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1. MIGRAÇÃO DE PORTUGUESES/AS PARA A ALEMANHA

2.2. ENVELHECIMENTO ATIVO NO CONTEXTO DA MIGRAÇÃO

2.2.2. Envelhecimento Ativo e Saúde da Pessoa Migrante

A saúde encontra-se associada à qualidade de vida da pessoa de uma forma holística, incluindo as suas condições biológicas, estilos de vida e relações sociais(95). No

momento da migração, a maioria das pessoas migrantes apresenta, quando chega ao país de destino, uma boa condição de saúde(97). No entanto, a migração representa um processo

bastante complexo, sendo que a mudança de sociedade e de contexto cultural, submete a pessoa a períodos de adaptação, que podem acarretar transformações de ordem psicológica, física, biológica, social, cultural, familiar e política(95)(98)(103). Estas mudanças

possuem consequências para a saúde e para a qualidade de vida das pessoas migrantes(100).

As pessoas migrantes são, geralmente, reconhecidas como um grupo particularmente vulnerável na área da saúde(103), estando esta vulnerabilidade associada a

fatores como a situação económica, a falta de conhecimentos sobre a acessibilidade aos serviços sociais e de saúde disponíveis, as barreiras legais de acesso aos sistemas prestadores de cuidados, assim como as barreiras culturais e linguísticas existentes entre os prestadores de cuidados e os/as utentes(99)(101).

No caso específico da Alemanha, e de acordo com o relatório acerca da qualidade e igualdade do acesso aos serviços de saúde, são diversas as barreiras que a população migrante enfrenta no acesso aos cuidados de saúde daquele país. Destas podemos destacar: (i) os custos do acesso aos serviços de saúde; (ii) a localização geográfica, sendo que parte da população migrante poderá viver em locais de difícil acesso aos serviços de saúde (e.g.: zonas rurais); e (iii) a capacidade de resposta dos/as profissionais de saúde, na qual se incluí as diferenças linguísticas e as atitudes e comportamentos dos/as profissionais perante a população migrante(94).

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As condições de vida de algumas pessoas migrantes, no país de destino, não são as ideais(103). Tendo em conta que procuram realizar o seu projeto migratório num curto

espaço de tempo, os cuidados com a saúde ficam, muitas vezes, para segundo plano. O desconhecimento da língua, a longa jornada de trabalho, os vários empregos e a necessidade de voltar a casa o mais rapidamente possível, impedem a pessoa migrante de tirar o tempo necessário para cuidar da sua saúde(95). Estas também tendem a apresentar

uma taxa mais baixa de utilização dos serviços de saúde(95).

As condições socioecónomicas mais desfavorecidas, assim como a maior dificuldade de acesso a seguros de saúde complementares e de inserção social, são os principais fatores das desigualdades existentes no acesso aos cuidados de saúde por parte das pessoas migrantes, quando comparadas com as populações autóctones(95)(97). Esta

desigualdade pode também estar associada ao conhecimento limitado acerca do funcionamento do sistema de saúde do país de destino e dos seus direitos e deveres enquanto utentes(94), o tempo de estadia e o grau de alfabetização(99). Esta situação pode

levar a que muitas pessoas migrantes recorram à automedicação, medicina alternativa ou a outros procedimentos, procurando serviços médicos apenas em situações graves(75)(94)(95)(101). Desta forma, o estado de saúde da pessoa migrante poderá piorar no

país de destino, no qual desenvolvem problemas de saúde irreversíveis, percebidos e tratados apenas depois do retorno.

A legislação do sistema de saúde alemão obriga a que todas as pessoas residentes na Alemanha (nacionais e migrantes) adquiram um seguro de saúde, sendo que o seguro de saúde público é a forma de proteção à saúde mais importante e a mais acessível à população, cobrindo 87,5% do seu total(94). Este seguro dá acesso a uma ampla rede de

assistência médica, nos seus diversos níveis de complexidade, e abrange, sem custos adicionais, os filhos ou o cônjuge da pessoa que tenha uma renda própria, que não ultrapasse um determinado valor(94)(102). Por sua vez, o seguro de saúde privado é acessível

apenas a uma parte da população residente (12,5%), possuindo critérios para a sua utilização. As pessoas que possuam rendimentos superiores a um determinado valor podem optar, livremente, entre o regime obrigatório e o seguro privado(94).

O modelo de seguro social existente na Alemanha possui determinadas características, das quais podemos destacar: (i) a adesão obrigatória para quem cumpre os requisitos de cobertura; (ii) o financiamento através das contribuições das entidades patronais e dos/as trabalhadores, baseado no salário e independente do nível de risco de doença individual; (iii) as contribuições para as pessoas desempregadas e para alguns

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grupos particularmente vulneráveis são asseguradas pelo estado; (iv) o governo especifica um pacote básico de benefícios, deixando a recolha das contribuições, a gestão e a aquisição de cuidados de saúde a cargo de um número variável de fundos de doença, que podem cobrir populações com base na área geográfica ou na profissão, podendo existir concorrência entre eles, cabendo à pessoa escolher livremente(103).

O sistema de saúde alemão, que combina a competição entre as seguradoras privadas, a contribuição individual e a livre escolha do consumidor possui um elevado desempenho. Quando comparado com outros sistemas de saúde, possui listas de espera menores, elevado número de profissionais de saúde por habitante, assim como a utilização de tecnologia recente nos equipamentos de suporte aos cuidados de saúde(107). Este

modelo também permite que as pessoas consideradas em situação de vulnerabilidade, como as pessoas migrantes, tenham acesso a serviços de saúde de forma igualitária à restante população do país(94).

As populações migrantes apresentam maior prevalência de algumas patologias, quando comparadas com as populações autóctones, nomeadamente: doenças cardiovasculares(99)(104); diabetes(99)(103)(104); e doenças infeciosas (e.g.: tuberculose,

HIV/SIDA, hepatite)(99)(103). Os/as migrantes laborais apresentam maior incidência de

acidentes e de doenças relacionadas com as suas atividades laborais, especialmente os/as que se encontram em situação irregular, devido às atividades desenvolvidas em condições precárias e que envolvem maior risco(95)(99). A separação da família e das redes de suporte,

assim como o isolamento, podem influenciar o estado de saúde e bem-estar das pessoas que migram, potenciando quadros depressivos(99)(105). As mulheres migrantes sentem-se

mais ligadas à família que deixaram no país de origem. A nostalgia do passado e dos que ficaram poderá ser agravada pelo isolamento inicial da nova vida de migrante(100)(103).

Em paralelo ao projeto da migração, também as características individuais e os estilos de vida influenciam a manutenção do estado de saúde ou o desenvolvimento de patologias. A adoção de estilos de vida saudáveis, como uma dieta alimentar equilibrada, equilíbrio entre as horas de descanso e as de trabalho, consultas médicas e atividades sociais e físicas regulares, são fundamentais para a manutenção de um bom estado de saúde(75)(106). Porém, algumas destas práticas são negligenciadas em idades mais jovens,

sendo colmatadas, em idades mais avançadas, como atividades que transmitem prazer e promovem o convívio social(75). Os estilos de vida também incluem a dimensão

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Ao retornarem, as pessoas migrantes, tentam recuperar a saúde negligenciada durante o período da migração(95). Assim como as pessoas idosas, no geral, também as

pessoas migrantes idosas possuem necessidades específicas no que concerne aos cuidados de saúde. Porém, este grupo poderá apresentar piores condições de saúde, devido à experiência migratória e às atividades laborais que desenvolveram, muitas vezes mais pesadas e desgastantes, sendo que estes fatores influenciaram o seu trajeto de vida e diminuíram a possibilidade de praticarem um EA(95).

A migração internacional é, desta forma, um desafio para a saúde pública e para os sistemas de saúde dos países recetores de migrantes(95)(103). É importante que os governos

criem programas e políticas que tenham por base o conceito de saúde da OMS no projeto do EA, promovendo as relações sociais e a saúde mental, assim como a melhoria das condições físicas e de saúde das pessoas migrantes, em especial das pessoas idosas migrantes(4). Deste modo, o governo alemão tem vindo a criar diversas iniciativas para

aumentar o acesso à informação relacionada com os cuidados de saúde, junto da população migrante(94).

Seguidamente, apresentamos as evidências empíricas relacionadas com o EA e a migração internacional.

2.2.3. Envelhecimento Ativo e Migração Internacional: Evidências Empíricas