenvolvimento de Moçambique e para o bem-estar essencial das suas populações. Justifica-se pois de forma muito clara a implementação destes projetos, que se revestem de interesse absolutamente prioritário. (Pais, 2012).

Como tem vindo a ser referido por, oliveira, (2000), Zomers (2001), e pelo Banco Mundial. A eletrificação traz benefícios em diferentes esferas, destacando aqui os benefícios paras comunidades rurais, quando afirmam que a eletrificação provoca melhorias de qualidade de vida através de varias aplicações da eletricidade na produção agrícola, como iluminação caseira, cursos noturnos, centros de saúde melhores equipados, Cruz (2005).

Sétima questão de pesquisa: Estes projetos têm merecido, quanto a si, a devida priorização pelas autoridades e pelas empresas do sector, nomeadamente pela empresa de eletricidade nacional?

Resposta: Pela presença que temos mantido no terreno em contactos frequentes ao mais alto nível com a Administração da EDM, Ministério das Finanças de Moçambique, Ministério da Energia de Moçambique e outras altas individualidades do país, temos constatado todo o interesse em que se possam desenvolver estes projetos de forma priorizada. (Pais, 2012).

No entanto, relativamente aos projetos de eletrificação rural, no caso de localidades da periferia da cidade do Maputo, apesar de protocolo assinado em 2010 entre o Primeiro-

8Em português significa “Espinha Dorsal” que é uma linha de transmissão maior que transporta os dados recolhidos a partir de linhas de menor dimensão interligadas a ela.

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ministro Português da altura, o Governo Moçambicano, a Cabelte e a Adm. da Empresa de Eletricidade de Moçambique, e da aprovação por esta do projeto proposto pela Cabelte, não foi possível deste então a captação dos fundos necessários ao seu financiamento, pelo que, pensamos, que o principal óbice e dificuldade com que Moçambique se defrontará para a sua implementação imediata será essencialmente de cariz financeiro, mas que estou certo que poderá ultrapassar com os desejáveis apoios internacionais, que certamente de perfilarão em breve, dada a natureza eminentemente estratégica e de bem estar das populações, de que se revestem.(Pais, 2012)

Certamente que os “apoios internacionais perfilarão em breve” visto que, segundo o ONU (2012), até o ano de 2030 vão ser investidos bilhões de euros para tornar o acesso a energia uma realidade universal. A maior parte destes investimentos vão ser efetuados nos PEDs onde a maioria da população não tem acesso a energia elétrica.

No documento Dissertação António Sebastião (páginas 86-94)

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