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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 Percepção dos conselheiros em relação à representação e o papel do

5.2.1 O papel do representante

5.2.1.1 Envolvimento em Movimentos Populares

Buscou-se através desses resultados identificar e analisar como o envolvimento em movimentos populares anteriormente dos conselheiros, enquanto cidadão, interfere na escolha dos mesmos para serem conselheiros uma vez que acredita-se que quanto maior seu envolvimento em grupos sociais, associações, partidos políticos e lideranças mais consciente e crítica poderá ser sua atuação enquanto membro representante. Para tanto identificou-se e analisou-se o número de gestões nas quais o conselheiro já foi membro; a atuação dos conselheiros em outros espaços de participação; tempo de militância em outras organizações sociais e filiações partidárias.

Figura 5: Numero de gestões na qual o conselheiro Municipal de Saúde já foi conselheiro.

Fonte: Desenvolvido pelo autor a partir de dados da pesquisa, 2014.

A maioria, 73% dos atuais conselheiros municipais de saúde entrevistados (Gestão 2014-2017) já fez parte de duas ou mais gestões no conselho, revelando perpetuação de conselheiros nas tomadas de decisão e elitização dos seus membros. Van Stralen (2006) revela que há evidência de que esse fenômeno acontece em vários municípios. Além disso, o autor diz que a elitização não se refere somente ao nível de instrução, mas também está relacionado à “profissionalização” dos conselheiros, visto que há baixa rotatividade dos mesmos e crescente afastamento entre representados e representantes.

Pouco mais da metade, 53% dos conselheiros, já atuou ou atua além do Conselho Municipal de Saúde de Viçosa-MG, na Associação ou entidade que representa, e em outros grupos como, por exemplo, partidos políticos e conselhos diversos (Figura 6). Isso revela que muitos conselheiros, a maioria dos representantes da sociedade civil, estiveram ou estão engajados em outras entidades de participação, mostrando o seu interesse em estar intervindo em questões de decisão pública e visando a melhoria dos serviços conforme depoimentos descritos no Quadro 2.

Figura 6: Atuação dos Conselheiros de Saúde de Viçosa em outros espaços de participação como: Partidos políticos, outros Conselhos municipais e associações.

Fonte: Desenvolvido pelo autor a partir de dados da pesquisa, 2014.

Ressalta-se ainda, que 80% dos conselheiros municipais de saúde entrevistados militam em conselhos, partidos políticos e organizações sociais há pelo menos 5 anos, sendo que a maioria dos entrevistados 27%, atua a pelo menos 11 anos (Figura 7). Dessa forma pode-se perceber que os conselheiros que atuam no Conselho Municipal de Saúde de Viçosa- MG se perpetuam na participação, monopolizando o aprendizado em lidar com processos de fiscalização, votação e deliberação, o que também acaba tornando esse fato um modo de seleção das associações ou entidades dos seus representantes dentro do conselho.

Figura 7: Tempo de militância dos Conselheiros de Saúde de viçosa em outros grupos sociais, conselhos, partidos políticos e associações.

Grande parcela de conselheiros, 67%, já esteve ou está filiada a algum partido político, sendo que destes, 47% ainda se encontram filiados e se envolvendo em questões político- partidárias. Essa informação pressupõe duas análises de postura dos conselheiros dentro do Conselho Municipal de Saúde de Viçosa-MG: a primeira, que reflete a oportunidade de capacitação do indivíduo pela vivência participativa dentro de um espaço político; e a segunda que traz a ideia de que o indivíduo pode atuar por interesse partidário dentro do conselho no momento de fiscalizar e deliberar as políticas de saúde do município.

Figura 8: Filiação Partidária dos Conselheiros de Saúde de viçosa. Fonte: Desenvolvido pelo autor a partir de dados da pesquisa, 2014.

Percebe-se que a maioria dos conselheiros tem uma trajetória de vida que envolve um período de tempo de mais de 5 anos, atuando em organizações sociais, outros conselhos, filiações partidárias e, principalmente, no próprio conselho municipal de saúde como conselheiro. Nessa circunstância, a maioria já atuou pelo menos duas vezes, revelando assim que há um processo seletivo das entidades, com base nos critérios descritos acima, no qual os conselheiros que julgam os mais bem preparados na maioria das vezes.

Por fim, verificou-se quais as formas de seleção, na percepção dos conselheiros, que foram utilizadas pelas entidades e associações no momento de indicá-los a posto de representante.

Figura 9: Modo de seleção das associações na escolha de seus representantes no Conselho Municipal de Saúde de Viçosa-MG.

Fonte: Desenvolvido pelo autor a partir de dados da pesquisa, 2014.

Conforme a percepção dos conselheiros (Figura 9), 14 dos 15 conselheiros entrevistados foram convidados e indicados a serem representantes; destes, 2 conselheiros entendem que foram selecionados pelo fato de tempo de militância e por serem influenciadores. Outros dois, acreditam que foram indicados porque demonstraram interesse. 1 conselheiro foi selecionado por votação e os demais receberam o convite por outros motivos. Esse quadro confirma, assim, a colocação de Dowbor, Houtzager & Serafim (2008) de que para a seleção de conselheiros da sociedade civil para participar de conselhos gestores não há a necessidade de ser feita por candidatura e eleições, podendo ocorrer por indicação. Isso revela outras formas de autorização da representação, visto que a pessoa pode ser escolhida por demonstrar interesse, participação em outros grupos sociais, filiação partidária e lideranças, confirmando outros critérios utilizados pelas entidades para selecionar e convidar as pessoas que julgam ser as mais preparadas (DOWBOR, HOUTZAGER & SERAFIM, 2008).

Complementando a discussão, Luchmann (2007) diz que em espaços como os conselhos, que atuam com base na Teoria da Democracia Deliberativa, dá-se centralidade à questão da participação com base em uma nova concepção sobre a legitimidade política, mostrando que a mesma advém de processos de discussão que proporcionam um reordenamento na lógica do poder, diferentemente da democracia representativa que reduz a legitimidade do processo decisório ao resultado eleitoral - voto (LUCHMANN, 2007).

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