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3.4 COLETA DE DADOS

3.4.1 Entrevistas

A entrevista qualitativa é uma técnica de coleta de dados amplamente utilizada nas ciências sociais empíricas, por fornecer dados para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores e suas situações. (GASKELL, 2010). As

entrevistas se referem a uma das fontes de informações mais importantes nos estudos de caso, por representarem uma oportunidade de enfocar diretamente no tópico do estudo, além de fornecerem relações causais a partir da percepção do entrevistado. (YIN, 2001). Adicionalmente, na medida em que a pesquisa incorpora casos distintos e que o foco se afasta dos fenômenos cotidianos, é comum que as entrevistas se tornem a principal fonte de dados, devido à sua eficiência na coleta de dados empíricos valiosos. (EISENHARDT E GRAEBNER, 2007).

Neste estudo, as entrevistas representaram a principal técnica de coleta de dados. Foram realizadas entrevistas individuais, com roteiros semiestruturados. A escolha por entrevistas individuais resultou da intenção de se explorar em profundidade as experiências dos entrevistados, além do fato de que poderiam emergir assuntos de sensibilidade particular ao longo da conversa (GASKELL, 2010), uma vez que a temática permite a manifestação de experiências tanto positivas quanto negativas. Além disso, o uso de roteiros semiestruturados permite com que os pontos de vista dos entrevistados sejam expressos de forma superior, em comparação a uma entrevista padronizada. Por outro lado, quando comparada a uma entrevista totalmente aberta, a utilização de um roteiro aumenta a comparabilidade dos dados. (FLICK, 2004).

O roteiro foi fundamentado na literatura e validado com dois especialistas da área, sendo um pesquisador e um profissional com atuação em uma instituição de fomento de negócios de impacto social. A validação foi realizada antes da aplicação no contexto da pesquisa, conforme recomendado por Saccol et al. (2012), a fim de alcançar a validade de conteúdo. No que se refere aos especialistas, as principais contribuições se referiram à adequação das perguntas, tornando-as mais diretas e objetivas, bem como minimizando a realização de perguntas com potencial de direcionar as respostas dos entrevistados.

Além disso, visando à validação de face, na realização da primeira entrevista, verificou-se se o entrevistado compreendia as questões, bem como se as respondia com clareza, de forma alinhada aos objetivos da pesquisa. Ressalta-se que o principal objetivo do uso de um roteiro semiestruturado foi utilizá-lo como um instrumento de acompanhamento dos tópicos a serem abordados durante a entrevista. (GASKELL, 2010).

A fim de manter a consistência na coleta de dados, todas as entrevistas foram realizadas pela autora da presente pesquisa. No período entre outubro e dezembro

de 2017, foram realizadas 12 entrevistas. Além disso, foi efetuada uma entrevista adicional em fevereiro de 2018. A relevância da entrevista adicional ocorreu pelo seguinte motivo. Apesar de inúmeras tentativas, não foi possível entrevistar nenhum negócio acelerado pela Delta. Por este motivo, solicitou-se uma entrevista com um terceiro gestor da aceleradora, a fim de aprofundar o entendimento de alguns tópicos do estudo.

Mediante autorização prévia dos participantes da pesquisa, as entrevistas foram gravadas, para posterior transcrição e análise dos dados. Esta ação foi relevante, pois possibilitou a retomada dos dados por inúmeras vezes, a fim de que fossem sanadas eventuais dúvidas e eliminados equívocos de entendimento, na busca pela garantia da fidedignidade na análise dos dados. Todos os participantes receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que consta no Apêndice D, assegurando a confidencialidade dos dados e a preservação do anonimato. Por este motivo, informações que possam identificar os entrevistados são omitidas na análise dos resultados. As entrevistas foram realizadas, predominantemente, por Skype, mas alguns participantes optaram pelo uso do Zoom ou WhatsApp.

No que se refere à seleção dos entrevistados nas aceleradoras, foram selecionados respondentes com conhecimento robusto a respeito do tema do estudo, a fim de que pudessem fornecer informações relevantes a respeito do fenômeno de interesse. (YIN, 2001). Este quesito foi particularmente importante nesta pesquisa, tendo em vista que as estruturas das aceleradoras estudadas são pequenas, com equipes enxutas. Neste sentido, foi essencial que os entrevistados tivessem conhecimento aprofundado, a fim de contribuírem com percepções relevantes para o estudo. Para tanto, as entrevistas foram realizadas com fundadores, mentores e gestores com envolvimento direto, junto aos negócios de impacto, ao longo de todo o programa. Destaca-se ainda que, devido à diversidade de estruturas entre as aceleradoras estudadas, houve heterogeneidade no que tange ao número de entrevistados por aceleradora.

Adicionalmente, seguindo a recomendação de Eisenhardt e Graebner (2007), foram entrevistados atores de outras organizações relevantes, sendo os fundadores ou sócios de negócios de impacto social participantes ou que participaram do programa de aceleração. Ressalta-se que a escolha dos negócios de impacto, assim como do entrevistado em cada negócio, foi realizada pela aceleradora. Mesmo que este fator possa fornecer um menor grau de imparcialidade em relação aos dados

obtidos destes atores, optou-se por este caminho por questões éticas. Considerando que o foco da pesquisa são as aceleradoras sociais que se propuseram a participar do estudo e que o alicerce da relação entre aceleradora social e negócio de impacto é a confiança, seria inadequado contatar os negócios por conta própria, sem a intermediação ou, pelo menos, anuência da aceleradora.

O Quadro 5 apresenta a listagem dos entrevistados, separados entre aceleradoras e negócios de impacto, acompanhados do cargo, tempo de empresa, data da entrevista e duração. No que se refere aos negócios entrevistados, na coluna Empresa, consta a informação da aceleradora. Complementarmente, ao lado do cargo destes entrevistados, constam os códigos NIX, NIZ, NIY e NIW, a fim de identificar que cada entrevistado faz parte de um negócio de impacto diferente.

Quadro 5 – Entrevistados

Fonte: Elaborado pela autora.

Tendo em vista que os dados foram coletados a partir de perspectivas diferentes a respeito do fenômeno de interesse, foram desenvolvidos dois roteiros

semiestruturados, sendo o primeiro para as entrevistas realizadas com as aceleradoras, que se encontra no Apêndice E, e o segundo para as entrevistas realizadas com os negócios de impacto social, localizado no Apêndice F. Destaca-se que a essência dos roteiros é similar. Todavia, as perguntas foram ajustadas, segundo a realidade de cada grupo de participantes.