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no enunciado (15), ao ler a carta do jogo na posição de quem fala, gera um efeito na fala da fonoaudióloga de dirigir uma demanda (16) aos

CAPITULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO

D., no enunciado (15), ao ler a carta do jogo na posição de quem fala, gera um efeito na fala da fonoaudióloga de dirigir uma demanda (16) aos

demais sujeitos do grupo que estão na posição de quem escuta para que participem da atividade. No enunciado (17) D. sanciona a fala de L. no estrato da língua e L. (18) desloca-se para a posição de falante e sanciona a fala de I. no estrato da língua. Esta, no enunciado (19), desencadeia a circulação de significantes e “gelo”, da fala de L., desliza para “dor de garganta”. Em (20) D. , da posição de quem sabe sanciona a fala de L. no estrato da escrita, coloca os sujeitos na posição de quem escuta.

A fonoaudióloga propõe uma leitura e as crianças escolhem o gibi da Turma da Mônica. A seguir, sugere que as crianças desenhem ou escrevam sobre a história. Porém, são outros os dizeres que emergem.

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Episódio 5

[35] I. Eu também gosto de de de bincar de casinha. Eu eu tenho uma filhinha, o

nome o nome dela é Poli.

[36] W. Ih! Menininha! Osta de brin ár de asinha. [37] F. De asinha? Que asinha?

[38] D. Ele falou de casinha tia.

[39] W. De asinha (Falou com maior intensidade na vogal “a”).

Grupo 1 – sessão 7

A sanção de I. no enunciado (35), se dá no estrato da fala tendo, como efeito, a circulação de significantes na fala de W. em (36). A fonoaudióloga opera um corte no estrato da língua pela via da sanção da interrogatividade sobre a fala de W. em (37), que de acordo com Gouvêa, Freire e Dunker (2009) faz efeito na fala de D. em (38) e na fala de W. em (39).

Episódio 6

[40] F. Ah! Entendi asinha. E vocês gostam de brincar de que? [41] L. Gosto de pipo!

[42] W. Eu também osto de empinar pipo! (Faz gesto como se estivesse empinando

pipa).

[43] D. Eu sempre brinco de casinha com minhas amigas e brinco de escola também. [44] F. Você é a professora?

[45] D. Não...mas vamos brincar de escola. Eu vou ser a professora. [46] I. Vamos.

[47] D. (Arruma as cadeiras na frente da mesa e fica em pé). Pronto! Alunos podem

sentar-se.

[48] L. Eu não quero ir.

[49] D. Vai sim! A professora sou eu. Eu que mando aqui. [50] F. Você está imitando sua professora? Ela é assim?

[51] D. Ela manda em tudo. È muito chata. (Olha em direção aos sujeitos). Todos

façam silêncio!

[52] (Todos riem).

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Do enunciado (40) ao (43), as sanções que ocorrem são de permissividade entre os sujeitos do grupo. No enunciado (44), a fonoaudióloga opera um corte no estrato da língua pela via da sanção da interrogatividade sobre a fala de D. que propõe uma brincadeira que em (48) L. refere não querer participar.

Episódio 7

[18] F. Quem quer ler em voz alta? [19] L. Você lê tia.

[20] D. Eu quero. Eu sou a Mônica e você a Magali.

[21] F. Tudo bem, mas precisamos de ajuda. Quem segura a revistinha? ... Pode ser

você L. (Fala o nome completo).

[22] L. Pode. (Pega a revista da mão de D.).

[23] F. O W. (Fala o nome completo) e a I. (Fala o nome completo) irão escolher a

história.

[24] L. (Folheia a revista e mostra para todos).

[25] I. Essa aqui. (Aponta para a página). Elas estão bincando de casinha. [26] W. É pode ser essa.

[27] D. (Inicia a leitura). Mônica em: Como Adultos.

[28] (Todos olham em direção à revista, enquanto L. aponta com o dedo indicador os

personagens da história).

[29] F. (Modifica a voz e lê a fala da personagem Magali). Oi, Mônica! Levando o

filhinho pra passear?

[30] D. (Modifica a voz e lê a fala da personagem Mônica). Pois é!

[31] F. (Modifica a voz e lê a fala da personagem Magali). Que gracinha! Posso pegar

no colo?

[32] D. (Modifica a voz e lê a fala da personagem Mônica). E o seu pra quando é? [33] F. (Modifica a voz e lê a fala da personagem Magali). Ai! Não sei ainda! O meu

marido não quer!

[34] (Todos sorriem).

Grupo 1 – sessão 7

Nesse episódio é possível observar o interesse de D. pela leitura, o que contradiz a queixa da mãe que a identifica à um sintoma de dificuldade escolar.

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A fala da fonoaudióloga sanciona a fala de L., no estrato da fala, que mesmo sem interesse aparente por leitura, em (24) folheia a revista para os parceiros e acompanha as imagens, deslocando-se da posição que o paralisava diante do texto, para outra posição, daquele que sabe e (28) participa ativamente da atividade, lendo para o grupo.

Os efeitos da sanção Episódio 8

[53] W. Eu não éro brin á de es óla. [54] F. Es óla?

[55] D. Não é es óla. É es-co-la. [56] W. Eu sei é es oóla.

[57] D. Silêncio W. (Fala o nome completo) ou você vai ficar sem recreio! [58] W. (Sorrir). Não professora. Aóra é e eu vou falar!

[59] L. (Sorrir) Professora ele vai ficar sem recreio! [60] I. (Olha em direção à W.) Você vai ficá sem bincá?

[61] D. Vou passar uma tarefa de cem questões para você entregar no final do

recreio. E você L. (Fala o nome completo) continua a leitura bem alto.

[62] L. (Pega o gibi e narra os episódios da história iniciada anteriormente). A Mônica

empurra o carinho de sua filha.

[63] W. (Levanta-se e imita todas as cenas que a personagem Mônica faz, pela

narração de L.)

[64] (Todos sorriem).

[65] I. (Levanta-se e imita as cenas da personagem Magali). [66] (Todos sorriem).

Grupo 1 – sessão 7

O mesmo efeito se repete após a sanção de interrogatividade da fonoaudióloga que, de acordo com Gouvêa, Freire e Dunker (2009), opera no estrato da língua no enunciado (54) sobre a fala de W. que no episódio (53) sanciona no estrato da língua de reconhecimento do sujeito que fala e D. no enunciado (55) sanciona a fala de W. no estrato da escrita em (56) .

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A análise deste episódio vem mostrar os efeitos dos deslocamentos dos sujeitos e a transformação do grupo. A fonoaudióloga solicita que um dos sujeitos escolha o que será feito na sessão. W., que no início dos atendimentos era o mais calado, escolhe um jogo da memória com figuras de animais. O grupo vira as figuras e comenta à respeito dos animais.

Episódio 9

[07] W. (Coloca as figuras em cima da mesa, viradas para que não ninguém possa

ver as imagens). Aóra em omeça?

[08] F. Quem começa?

[09] W. É quem omeça? (Faz som gutural ao omitir o fonema [k]). [10] I. Pode sê eeu?

[11] D. Depois sou eu.

[12] W. Omeça. (Faz som gutural ao omitir o fonema [k]). [13] L. Vai logo. (Fala o fonema [l] com interposição lingual).

[14] I. (Pega a primeira figura e aparece um elefante). Um elefante. (Pega a outra

figura e vira).

[15] D. Eu já vi um elefante no zoológico, ele tava todo sujo de barro, tava até laranja

de ficar deitado no barro.

[16] F. Ele estava deitado? Será que ele estava dormindo? [17] I. Eu não ganhei. É um cachorro. (Refere-se à carta do jogo). [18] D. Não. Ele estava deitado mais balançava a tromba.

[19] L. A tromba dele é o nariz dele. (Fala o fonema [s] com interposição lingual). [20] I. (Fala com intensidade fraca). Vou contar um segredo...o elefante bebe pelo

pelo nariz.

[21] F. Ele bebe pelo nariz?

[22] W. Minha mãe disse que ele peá a áua com a tromba e oloca na boá. (Faz som

gutural ao omitir o fonema [k] e [g]).

[23] D. É mesmo. Eu vi na tevê. Agora sou eu que vou jogar.

Grupo 1 – sessão 7

No enunciado (07), a fala de W. emerge sem os sons [k] e [g], mas a retomada desta fala por F. (08) tem o efeito de sanção de permissividade,

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efeito que leva W. a repetir, em (09), a fala anterior, agora próxima aos padrões exigidos pela língua. Nos enunciados de W. no desenrolar da sessão, observa- se que ele está sob o efeito da sanção do fonoaudiólogo sobre o estrato da língua. No episódio (08) houve o reconhecimento do significante e nos enunciados (12) e (22) o reconhecimento do sujeito. Houve uma permissividade para o uso da fala, em que o sujeito recupera a autorização de falante sobre sua própria fala, nos enunciados (12) “Omeça” e (22) “Minha mãe disse i ele peá a áua com a tromba e oloca na boa” e o sujeito aproxima sua fala ao esperado pela língua pela emissão do som gutural onde a língua pede [k] e [g], nesses enunciados o fonoaudiólogo reconhece a validade intersubjetiva da variação de linguagem e sanciona o sujeito como permissividade à sua fala.

Note-se também que o deslocamento de W. gera um efeito em I., que se mostra em uma fala marcada por mais fluência em (14), (17) e (20).

A fala de L. no enunciado (19), sanciona a fala de I. no estrato da fala, com a permissividade para a sua fala e no episódio seguinte, há uma recuperação da fala pela via da re-subjetivação dos efeitos da língua, da escrita e da fala, com a permissão da fonoaudióloga sobre a fala e sobre o funcionamento dos sintomas de I.

Ao analisar os deslocamentos dos sujeitos no decorrer dos atendimentos fonoaudiológicos, pude relacionar diferentes posições subjetivas (aquele que sabe, aquele não sabe, aquele fala e aquele que escuta) ocupadas ao longo do atendimento terapêutico. Acompanhando o percurso das falas, observa-se que os sujeitos sancionam uns aos outros, de forma que em seus dizeres

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reconhece-se o discurso daquele que fala e/ou que sabe e, este discurso leva os sujeitos a deslocar os dizeres que circulam na cena clínica.

No penúltimo dia de atendimento, I. fala metaforicamente, pela primeira vez, sobre a sua gagueira ao referir a alta da psicóloga e quando diminuíam os momentos de disfluência, já percebidos por sua mãe e comunicados tanto a fonoaudióloga quanto a filha. Segue abaixo um recorte do episódio:

Episódio 10

[24] I. (Sentou-se ao lado de F. e olhou em direção à F.) Porque que quando eu falo a

sala faz eco?

[25] F. Eco? Quando você fala a sala faz eco?

[26] I. É quando eu falo a sala faz eco, parece na natureza. Eu tenho medo. [27] F. Medo de quem?

[28] I. Medo. [29] W. Medo?

[30] F. Será que essa sala faz eco porque a porta está fechada?

[31] L. Eu vou abrir a porta para ver se melhora. (Levanta-se e vai em direção à porta

e abri-a). (Fala o fonema [t] com interposição lingual).

[32] F. E agora que a porta está aberta, sua fala ainda faz eco? [33] I. Não sei.

[34] F. Então fala bem alto “oi”. [35] I. Ooi!

[36] L. Ooi! [37] D. Ooi! [38] W. Ooi!

[39] I. A sala não faz mais eco.

Grupo 1 – sessão 15

O atendimento fonoaudiológico em grupo e os manejos realizados pela fonoaudióloga sobre a fala da paciente produzem efeitos de sanção de permissão para o uso da fala. Nesse caso, representando para o sujeito I., a possibilidade de falar sobre o eco, um eco que metaforiza sua fala, seu sintoma, a gagueira. Pode-se afirmar que o que possibilitou a I. abordar questões

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relacionadas à sua fala foi o fato de estar transferencialmente vinculada à fonoaudióloga e aos sujeitos do grupo. No enunciado (24) e (26) houve um deslocamento em relação ao seu sintoma I. raramente gaguejou, ao contrário, sua fala era geralmente fluente. Neste caso houve a sanção no estrato da fala, no reconhecimento no sujeito e no significante, por isso, em terapia I., é fluente. Somente a partir da sanção fonoaudiológica de reconhecimento no sujeito e na fala do sujeito que a fala de I. fez efeito no estrato da escrita. Em síntese, a terapia se pautou na sanção no estrato da fala, abrindo a possibilidade da criação de novos sentidos e experiências relacionais, no qual I. pudesse se permitir falar.

Manejo - A sanção e os efeitos

O episódio a seguir mostra quando a intervenção da fonoaudióloga é dirigida a um paciente:

Episódio 11

[58] E. (Pega um brinquedo de encaixe no armário) Pou!

[59] F. Que barulho é esse que o E. (Fala o nome de E.) fez? É uma porta batendo ou

é um tiro?

[60] E. A abi.

[61] F. Abrir? Abrir o que?

[62] P. O Quias (Refere-se ao sujeito E.) falou arma. [63] E. É o tilo da abi.

[64] F. Ah! Esse barulho é do tiro da arma. As coleções estão caindo no chão? [65] (Os sujeitos olham para o chão).

[66] P. (Pega as coleções do chão). Peguei tia. [67] T. (Pega as coleções do chão). Eei ia.

[68] F. Vocês pegaram as coleções? Obrigada. E então vamos desenhar a arma. [69] E. Pou!

[70] T. (Pega o papel e o lápis e começa a desenhar).

[71] F. (Pega o papel e o lápis e começa a desenhar uma arma). [72] P. (Pega o papel e o lápis e começa a desenhar).

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[74] E. Pou! Pou! [75] P. Palados!

[76] F. Pelados? Quem está pelado? [77] P. Não tia palaados!

[78] F. Parado. Igual a polícia fala pro bandido? [79] P. (Meneios afirmativos de cabeça).

[80] F. E você é quem? O ladrão ou a polícia? [81] P. Chou da puliça.

[82] T. (Para de desenhar e olha para P.) Iça.

[83] F. T. (Fala o nome de T.) vamos ficar parados que é da polícia. [84] T. (Sorrir).

[85] P. Vochê não bode me badê! [86] F. Badê?

[87] E. Nem vochê!

[88] P. Ia! (Levanta os braços e finge que briga com P.) [89] F. Cadê a arma da polícia?

[90] P. Eu vô pegar. [91] T. (Dá a arma para E.)

[92] E. Ó a mia abi. (Levanta o brinquedo de montar e olha em direção à F). [93] F. A sua o que? É pra abrir?

[94] E. A arba. [95] T. A ama.

[96] F. Ah! A arma da polícia.

Grupo 2 – sessão 10

No episódio (60) E. fala “A abi” e a fonoaudióloga no enunciado (61) tenta sancionar a fala para E. “Abrir? Abrir o que?”, porém quem responde é P. “O Quias falou arma”, enunciado (62), o deslocamento de P., a fala de P. gera um efeito na fala de E. que abre a cadeia dos significantes, que aparece no enunciado (63) “É o tilo da abi”. Nesse recorte, a fonoaudióloga dirige-se à E. que mostra-se inicialmente impermeável aos efeitos de sua fala. Porém, no enunciado (93) em que a fonoaudióloga sanciona-o na linha da interrogatividade, os efeitos irão aparecer no enunciado (94) “a arba”, enunciado que materializa a mudança de posição de E. em sua alienação aos

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restos metonímicos da fala da fonoaudióloga que, ao serem subjetivados, mostram indícios desse processo nas aliterações. Na fala da fonoaudióloga aparecem restos dos dizeres de E. nos enunciados destacados acima, quando esta retoma a fala de P. em uma demanda enunciativa em (78) “Parado. Igual a polícia fala pro bandido?”, o que leva-o a retomar, no enunciado (92) “Ó a mia abi”, o que abre espaço para o metaprocedimento da sanção que o desloca em (94) para “A arba”. Para esse sujeito, a sanção do fonoaudiólogo oferece um questionamento quanto a sua fala e promove a relação entre esta e aquele que a enuncia.

No enunciado (75) no qual P. fala “Palados!”, a fonoaudióloga abre a cadeia de significados e ao interrogar faz um apagamento do ato da fala, “Pelados? Quem está pelado?”, nesse episódio a fonoaudióloga sanciona o sujeito no estrato da escrita, fazendo um apagamento do ato de fala, que gera um efeito em sua fala no enunciado (77), com a repetição sonora da vogal “a”, “Não tia palaados!”.

Nesse episódio, as falas de T. encontram-se alienadas à fala do outro, a sanção fonoaudiológica agindo no estrato da fala, no qual há um reconhecimento no sujeito e no significante, uma permissividade do uso da fala nos episódios (67), (82) e (95).

No episódio abaixo, os sujeitos escolheram papel e lápis para desenhar, E. faltou e nos primeiros minutos de terapia o diálogo seguiu com P. perguntando sobre o E. que, mesmo ausente, estava presente no discurso do grupo. Além disso, o episódio segue a sanção do fonoaudiólogo à fala dos pacientes.

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[12] P. Cadê o Equias?

[13] F. Não sei. Onde será que ele está? [14] T. Ias ão.

[15] F. O E. (Fala o nome de E.) não chegou. [16] P. Ele vem hoje?

[17] T. (Olha em direção à porta). [18] F. Será que ele virá?

[19] P. Ele vem pa binca de cainho. (Pega o papel e desenha). Um carro. [20] T. (Desenha no papel).

[21] F. (Olha para P.) Tá desenhando?

[22] P. (Sorrir e movimenta a cabeça para cima e para baixo). [23] F. O que você está desenhando aí com o lápis amarelo? [24] T. O ou.

[25] F. Que sol bonito, né T. quero desenhar um sol também. [26] P. Meu sol pa fô kecê.

[27] T. Ou. (Fala enquanto desenha um sol no papel). [28] F. Kecê? O que é Kecê? O que vai ser?

[29] P. Não tia é keecer. A for vai keercer. [30] T. Or.

[31] F. O que vai crescer?

[32] P. Tem que moiá a for e dexar no sol pa kecer . (Olha em direção à F.). [33] F. Ahh! Agora eu entendi, tem que molhar a flor pra ela crescer.

Grupo 2 – sessão 14

No enunciado (14), T. refere a ausência de E. porém ocorre um deslocamento da alienação de sua fala à fala dos outros, ao enunciar “Ias ão”, que a fonoaudióloga traduz como “O E. não chegou”; nesse caso a sanção opera no estrato da língua, com o reconhecimento do significante, no qual o fonoaudiólogo sanciona a língua mas não a mensagem.

No enunciado (26), a fala de P. afeta a fonoaudióloga que, em seu enunciado (27), sanciona-o na interrogatividade, enquanto P. aproxima sua fala da língua prolongando o som do “e”, onde deveria aparecer o “r” e insere o “r” no enunciado “for”, ao omitir o “l” que, no enunciado (28),aproxima a sua fala da língua. Quando a fonoaudióloga sanciona P. gera efeito na cadeia de

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significantes que aparecem na fala de P. em (32) “Tem que moiá a for e dexar no sol pa kecer”, onde o verbo “molhar” abre espaço na rede de significantes.

DISCUSSÃO

Ao analisar as sanções operadas pela fonoaudióloga e os deslocamentos dos sujeitos no decorrer dos atendimentos fonoaudiológicos em grupo, observa- se a que posição da fonoaudióloga instala-se como a do outro suposto saber sobre a tríade escrita, língua e fala, mas um outro que, por suas interpretações, produz efeitos na estrutura da linguagem dos sujeitos. Os sujeitos a tomam como aquela que sabe, porém aquela que por não saber tudo, abre espaço para que eles sancionem uns aos outros. Pela descrição e explicação dos modos de funcionamento da fala da criança e de análises posteriores em que a posição de fonoaudiólogo/investigador é privilegiada, identificou-se os sintomas de linguagem das cristalizações aos deslocamentos. Acontecimento que tem relação com a posição da fonoaudióloga, posição que afeta o posicionamento dos outros sujeitos do grupo, faz circular seus dizeres, dizeres que deslocam os dos demais, modificando o grupo, gerando uma outra formação. Dessa posição, a fonoaudióloga não interrompe a circulação dos dizeres, gerando um discurso que movimenta os dizeres dos sujeitos.

Diante do exposto nas análises do funcionamento do grupo, e dos deslocamentos entre os sujeitos, os quais, são visíveis a cada sessão e mesmo no desenrolar de cada uma, ocorrem transformações nas posições subjetivas que compõem o grupo. Essas transformações estão relacionadas com a mudança de posição de um elemento cujos efeitos levam ao deslocamento dos

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demais elementos. As posições tomadas pelos sujeitos do grupo podem estar cristalizadas em uma dada posição ou circular por entre posições.

Aparecem na cena clínica as posições daquele que fala e/ou daquele que escuta, daquele que sabe e/ou daquele que não sabe. Essas posições podem ser mudadas em decorrência dos deslocamentos dos sujeitos do grupo e estão relacionadas com a constituição do sujeito e de seus sintomas de linguagem. Diante destas posições o sujeito sanciona e/ou é sancionado pelos sujeitos do grupo.

As análises apontaram atos de sanção realizados tanto pela fonoaudióloga quanto pelos demais sujeitos do grupo, sendo que as da fonoaudióloga são meta-procedimento, daquela que sabe sobre o ato de sancionar e seu funcionamento como instrumento clínico e recaem sobre a permissividade de uso de fala pelos sujeitos. Já as falas das crianças são formas de sanção insabidas que ocorrem porque sua posição ainda não foi sancionada pela interdição.

A posição do fonoaudiólogo é marcada por uma escuta voltada para a fala dos sujeitos do grupo e para a observação dos efeitos da circulação dos significantes; assentada sobre o metaprocedimento da sanção, ato que se estabelece como lei, e pela escuta dos efeitos dai advindos, as operações de sanção ocorrem nos estratos (escrita, língua e fala) do funcionamento dos sintomas, que foram explicitados no capítulo anterior, e derivada do ineditismo do momento e da demanda dos sujeitos do grupo que reconhecem em quem fala, o seu mestre2.

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Mestre aqui, tem a ver com o que Lacan chama de o discurso do mestre, no qual o sujeito encontra-se ligado um significante mestre, o saber, como meio de gozo. A relação entre o saber e o gozo se dá em três níveis: como gozo do Outro, como obstáculo ao gozo do sujeito e como meio de gozo. Portanto, a posição de mestre se dá na relação com o saber como meio de gozo.

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Diante da clínica fonoaudiológica que aqui se coloca o fonoaudiólogo assume seu compromisso com a fala do sujeito, analisa e observa os efeitos do funcionamento dos sintomas, diante da fala do sujeito. Assim, o fonoaudiólogo no atendimento em grupo coloca-se na clínica em uma posição diferenciada, oferecendo-se como intérprete privilegiado, que busca produzir efeitos sobre a fala dos sujeitos que, e também sua fala é efeito das falas dos sujeitos do grupo. A posição do fonoaudiólogo diante do jogo dialógico é responsável pela estruturação da/pela fala do falante.

No momento em que o fonoaudiólogo adota a posição de intérprete dos dizeres circulantes, age por intervenções sobre a fala dos sujeitos do grupo, intervenções que podem produzir deslocamentos, efeitos organizadores, na medida em que ocorrem reformulações, sob a forma de substituições metafóricas. Dentro de uma mesma sessão, as falas dos sujeitos do grupo se deslocam e por sua natureza de sistema, as falas de outros sujeitos do grupo se deslocam também. Assim, a fala de um sujeito do grupo faz efeito na fala do outro sujeito.

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CONCLUSÃO

O interesse pelo atendimento em grupo partiu da minha prática clínica quando me vi diante de questionamentos derivados, em parte, da falta de teorização específica sobre essa forma de terapêutica e, ainda, do despreparo diante desse modo de fazer inédito para mim.

Esta pesquisa teve seu inicio marcado pela busca de respostas à questões que podem ser assim sintetizadas: os pressupostos teóricos que servem de base ao atendimento em grupo; os critérios para a formação do grupo; a diferenciação entre os efeitos do atendimento em grupo, em relação ao atendimento individual, e a função do fonoaudiólogo nesse atendimento. Diante desses questionamentos, tive como objetivo produzir uma teorização sobre o processo clínico advinda da análise dos efeitos terapêuticos do atendimento em grupo sobre os sintomas de fala do próprio grupo, o que pediu um novo olhar para os efeitos da minha intervenção no grupo e ainda das ações entre os sujeitos.

Sustentada pela estrutura clínica fonoaudiológica já explicitada nesta dissertação, articulada à semiologia, etiologia, diagnóstica e terapêutica, e comprometida com um fazer clínico cujos conceitos advêm de

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questionamentos sobre a própria clínica. O primeiro passo foi procurar na literatura brasileira os pressupostos teóricos que serviriam de base para os atendimentos em grupo, articulando teoria e prática. A literatura contribuiu para a compreensão do percurso teórico dos atendimentos em grupo na Fonoaudiologia, porém, os estudos não apresentavam estruturação e sustentação teórica à sua prática. Em busca da formação do grupo, os trabalhos se voltavam para a utilização de critérios que não implicavam em seu funcionamento. Entendo que o grupo é formado no decorrer de seu funcionamento e não necessita de critérios para a sua formação. E por último, a função do fonoaudiólogo no grupo foi caracterizada pela literatura como a adoção de papéis que, da forma posta, impediriam a circulação da linguagem entre os sujeitos do grupo, visto que para gerar deslocamentos subjetivos e a circulação dos significados.

Na prática, deparei-me com a sanção fonoaudiológica como metaprocedimento e com a sanção linguageira dos membros do grupo que, embora insabida, age sobre os deslocamentos subjetivos e movimenta os sujeitos em suas posições no grupo. A análise das falas e seu funcionamento como sanção na cena clínica permitiu outra elaboração do atendimento em grupo, pautado na clínica fonoaudiológica aqui adotada.

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