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Envelhecimento Normal, Patológico e Saudável

CAPÍTULO I ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL E EMPÍRICO

2. O Envelhecimento Humano

2.4. Envelhecimento Normal, Patológico e Saudável

Envelhecer ativamente com bem-estar e qualidade de vida é um dos importantes temas que encara a ciência e as sociedades atuais face ao aumento da longevidade e às mudanças demográficas existentes (Ballesteros, 2009). Segundo a mesma autora, inicia-se um novo paradigma ou revolução no campo da investigação sobre o envelhecimento, existindo uma visão positiva, sobre o mesmo, referenciando vários autores, tais como Fries (1980), Rowe e Khan (1987), e Baltes e Baltes (1990).

Nesta nova visão positiva sobre o envelhecimento foram adotados termos tais como, envelhecimento saudável ou ativo (OMS, 1990), com êxito (Rowe & Khan, 1987; Baltes & Baltes, 1990), ótimo (Palmore, 1995), vital (Erikson et al.,1986), produtivo (Butler & Lewis 1993) ou positivo (Gergen & Gergen, 2001) e também é indicado o termo envelhecer bem (Fries, 1989) ou qualidade de vida (Bearon, 1996).

Muitas vezes o termo envelhecimento bem-sucedido, qualidade de vida, satisfação com a vida e bem- estar subjetivo, acabam por ser usados de forma indistinta ou como sinónimos. Todavia, constata-se a existência de consenso entre a multidimensionalidade do envelhecimento positivo que inclui os domínios biopsicossocial. Sobre este assunto, Ballesteros (2009), afirma que existem definições de envelhecimento ativo com conteúdos específicos, porém a multidimensionalidade é considerada pela maioria dos autores como uma caraterística essencial. Para falarmos de envelhecimento saudável é necessário pensar na interação de vários fatores, nomeadamente saúde física e mental, integração

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social, suporte familiar e independência económica. Segundo a autora, a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1984) propôs uma definição de envelhecimento baseado em três aspetos importantes: (1) o curso necessário para a manutenção de um funcionamento ótimo; (2) um modelo teórico acerca dos determinantes do envelhecimento ativo e, (3) resposta política requerida exigida pelo desafio do mundo no processo do envelhecimento progressivo. De acordo com o descrito, a OMS propõe um plano que abarca todo o curso de vida, assumindo que os indivíduos envelhecem de formas distintas, revelando-se uma extraordinária variabilidade que se vai incrementando à medida que a idade avança revelando existir uma grande capacidade de plasticidade. Deste modo, envelhecer bem integra elementos biomédicos, psicológicos e socio-ambientais, sendo um conceito multidimensional baseado em quatro domínios: saúde, boa forma física, ótimo funcionamento cognitivo, ótima regulação emocional e motivacional, alta participação social e compromisso social. Importa referir, que para além da saúde e de uma boa condição física, existem outros aspetos, nomeadamente psicológicos que são fundamentais para o envelhecimento positivo.

Segundo Ballesteros (2009), vários autores possuem uma lista distinta de critérios e processos refentes ao envelhecimento ativo e às suas variáveis. O modelo SOC (seleção, otimização e compensação) de Baltes e M. Baltes (1990), traduz-se no uso de estratégias proativas que atuam ao longo do ciclo de vida com o objetivo de alcançar um alto nível de funcionamento, ou seja, um envelhecimento ativo e bem- sucedido. Baltes (1997), considerou o desequilíbrio entre ganhos e perdas no envelhecimento, estabelecendo a metateoria como chave para o envelhecimento bem-sucedido. A existência de múltiplas oportunidades de otimização no desenvolvimento psicológico são essenciais para o alcance do envelhecimento bem-sucedido. Segundo a linha de pensamento de Baltes e M. Baltes (1990), uma definição de envelhecimento bem-sucedido requer a adoção de uma perspetiva simultaneamente sistémica e ecológica, baseada em indicadores objetivos e subjetivos enquadrados num determinado contexto sociocultural.

O modelo global de envelhecimento bem-sucedido da Teoria da Proatividade Preventiva e Corretiva de Kahana e Kahana (2005), predominantemente sociológica, no qual o envelhecimento é visto como um processo de adaptação, atuando mecanismos preventivos e corretivos que podem ser facilitados pelo uso de recursos internos e externos, entre outros. O modelo implica uma série de adaptações proativas realizadas pelo indivíduo que levam a um determinado resultado. A pessoa que se posiciona num determinado contexto temporal e espacial é exposta a eventos stressantes ao longo da vida. Esta proposta teórica é de facto compatível com os três mecanismos de seleção, otimização e compensação propostos por Baltes e M. Baltes (1990), considerado estratégias proativas que atuam ao longo do ciclo de vida.

Rowe e Kahn (1998), explorando a variabilidade no desenvolvimento humano, propõem três trajetórias do envelhecimento humano: normal, patológica e saudável. A definição de envelhecimento saudável proposta por estes autores engloba o envolvimento com a vida, a manutenção de altos níveis de habilidades funcionais e cognitivas e baixa probabilidade de doença e incapacidade, que está relacionada com a prática de hábitos saudáveis para a redução de riscos. Importa referir que a

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expressão envelhecimento bem-sucedido só se tornou corrente a partir de uma publicação na revista

Science, por parte de Rowe e Kahn (1987), tendo os autores apresentado uma distinção entre

envelhecimento normal e envelhecimento bem-sucedido. Os mesmos autores sugerem que as condições de envelhecimento saudável, patológico e bem-sucedido, se considerem trajetórias continuadas que possam tender para o declínio ou para a reversão e diminuição de perdas por meio de intervenções (Rowe & Kahn, 1987). Ainda segundo a opinião de Rowe e Kahn (1998), o envelhecimento bem-sucedido vai para além do potencial que envolve a atividade, sendo um compromisso com a vida. Constata-se uma preocupação com as relações que se mantêm com os outros, assim como com os comportamentos produtivos.

Face ao exposto, Ballesteros (2009), conclui que se destaca uma conceptualização multidimensional do envelhecimento bem-sucedido, pois os âmbitos físico, emocional, cognitivo e social estão presentes na maior parte dos estudos.

Gradim, Sousa e Lobo (2007) defendem que a velhice não tem idade definida para se iniciar, depende da disposição, atitude e interesse de cada pessoa em relação à qualidade de vida, referindo-se mesmo que envelhecer não significa enfraquecer, ficar triste ou assexuado. As repercussões do processo de envelhecimento sobre a sexualidade constituem um assunto particularmente repleto de preconceitos, como se a sexualidade fosse atributo apenas do jovem em função das suas descobertas e do vigor físico. Por conseguinte, torna-se necessário aprofundar domínios como a sexualidade e intimidade na velhice, com vista à compreensão das vivências e das experiências pessoais dos indivíduos idosos.

3. Sexualidade e Intimidade na Velhice