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Capítulo 4 Conceptualização de “Turismo de Charme”

5.3. Análise Estratégica

5.3.2. Caracterização Interna e Envolvente Externa

5.3.2.2 Envolvente Externa

5.3.2.2.1 Análise Contextual

Variável Político-Legal

O contexto político-legal encontra-se intimamente relacionado com o momento económico atual de crise a nível global e com impacto substancial a nível interno em Portugal, que implicou a tomada de algumas medidas restritivas e de austeridade. Tais medidas refletem-se a nível regional e municipal, nomeadamente através da alteração da legislação vigente com implicações diretas no ramo da hospitalidade como são exemplo as constantes alterações ao nível do licenciamento e classificação dos empreendimentos turísticos, agências de viagens turísticas, agentes de animação turística, estabelecimentos de restauração e bebidas, empresas de aluguer de automóveis, entre outros.

Igualmente constatam-se alterações sistémicas e estruturais ao nível dos serviços e planos municipais com os inerentes constrangimentos à atividade e investimento no sector turístico.

Não obstante os constrangimentos atuais, mantêm-se vigentes algumas medidas que promovem o sector e possibilitam o seu crescimento, tais como os diplomas de “Declaração de Utilidade Turística”, os Projetos de Potencial Interesse Nacional, os diplomas que enquadram os apoios financeiros do Turismo de Portugal e comunitários (ALGARVE 2020).

Variável Económica

O Algarve dadas as suas condições geográficas e naturais é uma região privilegiada para a atividade turística, sendo esta a principal potenciadora da economia da região, tal como referido no enquadramento teórico do presente trabalho, mas igualmente geradora de desequilíbrios de natureza social e económico entre seus municípios e ao nível das entidades privadas e públicas que coordenam e gerem as infraestruturas inerentes à atividade, nomeadamente dado o peso da sazonalidade na Região (sobredimensionamento da capacidade, gestão ineficiente, recessão sazonal).

A região é composta por 16 concelhos com realidades distintas, sendo que o litoral sul concentra a maioria da população residente dado o crescente processo de litoralização da população que se estima em cerca de 451.000 habitantes (11.5% de nacionalidade estrangeira) apresentando um crescimento de 14,3% nos últimos 10 anos maioritariamente devido ao movimento migratório observado recentemente (INE, 2011). A mesma fonte constata que em 2011 a população ativa era de aproximadamente 229.000 indivíduos e a população empregada era de cerca de 190.000, apresentando uma taxa de emprego de cerca de 52,5% (próxima da media nacional) e de atividade de 62,6% (acima da média nacional). A população empregada distribui-se da seguinte forma pelos sectores de atividade: 81% sector terciário; 16% sector secundário; e 3% sector primário.

O tecido económico assenta em três sectores chave, pela capacidade empregadora e riqueza gerada, nomeadamente o Turismo (hotelaria e restauração) que representa 21% do emprego no sector terciário (superior à media do país), a construção civil e o comércio a grosso e retalho. Sectores como o agroalimentar e a aquicultura apresentam uma importância económica ao nível da exportação. As indústrias transformadoras dominantes são a metalúrgica, alimentar, madeira e cortiça (INE, 2011).

O volume de negócios, igualmente de acordo com os dados do INE, é de aproximadamente 8.000 milhões de euros (2,4% do valor nacional total) e observa-se uma taxa de investimento de cerca de 22% (acima da média nacional)

A região apresenta um PIB de aproximadamente 7.200 milhões de euros (4,2% do total nacional) e um crescimento anual de cerca de 3.2% (media nacional 2,8%), sendo o PIB

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no entanto um Índice Sintético de Desenvolvimento Regional (ISDR) abaixo da média nacional, ao nível da competitividade, coesão e qualidade ambiental (INE, 2015).

No que respeita o concelho de Lagos, este apresenta uma população ativa de 15.000 indivíduos, dos quais 12.650 se encontram empregados maioritariamente no sector terciário (10.235), com salario medio de 866€ mensais e um índice de poder de compra

per capita de 93,3%. O concelho apresenta aproximadamente 119 empresas de serviços

de um total de cerca de 130 empresas, sendo a maioria da área de atividade turística ou complementar (PORDATA, 2015).

Alguns indicadores/medidas económicas associadas à conjuntura político-legal assumem um caracter importante na região influenciando negativa ou positivamente a indústria de serviços como a hotelaria, sendo de tal exemplo:

- O agravamento da carga fiscal (aumento do IVA para 23%) sobre as operações de restauração, bens e produtos;

- A aplicação de portagens na via do infante, redução do fluxo de turistas espanhóis e aumento dos custos dos serviços de transporte de mercadorias;

- O gradual decréscimo das taxas de juro ao nível do crédito observado no último ano, após forte subida em anos antecedentes, potenciando a perspetiva de novos investimentos;

- O crescimento do PIB português em 1,3% no primeiro trimestre de 2015, o que, apesar de lenta, indica um crescimento da economia.

Variável Sociocultural

A população residente no concelho de Lagos é de cerca de 31.000 indivíduos, dos quais 48% são do sexo masculino e 52% do sexo feminino, apresentando uma densidade populacional de 145,8 individuo por km2 (superior à media nacional), o saldo migratório é positivo, a proporção de população jovem (< 25 anos) é de 27,4% (superior à media da região e do país) e apresenta uma taxa de natalidade de 7,5% (abaixo da media regional) (PORDATA, 2015).

No que respeita à educação o nível de instrução predominante é o 3º ciclo correspondendo a 22% da população, seguido do 1º ciclo (21,5%) e o ensino secundário (20,7%). A população com ensino superior é de cerca de 3300 indivíduos (12% do total). Tais dados revelam um bom nível de instrução da população sendo a taxa de analfabetismo de aproximadamente 5%, respeitante a cerca de 1500 indivíduos.

A região do Algarve apresenta uma taxa de escolarização no ensino secundário acima da média nacional, existindo uma boa capacidade formativa e uma boa oferta universitária em áreas de especialização. Igualmente observa-se uma clara tendência na região pela opção por um ensino profissionalizante, 34,7% dos alunos em 2014, o que indica a procura de capacidades e preparação para a vida ativa e mercado de trabalho (PORDATA, 2015).

Variável Tecnológica

Atualmente as novas tecnologias constituem uma ferramenta fundamental na vida dos indivíduos, sendo impossível negar o impacto que por exemplo a internet tem no dia-a- dia das pessoas, como forma de conhecimento, comunicação e interação, (principal recurso do turista para iniciar o contacto com o país de eleição para as suas deslocações), os dispositivos moveis a nível empresarial e negócios, e/ou o próprio multibanco a nível económico.

O desenvolvimento da cultura digital é transversal a todas as áreas e contextos sociais, promovendo o desenvolvimento pessoal, a interação social e a comunicação pluricultural. Constata-se que atualmente mais de 60% dos indivíduos entre os 16-74 anos utiliza computador ou tecnologia digital e que mais de 56% tem acesso à internet (AMAL, 2014).

O próprio processo de aprendizagem em contexto escolar implica atualmente o recurso constante a tecnologia digital, sendo que no Algarve a percentagem de computadores com ligação à internet nas escolas é de 83,1% no 1º ciclo, 85,0% no 2º ciclo, 85,7% no 3º ciclo e de 88,6% no ensino secundário. No concelho de Lagos constata-se um rácio de 4,4 alunos por computador no 1º ciclo, 3,6 alunos no 2º ciclo, 3,1 alunos no 3º ciclo e 2,7 alunos no ensino secundário (PORDATA, 2015).

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No entanto, apesar de a tecnologia ser uma constante na nossa sociedade, a representatividade das empresas de investigação e desenvolvimento (I&D) no Algarve, fundamentais para a inovação científica e tecnológica, é ainda a mais baixa do país, o que pode implicar negativamente na competitividade das empresas regionais, pois estas permitem a criação e otimização de produtos, diminuição de custos, aumento da qualidade e inovação. A despesa em I&D no Algarve é de cerca de 0,45% e a repartição desta por sector revela forte desequilíbrio, sendo que 80% é promovida por instituições de ensino superior e apenas 12,3% por empresas (AMAL, 2014).

5.3.2.2.2 Analise Transacional

Clientes

A unidade de alojamento procura diversificar os segmentos de mercado e a nacionalidade dos seus clientes, no entanto existe claramente uma forte aposta nos mercados do centro e norte da europa (cliente nórdico, alemão, holandês, suíço) dado a sua maior diferenciação, envolvimento/perceção cultural, expectativas e poder económico, que procuram “charme”, cultura, experiências e qualidade de excelência. O cliente nacional é igualmente um mercado alvo procurando a unidade cativar um nicho que apresente as referidas características.

A vertente Spa (projeto de investimento) enquadra-se no perfil descrito visto a crescente perspetiva holística do ser presente nos indivíduos destes países, nomeadamente na procura do bem-estar físico, psíquico, emocional e espiritual.

Considerando o conceito de hospitalidade praticado e o conceito de Spa, o cliente alvo serão casais entre os 30 e os 60 anos, classe média e alta, diferenciados, elevado poder de compra, sem crianças e com disponibilidade de tempo para o real usufruto dos serviços e experiências.

A nível dos segmentos de mercado procurar-se-á complementar o previamente definido segmento de “Charme”, o segmento de touring cultural e o inevitável segmento de sol e praia com o segmento de Saúde e Bem-estar (prevalência da vertente Wellness).

Será igualmente, na vertente Spa, considerado como publico alvo os habitantes do concelho com as características referidas e procurar-se-á com esta valência captar nos períodos de época baixa (inverno) o segmento do Turismo sénior.

Os serviços serão adquiridos nos meios de distribuição da unidade (agencias, website e outros) e/ou na própria unidade e/ou Spa, expectando-se que a maior percentagem de clientes compre os serviços online. Os serviços, segundo o histórico, serão adquiridos com regularidade e com elevada frequência, expectando-se o mesmo para o Spa e igualmente que esta nova valência possa suprir ou diminuir a sazonalidade.

Fornecedores

No que concerne aos fornecedores existe uma preocupação em selecionar os fornecedores de forma criteriosa e de acordo com a sua qualidade e eficiência, estando atualmente dotado de uma vasta lista de fornecedores nacionais, maioritariamente regionais (de média dimensão e comerciantes locais) ao nível de produtos alimentares, de manutenção e limpeza, de equipagem e de acessórios. Tal política/estratégia estender-se-á ao novo conceito de Spa, no que respeita à sua implementação e aprovisionamento.

Concorrentes

O conceito de hospitalidade da unidade de alojamento e proprietários e a sua dimensão física, cultural, ambiental e geográfica constituem uma diferenciação rara no concelho, adquirindo um caracter de unicidade e exclusividade que não permite identificar propriamente um ou mais concorrentes diretos.

Não obstante, dada a proximidade física e algumas características parecidas e serviços prestados, podem ser considerados como maiores concorrentes o “Villas Dinis – Charming Residence”, o “Costa D’oiro Ambiance Village” o “Dom Manuel Charming Residence” e pelo conceito e qualidade o “Quinta Bonita Luxury Boutique Hotel”.

Não sendo um concorrente direto mas surgindo como concorrentes à qualidade do sector turístico do algarve encontram-se as emergentes unidades de alojamento local e os hostel.

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No que respeita à componente Spa a implementar poderão considerar-se concorrentes o “Costa D’oiro Ambiance Village”, embora com apenas serviços base (piscina, sauna, hidromassagem e banho turco), o “Cascade Wellness & LifeStyle Resort” com uma perspetiva mais abrangente nos serviços prestados e o “AquaLuz Suíte Hotel Apartamentos” com o seu ginásio “Solinca” aberto ao público em geral.

Comunidade

Considera-se como comunidade a rede de organizações, indivíduos e fatores que interagem ao nível de recursos, interesses e politicas e que de forma direta ou indireta se relacionam com os mercados económicos e sectores da indústria.

No sector do Turismo e serviços podemos considerar as entidades privadas e as entidades públicas, tais como são os municípios, cujos interesses nestes ramos de atividade são implícitos dadas as vantagens económicas e sociais inerentes. O sector turístico promove fluxos populacionais, consumo de bens e serviços, geração de emprego, qualificação de recursos humanos, lucro empresarial local, aumento de dividendos provenientes de impostos e a indissociável atratividade económica do concelho/região, potenciando o investimento e sua qualidade.

“Uma Casa à Beira Sol” considera-se atualmente parte integrante deste ciclo de crescimento económico e procura com o investimento no conceito Spa potenciar o seu posicionamento nesta teia económica promovendo e potenciado igualmente os demais agentes do meio.

No documento Charme, saúde e bem-estar “à beira sol” (páginas 101-107)