• Nenhum resultado encontrado

5. Apresentação e discussão dos resultados

5.2. Entrevistas

5.2.2. Entrevistas à direção

Tal como aconteceu com as entrevistas realizadas aos formadores, optou-se, igualmente pela sintetização da caraterização da diretora geral e da diretora técnica, por se acreditar que a informação mais sucinta é mais compreensível para o leitor. Sendo assim, no quadro 17 destaca-se os cargos ocupados pela direção e o seu trajeto profissional ao longo da vida. De referir que, segundo Ruquoy,

“a entrevista é geralmente concebida quer sob um aspeto puramente técnico, como meio de obter informações, quer sob um aspeto banal ou jornalístico, como habilidade para fazer falar uma personalidade. Ora a entrevista, mesmo a mais superficial, é infinitamente complexa. Existe, indubitavelmente, uma técnica de entrevista, mas mais do que uma técnica, é uma arte” (Ruquoy, 1997, p.96).

5.2.2.1. Caracterização da direção

Cargo ocupado Diretora técnica Vice-presidente Qual o seu trajeto

profissional ao longo da vida

Depois da sua licenciatura fez um estágio profissional na MI que teve a duração de nove meses, ficando mais dois meses a recibos verdes. Depois foi despedida, passando a colaborar só algumas horas semanais num projeto que visava atribuir o sexto ano, dando apoio como tutora. Depois surgiu a oportunidade de trabalhar no âmbito da formação num curso piloto, curso de EFA. Até 2008 exerce os cargos de mediadora pessoal e social e coordenadora de projetos formativos. Por fim, em 2008, assume a direção como Diretora Técnica da Área de Educação e Formação.

Acabou a licenciatura e entrou logo na MI decorrente de uma inscrição no Centro de

Emprego. Começou a ocupar logo o cargo de técnica de acompanhamento em três ações de formação direcionada a desempregados de longa duração. Em 2000 com a criação de um outro

departamento para a instituição foi convidada a coordenadora desse centro e depois foi suplente da direção em 2005 e, por fim, em 2007, foi

convidada para ser vice- presidente.

As entrevistas à Diretora técnica e à Diretora Geral realizaram-se no mês de Junho de 2015, nas instalações da MI, tendo as entrevistadas sido contactadas pessoalmente para lhes ser explanado o motivo e procedimentos da entrevista. As entrevistas tiveram durações distintas, uma demorou cerca de uma hora e a outra 16 minutos. Uma entrevista demorou mais tempo pelo facto da diretora técnica fazer o acompanhamento de todos os cursos, enquanto, a Vice-presidente trata de assuntos da associação de uma forma mais geral.

5.2.2.2. Testemunhos de formadores e da direção

Deste ponto do relatório, com base nos excertos das entrevistas, procedeu-se à comparação dos resultados dos inquéritos por questionário e da grelha de observação com as entrevistas dos formadores e dos dois elementos da direção. Na perspetiva dos formandos, o objetivo foi perceber o intuito com que procuram a formação, o seu grau de motivação para aprender, as experiências obtidas no início e no final da formação, as suas dificuldades e a importância da formação. Por sua vez, de acordo com os dados obtidos através das entrevistas aos formadores e aos elementos da direção, constatou-se que a generalidade dos formandos, adultos do RSI, se inscreve nas ações de formação por questões financeiras e, no caso dos jovens por serem obrigados pelos pais ou motivados pela crença de uma mais fácil entrada ou reingresso no mercado de trabalho.

Na opinião de um dos formadores entrevistados,

“…muitas vezes, os alunos vêm para aqui por questões financeiras, exclusivamente financeiras, ou seja, porque estão a receber, no caso dos adultos, RSI ou outros tipos de ajuda financeira e que as perderiam se não frequentasse a formação. Portanto, para alguns a motivação é exclusivamente essa. No caso dos jovens, alguns vêm por causa das bolsas que estão associadas aos cursos e porque, entre aspas, são obrigados pelos pais ou pelos encarregados de educação. Mas isso, também é uma franja, não representa a totalidade dos alunos, portanto. Haverá uma parte substantiva dos alunos que vem por interesse próprio, por motivação, vêm motivados e estão muitos interessados em terminar o curso e ter sucesso.” (testemunho do formador nº2, Apêndice VI)

“há todo um sistema conforme as entidades, os organismos de onde vêm, tem todo um sistema de controlo que ou vêm para formação ou têm que arranjar trabalho. Caso contrário, não podem continuar a receber o subsídio de desemprego ou receber o RSI. E, quando isto acontece vêm para a formação, mas não vêm com aquela predisposição para aprender, porque querem aprender esta ou aquela profissão, ou porque completar o 9º ano é importante. Realmente, temos pessoas que vêm por isso, contudo, não quer dizer que estas pessoas, que no início eram menos motivadas no final não mudassem de opinião, tivemos pessoas que progrediram, evoluíram e se motivaram, em que essa mudança de atitude foi visível.” (testemunho da diretora técnica, Apêndice VII)

Relativamente se vem motivados para aprender, a formadora respondeu que “em termos de adultos, ainda encontramos adultos motivados e, sobretudo, quando são adultos que caiem na situação de desemprego e quer mesmo frequentar formação por uma questão de evolução da carreira, atualização de competências e inserção no mercado de trabalho vêm para aqui com interesse, e dependendo das áreas participam, são motivados, questionam, quer saber, querem evoluir. Nos jovens notamos, noto muito pouco essa motivação, na maioria dos jovens, a motivação é a conclusão da escolaridade obrigatória.” (testemunho da formadora nº7, Apêndice VI)

Por sua vez, segundo outra formadora

“Eu acho que…numa turma, nós, geralmente, formamos uma turma de 15, 20 alunos. Eu acho que metade está motivada sim, para aprender, para concluir o curso e outra metade vem porque é uma ocupação, o objetivo não é tanto a aprendizagem, mas ocupar o tempo dele, para passar o tempo.” (testemunho da formadora nº9, Apêndice VI)

Quanto às dificuldades dos formandos, através da grelha de observação utilizada em duas aulas (Português e Matemática), verificou-se que os formandos de etnia cigana, toxicodependentes, com problemas de alcoolismo, ex-prisioneiros e outros, não sabiam ler, utilizar uma máquina gráfica ou realizar gráficos de barra no caderno com a régua. Ou seja, para eles era uma dor de cabeça e que quando lhes era pedido pela professora para ler diziam “que não conseguiam ver ou mesmo que tinham dor de cabeça”. Através de um excerto da entrevista da mesma formadora denotam-se essas dificuldades.

“Tive um formando com 20, 21 anos que praticamente não sabia ler e escrever e, quando, lembro-me perfeitamente ter entrado na sala e todos, inconscientemente, acabamos por fazer uma avaliação de acordo como eles se apresentam, da forma como eles são. E, eu achei que como era o mais jovem teria mais facilidade, até que nas primeiras propostas vou fazendo uma vigilância individual para de facto saber o que eles sabem, sem que eles se sintam vigiados e observados, senão faz com que fiquem retraídos, e foi quando cheguei aquele jovem e ele não tinha feito rigorosamente nada. Eu disse então “precisa de ajuda” e ele nem respondeu. Eu comecei a ver que ele estava a ficar encabulado, estava a ficar envergonhado e eu fui-me aproximando, fui ajudando e vi aquela pessoa jovem no meio de tantas senhoras, de tantas pessoas com idades diferenciadas, não sabia praticamente escrever o nome dele, aquela pessoa ficou-me” (testemunho da formadora nº1, Apêndice VI)

Quanto a situação profissional no início da formação, verificou-se que, no início da formação, muitos estavam desempregados, mas que, no fim da formação, alguns encontraram trabalho na área de formação, outros sem ser na área de formação, outros emigraram, outros continuaram na situação de desemprego e outros transitaram para outras situações (reforma).

Na opinião de uma formadora entrevistada,

“Não consigo ver uma linha condutora porque tanto me apareceram no início grupos muito interessados em trabalhar, aliás dos primeiros tenho muitos formandos de cursos a trabalhar na área, mas também tenho outros cursos que não…que não trabalham e, mais recentemente, passa-se a mesma coisa. Portanto, não consigo estabelecer uma evolução, ver uma linha condutora. O que me parece é que há menos locais de trabalho…” (testemunho da formadora nº3, Apêndice VI)

Relativamente à importância da formação para os jovens e adultos, Embora nos inquéritos por questionário aplicados aos formandos, todos afirmassem que a formação frequentada contribuiu para identificar e resolver problemas que inicialmente tinham, na opinião da formadora do curso de Português,

“Muito deles não tiveram a oportunidade para estudar e, então, vê isto como uma oportunidade única e, na verdade, a maior parte, no final, sente-se muito melhor porque já não liam há imenso tempo e passaram a ler, porque já escrevem com menos erros e chegamos à conclusão que a sua autoestima sai valorizada e reforçada. Com os jovens,

eles também sentem isto depois no final, mas é um percurso muito mais moroso, muito mais delicado, porque eles percebem isso daqui uns anos. Neste momento, nós estamos a transmitir conhecimentos, que para eles, a maior parte deles considera que não é tão importante porque não precisam para a vida deles, pois, mais tarde, reconhecem e quando passam por nós consideram que, de facto, nós marcamos a vida deles de alguma forma…” (testemunho da formadora nº1, Apêndice VI)

Documentos relacionados