• Nenhum resultado encontrado

PORTUGAL ENVELHECIDO

2.5 Envelhecimento demográfico: desafios e oportunidades

O crescente cenário de envelhecimento demográfico introduz novos desafios à sociedade portuguesa, desde logo na forma como esta se encontra organizada, ao nível das estruturas de apoio e das relações sociais. Os cenários prospectivos indicam que a situação do envelhecimento demográfico evidencia uma tendência de agravamento (Martins, Rodrigues & Rodrigues, 2014, p.130), ou seja, não só é uma realidade confirmada, como, nos próximos anos, a população portuguesa com mais de 65 anos representará uma maior fatia da população total (Rosa, 2012, p.79). Uma sociedade com uma população mais envelhecida pode representar uma sociedade com maiores contrariedades económicas, na medida em que pode criar maior

44

resistência à modernização da sociedade, por exemplo na reconversão para novas tecnologias. Poderá existir uma desaceleração nos níveis de empreendedorismo e nos ritmos de inovação, bem como um agravamento nos custos indirectos do trabalho, na medida em que existirá uma população activa mais escassa a contribuir para uma SS com maiores gastos potenciais (Ibidem, p.24). Poderão ainda vir a registar-se outras transformações como a diminuição no consumo e uma maior flexibilidade laboral, algo que terá, naturalmente, reflexos no crescimento económico. No limite é todo o modelo de estado social que está, a médio prazo, ameaçado.

As consequências económicas são mais facilmente mensuráveis e, por norma, as mais visíveis. Contudo há considerações sociais que também deverão ser tidas em conta, como a preocupação com o isolamento social e a desertificação. Acresce ainda que as populações mais envelhecidas apresentam níveis de conservadorismo mais elevados, estando por isso mais avessas às mudanças necessárias para inverter o despovoamento (Martins, 2006, p.126), menos disponíveis para o progresso tecnológico e menos colaborativas com práticas ambientais mais sustentáveis.

Para garantir o futuro será importante desenvolver novos mecanismos de solidariedade entre gerações, sendo importante promover uma melhor integração dos idosos mais jovens na sociedade e apostar na redefinição dos ciclos de vida activa, eliminando o seu carácter rígido e estanque, criando enquadramentos flexíveis que possam ser compatíveis com a vontade da população, pois é impossível fazer reformas sem ter a população do lado das reformas. A criação de uma segunda vida activa para os novos idosos parece, então, ser um dos elementos centrais desta mudança, bem como um contributo para um potencial alargamento da classe média, não só o garante de uma democracia forte como um eixo imprescindível de todo o sistema económico capitalista (Estanque, 2012).

Contudo, ao invés de se considerar somente os desafios colocados pelo envelhecimento demográfico, também se poderá ponderar algumas das oportunidades que o mesmo pode potenciar. E oportunidades parece ser a palavra mais indicada, pois há que eliminar a carga negativa associada ao fenómeno de envelhecimento demográfico. Há que desenvolver um discurso positivo, ou seja, um

45

elemento simbólico, que evidencie uma nova forma de encarar a forma como os idosos são percepcionados pela sociedade. A população com idade igual ou superior a 65 anos pode ter um papel económico mais relevante, com impacte no processo produtivo, no uso das poupanças e na transmissão do património. Pode potenciar a criação de novos cursos académicos, novas profissões e novos produtos direccionados para as necessidades específicas dos idosos, emergindo, assim, novos mercados (INE, 2002, p.189). Também há muito a desenvolver no que concerne o papel social e familiar dos mais velhos e na sua promoção enquanto agentes de educação e socialização através de transferências intergeracionais de história, património e tradição. A dinamização das áreas de serviços comunitários e das redes de solidariedade poderia beneficiar com a implementação de uma estratégia que envolva os novos idosos. Este novo grupo poderá ser, ainda, um elemento importante no desenvolvimento de estruturas de apoio social e familiar6 menos institucionalizadas e centralizadas, que deverão ser sempre encaradas com um papel supletivo às funções do estado e nunca como uma forma de substituir o estado de providência por uma sociedade de providência. É ao estado que cabe garantir o acesso e cumprimento dos direitos consagrados, até porque é o estado que se encontra legitimado para tal. A existência de um welfare mix e de uma maior partilha de responsabilidade não visa restringir as funções sociais do estado, tendo apenas o objectivo de as complementar e de poder trazer maiores ganhos de bem-estar. Em suma, apesar dos inúmeros desafios colocados pelo envelhecimento colectivo/demográfico, há também vários benefícios que uma população mais envelhecida pode proporcionar, cabendo aos decisores políticos a promoção de novas políticas, que visem a adaptação à população existente, podendo assim criar condições para ganhos de bem-estar.

Até aos dias de hoje, a forma de se lidar adequadamente com o crescimento da população idosa foi através de políticas de transferência de prestações da população

6 A existência destes novos idosos pode reforçar a solidariedade destes indivíduos para com as suas

famílias, podendo apoia-las em várias tarefas, desde logo num maior acompanhamento com a vida das crianças, por exemplo. A pós-modernidade trouxe o triunfo do individualismo, algo que abalou o conceito de família existente, havendo agora a necessidade de o redefinir e de desenvolver uma lógica de ganhos intrafamiliares, face a impossibilidade de satisfação de todas as necessidades familiares de uma forma institucionalizada.

46

activa para a população inactiva, fundamentais para combater as desigualdades sociais e económicas e para evitar situações de pobreza (Simões et al., 2013). Foi esta transferência, assegurada pelo estado, que garantiu parâmetros mínimos de qualidade de vida à população idosa, já que antes essas transferências não eram contabilizadas e aconteciam essencialmente dentro do circuito familiar (Nazareth, 1979, p.204). No entanto, esta é uma realidade que não é, actualmente, sustentável, logo existe a necessidade de encontrar outro tipo de respostas. No fundo, o essencial é reavaliar o papel do idoso na sociedade e efectuar um debate alargado, na sociedade, sobre o envelhecimento demográfico, que possa trazer novas respostas para uma questão já antiga.

Tabela 2.5.1 Envelhecimento demográfico: sumário

IMPACTES

Documentos relacionados