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Enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal

1.3 ALCANCE DAS HIPÓTESES ESPECÍFICAS DOS

1.3.4 Enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal

matéria infraconstitucional

Alexandre Freitas Câmara entende que falta a este inciso IV, do art. 927, do CPC/15, verdadeira força vinculante, pois esta “quando existente, resultará de outra norma, resultante da interpretação de outro dispositivo legal (e que atribua expressamente tal eficácia)”. Ele prossegue argumentando que:

[...] não existindo essa outra norma, atributiva de eficácia vinculante, e a decisão ou o enunciado sumular será meramente persuasivo, argumentativo (e, portanto, não vinculante), o que gerará, para juízes e tribunais – obrigados a observá-los em suas decisões – um ônus argumentativo: o de inserir, na decisão que deles se afaste, uma fundamentação específica e adequada para tal afastamento, não sendo legítimo simplesmente que o juiz ou tribunal ignore aquele precedente ou enunciado sumular como se o mesmo não existisse.271

Nada obstante essa posição, não se vê razão para exigir menção em outro texto normativo acerca da vinculatividade desses enunciados. Trabalhar com precedentes vinculantes é justamente reconhecer a necessariedade do enfretamento das razões do caso precedente. E é exatamente nesse caminho que o dever de fundamentação conformado do art. 489, §1º, V e VI do CPC/15, combinado ao art. 926 e 927, aponta. Exigir outra disposição normativa em que se afirme literalmente decorrer “efeito vinculante” dos enunciados da súmula do STF e STJ seria redundante com o que já é plenamente extraível das disposições do CPC/15.

Contudo, é preciso notar que a previsão de vinculatividade do art. 927, IV, do CPC, para súmulas comuns do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, de maneira nenhuma as torna

271

equivalentes às súmulas vinculantes do art. 103-A, da CF.272 No subitem 1.3.2 do presente estudo, em que se discutiu a eficácia da disposição do art. 927, II, sobre as súmulas vinculantes, esclareceu-se que a vinculatividade formal do CPC/15 é bastante mais restrita que o regime jurídico aplicável à súmula vinculante.

A vinculatividade do CPC/15 é restrita aos órgãos do Poder Judiciário. A obrigação argumentativa de enfrentar a invocação do enunciado de súmula aplicável ao caso deve ser encarada pelo magistrado em processo judicial, não existindo igual escrutínio contra a autoridade administrativa. Se a autoridade administrativa toma decisão contrastante com entendimento sumulado, ela pode muito bem estar tomando uma decisão contrária ao direito, obviamente suscetível de controle por mandado de segurança ou outro expediente, mas não incorre em antijuridicidade apenas pela razão de não ter enfrentado ônus argumentativo do enunciado da súmula, nos termos do art. 489, §1º, V e VI do CPC/15, como ocorre com o julgador.

Outra diferença fundamental de tratamento é que a aplicação de súmula vinculante é controlável mediante reclamação constitucional. E isto vale tanto para atos administrativos quanto para decisões judiciais, conforme o art. 103-A, §3º, da CF. Não importa a instância judicial ou administrativa em que se encontre a discussão, caberá ao STF cassar a decisão para que outra seja tomada em seu lugar, consentânea com o enunciado violado. É um mecanismo altamente drástico de controle, colocado à disposição do jurisdicionado apenas na hipótese de tratar-se de súmula vinculante.

A circunstância de descaber reclamação para discutir má aplicação de súmula “comum” do STF/STJ não reduz a necessidade de sua observância. É um erro associar vinculatividade ao cabimento de reclamação.273 A reclamação é apenas um meio direto de correção (cassação) da decisão desviante. A inaplicabilidade desse instrumento não significa que a parte não terá o direito de obter provimento semelhante pelo sistema recursal ordinário. Hermes Zanetti Jr. diferencia níveis de vinculatividade, considerando a possibilidade de utilização de uma via direta de controle (como a reclamação), no que

272

Indagação nesse sentido em: THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio Quinaud. Novo

CPC – Fundamentos e sistematização. p. 359.

273

Como explica Macêdo em: MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais

chamará de precedentes normativos vinculantes fortes (de iure), mas de toda forma persiste a vinculatividade formal, mesmo que a parte tenha de obter a correção sem instrumento específico, chamada pelo autor de precedentes normativos formalmente vinculantes (de iure).274

De resto, invocado o enunciado da súmula do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, deverá o julgador desincumbir-se do ônus argumentativo de dizer precisamente por que o dito enunciado não se aplica ao caso, e se não encontrar razão para embasar essa conclusão deverá dar-lhe aplicação. As considerações sobre a necessidade de interpretação do enunciado, feitas quando se discutiu o art. 927, II, CPC/15, valem aqui também.

Não há dúvidas que a previsão do art. 927, IV, é um passo a mais a fim de conferir maior valor ao enunciado da súmula, enquanto objeto de interpretação. Se a súmula do STF foi inaugurada como um autêntico método de trabalho275, a fim de possibilitar rápida referência a ideias estabelecidas anteriormente pela corte, hoje já detém normatividade própria, na medida em que a circunstância de um tema estar “sumulado” ou não traz relevantes consequências, sobretudo para definir a obrigação de enfrentamento das razões pelas quais a súmula não é capaz de ser aplicada ao caso concreto, sob pena de faltar fundamentação à decisão (art. 489, §1º, VI, CPC/15).

O CPC/15, contudo, não foi o único passo nesse sentido. Os poderes do relator previstos no CPC/73 (art. 557, desde a Lei Federal 9.137/95), já autorizavam denegação monocrática, desde que houvesse contrariedade “à súmula do respectivo tribunal ou tribunal superior”. Isto foi ampliado pela Lei Federal 9.756/99, para autorizar também: provimento monocrático do recurso; dispensa da remessa necessária, se a sentença tivesse fundamento também na “súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente” (§3º do art. 475 do CPC/73, conforme redação da Lei Federal 10.352/01); presunção de repercussão geral do recurso que impugnar acórdão contrário à súmula (art. 543-A do CPC/73, da Lei Federal 11.418/06); ou mesmo a curta vida legislativa da chamada “súmula impeditiva de recurso” do §1º do art. 518 incluído pela Lei Federal 11.276/06, não reproduzida no CPC/15. Esses são todos exemplos de atribuições de consequências jurídicas à existência ou

274

ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. p. 343-345. 275

LEAL, Victor Nunes. Passado e futuro da súmula do STF. Revista de Direito

inexistência de enunciados da súmula sobre determinado assunto e em determinada circunstância. O CPC/15 fortaleceu grande parte dessas disposições e acrescentou a atribuição de status vinculativo formal aos enunciados da súmula do STF e do STJ.

1.3.5 Orientação do plenário ou do órgão especial dos tribunais